28.12.06

pós-Natal, ainda dá tempo de comprar alguns presentes esquecidos. cheguei em casa às 10 da noite, e liguei a tv. a onda de ataques e violência no Rio de Janeiro.

acordei e liguei a tv. a onda de ataques e violência no Rio de Janeiro.

fui trabalhar e comprei o jornal. a onda de ataques e violência no Rio de Janeiro.

depois do trabalho, última chance do ano pro pessoal da empresa, vamos tomar um chope? não dá, tenho que voltar cedo pra casa. a onda de ataques e violência no Rio de Janeiro.

a violência não é mais uma questão de alternativa, do tipo 'desligue a tv', 'não leia o jornal'. invadiu primeiro os ouvidos, que se habituaram aos tiroteios. agora invade minhas escolhas. não posso mais escolher tomar um chope quando quero. a violência tem que permitir.

o último degrau vai ser invadir as nossas janelas, e não nos permitir o horizonte.

27.12.06

estou só em casa. gosto de ficar só, de sair só, de ocupar a cama inteira. não o tempo todo, mas às vezes, assim. não falar me casmurra, e isso é bom.

escrever é um exercício de solidão. ler também. e o silêncio é o meu fatum e o meu refúgio, o santa simplicitas!

14.12.06

O namorado de J. ligou pra ele que precisava falar uma coisa muito importante. É, não, não pode ser pelo telefone. É, é importante. É, agora. Não dá pra esperar.

E J. foi, preocupações na cabeça. Problema na família? Perdeu o emprego? A voz estava embargada.

O namorado de J. engoliu o piercing.

11.12.06

por muitos anos da minha vida tive que tomar um remédio todos os dias. era uma coisa pra me fazer bem, mas aí, se eu me esquecia num dia, no outro era ruim, tinha dor de cabeça, tinha que começar de novo, começar aos poucos. 1/4, meio, e tal, até conseguir de novo. (ou esquecer.)

o bula bula é meu remédio.
Não interessa se o remédio é ou não farinha, o que cura é a bula.
(Luis Fernando Veríssimo)

10.12.06

meus pés
para Mariana Newlands.




então fizemos as pazes e fomos ao Paço.

Ferreira Gullar estava sentado na mesa ao lado da minha, e pensei se não era um sinal, pois "Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem."

e me deu vontade de contar coisas. e de desperatar minha parte linguagem adormecida.

*essa foto aí, fui bem eu que tirei.

12.7.06

então minha estagiária reecbeu flores. "é seu aniversário?" "não, nenhuma data especial." melhor coisa receber flores só por nada. ou por tudo. porque por amor é por tudo.

1.6.06



Minha TV supermegamaxinovagrande queimou. 18 dias de uso e queimou. No meu prédio a antena tá com problema há um tempão e o técnico nunca vem consertar.

Meu celular eu já desisti, total. A Claro mandou o aparelho e não mandou o chip. Na verdade mandou, mas não registrou e é impossível habilitar. Bem, ganhei umcelular novo por 1 real.

28.5.06



Sem inspiração sobre o que pintar, Andy Warhol começou a pedir aos amigos que lhe dessem idéias. Uma de suas amigas lhe devolveu: "What do you like more in life?" E então ele começou a pintar notas de dólar.
capuccino shake do café 3 corações da savassi. mais nada quero.

27.5.06


A Mel anda atacada, fazendo muito barulho de noite. A Teresa diz que é da idade, que depois passa. O André quase não tem dormido, sobressaltando-se a cada barulho maior.

O Merlin acha que faz parte do tapete do banheiro, que é preto e felpudo. Dia desses, antes de um fime, passou o trailer de Arthur, em que alguém grita "Meerrlin". O abusado veio correndo: "Ahn". (Porque o Merlin não mia, ele resmunga e grita)

Terminei de ler "O Gato", de Simenon*.

Será que estou me transformando em uma catlady?

*Simenon é meu autor favorito para ler em movimento. De tanto garimpar descobri uma banca de livros na pracinha aqui bem perto, que vende livros a 3 por 10. E achei vários de Simenon, vindos direto da terrinha.

16.5.06

é a minha primeira obra vendida. e custa louça-lavada, sopa preferida, roupa colhida do varal. o André compra de mim assim, pagando em moeda de câmbio valorizadíssimo, o meu primeiro livro infantil, que vendo página a página.

15.5.06

O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada. O tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.

14.5.06

learning to love you more

15.4.06

8.4.06

'Tinha vantagens não saber do inconsciente, vinha tudo de fora, maus pensamentos, sensações, desejos. Contudo ficar sabendo foi melhor, estou mais densa, tenho âncora, paro em pé por mais tempo. De vez em quando ainda fico oca, ocorpo hostil e Deus bravo. Passa logo. Como um pato sabe nadar sem saber, sei sabendo que, se for preciso, na hora H nadocom desenvoltura. Guardo sabedorias no almoxarifado."

Adélia Prado no último livro-de-ler-no-ônibus que terminei de ler: Quero minha mãe. Lindo.
"Algumas dores são, sim, públicas; porque, de uma variação a outra que elas sofram, no substrato já foram sentidas por todos, ou o serão. Em forma bruta, na raiz, no talo, gente é tudo muito parecido. "

eu amo essa menina, da matérias dos pirlimpimpins, dos encantamentos de pássaros.

7.4.06

Às vezes, francamente, o espírito humano dá nome às coisas de maneira bem poética. Um lavrador vai a seu campo no tempo da semeadura para o arar, preparar as sementeiras. Faz um comprido sulco, raso e largo, com o facão do arado; e depois volta fazendo outro, e outro, muitos mais, todos cuidadosamente paralelos entre si, para facilitar o lançamento das sementes de um e outro lado das alamedas... Mas a calma do sol da tarde age-lhe misteriosamente na alma, e ele se distrai, e sonha, e sonha mais e se distrai mais ainda, enquanto o arado corta a terra, já sem rumo fixo, em linhas desconexas. Deu para imaginar a cena? É uma cena de delírio, tal como entendemos o que isso seja. E mais: estar fora de si, imaginar loucuras, e se possível cometê-las... na gíria jovem deste fim-de-século, enfim, delirar é "viajar". Sair dos sentidos. "Fulana viajou", diz alguém assustado, ao ver a amiga sempre tão comedida, sempre tão "em ordem", um dia chutar o pau da barraca, virar a mesa e acabar rodando a baiana, num puro delírio. Que também pode significar uma outra "viagem", triste viagem de parca volta, a das drogas. Pois é. Na raiz, a palavra delirar nos fala de tudo isso, pois quer dizer, literalmente, "sair (o lavrador que conduz o arado) do sulco (planejado)". O verbo latino delirare é formado por lira, "sulco feito pelo arado", com o prefixo latino de-, "fora de", "afastado de". Por falar nisso, "estar fora de si" tanto pode ser um estado de delírio como um estado de êxtase (ekstasis, "arrebatamento íntimo" pref. de-, "fora de" + lira, "sulco de arado".]
então ele amassou o dedo e não aguentou o gelo. eu disse "um copo d'água, 1 colher de sopa de vinagre e põe o dedo de molho".

(também tenho as minhas sabedorias no almoxarifado.)

5.4.06

Pra você, meu amor, a minha primeira jura de amor. (Ainda devo um livro da Helena Sagirardi.)

2.4.06


era uma vez uma grande carestia. não havia comida, e a terra estava coberta de gelo. fazia muito frio, e o passarinho pensou que ia morrer.

então veio uma vaca e ploft!, cagou em cima do passarinho. e ele, com raiva, começou a reclamar. 'já não bastasse fome e frio, ainda me colocam na merda'.

e foi então que o encanto se deu e ele começou a perceber que aquela cobertura o aquecia. mais e mais. e nosso amiguinho, com o corpinho quente, ficou tão feliz que cantou.

eis que passava por ali um leão que ouvindo aquele canto, se aproximou e nhac! matou sua fome com carne de passarinho.

moral da história: nem todo mundo que te põe na merda está te fazendo mal. nem todo mundo que te tira da merda está te fazendo bem.

e quando estiver feliz, feche o biquinho.

passarinho roubado de www.ninjai.com, um vício

28.3.06

então eu vim pra casa, sacolas de supermercado na mão, pensando sobre o perecível tempo. (senti falta do papagaio que me cumprimentava sempre. será em que pregas do mundo se meteu?) pensei no verbo. no princípio era o verbo.

sempre gostei dessa frase. quando é tempo assim, de entremeio coisa e outra, penso que no princípio é sempre o verbo. depois de pausa é que vem substantivo. e o verbo é querer, planejar, confabular, construir, cozinhar, escrever. e o substantivo é qualquer coisa que se queira.

(e se não fosse a esperança de que me aguardarias, com a mesa posta, o que seria de mim eu não sei.)

27.3.06



O Bula Bula faz 4.

26.3.06

Dá uma geral, faz um bom defumador
Encha a casa de flor
Que eu tô voltando

...

Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar
Porque eu tô voltando

Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando

...

Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero la la iá
la la iá iá iá
Porque eu tô voltando
sessão xilindró


Hugh Grant. Divine, divine.


Bill Gates, Novo México. A ficha criminal sumiu.


Keanu Reeves, preso por DUI* em Los Angeles, 1993.


Al Pacino, porte de arma ilegal, Janeiro de 1961


DUI = Driving Under Influence de álcool ou drogas.
O dia do sol se veste de chuva.

Queria que se chamasse Ñamandu. Ñamandu, o deus Sol guarani, que antes de criar a Terra, e antes de criar os homens, criou a linguagem. E no princípio era o verbo.

Então eu queria poder chamar domingo de Ñamandu, já que os alemães têm o direito de chamá-lo Sonntag e os ingleses de Sunday, assim maiúsculos.

Nós, com nosso minúsculo domingo, não chamamos o sol. E ele, injuriado por não ouvir seu nome, se cobre com seu manto cinza, e vai mesmo é tirar um cochilo.

A palavra "domingo" é originária do latim Dies Dominica que significa "Dia do Senhor". Existe, nessa mesma acepção, em espanhol (Domingo), italiano (Domenica) e francês (Dimanche).

25.3.06



Medéia, filha do rei da Cólquida, apaixonada por Jasão, líder dos argonautas, o ajuda a se apoderar do famoso velocino de ouro. (Pausa pra digressão. Por muito tempo não fazia idéia do que era um velocino de ouro e imaginava uma espécie de velocípede. Velocino é pelo de carneiro.)

Mas mesmo como aliada de Jasão, seus métodos já deveriam ter sido suficientes para levantar algumas suspeitas. Para retardar os seus perseguidores, chefiados pelo pai, Medéia vai cortando pedaços do próprio irmão e atirando ao mar. Ao chegarem em Iolcos, Medéia salva Jasão mais uma vez, agora matando o tio dele, que tentava roubar o velocino de ouro. O casal apaixonado tem que fugir então para Corinto.

Jasão, subestimando a fúria de Medéia, resolve abandoná-la para casar com Glauce, filha do rei de Corinto. A vingança terrível começa pela rival. Medéia envia-lhe um vestido envenenado, que acaba causando a morte dela e do pai. Não satisfeita, assassina também os próprios filhos, como forma de punir Jasão. E este, é claro, tampouco escapa: por obra de Medéia, morre esmagado pelo navio Argos, seu companheiro em tantas aventuras. Depois de tudo isto, ela tem que fugir mais uma vez, e ruma para Atenas, onde fica sob a proteção do rei Egeu. Se você pensa que ela sossegou, está enganado, já que mais tarde tentou envenenar seu benfeitor e teve que fugir novamente, voltando à sua terra natal, Cólquida.

Resumindo, lembra da história do sapo e do escorpião? Burra sou eu de imaginar que pau que nasce torto pode se endireitar.
santo de casa não faz milagres e eu tentei por três meses que A. consertasse o Bula Bula que eu estraguei. aí eu mesma coloquei a mão na massa e vou voltar a escrever, agora que a casa está arrumada (não decorada, mas arrumada).

31.1.06

"não liga não, ele não é gente ruim, ele só tem muitos problemas em casa... e sabe, ele tem amigos em Cuba! Uma pessoa que tem amigos em Cuba, não pode ser gente ruim."

25.1.06

http://www.republicalilith.com

12.1.06

VATICINIO (Occ.) - Predizione di avvenimenti futuri, per ispirazione divina o per propria capacità di prevedere (anche soltanto sotto forma di desiderio) quanto in futuro avverrà. Ma a stretto rigore sarebbe "il canto del poeta", derivando dal latino vates (poeta) e canere (cantare). E poiché il poeta è un ispirato dagli dei, a lui è concesso emettere profezie.

tenho me sentido tão humana. no sentido perecível da coisa. no sentido vão. no sentido Cem Anos de Solidão.

5.1.06

O termo psicogeografia, segundo o situacionista Guy Debord, é o estudo das leis do meio-ambiente geográfico e seus efeitos específicos nos sentimentos e desejos dos cidadãos de uma metrópole. A paisagem urbana, então, não seria apenas uma coleção de vias, construções e unidades de habitação, mas também um mapa emocional de seus habitantes. E a própria cidade seria, neste caso, uma pintura imaginária, uma cosa mentale, um emaranhado de pontos e lugares que despertam lembranças e significados. A cidade, para os situacionistas, é uma experiência pessoal e intransferível.

2.1.06



se tenho manias? ha! muitas. essa é uma delas, depois de esgotadas as agathascristies na infância.

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos, i.e. Fernando Pessoa