27.9.05

eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge.

22.9.05

estou fazendo faxina na empresa. 50 anos de coisas guardadas estão sendo reviradas. máquinas, do tempo da galocha moderna, serão vendidas por 0,20 o quilo. móveis, papéis. são 4 armazéns de memórias guardadas. no meio disso tudo um pequeno contêiner abandonado por um fotógrafo. alegria de criança nos meus olhos a folhear todos aqueles livros de arte, design e arquitetura.
às vezes acho que não estou envelhecendo. estou envilecendo.

20.9.05

meu nome é insatisfação. e não mudo de nome nunca (por mais que eu queira).

19.9.05

15.9.05

eu te amo.
na infância eu morava tão longe da escola que só perdia para um colega, que pegava um cavalo, e um ônibus.

em BH, estudava na Timbiras e morava no Gutierrez.

em Ouro Preto, estudava na antiga Escola de Farmácia, no centro, fazia pesquisa no campus, lá no morro do Cruzeiro, artes cênicas à noite, lá na Escola de Minas (ponto cardeal oposto) e morava no tradicional bairro da Água Limpa, nada a ver com nenhum desses endereços.

Em Macaé, acordava às 5:30 para conseeguir chegar no trabalho às 7:30.

portanto não venha me dizer que moro mal: nada paga 15 minutos de distância do trabalho.

14.9.05

há tempos sem sair de casa para eventos sociais convenci A. de ir comigo à festa. "vai ser muito boa! festas oferecidas pela TAM são sempre excelentes, ainda mais lançamento de vôo Rio-NY", repeti o texto da promoter. nunca fui em festa mais micada em toda a minha vida. no cardápio cachorro-quente, muito ruim por sinal. E só, de "prato salgado". O que salvava eram as maçãs-do-amor, forçando uma referência à Big Apple. comi duas. escutei o diretor falar pérolas como, quando apresentou o diretor comercial, disse "todo mundo comete erro na vida, o erro desse camarada foi trabalhar 23 anos na Varig". Ponto pra total deselegância. Bem, fui pra casa com raiva de ter saído. Por essas e outras vou virar ermitã.
ah. pra piorar, passaram um filminho sobre NY. nem tiveram o cuidado de editar da HBO.
Agora mais essa! Spam de blog comment. É só eu postar que lá vem um comentário spam. Isso tá acontecendo com freqüência na rede?
o diabo não é esperto porque é mau. é esperto porque é velho, minha filha.

12.9.05

A criança tem 8 anos e é a primeira vez que se encontra com uma máquina de escrever.
"Nossa, pai. Que editor de textos sinistro! Faz a impressão em tempo real!"
Alguns anos andei viajando a colher maneiras-de-sentir. Agora regresso a mim. Oxalá não me desvie de mim, este ser adaptável a tudo, demasiado multilateral, sempre alheio a si próprio e sem nexo dentro de si.

9.9.05

já amei errado, já odiei errado. Nelson Rodrigues
Todos os meus dias visito Ouro Preto. Em pensamento, em sonho, em literatura.

Hoje, correndo para vir ao trabalho, catei na estante da sala "Os sinos da agonia". Juro que não sabia que se tratava de uma história que se passa em Vila Rica. É um livro da estante dos não-lidos. Mas foi assim, de surpresa que, mais uma vez, me vi, no caminho para o trabalho, percorrendo as ruelas de Ouro Preto.
escrever é meu artesanato.
All'uomo che cavalca lungamente per terreni selvatici viene desiderio d'una città. Finalmente giunge a Isidora, città dove i palazzi hanno scale a chiocciola incrostate di chiocciole marine, dove si fabbricano a regola d'arte cannocchiali e violini, dove quando il forestiero è incerto tra due donne ne incontra sempre una terza, dove le lotte dei galli degenerano in risse sanguinose tra gli scommettitori. A tutte queste cose egli pensava quando desiderava una città. Isidora è dunque la città dei suoi sogni: con una differenza. La città sognata conteneva lui giovane; a Isidora arriva in tarda età. Nella piazza c'è il muretto dei vecchi che guardano passare la gioventù; lui è seduto in fila con loro. I desideri sono già ricordi.

Ítalo Calvino, Le cittá invisibili.
Às vezes fico tempo, muito tempo, sem conseguir escrever. É maior: não consigo literar. O ler e escrever é um não-ser. É um outro eu, o que escreve, e o que lê. E quando afasto muito de mim mesma, desisto da escrita e volto a ser.

Depois num rompante, sinto falta deste não-eu. E acordo no meio da noite e sou uma viajante em passeio por cidades invisíveis. (Livro que leio a conta-gotas, e cidades não vistas são surpresas que guardo para usá-las nestes momentos em que as palavras me fazem falta. Maravilhar-me com cidades construídas de palavras. Com o caminho linguagem-existência.)

Então me voltam, de uma só vez, o ler e o escrever. Primeiro assim, revelando um hermetismo guardado. Depois assado, no amanhecer, quando abro as janelas.