28.6.02

Estou Quinem Zumbi!
Leia a porra do manual. Fa�a seu dever de casa. Preste mais aten��o. Escute as pessoas. Olhe para os dois lados antes de atravessar. Escove os dentes ap�s as refei��es. N�o mande arquivos atachados. Olhai os l�rios do campo. N�o pise na enxurrada. Beba Coca-Cola. Na d�vida, n�o ultrapasse. Viva e deixe morrer. N�o seja orgulhoso. V� � Igreja. Insira o disco 2. N�o separe o sujeito do predicado com v�rgula. Respeite os mais velhos. Mulheres e crian�as primeiro. Tire o miolo do p�o antes de comer. N�o corra com tesouras na m�o. Deixe sua gripe na farm�cia e troque por Coristina. Espada Justiceira, d�-me a vis�o al�m do alcance. N�o brinque com sua comida. V� ao teatro. Salve de cinco em cinco minutos. Tomai e comei, pois este � meu corpo.
Acabei de ler uma reportagem sobre os evang'elicos (na Uol) na Veja dessa semana. Lembrei de uma aventura em que eu me meti no sub'urbio esquecido pelos projetos de urbanizac~ao de Salvador. Era noite de terca-feira e eu, Aline e Raquel queriamos ver o Il^e in loco. Fomos de ^onibus e assim, 'por coincid^encia', era dia de cl'assico Vit'oriaXBahia. Adivinha se n~ao pegamos um ^onibus lotado de torcedores que tinham acabado de sair do jogo? Al'em disso a gente n~ao sabia muito bem como chegar l'a. Parec'iamos carne fresca em mar de tubar~oes.

O ^onibus tava t~ao lotado que n~ao deu nem pra passar na roleta. Na descida um homem nos interpelou (gastei, hein?) dizendo que poderia nos ajudar, porque morava por ali, blablabla. Tinha uma bolsa daquelas de detetive de Especial da Globo debaixo do braco. Olhando pra nossa cara de p^anico ele logo falou: 'calma gente, eu t^o aqui pra ajudar, sou evang'elico', e abriu a bolsa e mostrou a b'iblia.

Foi como se o Mar Vermelho tivesse aberto na nossa frente. Realmente saber que ele era evang'elico nos aliviou.'Como em todos os grupos humanos, h� pecado tamb�m entre os evang�licos. Mas a grande maioria deles � constitu�da de pessoas n�o apenas honestas, mas honestas acima da m�dia.'(in Veja) E no fundo, parece que a gente j'a sabia disso.

27.6.02

D'a s'o uma olhada nisso. Esse 'e o respons'avel por mim aqui na Universidade. V^e se eu n~ao t^o passando bem. Ou passando mal!.
O Dave 'e quem est'a in charge enquanto o Collin est'a viajando, parece o Lampadinha, o assistente do Professor Pardal. 'E uma gracinha. Ontem ele tava na bancada fazendo um experimento que parecia beeem complicado. Dava pra saber pelos 'shit'. Perguntei o que era aquilo, 'it's just a pain in the ass'. Ent~ao t'a.
Tava ali batendo um papo bem interessante com um dos pesquisadores daqui do centro de pesquisas. Ele tava me dizendo que descobriram aqui que uma das prote'inas do Plasmodium, aquela coisa que causa a mal'aria, serve de coalho pra leite. Ou seja: pode transformar leite num queijo de 'otima qualidade. Agora, quem 'e que vai ter coragem de comer isso?

13/06/2002, o primeiro dia
Era uma vez um reino onde os acentos tinham seu parque de divers~oes e podiam escorregar das palavras. Era uma vez voc^e, nesse reino onde falam uma l'ingua de monstro de filme, e a 'unica coisa que voc^e tem, al'em do que voc^e est'a vestido, 'e uma camiseta Hering, uma calca jeans e uma necess'aire. B'asico.

A companhia a'erea perdeu minha bagagem.

14/06/2002
Me lembrei daquele poema do Vin'icius em que a amada chorava no aeroporto enquanto as malas seguiam sozinhas pra Paris.

Minhas malas seguiram pra Roma.

Hoje de tarde a companhia a'erea devolveu minha bagagem. Estragada, mas devolveu. Cortada, mas devolveu, faltando coisa, mas devolveu.

16/06/2002
Agora j'a sei me locomover em Londres. Em todas as paradas de ^onibus t^em uns fluxogramas que indicam onde voc^e est'a, qual o caminho e pra onde o ^onibus vai. Bem mais f'acil e r'apido de se situar que no Brasil. 'E comeco de ver~ao e, agora por exemplo, s~ao 9 da noite e o sol brilha como se fosse 4 da tarde, o que torna mais f'acil ainda perceber onde voc^e est'a.

Parece que esta hist'oria de j'a ser 9 da noite 'e uma mentira e amnh~a algu'em vai dizer: te peguei! Mas as ruas est~ao cheias e as lojas abertas.

Por falar em lojas, Londres n~ao tem shoppings. N~ao como os que a gente conhece. O que mais se parece com shopping center fica exatamente no bairro brasileiro de Londres, Bayswater, tamb'em conhecido como Brazilwater.

Agora, falando em brasileiro, aqui tem de sobra. O 'Ezio diz que brasileiro em Londres 'e como os gremlins do filme, 'e s'o jogar 'agua que 1 vira 4. Quando chove ent~ao...

Fomos comer no Pr^et a manger e fomos atendidas por uma brasileira. Na Haagen Daz, idem. Fomos a Convent Garden assistir uma apresentac~ao de clowns, e do nosso lado um grupo de brasileiros. Resultado: desde que cheguei tenho escutado mais portugu^es que ingl^es aqui. At'e no ^onibus.

Candem Town
A feira de Candem Town 'e uma mistura estequiom'etrica de Mercado Mundo Mix com feira hippie. Mas tudo 'e 4x mais caro. Me apaixonei por uma s'erie de camisetas com uma esp'ecie de monitor na frente onde ficam passando imagens. 'E uma telinha do tamanho de um cart~ao postal e n~ao muito mais expessa. Custam 40�, ou 160 reais. Tamb'em, nem queria...

17/06/2002, just another day
O primeiro jogo do Brasil que assisto aqui. O BrasilxCosta Rica aconteceu quando eu estava no avi~ao, cruzando o Atl^antico.

BrasilxB'elgica. Eu, tia Dete, 'Ezio e o Steve fomos assistir num pub, em Bayswater, com outros amigos de Tia Dete.

Assistir sem a narrac~ao do Galv~ao Bueno n~ao tem a mesma graca. Os narradores daqui parecem narrar um cortejo f'unebre.

Depois do jogo fomos - eu, o 'Ezio e o Steve - comprar minha passagem pra Cardiff. Vou amanh~a, 1 da tarde.

18/06/2002

Essa 'e a bandeira do Pa'is de Gales. Tem desse drag~aozinho em todo lugar. Sabe aqueles galos de metal que ficam em cima das casas indicando a direc~ao dos ventos? Aqui tem aos montes, mas com o drag~ao fazendo as vezes de galo. Tem um enooorme no telhado da Universidade. 'E lindo, s'o vendo.

24.6.02

"Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua m�sica estereotipada, onde samba, toada etc. s�o ritmos virgens para seus melhores m�sicos, indecifr�veis para seus c�rebros eletr�nicos. "S� tenho uma op��o, confessou-me um italiano - sangue novo ou a antim�sica. Veja, os Beatles, foram � �ndia..." Donde se conclui como precipitada a opini�o, entre n�s, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a mal�cia, a malemol�ncia. � certo que se deve romper com as estruturas. Mas a m�sica brasileira, ao contr�rio de outras artes, j� traz dentro de si os elementos de renova��o. N�o se trata de defender a tradi��o, fam�lia ou propriedade de ningu�m. Mas foi com o samba que Jo�o Gilberto rompeu as estruturas da nossa can��o. E se o rompimento n�o foi universal, culpa � do brasileiro, que n�o tem voca��o pra exportar coisa alguma. Mas n�o � bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atr�s do sucesso, sen�o ele se assusta e foge logo. E n�o precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura � genial, como nem toda lucidez � velha.""
Chico Buarque, o eterno Chico
Fui tomar um caf'e nesse final de semana e perguntaram se eu queria grande, pequeno ou 'regular' o meu capuccino. Regular, of course. Aquela xicrinha pequenininha de capuccino nunca 'e suficiente...

Quando trouxeram o meu caf'e m'edio, mais parecia uma bacia. Sabe aquela x'icara pra tomar sopa?
Inaugurei hoje o novo visual. Descaradamente inspirado no Blowg.

23.6.02

Quem quiser ver fotos de Cardiff, onde estou morando 'e s'o >clicar aqui<.

Lembra do pr'incipe de Gales que abdicou do trono pelo amor de uma americana divorciada? 'E esse a'i.
Algu'em pode me contar como foi o p'odio do Rubinho? Foi de verdade?
garota enxaqueca, ou destilando preconceito idiota

S'o pra registrar: tomei um qued~ao no banheiro que quase me arranca os dentes. Tuto t'oi. Daquelas de abalar os ossos.
Com esses malditos aquecedores nunca d'a pra saber qual 'e a temperatura l'a de fora. J'a tive que voltar duas vezes pra pegar um casaco. Hoje tive que voltar pra tirar um.
Como diria o meu av^o, aqui tem mais japon^es do que gente.
Em Ouro Preto eram aqueles cachorros do vizinho latindo o tempo todo. Aqui s~ao uns p'assaros que tem aos montes e que (!) latem o tempo todo. Algu'em sabe como se chama esse raio desse p'assaro? At'e me deu vontade de patrocinar uma viagem em massa do Rafael e seus amigos com suas espingardas de chumbinho.
Esse lugar 'e sujo. N~ao o lugar todo, mas a minha vizinhanca. 'E cheio de garrafa de refrigerante, latinha de cerveja e bituca de cigarro nas calcadas. Tinha uma garrafa grande de refrigerante distante de uma lixeira uns dois passos. At'e pensei em catar. Mas cada um com os seu problemas.


Estudando num s'abado a noite? Tinha que dar merda. Eu ali, pelejando pra entender a coisa, que parecia s'o ficar mais dif'icil, e um japon^es filho de uma puta japonesa do meu lado peidando. A biblioteca lacrada, com ar condicionado, e o filho da m~ae peidando. Peidou uma vez, eu lhe dei uma olhada assassina e pensei c'a com os meus bot~oes: 'e s'o esse. E ficou meia hora peidando, e eu olhando e pensando que era o 'ultimo. Como eu n~ao sabia como falar pra ele parar de peidar em ingl^es, mandei um fuck you, que 'e claro que n~ao saiu em som, porque minha educacao genuinamente brasileira n~ao me permite falar assim com estranhos, e fui embora pra casa. Tamb'em, estudar em s'abado 'a noite s'o pode ser coisa de japon^es peidorreiro.

21.6.02

"Brasil ou Inglaterra? Que percam os dois!" Do jornal argentino Clar�n, na internet

Vou dar uma banana pra cronologia e vou falar a respeito do jogo do Brasil. Em primeiro lugar eu quero registrar a falta que eu sinto do Galv~ao Bueno. Agora sim, posso falar.

A Universidade, muito cuidadosa por sinal, me deu um apartamento de 5 quartos pra morar sozinha. Eles limpam, d'a pra acreditar na mordomia? 'E bem bonitinho e equipado. Tem microondas, freezer, geladeira, fog~ao el'etrico, garrafa el'etrica, os b'asicos aquecedores em todos os c^omodos e at'e um aparelho perto do vaso que 'e pra tirar os odores (!). Mas n~ao tem tv. Nem r'adio. E como tamb'em n~ao tenho celular aqui virei uma pessoa desprovida de barulhos. Tem nocao o quanto isso 'e enlouquecedor? Tudo que eu queria era algu'em fazendo barulho de manh~a. J'a tava bom. Ou n~ao. 'E que ontem teve algu'em fazendo barulho de manh~a e eu quase morri de susto. 8 da manh~a eu fui abrir a janela do meu quarto no segundo andar e dei de cara com um gal^es desses rosinhas. Tava l'a limpando o vidro da janela, o coitado.

Voltando `a falta da tv, tive que acordar mais cedo hoje e ir at'e um pub pra conseguir ver o jogo, que passou aqui `as 7:30 da manh~a. Eu 'unica de mulher no meio de sei l'a quantos mil galeses bebendo cervejas desde as 7 da manh~a. Tudo pelo Brasil. Tinha que ver a minha comemorac~ao t'imida do gol. S'o sorri prum daqueles velhinhos ros'issimos que estavam do meu lado.

No intervalo apareceu um irland^es, b^ebado como todos os irlandeses que aparecem por aqui, com uma camisa do Brasil. S'o a'i percebi que meu caso n~ao era t~ao mal assim. V'arios congratulations foram ouvidos. (S'o pra constar, a 'unica coisa verde e amarela que eu usava era um brochinho com a bandeira do Brasil na blusa que estava embaixo da jaqueta.).

O que importa 'e que ganhamos. Mais uma vez.

E nesse momento sabe o que eu tenho a dizer? Que somos muito maiores que nosso sentimento de inferioridade que faz com que s'o a vit'oria importe. Somos muito maiores que David Beckham e todo o seu pedantismo. Somos muito maiores que qualquer outro cidad~ao do mundo imagina. Somos felizes. Vivemos felizes. E nos entristecemos com a tristeza do vizinho. E eu tenho orgulho disso. Congratulations!

Tirei o broche da blusa de baixo e coloquei na lapela da jaqueta.

Vivianne Pontes, correspondente internacional, do pa'is onde os acentos escorregam das letras.
13.06.02
Vou aproveitar a oportunidade pra fazer uma dieta. A cenoura tem gosto de nabo e o nabo tem gosto de coisa alguma. E o jantar de ontem? Acho que os europeus ainda devem estar procurando o caminho pras 'Indias. Eles n~ao t^em nenhuma afinidade com o sal e outras especiarias. O jantar era uma polenta frita, completamente sem tempero algum, coberta com um creme igualmente sem gosto. Nem se eu estivesseh'a dias a p~ao e 'agua dava pra encarar. Acompanhava essa coisa um peixe seco e com gosto de borracha Mercur, aquela branca, que tem um indiozinho estampado e 'e mais macia que o tal peixe.

20.6.02

Por falar em povo (que filme ser'a esse que t'a passando agora?) Sofia Loren com cabelo e Omar Shariff com um bigodinho retorcido. Creda). Por falar em povo, a Alit'alia 'e uma boa amostrada Ita'lia. Os comiss'arios s~ao bonitos (quase todos), e todos falam alto e sorriem de verdade, n~ao aquele sorriso tipico de comissario, que para no meio do caminho da abertura. Vou parar um pouco de escrever. Quebrei a unha do polegar no sabugo (!) e t'a doendo pra escrever. Ah! E eles falam 'porca miseria!'

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Hora de chegada em Roma: 11:45 hor'ario local. No marcador do aviao dizia que eram 27 graus celsius. Acho que nao e verdade, porque ta um calor de matar. Meu pe ta molhado de suor.

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Fico olhando essas criancas tao pequenininhas ja falando italiano....

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18.6.02

Nesse momento o aviao atravessa o deserto do Saara. Em sei la ja quantas horas de voo nao consegui dormir nem meia hora. Isso me fez lembrar do meu agente de viagem que me demoveu da ideia de pegar a primeira fila do aviao. Da proxima vez deixo o babaca falando sozinho. E so na primeira fila que da pra ficar na janela sem ter que incomodar ninguem quando quiser levantar, ja que o espaco de circulacao e maior. E da pra esticar as pernas tambem. Que o tal agente ferva no marmore do inferno. (Por falar nisso perdi o final do Clone, ne? Foi bom?).

Assisti Majestic e um filme daqueles " professor de baseball salva a turma e e salvo por ela" com Keanu Reeves. Mais parece uma colagem. Acho que neur^onio tem mas acabou na minha cabeca, porque nao entendi muito bem o filme.

O bom de nao ter dormido foi poder ver o dia comecar a clarear. Ainda sobrevoavamos o Atlantico e o primeiro sinal do dia foi uma linha vermelha cortando ao meio o quadro negro. Lindo!

O V^oo ta 1 hora atrasado. So vou ter meia hora em solo italiano. O aviao ta lotado de velhinho. E do meu lado tem uma medica. Adivinha a especialidade? Geriatra. Do lado dela (eu to na janela na fila de 3 cadeiras) tem um italiano que mora no Rio e trabalha na Fininvest. Quem disse que nao da? Ele se ofereceu pra me ajudar no aeroporto Leonardo da Vinci em Roma pra que eu ande mais rapido e nao perca o outro voo. Muito galante esse povo, ne?
Sai de BH as 4:30 da tarde num Fokker100 da TAM, isso diz alguma coisa? E claro que de cara tinha que acontecer alguma malice. Nem em viagem pra Europa o chama malas que pisca na minha testa para de brilhar. Na fila da frente uma mae com dois meninos. Ate decorei o nome dos anjinhos de tanto que a mae gritava com o Nicola e o Enzo. Sabe aqueles pestinhas que provocam na gente uma vontade irresistivel de colocar um palmo de lingua pra fora e, com os polegares nos ouvidos, abanar a mao? Da especie.

Agora pra comecar a serie de ratas eu tinha que comecar bem do comecinho. Logo na primeira baldeacao do aerobusu eu esqueci o casaco na poltrona no saguao do aeroporto em Sao Paulo. Calma gente! Voltei e achei.

Olha, quero aproveitar para agradecer o carinho da minha familia. Minha avo, minha tia Marta e minha mae sairam la da Bahia pra me trazerem em Confins. Gente, eu agradeco de coracao, ta? Sinto muito a falta de todos voces.