15.4.06

8.4.06

'Tinha vantagens não saber do inconsciente, vinha tudo de fora, maus pensamentos, sensações, desejos. Contudo ficar sabendo foi melhor, estou mais densa, tenho âncora, paro em pé por mais tempo. De vez em quando ainda fico oca, ocorpo hostil e Deus bravo. Passa logo. Como um pato sabe nadar sem saber, sei sabendo que, se for preciso, na hora H nadocom desenvoltura. Guardo sabedorias no almoxarifado."

Adélia Prado no último livro-de-ler-no-ônibus que terminei de ler: Quero minha mãe. Lindo.
"Algumas dores são, sim, públicas; porque, de uma variação a outra que elas sofram, no substrato já foram sentidas por todos, ou o serão. Em forma bruta, na raiz, no talo, gente é tudo muito parecido. "

eu amo essa menina, da matérias dos pirlimpimpins, dos encantamentos de pássaros.

7.4.06

Às vezes, francamente, o espírito humano dá nome às coisas de maneira bem poética. Um lavrador vai a seu campo no tempo da semeadura para o arar, preparar as sementeiras. Faz um comprido sulco, raso e largo, com o facão do arado; e depois volta fazendo outro, e outro, muitos mais, todos cuidadosamente paralelos entre si, para facilitar o lançamento das sementes de um e outro lado das alamedas... Mas a calma do sol da tarde age-lhe misteriosamente na alma, e ele se distrai, e sonha, e sonha mais e se distrai mais ainda, enquanto o arado corta a terra, já sem rumo fixo, em linhas desconexas. Deu para imaginar a cena? É uma cena de delírio, tal como entendemos o que isso seja. E mais: estar fora de si, imaginar loucuras, e se possível cometê-las... na gíria jovem deste fim-de-século, enfim, delirar é "viajar". Sair dos sentidos. "Fulana viajou", diz alguém assustado, ao ver a amiga sempre tão comedida, sempre tão "em ordem", um dia chutar o pau da barraca, virar a mesa e acabar rodando a baiana, num puro delírio. Que também pode significar uma outra "viagem", triste viagem de parca volta, a das drogas. Pois é. Na raiz, a palavra delirar nos fala de tudo isso, pois quer dizer, literalmente, "sair (o lavrador que conduz o arado) do sulco (planejado)". O verbo latino delirare é formado por lira, "sulco feito pelo arado", com o prefixo latino de-, "fora de", "afastado de". Por falar nisso, "estar fora de si" tanto pode ser um estado de delírio como um estado de êxtase (ekstasis, "arrebatamento íntimo" pref. de-, "fora de" + lira, "sulco de arado".]
então ele amassou o dedo e não aguentou o gelo. eu disse "um copo d'água, 1 colher de sopa de vinagre e põe o dedo de molho".

(também tenho as minhas sabedorias no almoxarifado.)

5.4.06

Pra você, meu amor, a minha primeira jura de amor. (Ainda devo um livro da Helena Sagirardi.)

2.4.06


era uma vez uma grande carestia. não havia comida, e a terra estava coberta de gelo. fazia muito frio, e o passarinho pensou que ia morrer.

então veio uma vaca e ploft!, cagou em cima do passarinho. e ele, com raiva, começou a reclamar. 'já não bastasse fome e frio, ainda me colocam na merda'.

e foi então que o encanto se deu e ele começou a perceber que aquela cobertura o aquecia. mais e mais. e nosso amiguinho, com o corpinho quente, ficou tão feliz que cantou.

eis que passava por ali um leão que ouvindo aquele canto, se aproximou e nhac! matou sua fome com carne de passarinho.

moral da história: nem todo mundo que te põe na merda está te fazendo mal. nem todo mundo que te tira da merda está te fazendo bem.

e quando estiver feliz, feche o biquinho.

passarinho roubado de www.ninjai.com, um vício