27.12.02
25.12.02
Votos de Ano Novo
Ou seria propaganda de cart�o de cr�dito?
Ame, brigue menos, deixe pra l�, v� ao cinema, fa�a um jantar para dois, curta mais, d� muitos beijos, sa�de, cante no tr�nsito, deixe o carro em casa, fa�a sexo seguro, fa�a mais sexo, seja mais feliz, paz.
Trabalhe com prazer, ligue para os amigos, compre flores para voc�, crie algo novo, molhe as plantas.
Adote uma vida saud�vel, equil�brio. Respire melhor. Caminhe em um parque, ou�a mais m�sica, sorria. Fique mais relax, v� � praia.
2003 alegrias. Fa�a algo que sempre quis, mesmo que seja gritar no cinema, ou um curso de ikebana, acredite em si mesmo. Ande descal�o, esteja de bem com a vida. D� um passo � frente. Realize, permita-se mais. Permita-se.
Feliz ano todo!
Mea culpa, fase anal�gica
Essa minha fase anal�gica ainda acaba me dando uma m�quina de escrever Olivetti. Ando freq�entando os Correios e j� sei at� o pre�o de selo (45 centavos).
Adianto que vou passar Reveillon em Mea�pe. Sou mineira, mas nunca tinha ido � Guarapari. (� uma dist�ncia segura entre Salvador e Cabo Frio, � o que posso explicar.)
Amanh� conto o resto.
Ou seria propaganda de cart�o de cr�dito?
Ame, brigue menos, deixe pra l�, v� ao cinema, fa�a um jantar para dois, curta mais, d� muitos beijos, sa�de, cante no tr�nsito, deixe o carro em casa, fa�a sexo seguro, fa�a mais sexo, seja mais feliz, paz.
Trabalhe com prazer, ligue para os amigos, compre flores para voc�, crie algo novo, molhe as plantas.
Adote uma vida saud�vel, equil�brio. Respire melhor. Caminhe em um parque, ou�a mais m�sica, sorria. Fique mais relax, v� � praia.
2003 alegrias. Fa�a algo que sempre quis, mesmo que seja gritar no cinema, ou um curso de ikebana, acredite em si mesmo. Ande descal�o, esteja de bem com a vida. D� um passo � frente. Realize, permita-se mais. Permita-se.
Feliz ano todo!
Mea culpa, fase anal�gica
Essa minha fase anal�gica ainda acaba me dando uma m�quina de escrever Olivetti. Ando freq�entando os Correios e j� sei at� o pre�o de selo (45 centavos).
Adianto que vou passar Reveillon em Mea�pe. Sou mineira, mas nunca tinha ido � Guarapari. (� uma dist�ncia segura entre Salvador e Cabo Frio, � o que posso explicar.)
Amanh� conto o resto.
18.12.02
Ah, as mulheres
ou
Ah, os homens
Uma vez a Marina disse que gosta de homem que gosta de luta. � uma coisa irracional, um pouco mulher das cavernas. A gente vive reclamando que n�o tem homem sens�vel, que ele usa cal�a jeans embolada no t�nis - ou pior, jeans embolado no sapato. Mas no fundo - na verdade acho que no raso - n�o gosto muito de homem sens�vel. Bem, gosto pra amigo.
Quer saber? Dizem que quem gosta de homem � viado, mulher gosta de dinheiro. Apresento-te a mulher mais viado do mundo: eu.
Gosto de homem que:
Fume Marlboro
Beba
Me segure pelo bra�o
Sinta vontade mal-disfar�ada de co�ar o saco
Cheire a perfume masculino (nada de unissex tipo One)
De vez em quando entre numa briga (nem que seja s� da turma do deixa-disso)
Saiba rezas de cacha�a (Deus � pai e a cacha�a vai)
Mas que de vez em quando, dormindo, me acorde com cafun�. Ou me pe�a que, 'por favor, fique'. Ou que me olhe com cara de bezerro desmamado. E diga que me ama. Mas s� de vez em quando.
ou
Ah, os homens
Uma vez a Marina disse que gosta de homem que gosta de luta. � uma coisa irracional, um pouco mulher das cavernas. A gente vive reclamando que n�o tem homem sens�vel, que ele usa cal�a jeans embolada no t�nis - ou pior, jeans embolado no sapato. Mas no fundo - na verdade acho que no raso - n�o gosto muito de homem sens�vel. Bem, gosto pra amigo.
Quer saber? Dizem que quem gosta de homem � viado, mulher gosta de dinheiro. Apresento-te a mulher mais viado do mundo: eu.
Gosto de homem que:
Fume Marlboro
Beba
Me segure pelo bra�o
Sinta vontade mal-disfar�ada de co�ar o saco
Cheire a perfume masculino (nada de unissex tipo One)
De vez em quando entre numa briga (nem que seja s� da turma do deixa-disso)
Saiba rezas de cacha�a (Deus � pai e a cacha�a vai)
Mas que de vez em quando, dormindo, me acorde com cafun�. Ou me pe�a que, 'por favor, fique'. Ou que me olhe com cara de bezerro desmamado. E diga que me ama. Mas s� de vez em quando.
Hist�rias de um homem com nome de peste
Era sua primeira aula de Educa��o F�sica na universidade. A brincadeira era um futebol que se joga de m�os dadas. Primeiro jogo: casais. Cada um dava a m�o pra uma mo�a e corria atr�s da bola. Segundo jogo, e ele 'n�o ia dar a m�o � caboclo nenhum. A professora que lhe desse falta. Nem s� hoje, pra sempre.'
Perdia o jogo, mas n�o suas cren�as sobre como funciona a vida.
Era sua primeira aula de Educa��o F�sica na universidade. A brincadeira era um futebol que se joga de m�os dadas. Primeiro jogo: casais. Cada um dava a m�o pra uma mo�a e corria atr�s da bola. Segundo jogo, e ele 'n�o ia dar a m�o � caboclo nenhum. A professora que lhe desse falta. Nem s� hoje, pra sempre.'
Perdia o jogo, mas n�o suas cren�as sobre como funciona a vida.
Samba da B�n��o
Sen�o � como amar uma mulher s� linda
E da�? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa al�m de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um melejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas pra amar
Pra sofrer pelo seu amor
E pra ser s� perd�o.
V. de Moraes
N�o se fazem mais Vin�cius como os de Moraes.
Sen�o � como amar uma mulher s� linda
E da�? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa al�m de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um melejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas pra amar
Pra sofrer pelo seu amor
E pra ser s� perd�o.
V. de Moraes
N�o se fazem mais Vin�cius como os de Moraes.
13.12.02
Revirando a Caixa de Mensagens,
depois de ter revirado o ba� de cartas.
Catita L�a B�rgia,
(...) sabia que seus an�is eram grandes e coloridos demais pra serem caprichos de alquimia. Ali sempre teve mais do que isso, um feiti�o que se n�o apanhava, matava. Sem alegorias, Ana Bolena perto de voc� � santa doutora. E agora ainda me lan�a na ignor�ncia com mais uma palavra daquelas: digoxina. Se eu chegasse a seus p�s na bioqu�mica estaria feliz. Digo que sim. � isso! "J� pode ir" mesclado com "digo que sim". Ast�cia, seu nome � mulher!
E mesmo sabendo disso tudo, aceito seus ch�s, antes perecer com eles do que com a cicuta dos pederastas barbudos. Sou dos que pagam pra ver, mas depois quer ter a chance de apostar de novo, como Tele-sena. O eterno retorno. S�lvio Santos � nietzscheano.
Ah, e quanto ao Guimar�es Rosa e o Rubem Fonseca, diz que � goza��o, sen�o vou esconder meu rosto atr�s das suas costas. Sem garantia contra gasturinhas.
L.
depois de ter revirado o ba� de cartas.
Catita L�a B�rgia,
(...) sabia que seus an�is eram grandes e coloridos demais pra serem caprichos de alquimia. Ali sempre teve mais do que isso, um feiti�o que se n�o apanhava, matava. Sem alegorias, Ana Bolena perto de voc� � santa doutora. E agora ainda me lan�a na ignor�ncia com mais uma palavra daquelas: digoxina. Se eu chegasse a seus p�s na bioqu�mica estaria feliz. Digo que sim. � isso! "J� pode ir" mesclado com "digo que sim". Ast�cia, seu nome � mulher!
E mesmo sabendo disso tudo, aceito seus ch�s, antes perecer com eles do que com a cicuta dos pederastas barbudos. Sou dos que pagam pra ver, mas depois quer ter a chance de apostar de novo, como Tele-sena. O eterno retorno. S�lvio Santos � nietzscheano.
Ah, e quanto ao Guimar�es Rosa e o Rubem Fonseca, diz que � goza��o, sen�o vou esconder meu rosto atr�s das suas costas. Sem garantia contra gasturinhas.
L.
S� vi ao meu redor caras c�ticas quando disse que o amante sempre volta ao ninho dos amores, ainda que o saiba vazio. Imaginaram, talvez, que o cen�rio em que encontr�vamos despertava em mim uma l�rica frivolidade, uma pieguice formal, em meio a discuss�o s�ria. Pacientemente tive que fornecer-lhes a ponte e perguntei-lhes se o criminoso voltava, acaso, para reassassinar o morto. Se assim n�o era, porque voltava? Em busca de que, sen�o da intensidade do crime, se n�o por nostalgia?
10.12.02
Rita
No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na gra�a dos seus cinco anos.
Seus cabelos castanhos - a fita azul - o nariz reto, correto, os olhos de �gua, o riso fino, engra�ado, brusco...
Depois um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas s�ria, com dignidade.
Rita ouvindo m�sica; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que ele sabe das coisas, mas pegando dele o seu jeito de amar - s�rio, quieto, devagar.
Eu lhe daria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e tamb�m a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cotia; e o c�rrego; e a nuvem tangida pela vira��o.
Minha filha Rita em meu sonho me sorria - com pena desse seu pai, que nunca a teve.
Rubem Braga, Janeiro, 1955
Essa noite sonhei com filhos e cajus...
No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na gra�a dos seus cinco anos.
Seus cabelos castanhos - a fita azul - o nariz reto, correto, os olhos de �gua, o riso fino, engra�ado, brusco...
Depois um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas s�ria, com dignidade.
Rita ouvindo m�sica; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que ele sabe das coisas, mas pegando dele o seu jeito de amar - s�rio, quieto, devagar.
Eu lhe daria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e tamb�m a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cotia; e o c�rrego; e a nuvem tangida pela vira��o.
Minha filha Rita em meu sonho me sorria - com pena desse seu pai, que nunca a teve.
Rubem Braga, Janeiro, 1955
Essa noite sonhei com filhos e cajus...
9.12.02
Canastra da Em�lia
A Mari falou do bauzinho da Em�lia num e-mail. (Podia ter sido numa carta...) Eu me lembrei que tenho um. Comprei um ba� numa daquelas lojas da Rua do Ouvidor. Colei pap�is que guardava numa caixa de sapatos desde a �poca que 'fazia agenda', mais outros recortes que andavam espalhados entre os cadernos, grudados no mural. Fiz com que o conjunto fizesse sentido. Comprei goma laca em BH, numa papelaria em frete ao caf� Tr�s Cora��es.
O que guardo l� na minha canastrinha?
Verdades que n�o s�o mais
Fotos
Cartas
Casti�ais que ganhei de presente de E.
Segredos
Cole��o de pap�is de carta
Diploma do pr�zinho
Agendas
Caderno de poesias
Negativos de filme
A Mari falou do bauzinho da Em�lia num e-mail. (Podia ter sido numa carta...) Eu me lembrei que tenho um. Comprei um ba� numa daquelas lojas da Rua do Ouvidor. Colei pap�is que guardava numa caixa de sapatos desde a �poca que 'fazia agenda', mais outros recortes que andavam espalhados entre os cadernos, grudados no mural. Fiz com que o conjunto fizesse sentido. Comprei goma laca em BH, numa papelaria em frete ao caf� Tr�s Cora��es.
O que guardo l� na minha canastrinha?
Verdades que n�o s�o mais
Fotos
Cartas
Casti�ais que ganhei de presente de E.
Segredos
Cole��o de pap�is de carta
Diploma do pr�zinho
Agendas
Caderno de poesias
Negativos de filme
E carta, quando a gente tem saudade, vai l� e l� de novo. E lembra que na hora n�o achou o abridor de cartas, porque quase n�o usa aquilo e n�o sabe onde deixou. E abriu assim mesmo, rasgando o pedacinho de cima e enfiando o dedo e puxando, a� teve que colocar a m�o dentro da carta pra tir�-la, cheia de cola, l� de dentro. E lembrar disso � outra emo��o.
Bulas, cartas, escritos.
Ando escrevendo cartas. Aos borbot�es. Algumas pro A., que j� me escreveu cartas de todos os jeitos, escritas em guardanapos de boteco do Maranh�o, sentado em dunas no litoral do nordeste, com papel de caderno emprestado no Vale do Jequitinhonha (em saco de papel pardo ainda n�o).
Pegar carta com a m�o, cheirar, ver o selo e o carimbo do dia que foi posto - �s vezes muito antes a carta foi escrita - ver que a letra muda quando � escrita com mais raiva, mais amor, mais emo��o.
(Adorava quando as cartas do A. chegavam escritas � l�pis. Davam sensa��o de urg�ncia, de n�o poder esperar pela caneta. Ele tinha que escrever naquela hora.)
Muito disso � inveja. Inveja do Sabino, do Pellegruventz, do Paj�, do Nicodemus. Inveja de livro de cartas, de Griffin e Sabine, o livro mais bonito que j� vi.
Muito disso � tristeza e avers�o ao mundo tecnol�gico fast food. Mas isso passa.
Ando escrevendo cartas. Aos borbot�es. Algumas pro A., que j� me escreveu cartas de todos os jeitos, escritas em guardanapos de boteco do Maranh�o, sentado em dunas no litoral do nordeste, com papel de caderno emprestado no Vale do Jequitinhonha (em saco de papel pardo ainda n�o).
Pegar carta com a m�o, cheirar, ver o selo e o carimbo do dia que foi posto - �s vezes muito antes a carta foi escrita - ver que a letra muda quando � escrita com mais raiva, mais amor, mais emo��o.
(Adorava quando as cartas do A. chegavam escritas � l�pis. Davam sensa��o de urg�ncia, de n�o poder esperar pela caneta. Ele tinha que escrever naquela hora.)
Muito disso � inveja. Inveja do Sabino, do Pellegruventz, do Paj�, do Nicodemus. Inveja de livro de cartas, de Griffin e Sabine, o livro mais bonito que j� vi.
Muito disso � tristeza e avers�o ao mundo tecnol�gico fast food. Mas isso passa.
26.11.02
Antigripal
Xarope antituss�geno
Entrevista do Fernando Henrique
Nectarinas
Zorba, o grego
Cartas na Mesa
E-mail pra Mari
Not�cia de que a Raquel foi pro Canad�
Papel higi�nico
Nariz escorrendo
Porto Alegre
CC M�rio Quintana s� abre amanh�
Parque dos Aparados da Serra s� abre na quarta
T�dio
Xarope antituss�geno
Entrevista do Fernando Henrique
Nectarinas
Zorba, o grego
Cartas na Mesa
E-mail pra Mari
Not�cia de que a Raquel foi pro Canad�
Papel higi�nico
Nariz escorrendo
Porto Alegre
CC M�rio Quintana s� abre amanh�
Parque dos Aparados da Serra s� abre na quarta
T�dio
22.11.02
Miss Bixo (assim mesmo, com x)
Dentre as coisas que s� acontecem em Ouro Preto, uma das mais divertidas � o Miss Bixo. Todos os calouros da universidade se fantasiam e participam de um concurso de melhor fantasia. Essa esp�cie de Saturn�lia acontece no CAEM, o centro acad�mico que faz as vezes de boate da cidade. Todo mundo est� sempre t�o b�bado que no outro dia ningu�m se lembra do vexame que deu.
Foi ontem. Eu nem me lembro.
Dentre as coisas que s� acontecem em Ouro Preto, uma das mais divertidas � o Miss Bixo. Todos os calouros da universidade se fantasiam e participam de um concurso de melhor fantasia. Essa esp�cie de Saturn�lia acontece no CAEM, o centro acad�mico que faz as vezes de boate da cidade. Todo mundo est� sempre t�o b�bado que no outro dia ningu�m se lembra do vexame que deu.
Foi ontem. Eu nem me lembro.
20.11.02
Ent�o, hist�rias
N�o que eu nunca tenha percebido o quanto gosto daqui. Pelo contr�rio: eu sempre. Quando juntei meus jeans preferidos e a m�quina fotogr�fica e botei o p� no mundo, o que eu escrevi aqui foi um poema sobre a arte da perda. Mas n�o tenho como negar que voltei pra c� com um outro olhar. (Talvez por ser ver�o, e o ver�o ser t�o sal�o de beleza de tr�picos.)
...
A Igreja de Santa Efig�nia � no alto de um morro. No meio desse morro tem um orat�rio. Um funcion�rio zeloso da Casa dos Contos, muito devoto de Nossa Senhora do Ros�rio, depositava flores ao lado da imagem todos os dias. O homem era conhecido como Vira-saia.
(Ando seca por novas-velhas hist�rias das ruas por onde passei vezes sem fim.)
Da Casa dos Contos - onde todo o ouro extra�do das Minas Gerais era fundido e o quinto, imposto que o governo recebia na forma da quinta parte desse ouro - era levado ao Rio de Janeiro, ent�o capital do imp�rio, e para onde seguiam duas estradas. Como os assaltos se tornaram constantes, o governo planejou que dois carregamentos seriam levados ao Rio, para confundir os ladr�es: um de ouro e outro de areia, um por cada caminho, e alternadamente, sendo que nunca se saberia pra que lado o carregamento valioso seguiria naquele dia. Mesmo assim os ladr�es nunca erraram.
As flores no orat�rio eram sempre colocadas do lado onde seguiria o carregamento certo. O zeloso funcion�rio foi morto e a sua fam�lia torturada.
N�o que eu nunca tenha percebido o quanto gosto daqui. Pelo contr�rio: eu sempre. Quando juntei meus jeans preferidos e a m�quina fotogr�fica e botei o p� no mundo, o que eu escrevi aqui foi um poema sobre a arte da perda. Mas n�o tenho como negar que voltei pra c� com um outro olhar. (Talvez por ser ver�o, e o ver�o ser t�o sal�o de beleza de tr�picos.)
...
A Igreja de Santa Efig�nia � no alto de um morro. No meio desse morro tem um orat�rio. Um funcion�rio zeloso da Casa dos Contos, muito devoto de Nossa Senhora do Ros�rio, depositava flores ao lado da imagem todos os dias. O homem era conhecido como Vira-saia.
(Ando seca por novas-velhas hist�rias das ruas por onde passei vezes sem fim.)
Da Casa dos Contos - onde todo o ouro extra�do das Minas Gerais era fundido e o quinto, imposto que o governo recebia na forma da quinta parte desse ouro - era levado ao Rio de Janeiro, ent�o capital do imp�rio, e para onde seguiam duas estradas. Como os assaltos se tornaram constantes, o governo planejou que dois carregamentos seriam levados ao Rio, para confundir os ladr�es: um de ouro e outro de areia, um por cada caminho, e alternadamente, sendo que nunca se saberia pra que lado o carregamento valioso seguiria naquele dia. Mesmo assim os ladr�es nunca erraram.
As flores no orat�rio eram sempre colocadas do lado onde seguiria o carregamento certo. O zeloso funcion�rio foi morto e a sua fam�lia torturada.
19.11.02
E vieram dizer-nos que n�o havia jantar.
Como se n�o houvesse outras fomes e outros alimentos.
Como se a cidade n�o servisse o seu p�o de nuvens.
N�o, hoteleiro, nosso repasto � interior,
e s� pretendemos a mesa.
Comer�amos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no cora��o, � ceia.
Carlos Drummond de Andrade
Quer ir comigo ao Toffolo? Hoje tem jantar. Meu prato preferido l� � mandioca com picanha e queijo na t�bua. Tudo de bom! A velha matriarca Toffolo, dona, cozinheira e as vezes gar�onete, me contou que n�o aceita reservas pelo telefone. Tem que olhar bem no olho do sujeito para lhe ceder uma cama.
18.11.02
Vanitas Vanitatum
E a chuva me convidou a entrar na igreja. Faltavam duas esquinas para a minha casa, mas n�o pude prosseguir. Ent�o aceitei o convite e fiquei ali, antes do biombo, sem conseguir entrar, olhando pro teto onde pela primeira vez li vanitas vanitatum, vaidade das vaidades. E eu, que entrei ali cheia de minhas vaidades, tentei me desfazer de algumas. Sentei e rezei por mim, por minha alma, pela alma de todos.
E a chuva me convidou a entrar na igreja. Faltavam duas esquinas para a minha casa, mas n�o pude prosseguir. Ent�o aceitei o convite e fiquei ali, antes do biombo, sem conseguir entrar, olhando pro teto onde pela primeira vez li vanitas vanitatum, vaidade das vaidades. E eu, que entrei ali cheia de minhas vaidades, tentei me desfazer de algumas. Sentei e rezei por mim, por minha alma, pela alma de todos.
14.11.02
Caixa de entrada
Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e n�o era muito chegado a banho no inverno? Se fosse f�cil n�o teria gra�a. O importante � n�o desanimar e, se n�o foi dessa vez, partir pra outra. Tente declamar seu poema predileto em pra�a p�blica e espere algu�m complet�-lo. Se ningu�m se manifestar, saia correndo. Podem ter chamado a pol�cia. Tati
Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e n�o era muito chegado a banho no inverno? Se fosse f�cil n�o teria gra�a. O importante � n�o desanimar e, se n�o foi dessa vez, partir pra outra. Tente declamar seu poema predileto em pra�a p�blica e espere algu�m complet�-lo. Se ningu�m se manifestar, saia correndo. Podem ter chamado a pol�cia. Tati
"J� tentei come�ar carta pra voc� algumas vezes - no imagin�rio, na m�quina (...). Fico vacilante e boba todas as vezes: ora muda, ora prolixa. Acho sempre que tenho que produzir something witty and brilliant, no teu tom "certo" - mas para escrever carta preciso renunciar pelo menos pela metade � literatura [ou � pose ou ao fetiche], o que � particularmente dif�cil na tua frente." Ana Cristina Cesar
12.11.02
Falava da vida enquanto seus olhos passeavam pelos objetos da sala. N�o me olhava. Olhar pra mim quebraria o encanto de estar ali, naquela sala onde nunca estivera antes, sozinha, se contando segredos.
(Um vento m�gico sibilava nas cortinas.)
Me senti mal, fraca, de ressaca. E era s� o come�o da festa! Mas ele estava passando a m�o pelos cabelos secos dela, como se n�o me notasse. Fingia...agia como se me apresentasse um espet�culo se colocando no meu melhor �ngulo de vis�o...
Olhei pro seu rosto de beleza �bvia, cabelos lisos. Tive pena. De vez em quando quebrava o encanto de falar aos objetos..
Essa escultura...� Baco?
Eu respondia com economia de palavras. O que me interessava era o mon�logo.
Quis ir embora daquela festa. Mas em vez disso resolvi me embebedar. J� estava com ressaca mesmo. Mas olha que eu nem gosto de u�sque! Prefiro aqueles vinhos docinhos, baratos, coquet�is... Tomei puro, caub�i. Bebi tanto que nem sei mais se foi a cena que ficou se repetindo na minha frente por um longo tempo ou se fui eu que fiquei repetindo na minha imagina��o aquela m�o passando no cabelo crespo como replay de gol de Copa do mundo. Quis mat�-la, aquela zinha.
De onde esse punhal? � um punhal, n�?
Mas ah, n�o vale a pena. Ele � um canalha, um filho da puta, um burro, um, hum...mas...
Sorriu ternamente, olhou pro rel�gio da parede, me perguntou se estava certo. Agradeceu pela conversa e se despediu, jurando que iria esquec�-lo. Me deixou em casa com minhas pr�prias lembran�as. E com a id�ia de que Zeus � pouco criativo. E n�s, marionetes, estamos condenados a repetir eternamente as mesmas pe�as.
(Um vento m�gico sibilava nas cortinas.)
Me senti mal, fraca, de ressaca. E era s� o come�o da festa! Mas ele estava passando a m�o pelos cabelos secos dela, como se n�o me notasse. Fingia...agia como se me apresentasse um espet�culo se colocando no meu melhor �ngulo de vis�o...
Olhei pro seu rosto de beleza �bvia, cabelos lisos. Tive pena. De vez em quando quebrava o encanto de falar aos objetos..
Essa escultura...� Baco?
Eu respondia com economia de palavras. O que me interessava era o mon�logo.
Quis ir embora daquela festa. Mas em vez disso resolvi me embebedar. J� estava com ressaca mesmo. Mas olha que eu nem gosto de u�sque! Prefiro aqueles vinhos docinhos, baratos, coquet�is... Tomei puro, caub�i. Bebi tanto que nem sei mais se foi a cena que ficou se repetindo na minha frente por um longo tempo ou se fui eu que fiquei repetindo na minha imagina��o aquela m�o passando no cabelo crespo como replay de gol de Copa do mundo. Quis mat�-la, aquela zinha.
De onde esse punhal? � um punhal, n�?
Mas ah, n�o vale a pena. Ele � um canalha, um filho da puta, um burro, um, hum...mas...
Sorriu ternamente, olhou pro rel�gio da parede, me perguntou se estava certo. Agradeceu pela conversa e se despediu, jurando que iria esquec�-lo. Me deixou em casa com minhas pr�prias lembran�as. E com a id�ia de que Zeus � pouco criativo. E n�s, marionetes, estamos condenados a repetir eternamente as mesmas pe�as.
11.11.02
Caixa de entrada
"antes eu pensava que a inscri��o na bandeira de Minas Gerais - Libertas quae sera tamen -, fosse uma cria��o dos inconfidentes, mas na verdade ela foi cunhada do poema de Virg�lio, "in verbis expressis":
"LIBERTAS QUAE SERA TAMEN RESPEXIT INERTEM".
Tradu��o: A LIBERDADE QUE, EMBORA TARDIA, TODAVIA SE APIEDOU DE MIM NA MINHA IN�RCIA.
Por mais raz�o, esse texto foi pronunciado na 1a. �cloga de Virg�lio (71-19 a.C.), pelo pastor T�tiro ao contar ao seu amigo Melibeu
que conseguiu-se libertar de um amor demasiado absorvente. Esse texto ganhou uma conota��o totalmente diferente quando
adotado pelos inconfidentes por proposta de In�cio Jos� de Alvarenga Peixoto, como lema da Inconfid�ncia Mineira."
"antes eu pensava que a inscri��o na bandeira de Minas Gerais - Libertas quae sera tamen -, fosse uma cria��o dos inconfidentes, mas na verdade ela foi cunhada do poema de Virg�lio, "in verbis expressis":
"LIBERTAS QUAE SERA TAMEN RESPEXIT INERTEM".
Tradu��o: A LIBERDADE QUE, EMBORA TARDIA, TODAVIA SE APIEDOU DE MIM NA MINHA IN�RCIA.
Por mais raz�o, esse texto foi pronunciado na 1a. �cloga de Virg�lio (71-19 a.C.), pelo pastor T�tiro ao contar ao seu amigo Melibeu
que conseguiu-se libertar de um amor demasiado absorvente. Esse texto ganhou uma conota��o totalmente diferente quando
adotado pelos inconfidentes por proposta de In�cio Jos� de Alvarenga Peixoto, como lema da Inconfid�ncia Mineira."
5.11.02
Hor�scopo do dia Voc� ainda deveria contar com o clima impulsivo da Lua nova, que s� ir� melhorar dentro de dois dias. O pensamento se arrepia ao perceber nuances indesejadas, possibilidades se dissolvem em meio a um monte de enganos. Tome conta de suas palavras, pois hoje elas ter�o o poder de ferir ou de encantar.
�, t� um pouco cansada dessa superexposi��o Drummond. Mas - como diria Goethe - por que eu deveria me dar ao trabalho de encontrar algo pr�prio, quando este poema cabia � maravilha e dizia exatamente aquilo que era preciso?
N�o se mate
Carlos, sossegue, o amor
� isso que voc� est� vendo:
hoje beija, amanh� n�o beija,
depois de amanh� � domingo
e segunda-feira ningu�m sabe
o que ser�.
In�til voc� resistir
ou mesmo suicidar-se.
N�o se mate, oh n�o se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ningu�m sabe
quando vir�o,
se � que vir�o.
O amor, Carlos, voc� tel�rico,
a noite passou em voc�,
e os recalques se sublimando,
l� dentro um barulho inef�vel,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
an�ncios do melhor sab�o,
barulho que ningu�m sabe
de qu�, praqu�.
Entretanto voc� caminha
melanc�lico e vertical.
Voc� � a palmeira, voc� � o grito
que ningu�m ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, n�o, no claro,
� sempre triste, meu filho, Carlos,
mas n�o diga nada a ningu�m,
ningu�m sabe nem saber�
N�o se mate
Carlos, sossegue, o amor
� isso que voc� est� vendo:
hoje beija, amanh� n�o beija,
depois de amanh� � domingo
e segunda-feira ningu�m sabe
o que ser�.
In�til voc� resistir
ou mesmo suicidar-se.
N�o se mate, oh n�o se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ningu�m sabe
quando vir�o,
se � que vir�o.
O amor, Carlos, voc� tel�rico,
a noite passou em voc�,
e os recalques se sublimando,
l� dentro um barulho inef�vel,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
an�ncios do melhor sab�o,
barulho que ningu�m sabe
de qu�, praqu�.
Entretanto voc� caminha
melanc�lico e vertical.
Voc� � a palmeira, voc� � o grito
que ningu�m ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, n�o, no claro,
� sempre triste, meu filho, Carlos,
mas n�o diga nada a ningu�m,
ningu�m sabe nem saber�
listinha
* lembrar senhas t�o longamente esquecidas
* cortar cabelo
* pintar cabelo (lembrar a cor original do cabelo. Queria poder voltar �s origens)
... chove ...
* tal�es de cheque
* supermercado (n�o esquecer da gelatina em folhas para a bala de cacha�a)
- Onde foi parar meu caderninho de telefones?
* conversar com professora de dramaturgia (perdi muita coisa?)
*falar da culpa no blog
... chove ...
* lembrar senhas t�o longamente esquecidas
* cortar cabelo
* pintar cabelo (lembrar a cor original do cabelo. Queria poder voltar �s origens)
... chove ...
* tal�es de cheque
* supermercado (n�o esquecer da gelatina em folhas para a bala de cacha�a)
- Onde foi parar meu caderninho de telefones?
* conversar com professora de dramaturgia (perdi muita coisa?)
*
... chove ...
3.11.02
"Toda a vida (ainda das coisas que n�o t�m vida) n�o � mais do que uma uni�o. Uma uni�o de pedras � edif�cio; uma uni�o de t�buas � navio; uma uni�o de homens � ex�rcito. E sem esta uni�o, tudo perde o nome e mais o ser. O edif�cio sem uni�o, � ru�na; o navio sem uni�o, � naufr�gio; o ex�rcito sem uni�o , � despojo. At� o homem (cuja vida consiste na uni�o de alma e corpo), com uni�o � homem, sem uni�o � cad�ver". Padre Antonio Vieira, in Serm�o do Sant�ssimo Sacramento, em e-mail do Marco
"Existem tr�s amigos fi�is:
esposa velha, c�o velho
e dinheiro a vista". No mesmo e-mail...
"Existem tr�s amigos fi�is:
esposa velha, c�o velho
e dinheiro a vista". No mesmo e-mail...
Ouro Preto
Morar em Ouro Preto? E a �nica pessoa que conhecia l� era o Andr� que, bem, n�o morava l�. Namorado em Belo Horizonte, fam�lia em Te�filo Otoni, av�s na Bahia, amigos espalhados, e eu, sabendo que isso n�o iria dar certo.
Cheguei numa noite de domingo, a lua iluminando o Itacolomi.
A� n�o vi mais nada, os c�us se misturaram com a terra, e o esp�rito de Deus voltou a se mover sobre a face das �guas.
Morar em Ouro Preto? E a �nica pessoa que conhecia l� era o Andr� que, bem, n�o morava l�. Namorado em Belo Horizonte, fam�lia em Te�filo Otoni, av�s na Bahia, amigos espalhados, e eu, sabendo que isso n�o iria dar certo.
Cheguei numa noite de domingo, a lua iluminando o Itacolomi.
A� n�o vi mais nada, os c�us se misturaram com a terra, e o esp�rito de Deus voltou a se mover sobre a face das �guas.
2.11.02
Lembro de uma �poca em que sabia muito bem que frasc�rio nada tinha a ver com frascos. Hoje me li escrevendo 'mais' em vez de 'mas'. Diante disto - ou disso? -, escrevo minha lista de presentes de Natal:
1 - dicion�rio Aur�lio
2 - dicion�rio Houaiss
3 - livro do Pasquale Cipro Neto
4 - livro do Roberto Campos (pra usar os dois primeiros)
5 - livro do Guimar�es Rosa (pra tirar poesia dos dois primeiros).
Tudo de papel, que livro pra mim tem que ter cheiro, cor, forma, conte�do. E principalmente tem que poder ficar ao lado da cama, no ch�o.
1 - dicion�rio Aur�lio
2 - dicion�rio Houaiss
3 - livro do Pasquale Cipro Neto
4 - livro do Roberto Campos (pra usar os dois primeiros)
5 - livro do Guimar�es Rosa (pra tirar poesia dos dois primeiros).
Tudo de papel, que livro pra mim tem que ter cheiro, cor, forma, conte�do. E principalmente tem que poder ficar ao lado da cama, no ch�o.
� pouco entrara na faculdade. Vida corrida, quase n�o sa�a... Os velhos amigos do col�gio chamaram pra um chopinho, que virou boate. Veio um menino lindo, puxou assunto, beberam juntos, falaram sobre nada. Numa hora ele perguntou o que ela fazia da vida.
- Acabei de entrar na faculdade. Fa�o psicologia. E voc�? O que faz?
- Carreto.
P.S.: Thereza, a Branca fazia era psicologia?
- Acabei de entrar na faculdade. Fa�o psicologia. E voc�? O que faz?
- Carreto.
P.S.: Thereza, a Branca fazia era psicologia?
31.10.02
M�rio Quintana tamb�m � Drummond,
ou ainda resta uma esperan�a.
"Eu, na escola, estudava Franc�s e Portugu�s. O resto eu adivinhava. Meu pai queria que eu me formasse, mas ele n�o p�de comigo. A� meu pai me levou para trabalhar com ele. Durante sete anos fui pr�tico de farm�cia e foi a� que eu aprendi a cuidar dos ingredientes. Acho que meu cuidado com a forma come�ou a�. N�o � f�cil descobrir qual � a melhor forma entre as mil e uma maneiras que se pode dizer as coisas. Ent�o, depois destes sete anos, fui fazer o que queria fazer: escrever."
ou ainda resta uma esperan�a.
"Eu, na escola, estudava Franc�s e Portugu�s. O resto eu adivinhava. Meu pai queria que eu me formasse, mas ele n�o p�de comigo. A� meu pai me levou para trabalhar com ele. Durante sete anos fui pr�tico de farm�cia e foi a� que eu aprendi a cuidar dos ingredientes. Acho que meu cuidado com a forma come�ou a�. N�o � f�cil descobrir qual � a melhor forma entre as mil e uma maneiras que se pode dizer as coisas. Ent�o, depois destes sete anos, fui fazer o que queria fazer: escrever."
oráculo
Era uma época de dúvidas. E aquele papel em minha mão me feria como navalha. O papel não era em nada diferente das boletas de loteria, nem em significado. Era a inscrição do Vestibular para a Universidade Federal de Ouro Preto.
O meu pai tem farmácia, meus avĂłs, minha mĂŁe teve outra, todos os meus tios. E eu querendo mesmo era ser jornalista. Talvez Direito... Mas minha mĂŁe nunca permitiria, e eu ainda vivia sobre sua sombra, apavorada. E todas as possibilidades de escapar do seu domĂnio acabavam em medo e vergonha.
Olhava triste aquele papel que não me oferecia sonhos. Nutrição parecia interessante, coisas que não se sabem muito bem o que são, são sempre interessantes. Mas Farmácia era a glória de Ouro Preto.
Não queria decidir sozinha, pedi ajuda ao meu pai e, ao menos daquela vez, queria uma resposta. Mas ele não é um homem de respostas, não me dava ordens, não ditava regras de vida. Me mostrava a encruzilhada e eu que me resolvesse. O que saia da sua boca era 'te crio pro mundo, não pra mim', mas o que dizia era que não me queria como um robô treinado, mas como uma pessoa que tivesse as rédeas da própria vida, e que vivesse as consequências de minhas escolhas.
(Chamei isso de covardia. Chamo hoje de ensinamento, muita coragem é necessária pra que se diga isso.)
Na minha restrita dĂşvida, que excluĂa a Ăşnica resposta, me refugiei na Biblioteca Estadual da Praça da Liberdade. NĂŁo precisei de 5 minutos. Drummond me respondeu:
Então, sei lá porquê,
fui fazer Farmácia.
Era 1997.
Era uma época de dúvidas. E aquele papel em minha mão me feria como navalha. O papel não era em nada diferente das boletas de loteria, nem em significado. Era a inscrição do Vestibular para a Universidade Federal de Ouro Preto.
O meu pai tem farmácia, meus avĂłs, minha mĂŁe teve outra, todos os meus tios. E eu querendo mesmo era ser jornalista. Talvez Direito... Mas minha mĂŁe nunca permitiria, e eu ainda vivia sobre sua sombra, apavorada. E todas as possibilidades de escapar do seu domĂnio acabavam em medo e vergonha.
Olhava triste aquele papel que não me oferecia sonhos. Nutrição parecia interessante, coisas que não se sabem muito bem o que são, são sempre interessantes. Mas Farmácia era a glória de Ouro Preto.
Não queria decidir sozinha, pedi ajuda ao meu pai e, ao menos daquela vez, queria uma resposta. Mas ele não é um homem de respostas, não me dava ordens, não ditava regras de vida. Me mostrava a encruzilhada e eu que me resolvesse. O que saia da sua boca era 'te crio pro mundo, não pra mim', mas o que dizia era que não me queria como um robô treinado, mas como uma pessoa que tivesse as rédeas da própria vida, e que vivesse as consequências de minhas escolhas.
(Chamei isso de covardia. Chamo hoje de ensinamento, muita coragem é necessária pra que se diga isso.)
Na minha restrita dĂşvida, que excluĂa a Ăşnica resposta, me refugiei na Biblioteca Estadual da Praça da Liberdade. NĂŁo precisei de 5 minutos. Drummond me respondeu:
Então, sei lá porquê,
fui fazer Farmácia.
Era 1997.
29.10.02
E j� no avi�o S�o Paulo - Belo Horizonte me lembrei, com gosto, de como s�o melhores os sabores do Brasil. Depois de almo�ar aquele peixe sabor borracha Mercur, no oceano Atl�ntico, em terras - ou melhor, ares - tupiniquins a sobremesa me veio com sabor de goiaba.
E a noite � mais escura e o dia amanhaceu mais azul.
E a noite � mais escura e o dia amanhaceu mais azul.
Atenas
"Poucos se apaixonam por Atenas", diz o Lonely Planet. Mas sou de paixoes f�ceis. N�o espero muito mais da vida. Se aprendi uma coisa nessa viagem longa foi n�o ter grandes expectativas.
Assim me encantei pelas ruas do centro de Atenas, cheias daquelas lojinhas em que se vendem pregadores de roupas e velas. O Mercado Central me faz reviver Te�filo Otoni.
(Cidade onde nasci, e que reneguei tantas vezes. Hoje a entendo melhor, em seu jeito t�o Ra�zes do Brasil, desterrada em sua pr�pria terra, que n�o sendo Bahia j� n�o � mais Minas Gerais. Se eu tivesse escrito aquele poema seria, Alguns anos vivi em Te�filo Otoni./ Principalmente nasci em Te�filo Otoni./ Por isso sou orgulhosa e triste; de poeira./ Noventa por cento de poeira nas cal�adas./ Oitenta por cento de poeira nas almas./ E esse alheamento do que na vida � porosidade e comunica��o.)
Ent�o sa� de Atenas com uma melancolia de ter perdido mais uma cidade.
"Poucos se apaixonam por Atenas", diz o Lonely Planet. Mas sou de paixoes f�ceis. N�o espero muito mais da vida. Se aprendi uma coisa nessa viagem longa foi n�o ter grandes expectativas.
Assim me encantei pelas ruas do centro de Atenas, cheias daquelas lojinhas em que se vendem pregadores de roupas e velas. O Mercado Central me faz reviver Te�filo Otoni.
(Cidade onde nasci, e que reneguei tantas vezes. Hoje a entendo melhor, em seu jeito t�o Ra�zes do Brasil, desterrada em sua pr�pria terra, que n�o sendo Bahia j� n�o � mais Minas Gerais. Se eu tivesse escrito aquele poema seria, Alguns anos vivi em Te�filo Otoni./ Principalmente nasci em Te�filo Otoni./ Por isso sou orgulhosa e triste; de poeira./ Noventa por cento de poeira nas cal�adas./ Oitenta por cento de poeira nas almas./ E esse alheamento do que na vida � porosidade e comunica��o.)
Ent�o sa� de Atenas com uma melancolia de ter perdido mais uma cidade.
Ou uma aprendizagem
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
eu s� levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manh�s,
o sabor das massas e das ma��s
� preciso amor pra poder pulsar,
� preciso paz pra poder sorrir
� preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Renato Teixeira
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
eu s� levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manh�s,
o sabor das massas e das ma��s
� preciso amor pra poder pulsar,
� preciso paz pra poder sorrir
� preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Renato Teixeira
26.10.02
Achava aquilo chato. Queria mesmo era resposta pronta, daquelas que eu escutava os amiguinhos contarem. Em vez disso recebia perguntas em trocados.
Um dia escutou 'Procure a verdadeira razao das coisas'. Achou bonito. Parecia coisa que lia naqueles livros.
Nao entendeu.
(Hoje sabe que a verdadeira razao das coisas nao eh nobre, nem escrita com letras de ouro. Quase sempre eh de materia de tristeza. A primeira vez que descobriu uma verdade foi numa sala de cinema. Nao queria se formar doutora pelo titulo. Queria mesmo era ser mais admirada que a prima. As coisas ficam mais faceis quando se sabe a verdade.)
Quando li sobre a esfinge tinha 8 anos, nao tive medo. Eu ja a conhecia. Eu a chamava de pai.
Um dia escutou 'Procure a verdadeira razao das coisas'. Achou bonito. Parecia coisa que lia naqueles livros.
Nao entendeu.
(Hoje sabe que a verdadeira razao das coisas nao eh nobre, nem escrita com letras de ouro. Quase sempre eh de materia de tristeza. A primeira vez que descobriu uma verdade foi numa sala de cinema. Nao queria se formar doutora pelo titulo. Queria mesmo era ser mais admirada que a prima. As coisas ficam mais faceis quando se sabe a verdade.)
Quando li sobre a esfinge tinha 8 anos, nao tive medo. Eu ja a conhecia. Eu a chamava de pai.
25.10.02
O Pel�
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
Pode ir armando o coreto e preparando aquele feij�o preto
Eu t� voltando
P�e meia d�zia de brahma pr� gelar, muda a roupa de cama
Eu t� voltando
Leva o chinelo pr� sala de jantar
Que � l� mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abra�ar, pode se perfumar porque eu t� voltando
D� uma geral, faz um bom defumador, enche a casa de flor
Que eu t� voltando
Pega uma praia, aproveita, t� calor, vai pegando uma cor
Que eu t� voltando
Faz um cabelo bonito pr� eu notar que eu s� quero mesmo � despentear
Quero te agarrar, pode se preparar porque eu t� voltando
(...)
Quero l� l� l� i�, l� l� l� l� l� i�, porque eu t� voltando
Eu t� voltando
P�e meia d�zia de brahma pr� gelar, muda a roupa de cama
Eu t� voltando
Leva o chinelo pr� sala de jantar
Que � l� mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abra�ar, pode se perfumar porque eu t� voltando
D� uma geral, faz um bom defumador, enche a casa de flor
Que eu t� voltando
Pega uma praia, aproveita, t� calor, vai pegando uma cor
Que eu t� voltando
Faz um cabelo bonito pr� eu notar que eu s� quero mesmo � despentear
Quero te agarrar, pode se preparar porque eu t� voltando
(...)
Quero l� l� l� i�, l� l� l� l� l� i�, porque eu t� voltando
Soh pra terminar
E a conversa girou sobre nossas semelhancas e diferencas. Comidas, comportamentos, palavras.
- E entao em drogaria se vende remedio? Em Portugal se vende parafuso, cimento...
(E tambem me contou que estava dirigindo sozinha numa estrada com uma placa apontando pra direita, 'Coimbra, 40km'. Outra logo abaixo apontando pra esquerda, 'Coimbra, 40km'.)
E a conversa girou sobre nossas semelhancas e diferencas. Comidas, comportamentos, palavras.
- E entao em drogaria se vende remedio? Em Portugal se vende parafuso, cimento...
(E tambem me contou que estava dirigindo sozinha numa estrada com uma placa apontando pra direita, 'Coimbra, 40km'. Outra logo abaixo apontando pra esquerda, 'Coimbra, 40km'.)
24.10.02
(Senta que lah vem Historia.
Na decada de 20 Atenas viu sua populacao dobrar do dia pra noite, literalmente.
Muitos gregos viviam na Turquia, o que fez o governo grego de se ver no direito de reclamar territorio turco. O que os turcos fizeram? Eliminaram o motivo da briga mandando os gregos - que nao mataram - de volta pra Grecia.
Superpopulacao overnight. Construcoes rapidas, quadradas e sem planejamento. E assim se escreveu mais uma pagina da Historia.)
Na decada de 20 Atenas viu sua populacao dobrar do dia pra noite, literalmente.
Muitos gregos viviam na Turquia, o que fez o governo grego de se ver no direito de reclamar territorio turco. O que os turcos fizeram? Eliminaram o motivo da briga mandando os gregos - que nao mataram - de volta pra Grecia.
Superpopulacao overnight. Construcoes rapidas, quadradas e sem planejamento. E assim se escreveu mais uma pagina da Historia.)
23.10.02
Sobre o Brasil
A historia eh longa, e embora eu goste muito de conversar sobre isso, esse nao e um assunto ameno.
Alexandre, o grande, o conquistador grego - que os albaneses dizem ter nascido na Albania - dominou toda a area do norte da Grecia, Albania e atual Macedonia. Rei morto, rei posto, e passemos o dominio da regiao pros romanos.
Ai chegamos num ponto que eu nao entendo muito bem: como o Imperio Romano cresceu demais, foi dividido. Entao pra que cresceram com ele?
O Imperio Romano do Ocidente tinha sua fronteira com o Imperio Romano do Oriente num rio na Bosnia. De la pra direita tudo era governado por Istambul. Ou Bizancio. Ou Constantinopla. Ou qualquer outro nome que voce possa dar a essa cidade de muitas faces.
Muito cacique pra pouco indio nao funciona em lugar nenhum, e um reino assim nao foi muito dificil de ser invadido pelos povos barbaros - lembra da aula de historia? Quando a professora falou que os chamavam de barbaros porque tinham barba? - E tome mais invasao pelos turcos otomanos.
Barbaros + 500 anos sobre dominio turco e na Macedonia falam bulgaro, mas chamam a lingua de macedonio. O fato e que quem eh macedonio? Quem vive na Macedonia? Os gregos dizem que nao, e se recusam a reconhecer que esse pais use esse nome. Nem na passagem de trem o usam. Chamam o pais pelo nome da capital, Skopje.
Dai os macedonios, atuais habitantes da Macedonia, alegam que nunca foram gregos, porque mesmo os antigos macedonios - reconhecidamente macedonios por ambos os lados, se eh que voce me entende e ja nao se perdeu la na aulda de historia da barba - nao podiam participar das Olimpiadas, festa so de gregos. O que prova que macedonio eh macedonio e grego eh grego.
Entao, como voce nao entendeu mesmo, (nem entendeu o titulo do post) vai! Corre pro Google, volta e diz o que pensa.
A historia eh longa, e embora eu goste muito de conversar sobre isso, esse nao e um assunto ameno.
Alexandre, o grande, o conquistador grego - que os albaneses dizem ter nascido na Albania - dominou toda a area do norte da Grecia, Albania e atual Macedonia. Rei morto, rei posto, e passemos o dominio da regiao pros romanos.
Ai chegamos num ponto que eu nao entendo muito bem: como o Imperio Romano cresceu demais, foi dividido. Entao pra que cresceram com ele?
O Imperio Romano do Ocidente tinha sua fronteira com o Imperio Romano do Oriente num rio na Bosnia. De la pra direita tudo era governado por Istambul. Ou Bizancio. Ou Constantinopla. Ou qualquer outro nome que voce possa dar a essa cidade de muitas faces.
Muito cacique pra pouco indio nao funciona em lugar nenhum, e um reino assim nao foi muito dificil de ser invadido pelos povos barbaros - lembra da aula de historia? Quando a professora falou que os chamavam de barbaros porque tinham barba? - E tome mais invasao pelos turcos otomanos.
Barbaros + 500 anos sobre dominio turco e na Macedonia falam bulgaro, mas chamam a lingua de macedonio. O fato e que quem eh macedonio? Quem vive na Macedonia? Os gregos dizem que nao, e se recusam a reconhecer que esse pais use esse nome. Nem na passagem de trem o usam. Chamam o pais pelo nome da capital, Skopje.
Dai os macedonios, atuais habitantes da Macedonia, alegam que nunca foram gregos, porque mesmo os antigos macedonios - reconhecidamente macedonios por ambos os lados, se eh que voce me entende e ja nao se perdeu la na aulda de historia da barba - nao podiam participar das Olimpiadas, festa so de gregos. O que prova que macedonio eh macedonio e grego eh grego.
Entao, como voce nao entendeu mesmo, (nem entendeu o titulo do post) vai! Corre pro Google, volta e diz o que pensa.
Sobre como fui a Turquia
Entao eu estava de volta a Grecia. A suja Tessalonica jah nao me encantou antes - mas encantou meus olhos que ficaram vermelhos e ardentes como rubis. Se Sao Paulo eh poluida? Jah veio a Tessaloniki? - e nao ha trens pra direcao sul. Se, ao nos negarem o sul, querem que vamos ao norte, que assim seja. Farei o caminho do dominio turco otomano em direcao aos turcos otomanos, inversa como sou, inversa seguirei.
O trem pra Istambul fez minhas meninas dos olhos dancarem como bailarinas. Quisera eu que todos os lugares que fui fossem afrescos ricos em detalhes assim. (ai... eh tao ruim postar sem tempo... uma coisa me leva a outra, que me leva a outra, e eu nao tenho tempo pra editar pensamento, e fico enxotando lembranca como quem enxota mosca, assim, com a mao em leque, ou balancando a cabeca.)
Mulheres de veus, criancas de conjuntos coloridos, homens de barbas trancadas, eslavos, gregos, turistas australianos com suas mochilas gigantes e eu.
Pena que nao fui a Turquia.
Entao eu estava de volta a Grecia. A suja Tessalonica jah nao me encantou antes - mas encantou meus olhos que ficaram vermelhos e ardentes como rubis. Se Sao Paulo eh poluida? Jah veio a Tessaloniki? - e nao ha trens pra direcao sul. Se, ao nos negarem o sul, querem que vamos ao norte, que assim seja. Farei o caminho do dominio turco otomano em direcao aos turcos otomanos, inversa como sou, inversa seguirei.
O trem pra Istambul fez minhas meninas dos olhos dancarem como bailarinas. Quisera eu que todos os lugares que fui fossem afrescos ricos em detalhes assim. (ai... eh tao ruim postar sem tempo... uma coisa me leva a outra, que me leva a outra, e eu nao tenho tempo pra editar pensamento, e fico enxotando lembranca como quem enxota mosca, assim, com a mao em leque, ou balancando a cabeca.)
Mulheres de veus, criancas de conjuntos coloridos, homens de barbas trancadas, eslavos, gregos, turistas australianos com suas mochilas gigantes e eu.
Pena que nao fui a Turquia.
17.10.02
Nao sabia que os gregos usavam o alfabeto, bem, grego. Tive um certo tempo pra aprender o alfabeto cirilico, e me dediquei bastante ja que estava vindo a Macedonia, lugar de onde escrevo, e onde se espera que todo mundo saiba o alfabeto desenhado.
Mas o grego? Nem imaginava que precisaria, ou mesmo que existia! Entao, de repente, descobri que o conhecia das aulas de matematica.
Amanha escrevo mais.
Mas o grego? Nem imaginava que precisaria, ou mesmo que existia! Entao, de repente, descobri que o conhecia das aulas de matematica.
Amanha escrevo mais.
14.10.02
Um senhor na minha frente le um livro e anota a lapis nos cantos. Eh um livro grosso, e ele jah esta no final. Me escorrego um pouco para ver se consigo ler a capa. Por um momento achei que era Stanislavski. Duvido. Ele levanta um pouco o livro mas nunca eh o suficiente. Penso em desistir e volto a me sentar. A coluna me doi. Seu celular toca, ele atende e num impulso abandona o livro na cadeira e sai ao corredor. Eh Stanislavski.
Ele volta. Vejo que nao eh bem um senhor e fico procurando a razao de ter pensado assim. Os cabelos revoltos sao a unica coisa que o diferenciam de uma estatua grega classica. Tem uma beleza correta, quase dura. Tem olhos curiosos que pregam em mim antes de perguntar 'Gosta de Stanislavski?'. Quis responder que o Manual do Ator repousou no meu armario branco de livros coloridos por longos meses e a unica vez que o abri foi pra colocar dentro um papelzinho com um numero de telefone escrito, mas me detive. Nem meu italiano - que vou aprendendo devagar como que come uma caixa de bombons caros - chega a tanto nem a verdade me parece inteligente. Respondi que gostava mais de Stanislavski que de Grotowski, o que nao sendo a verdade eh uma verdade, ja que nao gosto de Grotowski de jeito nenhum e nao acredito que gostarei de nenhum outro teorico do teatro menos do que dele.
Minha resposta funcionou em mim como uma travessura que criam um sorriso no canto da boca. Nele o efeito foi de surpresa. Levantou a sobrancelha direita e sorriu. 'Entao, menina que conhece Stanislavski, que outras surpresas guarda?'
A de que nao conheco Stanislavski. Mas me limitei a soltar o sorriso que estava preso no canto da boca.
Ele volta. Vejo que nao eh bem um senhor e fico procurando a razao de ter pensado assim. Os cabelos revoltos sao a unica coisa que o diferenciam de uma estatua grega classica. Tem uma beleza correta, quase dura. Tem olhos curiosos que pregam em mim antes de perguntar 'Gosta de Stanislavski?'. Quis responder que o Manual do Ator repousou no meu armario branco de livros coloridos por longos meses e a unica vez que o abri foi pra colocar dentro um papelzinho com um numero de telefone escrito, mas me detive. Nem meu italiano - que vou aprendendo devagar como que come uma caixa de bombons caros - chega a tanto nem a verdade me parece inteligente. Respondi que gostava mais de Stanislavski que de Grotowski, o que nao sendo a verdade eh uma verdade, ja que nao gosto de Grotowski de jeito nenhum e nao acredito que gostarei de nenhum outro teorico do teatro menos do que dele.
Minha resposta funcionou em mim como uma travessura que criam um sorriso no canto da boca. Nele o efeito foi de surpresa. Levantou a sobrancelha direita e sorriu. 'Entao, menina que conhece Stanislavski, que outras surpresas guarda?'
A de que nao conheco Stanislavski. Mas me limitei a soltar o sorriso que estava preso no canto da boca.
11.10.02
Posso estar me repetindo, mas o momento em que olho pra uma cidade e ela ja nao me eh mais um labirinto de ruas sem identidade, e aquela esquina com uma pedra na calcada que me fez tropecar da primeira vez nao me engana nesta - mas nao adianta, tropeco de novo - e o homem do restaurante do outro lado me da um olhar de sorriso e finge olhar no relogio, e eu presto mais atencao porque sei que carro que vem de la nao pode me ver, esses pequenos milagres bolhas de sabao fazem com que a cidade estranha passe a ser minha tambem.
E assim de peregrina das vias me torno senhora dos pavimentos, deusa das esquinas, rainha dos caminhos. E me coroo no marmore vermelho egipcio, que sendo o mais raro de todos conheco varios de seus enderecos.
E assim de peregrina das vias me torno senhora dos pavimentos, deusa das esquinas, rainha dos caminhos. E me coroo no marmore vermelho egipcio, que sendo o mais raro de todos conheco varios de seus enderecos.
9.10.02
A Toscana passava correndo enquanto eu chorava lendo que 'a vida seria pior se essa paisagem nao fosse tao bela'. Um chuva fina lavava os vidros da janela. Ja cansada de Museus, anjos e Igrejas resolvi deixar Firenze pra outra hora, outro dia, outra historia. Bolonha ja tinha me parecido mais bonita nas fotos da Mari.
E entao, quando maravilhas jah nao faziam voltar meus olhos, veio Roma.
E eu nao vi mais nada, e o espirito de Deus brilhou por sobre as aguas.
E entao, quando maravilhas jah nao faziam voltar meus olhos, veio Roma.
E eu nao vi mais nada, e o espirito de Deus brilhou por sobre as aguas.
6.10.02
Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos de outras terras, queria mesmo neste instante era voltar.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
1.10.02
26.9.02
Ai, tenho tanta coisa^pra contar..., mas a conexao eh tao cara por essas plagas. Ponto pro meu diario nada virtual. Escrevo nele todo dia, e assim que conseguir uma conexao mais barata, transcreverei.
Dijon nao tem nada de especial, mas eu me apaixonei.; Era pra ter ido embora na terca, e ainda estou por aqui. Vou essa noite pra Ceva, interior da Italia. Infelizmente minha incursao pela Franca acaba por aqui. Semana que vem, Veneza me conhecera.
(E pra responder a pergunta de uma querida leitora, que gracinha!, eu to passeando, viu? Moro em Ouro Preto.)
Dijon nao tem nada de especial, mas eu me apaixonei.; Era pra ter ido embora na terca, e ainda estou por aqui. Vou essa noite pra Ceva, interior da Italia. Infelizmente minha incursao pela Franca acaba por aqui. Semana que vem, Veneza me conhecera.
(E pra responder a pergunta de uma querida leitora, que gracinha!, eu to passeando, viu? Moro em Ouro Preto.)
23.9.02
LOUVRE, OU EM BUSCA DA GIOCONDA
E eh bem verdade o que dizem do Louvre. Filas lotadas de japoneses. E tah dificil tirar uma foto sem que saia a cabeca de um japones. (Lembro com carinho da velhinha que me perguntou numa loja oriental de Londres porque que eu tirei uma foto da estante das revistas. Na falta de explicacao que fizesse sentido disse que tinha gostado da organizacao das cores. Pedi pra tirar uma foto dela. Ela me disse que nao tinha se arrumado e mimosamente pos a mao no cabelo. Eu tirei a foto e sai dali como uma crianca que ganha um doce.) Deixa, japones fica bem na foto.
Quanto a Monalisa, demorei quatro horas pra achar, apesar das setas apontando, mas no final me pareceu meio sem graca. Aquelas versoes posteres que se viam nas casas de interior antigamente sao maiores e de cores mais brilhantes. Talvez minha memoria tenha dado mais cor e brilho pra elas.
Dentre a Venus de Milo, a Vitoria de Samotracia e A Bordadeira de Vermeer, as pecas que eu mais queria ver no Louvre, o que eu mais gostei mesmo foi dos aposentos de Napoleao III. Lembro que a revista Veja escreveu sobre isso no ano passado, quando abriram a visitacao publica, e so colocou uma foto pequena. Dizia na reportagem que era tao grandioso que nao tinha jeito de tirar foto. Eu so tirei uma, da esquina de cima do pe direito de 15 metros esculpido em ouro. Eh, nao ia caber mesmo na foto.
Bonito tambem sao uns animais antropomorficos gigantes que ficavam num palacio na Mesopotamia. E claro, as esculturas. Milhares delas.
Passei 8 horas no Louvre. Devo ser a unica pessoa que visitou tudo num dia.
ZODIACO
Mais inspirado, voc� tentar� aproximar seus sonhos da realidade, cada vez mais. No embalo da Lua cheia e sintonizado com o Sol em Libra, a partir de hoje voc� tem condi��es para avaliar com clareza o resultado do que fez. Retificar rotas, cortar excessos, rever estrat�gias e fazer op��es serias fazem parte desta fase. Relacionamentos e parcerias em destaque at� 23/10. Preserve seu equil�brio org�nico.
Mais inspirado, voc� tentar� aproximar seus sonhos da realidade, cada vez mais. No embalo da Lua cheia e sintonizado com o Sol em Libra, a partir de hoje voc� tem condi��es para avaliar com clareza o resultado do que fez. Retificar rotas, cortar excessos, rever estrat�gias e fazer op��es serias fazem parte desta fase. Relacionamentos e parcerias em destaque at� 23/10. Preserve seu equil�brio org�nico.
Hoje um velhinho frances que lutou na segunda guerra me ensinou que eu ja sei frances. Eu so tenho medo de pular. Porque aprender outra lingua eh igual aprender a nadar. (O mesmo Mr Maurice me contou que o que mais o emocionou na vida foi conversar com um japones, durante a guerra. Em esperanto. E ninguem mais sabe falar esperanto.)
21.9.02
Perdao,meu senhor.
Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.
Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.
Perdao,meu senhor.
Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.
Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.
20.9.02
E QUEM DIRIA?, A NOTRE DAME FALA PORTUGUES.
Acordei bem cedo e fui procurar acomodacao. Achei um albergue internacional (com a bandeirinha do Brasil la, junto com a do Reino Unido, Alemanha e Franca). Staff bastante simpatico, quartos limpos. Fui de la direto ao centro de informacoes da cidade pegar um mapa e comprar um dicionario, porque ja percebi que nao vai dar pra viver sem. Do entro de informacao im ao Easy, que tem maquinas velhas onexao lenta e preco alto. Que saudade do Easy da High St Ken.
Do Easy saiandando pela cidade. Quer saber? Nao sei se nossospais, nossos professores ou a propaganda, mas alguem mentiu. A Europa e imunda. Ouro Preto depois do Carnaval? Do tipo. Pai, lembra do fedor que estava em Ilheus naquela vez? Igualzinho. Ate agora ja constatei a sujeira e o fedor da Inglaterra, da Escocia, do Pais de Gales e da Franca. Minha esperanca eh a Italia (ho ho ho). E tem aquele monte de papel na rua, etc. etc.
Entao, jah que tava perto, eu resolvi ir a Notre Dame. Sentei em seus jardins pensando que eu estava cansada demais pra entrar. Comecei a ler o guia e resolvi dar uma entradinha. Dou uma olhada e volto outra hora, com a cabeca mais tranquila pra ver novidade. Tava lah, parada pensando o que raios fazum altar de arte moderna num templo gotico quando escuto, assim mesmo: Visitas guiadas em portugues saindo da entrada em 5 minutos.Oferta da Catedral.
Nao da pra perder, ne? Fui. A guia e carioca e sae tudo de simbologia catolica. como o quorumeraeu e mais um paraibano perdido porali, a visita durou mais de 2 horas. E eu sai apaixonada pelo lugar.
Acordei bem cedo e fui procurar acomodacao. Achei um albergue internacional (com a bandeirinha do Brasil la, junto com a do Reino Unido, Alemanha e Franca). Staff bastante simpatico, quartos limpos. Fui de la direto ao centro de informacoes da cidade pegar um mapa e comprar um dicionario, porque ja percebi que nao vai dar pra viver sem. Do entro de informacao im ao Easy, que tem maquinas velhas onexao lenta e preco alto. Que saudade do Easy da High St Ken.
Do Easy saiandando pela cidade. Quer saber? Nao sei se nossospais, nossos professores ou a propaganda, mas alguem mentiu. A Europa e imunda. Ouro Preto depois do Carnaval? Do tipo. Pai, lembra do fedor que estava em Ilheus naquela vez? Igualzinho. Ate agora ja constatei a sujeira e o fedor da Inglaterra, da Escocia, do Pais de Gales e da Franca. Minha esperanca eh a Italia (ho ho ho). E tem aquele monte de papel na rua, etc. etc.
Entao, jah que tava perto, eu resolvi ir a Notre Dame. Sentei em seus jardins pensando que eu estava cansada demais pra entrar. Comecei a ler o guia e resolvi dar uma entradinha. Dou uma olhada e volto outra hora, com a cabeca mais tranquila pra ver novidade. Tava lah, parada pensando o que raios fazum altar de arte moderna num templo gotico quando escuto, assim mesmo: Visitas guiadas em portugues saindo da entrada em 5 minutos.Oferta da Catedral.
Nao da pra perder, ne? Fui. A guia e carioca e sae tudo de simbologia catolica. como o quorumeraeu e mais um paraibano perdido porali, a visita durou mais de 2 horas. E eu sai apaixonada pelo lugar.
19.9.02
SOBRE ONTEM
Peguei o aviao em Heathrow 9:30 da manha. Se eu soubesse teria feito menos hora no duty free e tinha ido direto pros computadores com acesso gratuito a internet que o Heathrow oferece. 30 min depois eu ja estava sobrevoando Paris, meu destino final. Mas como sou pobre, e como diria o Caco Antibes, so sirvo pra fazer sabao, so cheguei em Paris 5 horas depois. A Alitalia faz aquela escalazzinha basica em Milao.
Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Cheguei quase fazendo xixi e fui direto procurar o banheiro. Necessidade satisfeita descobri que pela porta que eu tinha saido so se saia, nao se entrava. E minha bagagem tava la dentro. Fui perguntar como fazia pra entrar usando o melhor do meu frances 'Parlez vous anglais?' E foi assim que desde o comecinho descobri que o que dizem e verdade e franceses nao gosta de falar ingles. Ai, quinem quem ta fazendo coisa errada tive que esperrar alguem sair pra entrar camuflada de planta, ou o que fosse que chamasse menos atencao.
Agora descobrir como se sai daqui...
Train eh train mesmo. O caso eh pra onde, jah que eu nao tenho reserva em lugar nenhum... O guia diz aqui que tem uma estacao grande em que alem de posto de informacoes eles checam onde tem vaga. Vou pra lah.
Cheguei em Chatelet sei-la o q. Todos os postos de informacao estao fechados. Estou perdida.
Parei, dei uma olhada panoramica e entre todas as pessoas que passavam por ali procurei a com menos cara de francesa. Achei a Boba, assim mesmo o nome dela! Da Eslovaquia, que vai me ajudar a ligar pra todos os hostels da lista do guia.
ALGUM TEMPO DEPOIS...
Algum tempo depois e nenhuma vaga em hostel disponivel (parece que o mundo inteiro resolveu vir pra Paris), eu tenho que parar e falar de outra coisa. Eu na acredito em anjos, aqueles de asas abertas que se veem nas igrejas de Ouro Preto, nos museus da Europa, nas propagandas da Fiorucci. Eu acredito em anjo-gente, pessoas que de alguma forma cruzam seu caminho pra - usando uma expressao religiosa - derramar um dom. O moco do dia em que tirei meu passaporte e um desses anjos. A Boba e outra. Quem mais convidaria pra passar a noite em sua casa uma pessoa que nunca viu antes?? (To ate vendo a minha mae gritando. Tah bom, mae, mas o Anton eu conheci la em Caraiva, antes do episodio onibus nenhum pra lugar nenhum em dois dias.) Bem, nao era a casa dela, era o quarto do hotel dela. Ela e medica e esta aqui em Paris fazendo residencia. O hospital paga e ela fica num hotelzinho bem confortavel. Pelo menos tenho onde passar a noite. Amanha procuro acomodacao.
(So pra adiantar, eu ja achei viu?)
Peguei o aviao em Heathrow 9:30 da manha. Se eu soubesse teria feito menos hora no duty free e tinha ido direto pros computadores com acesso gratuito a internet que o Heathrow oferece. 30 min depois eu ja estava sobrevoando Paris, meu destino final. Mas como sou pobre, e como diria o Caco Antibes, so sirvo pra fazer sabao, so cheguei em Paris 5 horas depois. A Alitalia faz aquela escalazzinha basica em Milao.
Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Cheguei quase fazendo xixi e fui direto procurar o banheiro. Necessidade satisfeita descobri que pela porta que eu tinha saido so se saia, nao se entrava. E minha bagagem tava la dentro. Fui perguntar como fazia pra entrar usando o melhor do meu frances 'Parlez vous anglais?' E foi assim que desde o comecinho descobri que o que dizem e verdade e franceses nao gosta de falar ingles. Ai, quinem quem ta fazendo coisa errada tive que esperrar alguem sair pra entrar camuflada de planta, ou o que fosse que chamasse menos atencao.
Agora descobrir como se sai daqui...
Train eh train mesmo. O caso eh pra onde, jah que eu nao tenho reserva em lugar nenhum... O guia diz aqui que tem uma estacao grande em que alem de posto de informacoes eles checam onde tem vaga. Vou pra lah.
Cheguei em Chatelet sei-la o q. Todos os postos de informacao estao fechados. Estou perdida.
Parei, dei uma olhada panoramica e entre todas as pessoas que passavam por ali procurei a com menos cara de francesa. Achei a Boba, assim mesmo o nome dela! Da Eslovaquia, que vai me ajudar a ligar pra todos os hostels da lista do guia.
ALGUM TEMPO DEPOIS...
Algum tempo depois e nenhuma vaga em hostel disponivel (parece que o mundo inteiro resolveu vir pra Paris), eu tenho que parar e falar de outra coisa. Eu na acredito em anjos, aqueles de asas abertas que se veem nas igrejas de Ouro Preto, nos museus da Europa, nas propagandas da Fiorucci. Eu acredito em anjo-gente, pessoas que de alguma forma cruzam seu caminho pra - usando uma expressao religiosa - derramar um dom. O moco do dia em que tirei meu passaporte e um desses anjos. A Boba e outra. Quem mais convidaria pra passar a noite em sua casa uma pessoa que nunca viu antes?? (To ate vendo a minha mae gritando. Tah bom, mae, mas o Anton eu conheci la em Caraiva, antes do episodio onibus nenhum pra lugar nenhum em dois dias.) Bem, nao era a casa dela, era o quarto do hotel dela. Ela e medica e esta aqui em Paris fazendo residencia. O hospital paga e ela fica num hotelzinho bem confortavel. Pelo menos tenho onde passar a noite. Amanha procuro acomodacao.
(So pra adiantar, eu ja achei viu?)
18.9.02
17.9.02
16.9.02
Ter na v�spera o cuidado de escancarar a janela. Despertar com a primeira luz cantando e ver dentro da moldura da janela a mocidade do universo, l�mpido inc�ndio a debruar de vermelho quase frio as nuvens espessas. A brisa alta, que se levanta, agitar docemente as grinaldas das janelas fronteiras. Uma gaivota madrugadora cruzar o ret�ngulo.* Um galo desenhar na hora a par�bola de seu canto. Ent�o, dormir de novo, devagar, como se dessa vez fosse para retornar � terra s� ao som da trombeta do arcanjo.
Acordar de novo com cheiro de cafe vindo da cozinha, o barulho da agua da pia, o tilintar das panelas.
- Onde vai hoje?
-Nao sei. Acho que vou ser feliz.
* Odeio gaivotas.
Acordar de novo com cheiro de cafe vindo da cozinha, o barulho da agua da pia, o tilintar das panelas.
- Onde vai hoje?
-Nao sei. Acho que vou ser feliz.
* Odeio gaivotas.
DA FRANCA VOLTEI
Meu visto na Inglaterra expiraria 4 dias antes da minha passagem de saida. Teria queir ao Home Office, um daqueles escritorios onde funcionarios com autoridade emprestada pelo cargo, mesmo que o cargo seja de porteiro do predio, nao sorriem e dizem 'Ronaldo, football, carnival!' (sim, porque na Inglaterra futebol eh football mesmo. Soccer eh invencao de americano), quando a gente diz que eh brasileiro. A primeira emenda aqui nao funciona: voce eh imigrante antes que prove o contrario.
O tal do Home Office fica em Croydon, suburbio distante 2h e sem charme nenhum. Diante da minha necessidade de ir lah minha tia, mais low profile impossivel me disse: 'nao se aborreca, va pra Franca'. E assim fui pra Franca no caminho mais longo que ja fiz em busca de um carimbo. Melhor ver o mar e terminar vendo a cara do oficial da imigracao que ver o oficial da imigracao de cara e sem compensacao, depois de ter esperado, dizem, umas 5 horas na fila.
A travessia do Canal da Mancha de barco nunca eh muito tranquila. Eu me senti dentro de uma maquina de lavar de tanto que aquilo balancava. Nao dava pra ficar nem em pe, todo mundo segurando no braco da cadeira, e meu estomago rodando mais que catavento em vendaval. Calais, ja em terras de merci beaucoup cabe em qualquer descricao oficial de suburbio industrial. Feia, cinza e triste. Nossa unica diversao foi comer croissants. 20 pra tres. E a moca da padaria deve ter achado que a gente nunca tinha comido aquilo na vida. Quente e bom daquele jeito, nunca mesmo.
Depois de tres horas procurando o que fazer em Calais, com um episodio do meus amigos indo molhar o pe na praia e eu esperando por eles me protejendo do vento na cabine telefonica com vista pro mar, voltamos pras terras da rainha.
(O oficial da imigracao me perguntou como eu tinha recebido aquele visto de 3 meses se a oficial de Gatwick sabia que eu ficaria mais tempo. 'Eu tambem acho que ela era uma idiota'., respondi. Ele riu e me deu o carimbinho.)
Na minha infancia a Franca era feita de castelos e vilas e queijos e croissants. Era onde Proust se apaixonava, onde D.J via mulheres azuis. Nenhuma Paris e mais bonita que a Paris dos meus sonhos. Aprendi rapidinho. Mas a parte dos croissants ainda eh verdade.
Novamente em casa, conversar com a fam�lia. (...) Enquanto estes s�o postos em sossego, abrir um livro. Sentir que a noite desceu e as luzes distantes melancolizam. Se a solid�o assaltar-nos, subjug�-la; se o sentimento de inseguran�a chegar, usar o telefone; se for a saudade, abrig�-la com reservas; se for a poesia, possui-la; se for o corvo arranhando o caixilho da janela, gritar-lhe alto e bom som: never more.
Noite pesada. � luz da l�mpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo est� errado, que o mundo devia, mas n�o � composto de domingos. Ent�o, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante n�o nos repartam em uma exist�ncia de ego�smos.
Meu visto na Inglaterra expiraria 4 dias antes da minha passagem de saida. Teria queir ao Home Office, um daqueles escritorios onde funcionarios com autoridade emprestada pelo cargo, mesmo que o cargo seja de porteiro do predio, nao sorriem e dizem 'Ronaldo, football, carnival!' (sim, porque na Inglaterra futebol eh football mesmo. Soccer eh invencao de americano), quando a gente diz que eh brasileiro. A primeira emenda aqui nao funciona: voce eh imigrante antes que prove o contrario.
O tal do Home Office fica em Croydon, suburbio distante 2h e sem charme nenhum. Diante da minha necessidade de ir lah minha tia, mais low profile impossivel me disse: 'nao se aborreca, va pra Franca'. E assim fui pra Franca no caminho mais longo que ja fiz em busca de um carimbo. Melhor ver o mar e terminar vendo a cara do oficial da imigracao que ver o oficial da imigracao de cara e sem compensacao, depois de ter esperado, dizem, umas 5 horas na fila.
A travessia do Canal da Mancha de barco nunca eh muito tranquila. Eu me senti dentro de uma maquina de lavar de tanto que aquilo balancava. Nao dava pra ficar nem em pe, todo mundo segurando no braco da cadeira, e meu estomago rodando mais que catavento em vendaval. Calais, ja em terras de merci beaucoup cabe em qualquer descricao oficial de suburbio industrial. Feia, cinza e triste. Nossa unica diversao foi comer croissants. 20 pra tres. E a moca da padaria deve ter achado que a gente nunca tinha comido aquilo na vida. Quente e bom daquele jeito, nunca mesmo.
Depois de tres horas procurando o que fazer em Calais, com um episodio do meus amigos indo molhar o pe na praia e eu esperando por eles me protejendo do vento na cabine telefonica com vista pro mar, voltamos pras terras da rainha.
(O oficial da imigracao me perguntou como eu tinha recebido aquele visto de 3 meses se a oficial de Gatwick sabia que eu ficaria mais tempo. 'Eu tambem acho que ela era uma idiota'., respondi. Ele riu e me deu o carimbinho.)
Na minha infancia a Franca era feita de castelos e vilas e queijos e croissants. Era onde Proust se apaixonava, onde D.J via mulheres azuis. Nenhuma Paris e mais bonita que a Paris dos meus sonhos. Aprendi rapidinho. Mas a parte dos croissants ainda eh verdade.
Novamente em casa, conversar com a fam�lia. (...) Enquanto estes s�o postos em sossego, abrir um livro. Sentir que a noite desceu e as luzes distantes melancolizam. Se a solid�o assaltar-nos, subjug�-la; se o sentimento de inseguran�a chegar, usar o telefone; se for a saudade, abrig�-la com reservas; se for a poesia, possui-la; se for o corvo arranhando o caixilho da janela, gritar-lhe alto e bom som: never more.
Noite pesada. � luz da l�mpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo est� errado, que o mundo devia, mas n�o � composto de domingos. Ent�o, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante n�o nos repartam em uma exist�ncia de ego�smos.
14.9.02
Minha rela��o com os dicion�rios se devia ao fato de minha ignor�ncia ser infinitamente maior do que o que eu sabia. Da� a tentativa de aprender as coisas nos dicion�rios. Nada acad�mico, nunca fui fil�sofo. O homem inventou estradas, auto-estradas, um caos. N�o se pode andar na rua e, de carro, ent�o, nem se fala. Foi a intelig�ncia que nos levou a todos esses absurdos. A destrui��o da natureza, a viol�ncia, o banditismo. Como diz Noel Rosa: "Mas a filosofia hoje me auxilia a viver indiferente assim. Nessa solid�o sem fim, vou fingindo que sou rico para ningu�m zombar de mim". E continua Noel: "Quanto a voc�, da aristocracia, tem dinheiro, mas n�o compra a alegria. H� de viver eternamente sendo escravo dessa gente que cultiva a hipocrisia". O cultivo da hipocrisia chegou a um ponto em que o pa�s ficou de cabe�a para baixo. Como disse Chico Buarque, dinheiro � bom para comprar u�sque, charuto e pagar o aluguel. Quando o dinheiro � tudo, a vida vira a maior chatice.
Tom Jobim
Tom Jobim
13.9.02
AULA DE INGLES
- Is it a handkerchief?
Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade n�o sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... N�o, hipoteca n�o. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de duvida antipatica; talvez fosse chefe de servi�o ou relogio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse respondi impavido:
- No, it's not!
Rubem Braga
Em tempo, handkerchief eh len�o. So sei porque sonhei com essa palavra. Tive que levantar da cama e olhar no dicionario. Mais um programa da serie 'Como eh mesmo o nome do dinossauro que voa?'
E assim se inventou o blog...
Assim como os antigos moralistas escreviam m�ximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de m�nimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada �s limita��es do meu engenho, traduzisse um tipo de experi�ncia vivida, que n�o chega a ser sabedoria mas que, de qualquer modo, � resultado de viver.
Drummond
Assim como os antigos moralistas escreviam m�ximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de m�nimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada �s limita��es do meu engenho, traduzisse um tipo de experi�ncia vivida, que n�o chega a ser sabedoria mas que, de qualquer modo, � resultado de viver.
Drummond
POEMINHA SENTIMENTAL
O meu amor, o meu amor, Maria
� como um fio telegr�fico da estrada
Aonde v�m pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(N�o sei se as andorinhas cantam, mas v� l�!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A �ltima que passou
Limitou-se a fazer coc�
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor � sempre o mesmo:
As andorinhas � que mudam.
Quintana in Preparativos de Viagem
O meu amor, o meu amor, Maria
� como um fio telegr�fico da estrada
Aonde v�m pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(N�o sei se as andorinhas cantam, mas v� l�!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A �ltima que passou
Limitou-se a fazer coc�
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor � sempre o mesmo:
As andorinhas � que mudam.
Quintana in Preparativos de Viagem
London Underground
A primeira vez que vi esse mapa me perguntei se afinal isso, alem de ter um design interessante, servia pra alguma coisa. Hoje sei que aqui nao da pra viver sem, e sei que mesmo se nunca mais voltar, quando eu olhar pra esse mapa daqui a anos, isso me aquecera o coracao. O 'mind the gap' vai acabar virando bordao mundial, mas nao da pra esquecer aquela voz dizendo isso pelo microfone e a cara de interrogacao que a gente faz a primeira vez que ouve. Historinhas vividas no underground tenho de monte. Um dia conto pros meus netos.
(Mas uma vai agora: Isam acendeu um cigarro na estacao aberta de South Kensington. A voz do microfone, que a gente achava que era gravada, disse no mesmo tom monocordio: This is for the gentleman in the blue t-shirt. Please extinguish your cigarrete immediately. Smoking is not allowed in London Underground.)
A primeira vez que vi esse mapa me perguntei se afinal isso, alem de ter um design interessante, servia pra alguma coisa. Hoje sei que aqui nao da pra viver sem, e sei que mesmo se nunca mais voltar, quando eu olhar pra esse mapa daqui a anos, isso me aquecera o coracao. O 'mind the gap' vai acabar virando bordao mundial, mas nao da pra esquecer aquela voz dizendo isso pelo microfone e a cara de interrogacao que a gente faz a primeira vez que ouve. Historinhas vividas no underground tenho de monte. Um dia conto pros meus netos.
(Mas uma vai agora: Isam acendeu um cigarro na estacao aberta de South Kensington. A voz do microfone, que a gente achava que era gravada, disse no mesmo tom monocordio: This is for the gentleman in the blue t-shirt. Please extinguish your cigarrete immediately. Smoking is not allowed in London Underground.)
Mundinho Fashion, ou como gastar �10000 em um vestido
Trabalhar na Sloane Square, um dos - tres, talvez - metros quadrados mais chiques do mundo eh uma grande tentacao. Luxo, riqueza e vestidinhos de �10000 fazem parte da fantasia de toda mulher; ao lado de casar de noiva, ser grande executiva ou dona de casa. Mais ou menos como se fossem cartas diferentes de um mesmo baralho, pecas diferentes de um mesmo xadrez, e todas essas fantasias convivessem tranquilamente no tabuleiro em cima da cristaleira que eh a mente feminina.
Vez ou outra uma dessas fantasias sai do armario e se transforma em materia pra sonhar. Depois, o contracheque, o fato dos homens interessantes mais cedo ou mais tarde assumirem sua homessexualidade, ou a dificuldade de encontrar um emprego de grande executiva em Bom Jesus do Galho, cruelmente nos obrigam a devolver a fantasia pro armario, a Rainha pro tabuleiro, o playmobil pro bau.
Mas quando uma oferta real de encarnar a Donata QuetrabalhanaDaslueaparecesemprenaCaras surge as pernas parecem caminhar sozinhas na direcao da imaginacao. Porque ninguem tem o sonho secreto de ser farmaceutica. Mas toda mulher quer experimentar o barato que e trabalhar com moda. Agora, vender o cinto da ultima colecao Chanel eh facil, dificil eh convencer que a bota com perna de calca eh o must have da proxima estacao. Eh, o mundinho fashion nao eh assim tao facil. Prefiro minhas imprevisiveis bacterias azuis.
Trabalhar na Sloane Square, um dos - tres, talvez - metros quadrados mais chiques do mundo eh uma grande tentacao. Luxo, riqueza e vestidinhos de �10000 fazem parte da fantasia de toda mulher; ao lado de casar de noiva, ser grande executiva ou dona de casa. Mais ou menos como se fossem cartas diferentes de um mesmo baralho, pecas diferentes de um mesmo xadrez, e todas essas fantasias convivessem tranquilamente no tabuleiro em cima da cristaleira que eh a mente feminina.
Vez ou outra uma dessas fantasias sai do armario e se transforma em materia pra sonhar. Depois, o contracheque, o fato dos homens interessantes mais cedo ou mais tarde assumirem sua homessexualidade, ou a dificuldade de encontrar um emprego de grande executiva em Bom Jesus do Galho, cruelmente nos obrigam a devolver a fantasia pro armario, a Rainha pro tabuleiro, o playmobil pro bau.
Mas quando uma oferta real de encarnar a Donata QuetrabalhanaDaslueaparecesemprenaCaras surge as pernas parecem caminhar sozinhas na direcao da imaginacao. Porque ninguem tem o sonho secreto de ser farmaceutica. Mas toda mulher quer experimentar o barato que e trabalhar com moda. Agora, vender o cinto da ultima colecao Chanel eh facil, dificil eh convencer que a bota com perna de calca eh o must have da proxima estacao. Eh, o mundinho fashion nao eh assim tao facil. Prefiro minhas imprevisiveis bacterias azuis.
12.9.02
11.9.02
Depois de dois meses e uma semana passando o tempo todo juntos, a despedida foi dificil.
Acordamos cedo pra pegar o metro pra Ealing Broadway. Isam queria levar para a mae fotos da casa em que ela morou trinta anos atras quando o pai dele fez phD aqui. O bairro 'e daqueles em que os pais chegam tarde e as criancas sao felizes. (E a paisagem grita que aqui na Inglaterra mesmo os mais abastados nao conseguem escapar da uniformidade. Ealing Broadway e um bairro de mansoes, todas iguaizinhas, com as mesmas Mercedes nas garagens.)
De la fomos ate Candem Town, de longe o meu lugar preferido em Londres, uma especie de Mercado Mundo Mix perpetuo, cheio de punks e emilias. Isam ainda nao conhecia. Pro almoco o ultimo 'fish and chips' dele em terras britanicas. Na esteira do Heathrow recebo uma SMS de Nada: 'Baby can I hold you tonight, maybe if I tell you the right words, at the right time, You'll be mine', a musica que embalava as noites ebrias de Cardiff, e segurar o choro lendo "I miss you" - sabendo que eu sentiria deles uma falta palpavel, mas que aos poucos iria ser arquivada num canto escondido da gaveta de fotos - foi impossivel.
E ele olhou pra mim, e como num daqueles finais de flme com Meg Ryan, ou Sandra Bullock, ou Madonna e Rupert Everett, disse 'See you later, for sure'.
22.8.02
Tenho que terminar logo com isso.
(Volto e leio aquelas outras palavras.)
Nao. Tenho que terminar logo com isso. (Escrevo, escrevo, escrevo.) Como se traduz further, mesmo? Babelfish.
(Volto e leio aquelas outras palavras.)
Anda, nao para, resolve. Useful, extremamente util.
(Nao quero ser util, volto e leio aquelas outras palavras.)
'Strains with unusual activities', novas atividades, humm, nao... preciso me concentrar em novas atividades, mas volto e leio aquelas outras palavras. Volta! Volta! Preciso me concentrar. 'Novel toxin profiles will be selected for furter analysis'... but i've been rather busy trying to sort out what i want to do (in life). E meu coracao aperta sobre o efeito de novas toxinas - que serao selecionadas para uma analise mais cuidadosa, volta, volta. Genes serao clonados e superexpressados. (Preciso aprender a nao me superexpressar. Assim deve ser. Mas acabo sempre voltando aquelas palavras.)
(Tenho muito o que fazer, mas tenho algo mais importante pra viver.)
(Volto e leio aquelas outras palavras.)
Nao. Tenho que terminar logo com isso. (Escrevo, escrevo, escrevo.) Como se traduz further, mesmo? Babelfish.
(Volto e leio aquelas outras palavras.)
Anda, nao para, resolve. Useful, extremamente util.
(Nao quero ser util, volto e leio aquelas outras palavras.)
'Strains with unusual activities', novas atividades, humm, nao... preciso me concentrar em novas atividades, mas volto e leio aquelas outras palavras. Volta! Volta! Preciso me concentrar. 'Novel toxin profiles will be selected for furter analysis'... but i've been rather busy trying to sort out what i want to do (in life). E meu coracao aperta sobre o efeito de novas toxinas - que serao selecionadas para uma analise mais cuidadosa, volta, volta. Genes serao clonados e superexpressados. (Preciso aprender a nao me superexpressar. Assim deve ser. Mas acabo sempre voltando aquelas palavras.)
(Tenho muito o que fazer, mas tenho algo mais importante pra viver.)
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perd�-las n�o traz desastre.
Pratica perder mais r�pido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de f�rias
ir. Nenhuma perda trar� desastre.
Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre."
Ontem, depois do trabalho, fui a estacao trocar minha passagem. (Saio daqui de Cardiff sexta-feira, 3 da tarde, rumo a Londres, onde fico ate o dia 17 de setembro.)
Ontem eu percebi que no momento em que eu me transformei em transeunte, 'como aqueles sujeitos em que se ve no fundo de uma foto de um cartao postal, dobrando uma esquina, ou acendendo um cigarro na porta da padaria', eu deixo essa cidade.
Perco mais uma cidade.
+ e-mail
"se � pra ter qualidade de vida............vai pra Suecia ou mesmo Alemanha, Fran�a.............onde o clima � quase a merma coisa.............o sistema de sa�de � muito melhor q no UK................o sistema ferroviario ingles � um dos piores da Europa!!!! Se fosse bom como no continente...........a viagem de Eurostar seria quase 1h + r�pido..............o transito � horrivel............ ainda bem q o metro � show.........me amarro.......ah se tivesse um assim no Rio!!! Mas tbm, quando da merda.........uma vez a Jubilee Line ficou suspensa em plena hora do rush.........levei quase 2:30h pra fazer um caminho q n�o demora + de 30min.
As ruas s�o limpas, sim! e a viol�ncia � rid�cula...........esse ingleses vem me falar q Brixton � perigoso........pera l�...........quando ia fazer palestra na policia ai em Londres eles ficavam chocados c/minhas estorias do Rio.
Mas em nenhum outro canto da Europa.......vc vai encontrar tanta diversidade cultural.........� uma verdadeira capital do mundo!"
Exceto pela afirmacao 'ruas limpas' eu concordo com tudo isso. E eu tambem estava dentro da Jubilee Line num dia de domingo, que foi construida pra ser a linha de metro mais rapida de Londres (humpf), pois bem, tava dentro do metro, com vista pra coisa alguma, num dia de domingo, e la fiquei por um bom tempo. Mas nao da pra negar: isso aqui e o caldeirao cultural, a geleia geral.
"se � pra ter qualidade de vida............vai pra Suecia ou mesmo Alemanha, Fran�a.............onde o clima � quase a merma coisa.............o sistema de sa�de � muito melhor q no UK................o sistema ferroviario ingles � um dos piores da Europa!!!! Se fosse bom como no continente...........a viagem de Eurostar seria quase 1h + r�pido..............o transito � horrivel............ ainda bem q o metro � show.........me amarro.......ah se tivesse um assim no Rio!!! Mas tbm, quando da merda.........uma vez a Jubilee Line ficou suspensa em plena hora do rush.........levei quase 2:30h pra fazer um caminho q n�o demora + de 30min.
As ruas s�o limpas, sim! e a viol�ncia � rid�cula...........esse ingleses vem me falar q Brixton � perigoso........pera l�...........quando ia fazer palestra na policia ai em Londres eles ficavam chocados c/minhas estorias do Rio.
Mas em nenhum outro canto da Europa.......vc vai encontrar tanta diversidade cultural.........� uma verdadeira capital do mundo!"
Exceto pela afirmacao 'ruas limpas' eu concordo com tudo isso. E eu tambem estava dentro da Jubilee Line num dia de domingo, que foi construida pra ser a linha de metro mais rapida de Londres (humpf), pois bem, tava dentro do metro, com vista pra coisa alguma, num dia de domingo, e la fiquei por um bom tempo. Mas nao da pra negar: isso aqui e o caldeirao cultural, a geleia geral.
21.8.02
E-mail inbox
O colunista Sydney Harris conta uma est�ria em que acompanhava um amigo � banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua dire��o, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:
- "Ele sempre te trata com tanta grosseria?"
- "Sim, infelizmente � sempre assim..."
- "E voc� � sempre t�o polido e amig�vel com ele?"
- "Sim, sou."
- "Por que voc� � t�o educado, j� que ele � t�o inamistoso com voc�?"
- "Porque n�o quero que ele decida como eu devo agir."
O colunista Sydney Harris conta uma est�ria em que acompanhava um amigo � banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua dire��o, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:
- "Ele sempre te trata com tanta grosseria?"
- "Sim, infelizmente � sempre assim..."
- "E voc� � sempre t�o polido e amig�vel com ele?"
- "Sim, sou."
- "Por que voc� � t�o educado, j� que ele � t�o inamistoso com voc�?"
- "Porque n�o quero que ele decida como eu devo agir."
19.8.02
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
S� a bailarina que n�o tem
E n�o tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela n�o tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irm�o meio zarolho
S� a bailarina que n�o tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela n�o tem
N�o livra ningu�m
Todo mundo tem remela
Quando acorda �s seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
S� a bailarina que n�o tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem n�o tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
S� a bailarina que n�o tem
Sujo atr�s da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela n�o tem
O padre tamb�m
Pode at� ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
S� a bailarina que n�o tem
Sala sem mob�lia
Goteira na vasilha
Problema na fam�lia
Quem n�o tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
S� a bailarina que n�o tem
E n�o tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela n�o tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irm�o meio zarolho
S� a bailarina que n�o tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela n�o tem
N�o livra ningu�m
Todo mundo tem remela
Quando acorda �s seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
S� a bailarina que n�o tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem n�o tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
S� a bailarina que n�o tem
Sujo atr�s da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela n�o tem
O padre tamb�m
Pode at� ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
S� a bailarina que n�o tem
Sala sem mob�lia
Goteira na vasilha
Problema na fam�lia
Quem n�o tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Eu tinha uma amiga (no passado por que faz muito tempo que a gente n�o se v�) que vivia dizendo �Ah, nessa �poca eu estava nos Estados Unidos�, sabe como �? Voc� comenta uma novela, um show do Cazuza, uma elei��o e ela �Ah, nessa �poca eu estava nos Estados Unidos�. Assim que eu me sinto, depois de uma rasteira dessas. Serra caiu? O d�lar disparou? A atriz cortou os cabelos e est� namorando o gal� das 8? Estou por fora. Estou nos Estados Unidos.
Um chocolate pra Marina. Nao e tudo mais ajuda. E ajuda tambem lembrar que o Chico disse que a mem�ria coa os momentos bons e as horas m�s.
Um chocolate pra Marina. Nao e tudo mais ajuda. E ajuda tambem lembrar que o Chico disse que a mem�ria coa os momentos bons e as horas m�s.
the odds of that
"Algo assim deve ser mais do que simples coincidencia, protestamos. Quais sao as chances reais disso acontecer? A matematica vai responder que mesmo nas situacoes mais inacreditaveis, as chances reais do impensavel acontecer sao na verdade muito satisfatorias. A lei dos 'grandes numeros' diz que com um denominador grande o suficiente - em outras palavras, em um grande e vasto mundo - coisas acontecem, mesmo sendo coisas muito estranhas. ''Um dia verdadeiramente surpreendente seria aquele em que nada surpreendente acontecesse,'' explica Persi Diaconis, um estatistico de Stanford que coletou e estudou exemplos de coincidencia em toda sua carreira." The New York Times
"Algo assim deve ser mais do que simples coincidencia, protestamos. Quais sao as chances reais disso acontecer? A matematica vai responder que mesmo nas situacoes mais inacreditaveis, as chances reais do impensavel acontecer sao na verdade muito satisfatorias. A lei dos 'grandes numeros' diz que com um denominador grande o suficiente - em outras palavras, em um grande e vasto mundo - coisas acontecem, mesmo sendo coisas muito estranhas. ''Um dia verdadeiramente surpreendente seria aquele em que nada surpreendente acontecesse,'' explica Persi Diaconis, um estatistico de Stanford que coletou e estudou exemplos de coincidencia em toda sua carreira." The New York Times
the sum of all fears
Escuro. Sil�ncio. Um sil�ncio semelhante a cama de faquir, espetante, penetrante. A explos�o que se seguiu mandou tudo pelos ares e eu perdi o equil�brio. Tudo roda como deve ser em brinquedos do Playcenter. Mas eu n�o estou no Playcenter. Meu est�mago sente os efeitos, os flashes de luzes me torturam. As vozes se embaralham como se todos estivessem b�bados. Tudo o que eu quero � n�o escutar nada. N�o enxergar nada. E que o mundo pare de rodar.
N�o, isto n�o � um filme. � uma crise de labirintite no meio de um filme, que por mais um acaso � a soma dos medos.
Escuro. Sil�ncio. Um sil�ncio semelhante a cama de faquir, espetante, penetrante. A explos�o que se seguiu mandou tudo pelos ares e eu perdi o equil�brio. Tudo roda como deve ser em brinquedos do Playcenter. Mas eu n�o estou no Playcenter. Meu est�mago sente os efeitos, os flashes de luzes me torturam. As vozes se embaralham como se todos estivessem b�bados. Tudo o que eu quero � n�o escutar nada. N�o enxergar nada. E que o mundo pare de rodar.
N�o, isto n�o � um filme. � uma crise de labirintite no meio de um filme, que por mais um acaso � a soma dos medos.
16.8.02
Dia desses antes do bom dia minha mente me veio com essa: como � mesmo que se chama aquele dinossauro que voa? (E nesse momento, Nath que lavava seu pratinho de sucrilhos na pia se vira com a falta de pressa e com a mesma cara de quem n�o absorveu que o alarme de inc�ndio t� tocando, e n�o o despertador.)
Ontem fui num pub suuper sofisticado - posh como dizem por aqui - com o Ben.
(Conheci o Ben um tempo atr�s num show de m�sica latina aqui em Cardiff. Ele chegou perto de mim e tascou: 'Are you brazilian?' Foi o primeiro, e acredito ser�, o �nico a adivinhar minha nacionalidade. Perguntei como sabia e ele respondeu, baixando os olhos de cor verde-garrafa, que era pelo jeito de dan�ar.)
Ele fez faculdade de Pol�tica Latino-Americana (aqui tem isso...), e sabe muito mais sobre Hist�ria do Brasil que eu. Passou um bom tempo viajando pelo mundo. Morou na �frica, Equador, Mong�lia, sabe escrever em cir�lico, aquele alfabeto russo. Pra diferenciar das conversas que se ouve por aqui - sempre sobre Kylie Minogue ou outra celebridade brit�nica - me conta tudo sobre a Hist�ria do Pa�s de Gales, que afinal foi onde ele nasceu. Conta de uma maneira meio Dona Benta, em que as imagens v�o se formando, uma a uma, na minha imagina��o.
Ficou amigo de todos os meus amigos daqui (Nada, Manuela e Isam) e carrega a gente pra cima e pra baixo.
Pra completar ele � assim ... a cara do Brad Pitt. Mas n�o o Brad Pitt em qualquer fase, o Brad Pitt em Clube da Luta. A semelhan�a � impressionante, voc�s ver�o pelas fotos.
Escrevi isso tudo pra dizer que estou apaixonada, n�? Grande engano. Escrevi pra explicar que devo estar sofrendo de uma doen�a grav�ssima. Mandem me internar que o caso � pra manic�mio.
Ontem, no tal Posh Pub, eu fui ao banheiro e quando voltei quase passei direto por ele e fui embora. Assim: sem mais nem menos esqueci que eu tava ali com ele. T�o mergulhada nos meus pensamentos e preocupa��es que a �ltima coisa que me passou pela cabe�a foi o Brad Pitt ali esperando por mim.
Posso estar louca, mas n�o tenho interesse nele. Interesse cient�fico, talvez.
(Conheci o Ben um tempo atr�s num show de m�sica latina aqui em Cardiff. Ele chegou perto de mim e tascou: 'Are you brazilian?' Foi o primeiro, e acredito ser�, o �nico a adivinhar minha nacionalidade. Perguntei como sabia e ele respondeu, baixando os olhos de cor verde-garrafa, que era pelo jeito de dan�ar.)
Ele fez faculdade de Pol�tica Latino-Americana (aqui tem isso...), e sabe muito mais sobre Hist�ria do Brasil que eu. Passou um bom tempo viajando pelo mundo. Morou na �frica, Equador, Mong�lia, sabe escrever em cir�lico, aquele alfabeto russo. Pra diferenciar das conversas que se ouve por aqui - sempre sobre Kylie Minogue ou outra celebridade brit�nica - me conta tudo sobre a Hist�ria do Pa�s de Gales, que afinal foi onde ele nasceu. Conta de uma maneira meio Dona Benta, em que as imagens v�o se formando, uma a uma, na minha imagina��o.
Ficou amigo de todos os meus amigos daqui (Nada, Manuela e Isam) e carrega a gente pra cima e pra baixo.
Pra completar ele � assim ... a cara do Brad Pitt. Mas n�o o Brad Pitt em qualquer fase, o Brad Pitt em Clube da Luta. A semelhan�a � impressionante, voc�s ver�o pelas fotos.
Escrevi isso tudo pra dizer que estou apaixonada, n�? Grande engano. Escrevi pra explicar que devo estar sofrendo de uma doen�a grav�ssima. Mandem me internar que o caso � pra manic�mio.
Ontem, no tal Posh Pub, eu fui ao banheiro e quando voltei quase passei direto por ele e fui embora. Assim: sem mais nem menos esqueci que eu tava ali com ele. T�o mergulhada nos meus pensamentos e preocupa��es que a �ltima coisa que me passou pela cabe�a foi o Brad Pitt ali esperando por mim.
Posso estar louca, mas n�o tenho interesse nele. Interesse cient�fico, talvez.
15.8.02
Depois de 4 horas escrevendo um projeto - e passando por crises de 'ih, meu cerebro derreteu' - acabei. Mas o computador venceu e apagou tudo. Enganei o bobo, na casca do ovo!!! Tenho tudo escrito a maneira de antigamente, com papel e caneta. Vou ter que digitar tudo de novo, mas vai ver 'e melhor assim, vai ver...
14.8.02
Gales existia antes de ser invadido por saxoes. (Lembram da invasao dos povos barbaros que a gente estuda na escola?). Era povoado por celtas, que possuiam sua religiao mistica e sua f'e em Avalon e chamavam esta terra de Cymru (le-se Cumri, assim ao contrario mesmo) que significa 'povo feliz'. Os Saxoes os apelidaram de 'estrangeiros', o verdadeiro significado de 'wales' ou 'gales'. Vivianne, escrito assim mesmo como o meu, � um nome gal�s - cymraig como dizem por aqui os que falam a lingua original de Cymru. Mais especificamente Vivianne 'e um nome assim tao celta, que as avos, e mais pra tras, as historias fazem men��o a mulheres com esse nome. Lembram da Vivianne de Avalon? Aqui 'e onde acreditam que ela viveu. E' tamb'em 'e um nome meio sagrado pra eles. Quando digo o meu nome pra um descendente celta, um desses velhinhos que paro pra pedir informacao de onde 'e que ficam os Correios, ou a padaria mais proxima, eles me olham com uma cara que parece que eu disse que meu nome 'e Jesus. Ou Ermenengarda, talvez.
Nasci para administrar o �-toa
������������������������� o em v�o
������������������������� o in�til.
Perten�o de fazer imagens.
Opero por semelhan�as.
Retiro semelhan�as de pessoas com �rvores
��������������������� de pessoas com r�s
��������������������� de pessoas com pedras
��������������������� etc etc.
Retiro semelhan�as de �rvores comigo.
N�o tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal � receber com naturalidade uma r� no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei tamb�m sabedoria mineral.
[ Manoel de Barros - Livro sobre nada ]
Obrigada :-*
������������������������� o em v�o
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Perten�o de fazer imagens.
Opero por semelhan�as.
Retiro semelhan�as de pessoas com �rvores
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��������������������� etc etc.
Retiro semelhan�as de �rvores comigo.
N�o tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal � receber com naturalidade uma r� no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei tamb�m sabedoria mineral.
[ Manoel de Barros - Livro sobre nada ]
Obrigada :-*
13.8.02
12.8.02
8.8.02
Onde queres o sim e o n�o, talvez
E onde v�s eu n�o vislumbro raz�o
Onde queres o lobo eu sou o irm�o
E onde queres cowboy eu sou chin�s
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou esp�rito
E onde queres ternura eu sou tes�o
Onde queres o livre decass�labo
E onde buscas o anjo sou mulher
Onde queres prazer sou o que d�i
E onde queres tortura, mansid�o
Onde queres um lar, revolu��o
E onde queres bandido sou her�i
Eu queria querer-te e amar o amor
Construir-nos dulc�ssima pris�o
Encontrar a mais justa adequa��o
Tudo m�trica e rima e nunca dor
Mas a vida � real e de vi�s
E v� s� que cilada o amor me armou
eu te quero (e n�o queres) como sou
N�o te quero (e n�o queres) como �s
Troquei o CD... em vez de Chico, Caetano.
E onde v�s eu n�o vislumbro raz�o
Onde queres o lobo eu sou o irm�o
E onde queres cowboy eu sou chin�s
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou esp�rito
E onde queres ternura eu sou tes�o
Onde queres o livre decass�labo
E onde buscas o anjo sou mulher
Onde queres prazer sou o que d�i
E onde queres tortura, mansid�o
Onde queres um lar, revolu��o
E onde queres bandido sou her�i
Eu queria querer-te e amar o amor
Construir-nos dulc�ssima pris�o
Encontrar a mais justa adequa��o
Tudo m�trica e rima e nunca dor
Mas a vida � real e de vi�s
E v� s� que cilada o amor me armou
eu te quero (e n�o queres) como sou
N�o te quero (e n�o queres) como �s
Troquei o CD... em vez de Chico, Caetano.
7.8.02
Essa coisa nao t�a funcionando� isso aqui era pra ser uma coisa tipo di�ario de viagem, mas acabo sempre divagando e nao contando coisa alguma. Vou tentar colocar os pes no chao. Primeiro comeco pelo final.
Isam �e o meu melhor amigo aqui em Cardiff (se �e que esse tipo de denominacao existe. Acho que �e melhor dizer que ele tem sido um grande amigo aqui). A gente tem uma especie de obrigacao de passar horas junto todo dia. Ontem, por exemplo, eu nao o vi de manha nem durante o dia, quando a gente se viu de noite ele deve ter falado umas quarto horas sem parar. E eu escutando. No final eu perguntei por que ele tava falando tanto e a resposta foi um �porque nao falava com voce desde ontem�. Nota: ontem � segunda - a gente passou mais de 14 horas junto, 9 horas em trens e o resto nos caminhos. Num determinado momento eu disse �acho que a gente nao deve passar tanto tempo junto, d�a canseira�. E ele fez bico. (Agora d�a pra imaginar como �e engracado um bico num homem da envergadura do Shaquille O�neill?) Eu ri e descansei dele.
No s�abado de noite a gente tava num pub em Edimburgo e uma menina � Linda! � chegou perto dele e disse que ele tinha um sorriso lindo, sabe o que ele respondeu? �And you love it, don�t you?� E �e claro que eu tive que escutar ele reclamando da bobagem que tinha ditto e de como a menina fez cara feia o final de semana inteiro� D�a pra imaginar? Que coisa mais est�upida de se dizer� Eu dava um tapa! ;-))
Durante o final de semana eu �me perdi� duas vezes. �E que nao gusto l�a muito de seguir multidao. E �eramos umas 20 pessoas juntas o tempo todo. Cansa. Entao resolvi me perder e �se alguem perguntasse por mim, diz que fui por a�i�.
Foi a melhor coisa que fiz. O sumico do s�abada me rendeu um show de rock gratis (rock com gaita de foles� coisa mais escocesa.. d�a pra imaginar? Foi perfeito!) num parque lindo de Edimburgo com vista pra um castelo mais bonito ainda.
O sumico de domingo foi uma incursao ao mundo do Circo da China � nao o Imperial, mas o Chinese State Circus � com aquelas chinesinhas equilibrando pires em varetinhas e fazendo acrobacias inimagin�aveis. Great!
Quando cheguei em casa encontrei Isam com mao na cintura perguntando porque tinha feito aquilo, que ele tava preocupado, bla bla bla. (S�o pra ilustrar a cena lembrem que o rapazinho de mao na cintura tem quase dois metros e corpo de lutador de boxe peso-pesado.)
Isam �e o meu melhor amigo aqui em Cardiff (se �e que esse tipo de denominacao existe. Acho que �e melhor dizer que ele tem sido um grande amigo aqui). A gente tem uma especie de obrigacao de passar horas junto todo dia. Ontem, por exemplo, eu nao o vi de manha nem durante o dia, quando a gente se viu de noite ele deve ter falado umas quarto horas sem parar. E eu escutando. No final eu perguntei por que ele tava falando tanto e a resposta foi um �porque nao falava com voce desde ontem�. Nota: ontem � segunda - a gente passou mais de 14 horas junto, 9 horas em trens e o resto nos caminhos. Num determinado momento eu disse �acho que a gente nao deve passar tanto tempo junto, d�a canseira�. E ele fez bico. (Agora d�a pra imaginar como �e engracado um bico num homem da envergadura do Shaquille O�neill?) Eu ri e descansei dele.
No s�abado de noite a gente tava num pub em Edimburgo e uma menina � Linda! � chegou perto dele e disse que ele tinha um sorriso lindo, sabe o que ele respondeu? �And you love it, don�t you?� E �e claro que eu tive que escutar ele reclamando da bobagem que tinha ditto e de como a menina fez cara feia o final de semana inteiro� D�a pra imaginar? Que coisa mais est�upida de se dizer� Eu dava um tapa! ;-))
Durante o final de semana eu �me perdi� duas vezes. �E que nao gusto l�a muito de seguir multidao. E �eramos umas 20 pessoas juntas o tempo todo. Cansa. Entao resolvi me perder e �se alguem perguntasse por mim, diz que fui por a�i�.
Foi a melhor coisa que fiz. O sumico do s�abada me rendeu um show de rock gratis (rock com gaita de foles� coisa mais escocesa.. d�a pra imaginar? Foi perfeito!) num parque lindo de Edimburgo com vista pra um castelo mais bonito ainda.
O sumico de domingo foi uma incursao ao mundo do Circo da China � nao o Imperial, mas o Chinese State Circus � com aquelas chinesinhas equilibrando pires em varetinhas e fazendo acrobacias inimagin�aveis. Great!
Quando cheguei em casa encontrei Isam com mao na cintura perguntando porque tinha feito aquilo, que ele tava preocupado, bla bla bla. (S�o pra ilustrar a cena lembrem que o rapazinho de mao na cintura tem quase dois metros e corpo de lutador de boxe peso-pesado.)
6.8.02
Me deu uma saudade de casa...mas da minha casa.
Meu tapete de pele de carneiro cor de caramelo (que minha av�, que mora na Bahia, naquele calor de 40 graus, comprou porque achou muito bonito, mas nunca usou e acabou me dando), nunca pareceu t�o confortavel. Ah! Daria meu almoco - que n�o vai ser l� grande coisa mesmo - pra poder deitar naquele tapete e assistir o bau debaixo da televis�o. (Meu bau de colagem de pinguins 'e sempre mais interessante que a sess�o da tarde.)
Sinto falta da foto na parede que o Andre me deu de presente (uma foto original do Dimas Guedes, o mesmo fot�grafo dessa foto aqui), do meu banheiro com espelho de mosaico, do puff rosa 'choque' da entrada, das pinturas na parede, dos cheiros da cozinha, do vizinho me oferecendo salsinha fresquinha que ele acabou de colher so pra me dar. (Meu vizinho 'e um daqueles velhinhos que bem podia aparecer numa dessas fotos, enrolando seu cigarrinho de palha.) Das minhas plantas, dos cachorros, dos paralelepipedos.
Da minha vida.
1.8.02
Hoje vou pra Edimburgo e s'o volto na segunda. Tive que comprar um raio de mochilao pra poder viajar. Definitivamente nao d'a pra viver sem. E como minha mala ficou imprestavel mesmo, depois da viagem que fez sozinha pra Roma, foi o jeito. Isso nao fazia parte dos meus planos financeiros muito menos num lugar caro como esse Reino aqui. As coisas tem preco de realeza, e agora com o dolar subindo de elevador entao, o dinheiro fica mais curto e o tempo que vou ficar aqui parece mais longo.
31.7.02
Em tempos pr�-vestibulares n�o sabia o que fazer - n�o que eu saiba agora, n�o tenho talento para certezas. Vivia fugindo do cursinho e me escondendo na Biblioteca Municipal na Rua da Bahia, com vista para a pra�a da Liberdade. Um dia - e daquele dia eu me lembraria com um misto de orgulho e desgosto pro resto da minha vida - foi o 'ultimo. Era o 'ultimo dia de inscri��o pro vestibular da Universidade Federal de Ouro Preto. Depois de tentar o unidunite^ umas 3 vezes, mas n�o ter coragem de marcar, resolvi esquecer e seguir o conselho de Baudelaire. La pelo quarto ou quinto copo de poesia li um final assim: Ai', sei l'a por que, fui ser farmac^eutico. Pensei que era um aviso. 5 anos e duas tentativas de assassinato de professores depois percebo que entendi errado. Drummond nunca exerceu a profiss�o de farmaceutico.
30.7.02
Ultimamente (esse ultimamente tem uma duracao de, assim, uns dois anos), tenho lido mais poesia e conto. Vai mais rapido, nos da mais tempo pra fazer o que realmente interessa, como chupar cana, por exemplo. Gosto de um conto, O ventre seco, do Raduan Nassar. Queria poder ler de novo. Fiquei 1 hora procurando na internet, nao encontrei. (Encontrei milhares de textos 'explicando' Menina a Caminho e Lavoura Arcaica. Em geral as pessoas gostam de coisas mais pretensiosas.)
29.7.02
Conhe�o as casas do caminho como se fossem velhas amigas do tempo em que andava com outros sapatos. Todas iguais com seus revestimentos de tijolinhos. Todas diferentes. Uma (a que mais gosto) se deixa ver inteira com suas cortinas abertas. Tem uma tela vermelha ao lado da janela dos fundos, vasos transparentes com flores de talos compridos, margaridas brancas no jardim da frente. Televis�o pequena. Casa de mulher, casa de artista. Nunca cheguei a ver quem mora l'a. Mas ja conhe�o.
abandono
chiclete mascado duro grudado lado da cama
margarida amarela murcha janela
livro jogado ch�o orelha dobrada pagina 92
copo agua mosquito boiando mancha no movel
chave celular pin�a fone de ouvido cart�o de visita flier de pe�a de teatro nota fiscal escrivaninha
meia preta avesso
trancar porta checar se trancou
chiclete mascado duro grudado lado da cama
margarida amarela murcha janela
livro jogado ch�o orelha dobrada pagina 92
copo agua mosquito boiando mancha no movel
chave celular pin�a fone de ouvido cart�o de visita flier de pe�a de teatro nota fiscal escrivaninha
meia preta avesso
trancar porta checar se trancou
"Me diverti perguntando a quem eu encontrava: �voc� sabe o que � blog?�. Descobri que uma por��o de gente da minha idade (�por��o de gente da minha idade� � um exagero. Digamos, os que sobraram) nem desconfiava: �blog? Como se escreve?�, perguntavam. Um, esse j� meio gag�, respondeu com seguran�a: �ele fez muito pelo jornalismo, mas j� morreu�. Estava confundindo blog com Bloch, de Adolfo. Como dizia Pedro Nava, velhice � uma merda. " Zuenir Ventura.
Tah, vou fazer um post especial 'critica de filme' inspirado no ultimo comment. Duas semanas atras vi Minority Report. Nota? 5, todos os 5 pros efeitos especiais. Que mesmo assim nao sao perfeios. Entao t'a: 5 pro dinheiro que deve ter sido gasto naqueles efeitos especiais. Quando falo no plural quero mais uma vez consertar porque acho que o que gostei mesmo foi das rodovias do futuro. Muito legal. E ponto.
No filme tr�s paranormais resultantes de uma muta��o gen�tica, depilados, mergulhados numa piscina com um l�quido viscoso veem os crimes antes que eles acontecam. Suas visoes sao transmitidas para uma tela e Tom Cruise tem que organiza-las como se fossem um quebra cabeca antes de partir pra prisao do assassino. Ah, o aparelho tambem esculpe duas bolas de madeira: uma com o nome do assassino, outra com o da v�tima. Parece fazer sentido? Deveria... mas a historia 'e a coisa mais sem pe nem cabeca que ja vi nos ultimos tempos. (Se vc leu o livro deve ter tido uma ideia diferente. Minority Report � adaptado de Philip K. Dick , que escreveu tambem Blade Runner e O Vingador do Futuro.) Tudo bem um filme que nao tem uma historia consistente, desde que ele nao tenha pretensoes de consistencia, mas aqui estamos falando de algo que se pretende realidade. (Na verdade acho que a historia nao e ruim, o resultado final e que e desastroso.)
Cruise foge de uns 30 policiais de capacete e mochila voadora, bate em todos, derruba todos e sai ileso. Sem contar numa cena em que 'escala' uma rodovia vertical pulando de carro em carro. E os carros do futuro tem todos aquela aerodinamica suuuper arredondada e escorregadia. Eu truco.
Mas vale como sessao da tarde.
No filme tr�s paranormais resultantes de uma muta��o gen�tica, depilados, mergulhados numa piscina com um l�quido viscoso veem os crimes antes que eles acontecam. Suas visoes sao transmitidas para uma tela e Tom Cruise tem que organiza-las como se fossem um quebra cabeca antes de partir pra prisao do assassino. Ah, o aparelho tambem esculpe duas bolas de madeira: uma com o nome do assassino, outra com o da v�tima. Parece fazer sentido? Deveria... mas a historia 'e a coisa mais sem pe nem cabeca que ja vi nos ultimos tempos. (Se vc leu o livro deve ter tido uma ideia diferente. Minority Report � adaptado de Philip K. Dick , que escreveu tambem Blade Runner e O Vingador do Futuro.) Tudo bem um filme que nao tem uma historia consistente, desde que ele nao tenha pretensoes de consistencia, mas aqui estamos falando de algo que se pretende realidade. (Na verdade acho que a historia nao e ruim, o resultado final e que e desastroso.)
Cruise foge de uns 30 policiais de capacete e mochila voadora, bate em todos, derruba todos e sai ileso. Sem contar numa cena em que 'escala' uma rodovia vertical pulando de carro em carro. E os carros do futuro tem todos aquela aerodinamica suuuper arredondada e escorregadia. Eu truco.
Mas vale como sessao da tarde.
28.7.02
De volta, repaginada. Pronta pra ir pro Festival Internacional de Edimburgo. Te vejo la na quinta-feira.
26.7.02
I couldn't cut it as
A poor man stealing
Tired of living like a blind man
I'm sick of sight without
A sense of feeling
And this is how you remind me
This is how you remind me
Of what I really am
This is how you remind me
Of what I really am
It's not like you to say sorry
I was waiting on a different story
This time I'm mistaken
For handing you
A heart worth breaking
And I've been wrong
I've been down
Into the bottom of every bottle
These five words in my head
Scream
Are we having fun yet?
Yet, yet, yet, no no
Yet, yet, yet, no no
It's not like you didn't know that
I said I love you and
I swear I still do
And it must have been so bad
'Cos living with him must have
Damn near killed you
And this is how you remind me
Of what I really am
This is how you remind me
Of what I really am
It's not like you to say sorry
I was waiting on a different story
This time I'm mistaken
For handing you
A heart worth breaking
And I've been wrong
I've been down
Into the bottom of every bottle
These five words in my head
Scream
Are we having fun yet?
Yet, yet, yet, no no
Yet, yet, yet, no no
24.7.02
O British Council ofereceu um almoco na semana passada em Londres, no Imperial College para o que chamaram de 'nata da inteligencia mundial'. Se eu estou incluida nessa tal nata o mundo tem serios problemas.
Eramos cerca de 40 estudantes dos EUA, Suecia, Australia, Oman, Jordania, Macedonia, e o que chamamos de invasao canadense: 6 deles.
A representante da embaixada do Brasil, superfechada e timida, depois de meia hora de conversa acabou contando toda a vida. Ela nasceu no Rio, foi pro Itamaraty em Bras'ilia e mora ha um ano em Londres. Gosta de Londres no inverno e do Rio no verao. E quem nao?
Eramos cerca de 40 estudantes dos EUA, Suecia, Australia, Oman, Jordania, Macedonia, e o que chamamos de invasao canadense: 6 deles.
A representante da embaixada do Brasil, superfechada e timida, depois de meia hora de conversa acabou contando toda a vida. Ela nasceu no Rio, foi pro Itamaraty em Bras'ilia e mora ha um ano em Londres. Gosta de Londres no inverno e do Rio no verao. E quem nao?
22.7.02
18.7.02
S'o hoje percebi que a pagina do Millor nao ta ali entre os enderecos que chamo de 'meu imaginario'. Como assim? Como negar que eu esperava quase desesperada aquelas duas paginas semanalmente na Isto'E no tempo em que era Senhor? Era a 'epoca em que eu lia Chiclete com Banana, jam session do Angeli com os outros amigos, e derretia no calor que faz derreter o solado do sapato no asfalto em Teofilo Otoni.
Quando saiu A B'iblia do Caos, um livro gordo de capa branca com mais um daqueles desenhos de traco torto na capa, eu estava em Bras'ilia prestando vestibular. Se eu comprasse o livro nao ia dar pra comer no restaurante japones. Aproveitei pra comer um sanduiche.
Quando saiu A B'iblia do Caos, um livro gordo de capa branca com mais um daqueles desenhos de traco torto na capa, eu estava em Bras'ilia prestando vestibular. Se eu comprasse o livro nao ia dar pra comer no restaurante japones. Aproveitei pra comer um sanduiche.
Hoje eu me perdi. Eu gosto de me perder de vez em quando. 'E uma das poucas oportunidades pra conhecer novos caminhos. Mas no auge do sentimento de 'n�o tenho a minima ideia de onde estou e n�o tem ninguem aqui pra perguntar' eu olhei pra cima e tinha uma placa verde lim�o onde estava escrito 'the end'.
17.7.02
16.7.02
lendo Bridget Jones, the edge of reason by Helen Fielding, e s'o pra variar o primeiro 'e muuuuuuito melhor. vendo Semana passada assisti Minority Report, filminho do Spielberg com Tom Cruise. Razo'avel. Mas Tom Cruise batendo nuns 10 marmanjos de capacete e mochilas de voar, tipo a do Spectraman, machucando todo mundo e se safando ileso 'e um pouco demais pra engolir. Meio parecido com Inteligencia Artificial. O Spielberg ta se repetindo. ouvindo Minha amiga Nada que tem voz de abelha e fala sem parar. Cancei dos cds que eu trouxe.
Tem tanta coisa que queria escrever aqui e acabo n�o escrevendo por falta de tempo e de contexto... por exemplo:
Nada tem voz de abelha. Nada � minha amiga. Nada parece com Carol. Nada nasceu na Macedonia.
Tenho margaridas amarelas no meu quarto.
Vi um castelo nascer no sol.
Achei a Bath romana menos bonita que a Ouro Preto dos escravos.
E a limpa Baia de Cardiff menos bonita que a poluida de Guanabara.
E ontem fez 33 graus. Os Celsius.
Nada tem voz de abelha. Nada � minha amiga. Nada parece com Carol. Nada nasceu na Macedonia.
Tenho margaridas amarelas no meu quarto.
Vi um castelo nascer no sol.
Achei a Bath romana menos bonita que a Ouro Preto dos escravos.
E a limpa Baia de Cardiff menos bonita que a poluida de Guanabara.
E ontem fez 33 graus. Os Celsius.
15.7.02
'Houve um tempo em que sonhei coisas - n�o foi ser eleito senador nem nada, eram coisas humildes e vagabundas que entretanto n�o fiz e, nem com certeza farei. Era por exemplo arrumar um barco e sair tocando devagar por toda costa do Brasil, parando, pra pescar, vender banana ou comprar fumo de rolo, n�o sei, me demorando e indo, vendo as coisas, conversando com as pessoas, aprendendo a fazer coisas singelas que vivem fora das estatisticas. Ir indo por esse Brasil que ainda existe, que funciona a lenha e lombo de burro. Aquele Brasil em que as noites s�o pretas com assombrac�o, dizem que ainda tem at� luar no sert�o, at� capivara e sucuarana - n�o, eu n�o sou contra o progresso ("o progresso � natural") mas uma garrafinha de refrigerante americano n�o � capaz de ser como um refresco de maracuj� feito de fruta mesmo." Rubem Braga, no 'unico livro que trouxe.
12.7.02
teoria conspira��o
No Brasil os guardas-chuvas se transformam em clips, n�o 'e? Afinal, que nunca perdeu um guarda-chuva? Agora ja achou algum? Nenhum, n�o 'e? E clips? Por todo lugar que a gente anda tem um clip de papel no ch�o. Ent�o? Os guardas-chuvas v�o para um universo paralelo onde s�o tranformados em clips de papel.
Aqui eles s�o transformados em borrachinhas de cabelo.
No Brasil os guardas-chuvas se transformam em clips, n�o 'e? Afinal, que nunca perdeu um guarda-chuva? Agora ja achou algum? Nenhum, n�o 'e? E clips? Por todo lugar que a gente anda tem um clip de papel no ch�o. Ent�o? Os guardas-chuvas v�o para um universo paralelo onde s�o tranformados em clips de papel.
Aqui eles s�o transformados em borrachinhas de cabelo.
Hoje eu almocei um pote de 500g de iogurte com fibras. Tenho que criar alternativas aos pures de batatas com gosto de cola. E este iogurte Onken � uma das coisas mais gostosas que j� comi na minha vida. Nem doce, nem sem doce, firme no ponto e extremamente saboroso, com uns peda�os de fruta no meio. Huuum.
tv
Ontem descobri que existe uma taxa pra se ter televis�o aqui neste reino estranho. S�o �100 por ano!!! Mas ningu�m paga. Igualzinho se fosse a�.
Sorry
O Blogger tem dito sorry t�o frequentemente quanto o resto das pessoas. Ent�o, por problemas t�cnicos n�o tenho escrevido muito.
tv
Ontem descobri que existe uma taxa pra se ter televis�o aqui neste reino estranho. S�o �100 por ano!!! Mas ningu�m paga. Igualzinho se fosse a�.
Sorry
O Blogger tem dito sorry t�o frequentemente quanto o resto das pessoas. Ent�o, por problemas t�cnicos n�o tenho escrevido muito.
11.7.02
Ontem acabei indo pra casa mais cedo. C�licas. Fiquei pensando como n�o gosto de ser mulher. A� lembrei Ad�lia Prado. Lembrei Cora Coralina. Minha av� cozinhando no fog�o de lenha encerado. O cheiro de biscoito de goma sa�do do forno. A bula-bula mexeriqueira da mulheres na cozinha.
H� muito tempo o fog�o pintado de xadrez amarelo � s� retrato na gaveta.
Viver demora muito.
H� muito tempo o fog�o pintado de xadrez amarelo � s� retrato na gaveta.
Viver demora muito.
Ensinamento�
Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado
Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado
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