12.11.02

Falava da vida enquanto seus olhos passeavam pelos objetos da sala. N�o me olhava. Olhar pra mim quebraria o encanto de estar ali, naquela sala onde nunca estivera antes, sozinha, se contando segredos.

(Um vento m�gico sibilava nas cortinas.)

Me senti mal, fraca, de ressaca. E era s� o come�o da festa! Mas ele estava passando a m�o pelos cabelos secos dela, como se n�o me notasse. Fingia...agia como se me apresentasse um espet�culo se colocando no meu melhor �ngulo de vis�o...

Olhei pro seu rosto de beleza �bvia, cabelos lisos. Tive pena. De vez em quando quebrava o encanto de falar aos objetos..

Essa escultura...� Baco?

Eu respondia com economia de palavras. O que me interessava era o mon�logo.

Quis ir embora daquela festa. Mas em vez disso resolvi me embebedar. J� estava com ressaca mesmo. Mas olha que eu nem gosto de u�sque! Prefiro aqueles vinhos docinhos, baratos, coquet�is... Tomei puro, caub�i. Bebi tanto que nem sei mais se foi a cena que ficou se repetindo na minha frente por um longo tempo ou se fui eu que fiquei repetindo na minha imagina��o aquela m�o passando no cabelo crespo como replay de gol de Copa do mundo. Quis mat�-la, aquela zinha.

De onde esse punhal? � um punhal, n�?

Mas ah, n�o vale a pena. Ele � um canalha, um filho da puta, um burro, um, hum...mas...


Sorriu ternamente, olhou pro rel�gio da parede, me perguntou se estava certo. Agradeceu pela conversa e se despediu, jurando que iria esquec�-lo. Me deixou em casa com minhas pr�prias lembran�as. E com a id�ia de que Zeus � pouco criativo. E n�s, marionetes, estamos condenados a repetir eternamente as mesmas pe�as.