31.7.02

Mem�ria

Amar o perdido
deixa confundido
este cora��o.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do N�o.

As coisas tang�veis
tornam-se insens�veis
� palma da m�o.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficar�o.
Em tempos pr�-vestibulares n�o sabia o que fazer - n�o que eu saiba agora, n�o tenho talento para certezas. Vivia fugindo do cursinho e me escondendo na Biblioteca Municipal na Rua da Bahia, com vista para a pra�a da Liberdade. Um dia - e daquele dia eu me lembraria com um misto de orgulho e desgosto pro resto da minha vida - foi o 'ultimo. Era o 'ultimo dia de inscri��o pro vestibular da Universidade Federal de Ouro Preto. Depois de tentar o unidunite^ umas 3 vezes, mas n�o ter coragem de marcar, resolvi esquecer e seguir o conselho de Baudelaire. La pelo quarto ou quinto copo de poesia li um final assim: Ai', sei l'a por que, fui ser farmac^eutico. Pensei que era um aviso. 5 anos e duas tentativas de assassinato de professores depois percebo que entendi errado. Drummond nunca exerceu a profiss�o de farmaceutico.
Ter cometido o mesmo erro que Drummond nao me faz poeta.
os sapos
Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos./ A luz os deslumbra.

(...)

Outros, sapos-pipas/ (Um mal em si cabe),/ Falam pelas tripas,/ - "Sei!" - "N�o sabe!" - "Sabe!".
Manuel Bandeira

E eu ando engulindo todos, um a um.

30.7.02

Ultimamente (esse ultimamente tem uma duracao de, assim, uns dois anos), tenho lido mais poesia e conto. Vai mais rapido, nos da mais tempo pra fazer o que realmente interessa, como chupar cana, por exemplo. Gosto de um conto, O ventre seco, do Raduan Nassar. Queria poder ler de novo. Fiquei 1 hora procurando na internet, nao encontrei. (Encontrei milhares de textos 'explicando' Menina a Caminho e Lavoura Arcaica. Em geral as pessoas gostam de coisas mais pretensiosas.)
Gosto de despretensao. Arroz com feijao, jabuticaba no pe, conto do Rubem Braga, cerca de madeira, cheiro de goiaba, comer banana quinem macaco.
eu ando aflito pra fazer voce ficar/ a par de tudo que se passa/ uns dias chove, em outros dias bate sol
Chico
Telefone celular deveria ter a tecla "ignore". Igualzinho icq.

29.7.02

Conhe�o as casas do caminho como se fossem velhas amigas do tempo em que andava com outros sapatos. Todas iguais com seus revestimentos de tijolinhos. Todas diferentes. Uma (a que mais gosto) se deixa ver inteira com suas cortinas abertas. Tem uma tela vermelha ao lado da janela dos fundos, vasos transparentes com flores de talos compridos, margaridas brancas no jardim da frente. Televis�o pequena. Casa de mulher, casa de artista. Nunca cheguei a ver quem mora l'a. Mas ja conhe�o.
abandono

chiclete mascado duro grudado lado da cama
margarida amarela murcha janela
livro jogado ch�o orelha dobrada pagina 92
copo agua mosquito boiando mancha no movel
chave celular pin�a fone de ouvido cart�o de visita flier de pe�a de teatro nota fiscal escrivaninha
meia preta avesso
trancar porta checar se trancou
"Me diverti perguntando a quem eu encontrava: �voc� sabe o que � blog?�. Descobri que uma por��o de gente da minha idade (�por��o de gente da minha idade� � um exagero. Digamos, os que sobraram) nem desconfiava: �blog? Como se escreve?�, perguntavam. Um, esse j� meio gag�, respondeu com seguran�a: �ele fez muito pelo jornalismo, mas j� morreu�. Estava confundindo blog com Bloch, de Adolfo. Como dizia Pedro Nava, velhice � uma merda. " Zuenir Ventura.
Tah, vou fazer um post especial 'critica de filme' inspirado no ultimo comment. Duas semanas atras vi Minority Report. Nota? 5, todos os 5 pros efeitos especiais. Que mesmo assim nao sao perfeios. Entao t'a: 5 pro dinheiro que deve ter sido gasto naqueles efeitos especiais. Quando falo no plural quero mais uma vez consertar porque acho que o que gostei mesmo foi das rodovias do futuro. Muito legal. E ponto.

No filme tr�s paranormais resultantes de uma muta��o gen�tica, depilados, mergulhados numa piscina com um l�quido viscoso veem os crimes antes que eles acontecam. Suas visoes sao transmitidas para uma tela e Tom Cruise tem que organiza-las como se fossem um quebra cabeca antes de partir pra prisao do assassino. Ah, o aparelho tambem esculpe duas bolas de madeira: uma com o nome do assassino, outra com o da v�tima. Parece fazer sentido? Deveria... mas a historia 'e a coisa mais sem pe nem cabeca que ja vi nos ultimos tempos. (Se vc leu o livro deve ter tido uma ideia diferente. Minority Report � adaptado de Philip K. Dick , que escreveu tambem Blade Runner e O Vingador do Futuro.) Tudo bem um filme que nao tem uma historia consistente, desde que ele nao tenha pretensoes de consistencia, mas aqui estamos falando de algo que se pretende realidade. (Na verdade acho que a historia nao e ruim, o resultado final e que e desastroso.)

Cruise foge de uns 30 policiais de capacete e mochila voadora, bate em todos, derruba todos e sai ileso. Sem contar numa cena em que 'escala' uma rodovia vertical pulando de carro em carro. E os carros do futuro tem todos aquela aerodinamica suuuper arredondada e escorregadia. Eu truco.

Mas vale como sessao da tarde.

28.7.02

De volta, repaginada. Pronta pra ir pro Festival Internacional de Edimburgo. Te vejo la na quinta-feira.

26.7.02

Pra bom entendedor.
Never made it as a wise man
I couldn't cut it as
A poor man stealing
Tired of living like a blind man
I'm sick of sight without
A sense of feeling
And this is how you remind me

This is how you remind me
Of what I really am
This is how you remind me
Of what I really am

It's not like you to say sorry
I was waiting on a different story
This time I'm mistaken
For handing you
A heart worth breaking
And I've been wrong
I've been down
Into the bottom of every bottle
These five words in my head
Scream
Are we having fun yet?

Yet, yet, yet, no no
Yet, yet, yet, no no

It's not like you didn't know that
I said I love you and
I swear I still do
And it must have been so bad
'Cos living with him must have
Damn near killed you

And this is how you remind me
Of what I really am
This is how you remind me
Of what I really am

It's not like you to say sorry
I was waiting on a different story
This time I'm mistaken
For handing you
A heart worth breaking
And I've been wrong
I've been down
Into the bottom of every bottle
These five words in my head
Scream
Are we having fun yet?

Yet, yet, yet, no no
Yet, yet, yet, no no

24.7.02

O British Council ofereceu um almoco na semana passada em Londres, no Imperial College para o que chamaram de 'nata da inteligencia mundial'. Se eu estou incluida nessa tal nata o mundo tem serios problemas.

Eramos cerca de 40 estudantes dos EUA, Suecia, Australia, Oman, Jordania, Macedonia, e o que chamamos de invasao canadense: 6 deles.

A representante da embaixada do Brasil, superfechada e timida, depois de meia hora de conversa acabou contando toda a vida. Ela nasceu no Rio, foi pro Itamaraty em Bras'ilia e mora ha um ano em Londres. Gosta de Londres no inverno e do Rio no verao. E quem nao?
Se arrependimento matasse... por que raios eu vim estudar na Europa com mala ao inves de mochilao??

22.7.02

Tah, agora conheco todo o Underground londrino. No 'ulitmo final de semana passei umas boas 6 horas entre idas e vidas no tal do tube. Jah estou dando ate informacao. Humpf.
Se water significa �gua e loo � banheiro, Waterloo � �gua de banheiro?

18.7.02

S'o hoje percebi que a pagina do Millor nao ta ali entre os enderecos que chamo de 'meu imaginario'. Como assim? Como negar que eu esperava quase desesperada aquelas duas paginas semanalmente na Isto'E no tempo em que era Senhor? Era a 'epoca em que eu lia Chiclete com Banana, jam session do Angeli com os outros amigos, e derretia no calor que faz derreter o solado do sapato no asfalto em Teofilo Otoni.

Quando saiu A B'iblia do Caos, um livro gordo de capa branca com mais um daqueles desenhos de traco torto na capa, eu estava em Bras'ilia prestando vestibular. Se eu comprasse o livro nao ia dar pra comer no restaurante japones. Aproveitei pra comer um sanduiche.
Hoje eu me perdi. Eu gosto de me perder de vez em quando. 'E uma das poucas oportunidades pra conhecer novos caminhos. Mas no auge do sentimento de 'n�o tenho a minima ideia de onde estou e n�o tem ninguem aqui pra perguntar' eu olhei pra cima e tinha uma placa verde lim�o onde estava escrito 'the end'.
Sonho toda noite que estou em Ouro Preto. 'Ai meu Deus, vou ter que atravessar o mar de novo pra trabalhar amanha!'. Pela primeira noite dormi, sonhei e acordei em Cardiff. Meus sonhos tamb'em se mudaram.

17.7.02

Ai. To cansada de ser gauche na vida.
Me Deus que que � isso???? A gloria de todos os blogs. E a gloria absoluta pra Marina, que me ensinou o jogo do Curr'iculo.
"Estamos em pleno ver�o e faz Londres" Castro Alves, mas quem contou foi o Ivan Lessa aqui.

16.7.02

lendo Bridget Jones, the edge of reason by Helen Fielding, e s'o pra variar o primeiro 'e muuuuuuito melhor. vendo Semana passada assisti Minority Report, filminho do Spielberg com Tom Cruise. Razo'avel. Mas Tom Cruise batendo nuns 10 marmanjos de capacete e mochilas de voar, tipo a do Spectraman, machucando todo mundo e se safando ileso 'e um pouco demais pra engolir. Meio parecido com Inteligencia Artificial. O Spielberg ta se repetindo. ouvindo Minha amiga Nada que tem voz de abelha e fala sem parar. Cancei dos cds que eu trouxe.
Tem tanta coisa que queria escrever aqui e acabo n�o escrevendo por falta de tempo e de contexto... por exemplo:

Nada tem voz de abelha. Nada � minha amiga. Nada parece com Carol. Nada nasceu na Macedonia.

Tenho margaridas amarelas no meu quarto.

Vi um castelo nascer no sol.

Achei a Bath romana menos bonita que a Ouro Preto dos escravos.

E a limpa Baia de Cardiff menos bonita que a poluida de Guanabara.

E ontem fez 33 graus. Os Celsius.

15.7.02

'Houve um tempo em que sonhei coisas - n�o foi ser eleito senador nem nada, eram coisas humildes e vagabundas que entretanto n�o fiz e, nem com certeza farei. Era por exemplo arrumar um barco e sair tocando devagar por toda costa do Brasil, parando, pra pescar, vender banana ou comprar fumo de rolo, n�o sei, me demorando e indo, vendo as coisas, conversando com as pessoas, aprendendo a fazer coisas singelas que vivem fora das estatisticas. Ir indo por esse Brasil que ainda existe, que funciona a lenha e lombo de burro. Aquele Brasil em que as noites s�o pretas com assombrac�o, dizem que ainda tem at� luar no sert�o, at� capivara e sucuarana - n�o, eu n�o sou contra o progresso ("o progresso � natural") mas uma garrafinha de refrigerante americano n�o � capaz de ser como um refresco de maracuj� feito de fruta mesmo." Rubem Braga, no 'unico livro que trouxe.
A pedidos do meu querido avo, que ficou admirado por eu ter me bronzeado ontem no sol daqui, meu endereco:
Vivianne Pontes Silva
Cardiff University
Biomedical Building
Museum Avenue
P.O.Box 911
Cardiff CFLO 3US
Wales, UK

12.7.02

teoria conspira��o
No Brasil os guardas-chuvas se transformam em clips, n�o 'e? Afinal, que nunca perdeu um guarda-chuva? Agora ja achou algum? Nenhum, n�o 'e? E clips? Por todo lugar que a gente anda tem um clip de papel no ch�o. Ent�o? Os guardas-chuvas v�o para um universo paralelo onde s�o tranformados em clips de papel.

Aqui eles s�o transformados em borrachinhas de cabelo.
Tava aqui pensando...minha vers�o editada � muito melhor.
Hoje eu almocei um pote de 500g de iogurte com fibras. Tenho que criar alternativas aos pures de batatas com gosto de cola. E este iogurte Onken � uma das coisas mais gostosas que j� comi na minha vida. Nem doce, nem sem doce, firme no ponto e extremamente saboroso, com uns peda�os de fruta no meio. Huuum.

tv
Ontem descobri que existe uma taxa pra se ter televis�o aqui neste reino estranho. S�o �100 por ano!!! Mas ningu�m paga. Igualzinho se fosse a�.

Sorry
O Blogger tem dito sorry t�o frequentemente quanto o resto das pessoas. Ent�o, por problemas t�cnicos n�o tenho escrevido muito.

11.7.02

Ontem acabei indo pra casa mais cedo. C�licas. Fiquei pensando como n�o gosto de ser mulher. A� lembrei Ad�lia Prado. Lembrei Cora Coralina. Minha av� cozinhando no fog�o de lenha encerado. O cheiro de biscoito de goma sa�do do forno. A bula-bula mexeriqueira da mulheres na cozinha.


H� muito tempo o fog�o pintado de xadrez amarelo � s� retrato na gaveta.

Viver demora muito.
Ensinamento

Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado

9.7.02

A minha cara t'a queimando at'e agora.

O Professor (leia prof'essor) acabou de falar em alto e bom som que eu acabo de tornar o trabalho dele obsoleto. 'E que hoje eu consegui um resultado excelente. E 'e claro que eu s'o consegui esse resultado porque cometi um erro e a coisa acabou dando certo.
Hoje percebi que o asfalto aqui entorno de onde eu trabalho 'e vermelho. N~ao tinha percebido antes. N~ao sei porqu^e percebi agora.

Outra coisa: n~ao sei se Mercedes aqui 'e carro popular, mas a concentrac~ao de Mercedes na garagem do pr'edio onde trabalho 'e gritante. S~ao 12 vagas e hoje eu (n~ao resisti e) contei 6 Mercedes reluzentes. 2 Jaguar, 1 Rover de luxo (o mais bonito) e 1 Alfa Romeo, Ah! Tem 1 Fiesta.

Ser'a que o asfalto faz as vezes de tapete?

7.7.02

J'a ca'i de 'arvore.
J'a escorreguei na lama.
J'a fui suspensa da escola.
J'a ganhei em jogo.
J'a tive uma cidade. J'a perdi duas cidades.
Nunca comi jil'o.
J'a quebrei o braco. Nunca quebrei a perna.
J'a fui internada num hospital.
J'a tive um p'e de jabuticaba. Nunca tive um pomar.
J'a li O Manifesto do Partido Comunista. Em vers~ao compilada. Nunca li Dom Casmurro.
J'a escrevi poesia.
J'a vi um assassinato.
J'a sonhei com Jason.
Nunca vi um parto.
J'a tive acesso de riso em um vel'orio. Em dois. Em tr^es. Tenho acessos de riso em vel'orios.
J'a tive um acesso de riso numa papelaria. S'o de olhar pro vendedor. E ele n~ao era feio. Nem bonito. Normal.
J'a perdi a oportunidade de ficar calada.
J'a perdi a oportunidade de falar.
J'a chorei de alegria.
J'a fiquei sem chorar de tanta tristeza.
Eu vi o Ulisses Guimar~aes de sunga de banho.
Nunca doei sangue.
J'a ganhei poesia.
J'a quis ter outro nome.
Nunca vi Rambo. Nem O Exterminador do futuro.
Nem um filme da primeira trilogia Star Wars inteiro.
J'a ganhei um buqu^e de flores de pl'astico.
J'a chorei escondido.
J'a aprendi a tocar piano. E n~ao sei mais ler partitura. J'a sonhei que eu destru'ia um piano com um machado.
J'a comprei um livro pelo cheiro. De livro antigo.
J'a fiquei pra sempre com livro da biblioteca.
Tenho um livro com dedicat'oria do Vin'icius de Moraes. Pra outra pessoa.
J'a andei num daqueles ^onibus vermelhos de Londres.
J'a mexi escondido nas gavetas do meu pai. Li os livros de cordel que ele guarda l'a.
Tenho bisav'o.
Choro toda vez que vejo minha bisav'o com medo de ser a 'ultima. Mas n~ao deixo ela perceber. Mas ela sempre percebe.
Chorei agora.
Todos os rel'ogios da minha casa j'a se atrasaram. Inclusive os de pulso. O do pulso da Thereza tamb'em. At'e hoje a gente n~ao sabe o que aconteceu.
J'a deixei de estudar porque n~ao tinha 'caderno de rascunho'. Thereza tamb'em.
Canto embaixo do chuveiro.
J'a tive uma crise nervosa.
J'a alterei o DNA de uma bact'eria.
J'a clonei bact'eria ('E f'acil clonar bact'eria.)
Cheguei atrasada na minha primeira comunh~ao.
J'a fugi de casa.
Nunca vi neve.
J'a usei italiano de novela no aeroporto de Roma. E funcionou.
J'a achei dinheiro no ch~ao. 5 vezes.
J'a achei anel de ouro no asfalto. 2 vezes.
Ja fiz gol.
Tive uma joaninha de estimac~ao.
J'a fui orientada por uma surda-muda. Duas vezes. Uma vez debaixo de um tor'o em BH. Outra vez em Londres.
Tive minha chegada anunciada a um desconhecido por uma anjo. ("Um anjo do Senhor soprou no meu ouvido que era pra eu ficar aqui te esperando." Ele me esperava com uma senha da Pol'icia Federal pra tirar passaporte. Era meu 'ultimo dia pra que eu tirasse o documento a tempo de enviar com o resto da minha documentac~ao pra Universidade daqui. As senhas tinham acabado havia uma hora. Em troca ele me pediu uma orac~ao. Deus abenc~oe o Sr. Jorge.)
J'a cansei de brincar.

O jogo do curr'iculo, da Marina.

6.7.02

Brasil
Fui num sebo aqui e achei um livro que se chama Brazil. Tinha uma coisa linda escrita na capa que eu queria copiar aqui. Mas era um calhamaco, um 'epico que eu nunca leria. Nao comprei, mas tava tentando achar alguma informacao na net. Dei de cara com um horror. Que 'e isso? Ningu'em vai fazer nada?
Tava preenchendo um formulario na net, desses que se preenchem pra ganhar cr'editos no celular. A'i disseram que o 'friendly name must content letters'. O nome amig'avel? Como assim? Chequei todos os nomes e s'o continham letras. Humpf.
casa da palavra, onde o sil�ncio mora
fora da palavra, quando mais dentro aflora

barulho

Essa coisa de viver numa cidade tao silenciosa como Cardiff, tao quietinha, onde nao se escuta nem latido de cachorro - s'o o latido daquele maldito p'assaro, tava me deixando louca. O silencio e o latido do p'assaro. "Sofri o grave frio dos medos, adoeci." Gastei quase todo o meu sal'ario da semana mas comprei barulhos. E logo dois, mas com efeito de tr^es.

Quem quiser me ligar: 07986135927. Mas nao sei como faz pra ligar da'i do Brasil.

E a tv s'o tem mesmo func~ao de barulho. O tempo todo s'o tem coisa tipo Band sabado de tarde. Ou SBT domingo de manh~a.

Meu celular esquisito!!!

4.7.02

comida para quem precisa

Eu n~ao sou fresca com comida. J'a fui, mas depois de passar cinco anos numa faculdade, longe da fam'ilia, e vivendo de mesada, a coisa muda de figura. N~ao d'a pra ficar virando a cara pra bandej~ao. (Acho que foi o Mill^or que disse que 'quem vive de sal'ario m'inimo est'a condenado ao fim do m^es perp'etuo'.)

Antes de Ouro Preto eu n~ao comia pepino, repolho e s'o comia bife macio. Depois, at'e sopa de pedra eu traco. E me acostumei tanto e de fato que mesmo quando ia pra casa nas f'erias e podia comer o que eu quisesse, era capaz de jantar um prato de pepino. Ou um miojo.

Mas aquele porco servido hoje, o que era isso? Sal aqui eles n~ao p~oem mesmo. Mas o gosto era de lata de lixo, bem como o cheiro.

Outra coisa, comida indiana e tailandesa aqui 'e realmente apimentada (dizer que 'e sem sal 'e pleonasmo). A n~ao ser que voc^e seja como um primo meu que gosta de colacar pimenta na comida at'e sentir o couro cabeludo arder, n~ao d'a pra encarar. Fuja do curry.

E tem a cl'assica batata com vinagre. 'E isso mesmo! Batata frita aqui sem vinagre 'e como pizza a'i no Brasil sem ketchup. 'E bom avisar antes que a sua 'e without vinager, please, ou algo parecido.

Por 'ultimo, mas sem sair do assunto batatas, as tipo ruffles daqui, as batatas de saquinho (ai, de novo!) tamb'em s~ao sem sal, de maneira geral. Ent~ao 'e melhor procurar por uma salt added, j'a com sal.
Mc Dia Feliz

Ontem fui ao McDonalds. Tava louca por um Cheddar McMelt. Ningu'em nunca ouviu falar disso aqui n~ao. A moca do caixa ficou olhando pra mim com uma cara de interrogac~ao, e repetia: what? Tamb'em, nem queria.

Acabei pedindo um McLanche Feliz que vinha com a miniatura da Smurfete -lembra? Aquela azul? Custou �2,20. Ou 8,80 reais.

E nem adianta dar um pulo da cadeira e falar: que absurdo essa menina t'a gastando com comida! Comida aqui 'e cara mesmo. O bandej~ao da faculdade, tamb'em conhecido como budget meal, custa em m'edia �3, digo em m'edia porque depende do que se serve. Hoje, por exemplo, era arroz e carne de porco. E s'o. Mas a carne de porco tava t~ao, mas t~ao ruim que por mais que eu forcasse n~ao deu pra comer. Ou seja, paguei 12 reais por um prato de arroz sem sal.

3.7.02

A que vim

Muita gente me pergunta o que exatamente faco aqui nesse reino d'al'em mar. Vou tentar explicar.

Era uma vez um lago onde n~ao nasciam mosquitos (nesse lugar ningu'em tinha problemas con dengue). Uns diziam: foi uma princesa que chorou a'i, bl'a, bl'a, bl'a. Mas o chato do cientista, de jaleco e 'oculos foi l'a, recolheu a 'agua do lago em um potinho e levou pro laborat'orio.

No laborat'orio ele descobriu um bichinho microsc'opico, as tais das bact'erias, mas essa era especial! Ela passava o dia produzindo uma prote'ina, como uma aranha teceria sua teia. Essa prote'ina era afinal o que matava os mosquitos.

Pergunta se o cientista ficou feliz descobrindo isso? Ficou. Mas cientista 'e um bicho que gosta de brincar de Deus, e este nosso quis, ele mesmo, aprender a receita da tal da prote'ina, pra que ele n~ao dependesse da vontade da bact'eria.

Todos os seres vivos, cavalo, 'arvore, bact'eria, voc^e, t^em um 'livro de receitas' onde est~ao escritas passo-a-passo todos os detalhes da produc~ao de todas as prote'inas. O cabelo 'e constitu'ido de um tipo de prote'ina, a folha de outro tipo, a saliva de outrs tipos. Prote'inas s~ao como tijolinhos que combinadas de maneira diferente e, com outros compostos, formam nosso corpo.

T'a. Mas o livro de receitas de todas as prote'inas de um ser vivo chama-se DNA. S'o que ele 'e escrito numa l'ingua diferente do portugu^es. E - acreditem! - essa l'ingua tem s'o 4 letras. Mas 'e bem dif'icil de entender.

Ent~ao meu papel aqui 'e descobrir o c'odigo gen'etico respons'avel pela produc~ao da prote'ina, decocific'a-lo, e inser'i-lo num vetor, uma outra bact'eria, mas que funcionaria como uma m'aquina pra produzir somente aquela prote'ina que eu quero.

Perguntas?
12/06 - Adoro fish and chips
22/06 - Prefiro fish and chips que alm^ondegas de carne de soja.
02/07 - D^e c'a as alm^ondegas. Humpf.
Eu queria colocar uma coluna preta do lado direito, pra o texto ficar centralizado. N~ao consegui. Humpf.

Sou mesmo um fracasso.
T~ao vendo o 'ultimo post de ontem? O do Vin'icius de Moraes? Notaram que os acentos est~ao em seus lugares como deve ser e como pedem as aeromocas? O Richard acaba de ganhar o cargo de editor do bulabula. T'a carregando um cont^einer... ;-***
Nas pias - qualquer uma, no banheiro, na cozinha, no laborat'orio - t^em 2 torneiras. Uma quente, outra fria. N~ao tem meio termo: ou queima a m~ao ou congela.
Caf'e da manh~a: croissant, presunto de peru defumado, cheddar e caf'e preto.

2.7.02

"De que mais precisa um homem sen�o de um peda�o de mar � e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar ?" V. de Moraes
M�e,
se a senhora se preocupasse menos em me dar serm�o - mesmo eu estando um oceano distante - e mais em checar os fatos, tinha percebido que aquele texto branco que fica vermelho l'a embaixo 'e um link pra outra p'agina. Ou seja: o texto n�o 'e meu.

Al'em disso 'leia a porra do manual' 'e a traduc�o quase literal de 'read the fucking manual' ou rtfm, jarg�o utilizado na internet pra responder perguntas consideradas triviais. Ao contr'ario do que parece 'rtfm' 'e uma resposta educada.

S'o pra conferir se eu tava mesmo exagerando nos palavr~oes eu dei uma revisada em toooda a p'agina. Quem me conhece sabe que eu n�o tenho esse tipo de linguajar a menos que esteja reeeealmente nervosa, tipo quando soco a canela no p'e da mesa. Pois 'e, o 'unico lugar em que achei palavr~oes, esses sim escritos por MIM foi no caso do japon^es peidorreiro. (Ao que me consta posso repetir essa palavra aqui porque peido n~ao 'e palavr~ao.) Cheguei a conclus~ao que s'o o uso dos palavr~oes indicaria claramente o meu estado de esp'irito com aquela hist'oria. N�o vou tirar nem uma palavra de l'a.

Tenho dito.

/R-T-F-M/ [UNIX] imp. Acronym for `Read The Fucking Manual'. Used by gurus to brush off questions they consider trivial or annoying. Used when reporting a problem to indicate that you aren't just asking out of randomness. "No, I can't figure out how to interface UNIX to my toaster, and yes, I have RTFM." Unlike sense , this use is considered polite.

P.S.: metido 'e palavr~ao?

1.7.02

Amanh~a ele me mata, mas vamos l'a.

O Chico ficou com 'odio de um fide que mandou um e-mail super desaforado pra ele. O sujeitinho insinuou que o editor de inform'atica da Folha n~ao sabia a diferenca entre um gabinete e um CPU (eu n~ao sei...e s'o hoje fui saber - na carne - que os comandos de um pc, ou aquele computador simples de cada dia, n~ao funcionam pra um Macintosh, aquele lind~ao supercolorido). ^O Sr Madureira (O Chico tem a minha idade e uma cara de beb^e que faz parecer menos), calm down. O sucesso tem dessas coisas...
Mesmo daqui ainda tenho uns poucos amigos que mant^em contato. E que acompanham minha vida em tempo real. E permitem que eu acompanhe a deles tamb'em. (Que a forca - n~ao seja bobo, leia forssa - esteja com eles.) O Chico, por exemplo, passou por dois momentos cruciais nessas duas 'ultimas semanas. Primeiro foi uma not'icia que ele deu sobre a cobranca de taxas por servicos especiais do Hotmail, que foi t~ao mal entendida que acabou virando spam. D'a pra imaginar o sucesso que 'e isso? Calm down Chico, se alguma coisa que eu escrevesse virasse e-mail de corrente eu ia ficar era feliz da vida. E semana passada foi um furo AL (tamb'em sabia o que era isso n~ao. O Chico me explicou que 'e um furo em toda a Am'erica Latina).

Se continuar assim vai ficar metido.
N'os e o futebol

"(...)Temos uma teimosia gen�tica que supera aquela pregui�a macuna�mica, mais aned�tica do que real. Essa teimosia, pouco a pouco vai se incorporando � persona do brasileiro, � um pouco mal-informada, mas constitui uma fonte de energia que nos torna capazes de, esparsamente, fazermos coisas maravilhosas, nem sempre necess�rias, mas l�dicas: como Bras�lia, algumas manifesta��es no campo da m�sica e do cinema e, no topo de tudo, no futebol.
N�o se trata de ufanismo(...). Temos tantos problemas, tantos estrangulamentos em nossa caminhada hist�rica que seria rid�culo cantar vit�ria, mesmo quando merecemos cant�-la, como agora.
Mas a conquista do pentacampeonato no Jap�o, de forma l�mpida e insofism�vel, num jogo com um advers�rio respeit�vel e numa partida sem viol�ncias nem incidentes, mostra mais uma vez a nossa voca��o a um destino nacional que ser� constru�do pelo nosso povo, apesar do governo, das institui��es e das elites ressentidas porque n�o falamos ingl�s, n�o usamos o d�lar e, como naquela marchinha do Lamartine Babo, preferimos a feijoada e o parati." Cony