oráculo
Era uma época de dúvidas. E aquele papel em minha mão me feria como navalha. O papel não era em nada diferente das boletas de loteria, nem em significado. Era a inscrição do Vestibular para a Universidade Federal de Ouro Preto.
O meu pai tem farmácia, meus avós, minha mãe teve outra, todos os meus tios. E eu querendo mesmo era ser jornalista. Talvez Direito... Mas minha mãe nunca permitiria, e eu ainda vivia sobre sua sombra, apavorada. E todas as possibilidades de escapar do seu domínio acabavam em medo e vergonha.
Olhava triste aquele papel que não me oferecia sonhos. Nutrição parecia interessante, coisas que não se sabem muito bem o que são, são sempre interessantes. Mas Farmácia era a glória de Ouro Preto.
Não queria decidir sozinha, pedi ajuda ao meu pai e, ao menos daquela vez, queria uma resposta. Mas ele não é um homem de respostas, não me dava ordens, não ditava regras de vida. Me mostrava a encruzilhada e eu que me resolvesse. O que saia da sua boca era 'te crio pro mundo, não pra mim', mas o que dizia era que não me queria como um robô treinado, mas como uma pessoa que tivesse as rédeas da própria vida, e que vivesse as consequências de minhas escolhas.
(Chamei isso de covardia. Chamo hoje de ensinamento, muita coragem é necessária pra que se diga isso.)
Na minha restrita dúvida, que excluía a única resposta, me refugiei na Biblioteca Estadual da Praça da Liberdade. Não precisei de 5 minutos. Drummond me respondeu:
Então, sei lá porquê,
fui fazer Farmácia.
Era 1997.