14.12.05

Na Folha de hoje:

"Naqsha Bibi, 40, foi resgatada viva, na sexta-feira passada, dos
destroços de uma casa onde ficou desde o terremoto de 8 de outubro.

A mulher chegou ontem ao hospital da Associação Médica Islâmica do
Paquistão com menos de 35 kg.

Especialistas ouvidos pela Folha disseram que, embora improvável, a
sobrevivência por tantos dias sem comer é possível, contanto que haja
ingestão de água.

Supõe-se que a mulher tenha bebido água da chuva durante esse tempo,
mas ela ainda não conseguiu falar para confirmar."

E a vida ainda continua fazendo das suas.

12.12.05

"El novio de Clemencia Ortega no supo el frasco de locura y pasionesque estaba destapando aquella nochee. Lo tomó como mermelada y lo abfió, pero de ahí para adelante su vida toda, su tranquilo ir y venir por el mundo, se llenó de aquel perfume, de aquel brebaje atroz, de aquel veneno." Angeles Mastretta

(Quando sumo, desconfie que estou por aí a me embebedar de livros.)

9.12.05

A. virou mamãe-gato. Acorda de noite sobressaltado perguntando "cadê a Mel?". Se sensibilizou com a causa dos animais abandonados e quer, de todo jeito fazer alguma coisa pra ajudar. Foi lá na Sozed e doou ração de filhotes.
(E eu peguei emprestada a coleirinha de strass da Mel, que ficou linda no meu tornozelo.)

6.12.05

antes



depois


agora

5.12.05

foi assim. ontem A. estava triste, tristinho. "vamos ao cinema!" pra desanuviar e pensar outras coisas. na volta um gatinho, filhote, nos entralaçou as pernas. ele perguntou, com aquele olhar cúmplice: "pode?", e como eu não havera de deixar de receber um presente assim, vindo direto de ocultas fontes?

ah, a Mel vem se adaptando bem. fez hoje sua primeira visita ao veterinário, tem gripe infantil, está tomando antibióticos e acredita que a barriga de A. é a sua mãe.

e A. veio contando engraçadezas da clínica. "então o cachorro da mulher morreu e ela fez que os outros 11 ficassem a noite iteira no velório." e risinhos alegres saltitaram pela casa.

(até o espirrinho dela é lindo!)

2.12.05

então eles me contaram da formatura, que foi linda e tal, que sentiram a minha falta. e que V. chorou quando lembrou de sua primeira cambalhota. lembramos do Dudu, com quem eu sempre fazia dupla, e que num exercício chorei no colo dele. ochoro veio assim, mais da personagem do que meu e ao final eu não sabia se ficava feliz ou desconcertada com aquele momento tão não-eu. comentei que ele ia ser um grande ator, daqueles de quem se diz que são generosos. já nasceucom nomede gente famosa, Eduardo Mièle.
me perguntaram o que eu estava fazendo para estravazar assim, essa "veia". '- Bem, estou escrevendo um livro que se chama Reclamar é Viver,' fazendo nada, não sei, sequei. guardo saudade, é só.

25.11.05

O destino de José Dirceu a Sepúlveda Pertence.

Vi Top Gun doze vezes. Hoje vejo o Tom Cruise e tenho vontade de cuspir. Comprar uma máquina de ultrassom? Ele não sabe que isso em excesso pode acarretar problemas ao bebê? Algumas pessoas não deveriam ter o direito de perpetuar sua espécie.

Meu amor é este ar tristonho
que eu faço pra te afligir,
um par de fronhas antigas
onde eu bordei nossos nomes
com ponto cheio de suspiros.

(amar é escrever poemas de amor.)

Então a gente estava almoçando e no meio do assunto, já que L. está de viagem para a China, as esquisitices da culinária asiática. Cigarras cobertas de chocolate pra cá, grilos caramelados pra lá, e apareceu o nosso lusitano telhado de vidro. Salve o licor de merda!
(O "Licor de Merda" é um produto de alta qualidade, cuja fórmula pertenceu no final do século XX ao Frade maluquinho "Vasko Gonsalbes". É extraído a partir de diversas merdas de confiança, sujeito portanto a criar depósito com a idade.)

10.11.05

É no orvalho das coisas pequenas que o coração encontra sua manhã e se refresca. Kalil Gibran

1.11.05

quando da segunda guerra Paris se viu cheia de russos que iam às lanchonetes e ficavam nervosos com a lentidão dos franceses. gritavam "Bistro, bistro", algo como 'rápido, rápido'. então bistrô é uma palavra de origem russa.

24.10.05

- Vô, e quem mora lá na Cancela Preta, onde sempre aparece onça, lembra? Precisa de ter pelo menos uma espingarda.
- Minha filha, lá faz muito tempo que de bicho só tem mesmo os de cria. Os de aparecer, só lagartixa. Nem teú tem mais. As espingardas nem lembram mais como é tiro.
 

20.10.05



Tê está há quase um ano na Alemanha, me deixando aqui na orfandade. Tem medo de voltar pro Brasil. Quer ficar mais. Tem saudade. Ficou noiva em Veneza. Sem testemunhas.

André e eu nos casamos sozinhos, sem testemunhas, no cartório. Mas a felicidade é a mesma de um festão, né? A gente gostando deles, entendidamente, e coração contando que eles também em amor gostam da gente. E esse amor sede depois de ter bem bebido vai serpenteando pela vida, se alimentando dele mesmo.

Tê, eu desejo toda a felicidade deste mundo debaixo das estrelas pra você. Quanto ao medo de voltar, sempre dá aquela gasturinha na barriga, e trabalho não tá mesmo fácil, mas também não é impossível, ainda mais assim! É de uma raridade sem tamanho quem fale alemão e seja em Letras e Leis formado.

A saudade, daquelas que não é de bicho nem de gente, é assim de ver um moleque passando na bicicleta assobiando samba, de goiaba, de um cheiro de madeira e quadro quando se entra em casa, não abandona a gente nunca mais. É de uma estranheza só essa saudade que começa aí e não acaba em lugar nenhum, pois que é uma saudade de tempo.

Eu te amo. E tenho saudades. E te desejo um retorno feliz, a seu tempo.
se tem uma coisa que aprendi de tanto caminhar pelas ladeiras de Minas foi escorregar sem cair. para quem escorrega em média 5x por semana, não se estabacar nenhuma, é de grande valia. (especial valia terá esta técnica do escorrega-mas-não-cai quando eu estiver velha e escorregadeira.)
 
(fico tanto tempo sem escrever e venho logo com essa conversa de escorregar. fazer o que, se a minha vida anda prosaica como chuva de tarde?)

14.10.05

Era domingo que pita cachimbo e Tatão Chaves aproveitou para pedir Lili Mercedes, mestra de letras, em casamento. A cidadezinha de Monte Alegre, sabedora da novidade, botou a cabeça de fora para presenciar Tatão em cima das botinas de lustro e por baixo dos panos engomados. Para avivar a coragem, Tatão bebeu, no Bar da Ponte, meio dedo de licor, coisinha de aligeirar a língua e aromar a boca. Como achasse o licor educado demais, mandou cruzar a bebidinha com cachaça de fundo de garrafa. E recomendativo:

— Daquele parati mimoso que até parece flor de jardim.

De talagada em talagada
Tatão perdeu a mira da cabeça. Embaralhou o pedido de casamento com negócio de disco-voador, imposto de renda e busto de moça. A essa altura, gravata desabada e camisa fora da calça, Tatão preveniu:

— Sou o maior dedilhador dos desabotoados das meninas já aparecido em Monte Alegre. Sou Tatão Chupeta!

Gritava que era monarquista, que era a favor da escravidão e que o prefeito de Monte Alegre não passava de uma perfeita e acabada mula-sem-cabeça. E para arrematar, ganhando a porta do Bar da Ponte, garantiu:

— Só queria que aparecesse neste justo instante um boi cornudo para
Tatão esfarinhar o chifre do sem-vergonha a bofetada!

Nisso, um boizinho desgarrado apontou na esquina da Rua do Comércio
. Tatão cumprindo a promessa, armou o maior soco do mundo. E atrás do soco saiu Tatão, atravessou a Praça 13 de Maio, entrou no Mercado Municipal, desmontou duas barracas, esfarelou um comício de tomates e só parou no Açougue Primavera. E meio adernado sobre um quarto de boi que sangrava em cima do balcão:

— Soco de
Tatão é pior que canhão de guerra. Mata e esquarteja!

José Cândido de Carvalho
juro que não me lembrava mais da última vez que fui ao cinema. (Mr and Mrs Smith?, parece que faz mais tempo...)
nos tempos macios, assistia a três sessões seguidas. levava pipoca num saco bem grande pro cinema, pois o pipoqueiro havia morrido e ninguém tinha se disposto a subsituí-lo. Pois sim, levava a minha pipoca, feita com simpatia de bater colher de pau na panela repetindo um nome de fofoqueira. uma certa tia teve grandes préstimos.
os filmes vinham em caixas metálicas e, entre um rolo e outro, seu Damião pregava um durex. pra separar, quando o rolo tinha que ser enviado de volva à capital, ele cortava e me dava os pedacinhos do rolo de filme. cheguei a ter uma coleção deles.
mas comecei esse assunto por motivo outro e de tanto serpentear já estou lá em outro tempo. o coronel e o lobisomem: gostei! e me disseram que a briga de galos é digital, não dá nem pra crer.
(alguém sabe me dizer se rolo de filme ainda é pregado com durex?)

4.10.05

tenho verdades profundas - não falo da profundidade das verdades, mas da profundidade das verdades em mim. uma delas é que não gostava do cheiro da manga na infância, e a paixão por esse cheiro só me veio com o tempo. então cheiros de manga me recordam de meu amadurecimento.
 
ah! os amores da idade adulta...

27.9.05

eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge.

22.9.05

estou fazendo faxina na empresa. 50 anos de coisas guardadas estão sendo reviradas. máquinas, do tempo da galocha moderna, serão vendidas por 0,20 o quilo. móveis, papéis. são 4 armazéns de memórias guardadas. no meio disso tudo um pequeno contêiner abandonado por um fotógrafo. alegria de criança nos meus olhos a folhear todos aqueles livros de arte, design e arquitetura.
às vezes acho que não estou envelhecendo. estou envilecendo.

20.9.05

meu nome é insatisfação. e não mudo de nome nunca (por mais que eu queira).

19.9.05

15.9.05

eu te amo.
na infância eu morava tão longe da escola que só perdia para um colega, que pegava um cavalo, e um ônibus.

em BH, estudava na Timbiras e morava no Gutierrez.

em Ouro Preto, estudava na antiga Escola de Farmácia, no centro, fazia pesquisa no campus, lá no morro do Cruzeiro, artes cênicas à noite, lá na Escola de Minas (ponto cardeal oposto) e morava no tradicional bairro da Água Limpa, nada a ver com nenhum desses endereços.

Em Macaé, acordava às 5:30 para conseeguir chegar no trabalho às 7:30.

portanto não venha me dizer que moro mal: nada paga 15 minutos de distância do trabalho.

14.9.05

há tempos sem sair de casa para eventos sociais convenci A. de ir comigo à festa. "vai ser muito boa! festas oferecidas pela TAM são sempre excelentes, ainda mais lançamento de vôo Rio-NY", repeti o texto da promoter. nunca fui em festa mais micada em toda a minha vida. no cardápio cachorro-quente, muito ruim por sinal. E só, de "prato salgado". O que salvava eram as maçãs-do-amor, forçando uma referência à Big Apple. comi duas. escutei o diretor falar pérolas como, quando apresentou o diretor comercial, disse "todo mundo comete erro na vida, o erro desse camarada foi trabalhar 23 anos na Varig". Ponto pra total deselegância. Bem, fui pra casa com raiva de ter saído. Por essas e outras vou virar ermitã.
ah. pra piorar, passaram um filminho sobre NY. nem tiveram o cuidado de editar da HBO.
Agora mais essa! Spam de blog comment. É só eu postar que lá vem um comentário spam. Isso tá acontecendo com freqüência na rede?
o diabo não é esperto porque é mau. é esperto porque é velho, minha filha.

12.9.05

A criança tem 8 anos e é a primeira vez que se encontra com uma máquina de escrever.
"Nossa, pai. Que editor de textos sinistro! Faz a impressão em tempo real!"
Alguns anos andei viajando a colher maneiras-de-sentir. Agora regresso a mim. Oxalá não me desvie de mim, este ser adaptável a tudo, demasiado multilateral, sempre alheio a si próprio e sem nexo dentro de si.

9.9.05

já amei errado, já odiei errado. Nelson Rodrigues
Todos os meus dias visito Ouro Preto. Em pensamento, em sonho, em literatura.

Hoje, correndo para vir ao trabalho, catei na estante da sala "Os sinos da agonia". Juro que não sabia que se tratava de uma história que se passa em Vila Rica. É um livro da estante dos não-lidos. Mas foi assim, de surpresa que, mais uma vez, me vi, no caminho para o trabalho, percorrendo as ruelas de Ouro Preto.
escrever é meu artesanato.
All'uomo che cavalca lungamente per terreni selvatici viene desiderio d'una città. Finalmente giunge a Isidora, città dove i palazzi hanno scale a chiocciola incrostate di chiocciole marine, dove si fabbricano a regola d'arte cannocchiali e violini, dove quando il forestiero è incerto tra due donne ne incontra sempre una terza, dove le lotte dei galli degenerano in risse sanguinose tra gli scommettitori. A tutte queste cose egli pensava quando desiderava una città. Isidora è dunque la città dei suoi sogni: con una differenza. La città sognata conteneva lui giovane; a Isidora arriva in tarda età. Nella piazza c'è il muretto dei vecchi che guardano passare la gioventù; lui è seduto in fila con loro. I desideri sono già ricordi.

Ítalo Calvino, Le cittá invisibili.
Às vezes fico tempo, muito tempo, sem conseguir escrever. É maior: não consigo literar. O ler e escrever é um não-ser. É um outro eu, o que escreve, e o que lê. E quando afasto muito de mim mesma, desisto da escrita e volto a ser.

Depois num rompante, sinto falta deste não-eu. E acordo no meio da noite e sou uma viajante em passeio por cidades invisíveis. (Livro que leio a conta-gotas, e cidades não vistas são surpresas que guardo para usá-las nestes momentos em que as palavras me fazem falta. Maravilhar-me com cidades construídas de palavras. Com o caminho linguagem-existência.)

Então me voltam, de uma só vez, o ler e o escrever. Primeiro assim, revelando um hermetismo guardado. Depois assado, no amanhecer, quando abro as janelas.

31.8.05

Queria estudar a sua expressão fisionômica antes de confiar-te a suma de tantas vivências.

14.7.05

historinha ouvida ontem no Manoel & Juaquim. "Pois é, foi todo mundo pra casa dela no fim da noite. Aí o cara foi no banheiro e quando voltou falou alto 'Pô, o teu pai é maior fã do João Bosco, hein? Tem foto dele pra todo lado. Maior tiete.' 'O meu pai é o João Bosco.'"
como é difícil se mudar. como é difícil achar um apartamentono Rio de Janeiro. por favor, se souberem de qualquer coisa me avisem.

9.7.05

ai ai. eu e as partidas. desta cidade alguma coisa vai ficar, é verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a minha mochila, encher de água o meu cantil e partir. Perdi duas cidades, eram deliciosas. Perdi duas outras. E, pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente. (Sinto sua falta, nenhum desastre.)


imaginação, em sua raiz, é a capacidade de criar imagens à partir de idéias. a idéia que você tem de mim te faz me imaginar de uma forma ou de outra.

imaginar é algo que se nasce sabendo. mas cada um sabe de um jeito. imaginação pra mim é parte "arominação", pois penso no cheiro que a pessoa tem.

então, como a sua mente me constrói? me diga.

5.7.05



o orkut alterou o nosso limite virtual e nos (re)aproximou de pessoas no cybermundo. o próximo passo é a aproximação no mundo real. ofereça o seu sofá para mais uma tendência.


All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love, love is all you need.


29.6.05

o relógio não é suficiente e me divido em três, cinco, mil. ah, o "a fazer". tanto a fazer e tudo toma sempre tanto tempo.

(a memória coa os momentos bons e as horas más. e assim vôo vivendo entre uma tristeza e outra.)

18.6.05


doem-me a cabeça e o universo. as dores físicas, mais nitidamente dores que as morais, desenvolvem, por um reflexo no espírito, tragédias incontidas. traz uma impaciência de tudo que não exclui nenhuma das estrelas.

chove na minha alma.

17.6.05

O destino e suas piadas sem graça. Fui considera "inapta" para o trabalho, por uma multinacional americana, por ter escoliose lordose, vulgo "bunda arrebitada" que nunca antes me causou qualquer tipo de problema.

Como estou? Devastada.
Reconheço que as informações aquidivulgadas foram escritas em momento de forte abalo emocional e não condizem com a verdade.

16.6.05

Da série "Listas"

meus personagens de desenho animado* favoritos:

1- Coragem, de Coragem, o cão covarde


2- Puro Osso, de Billy e Mandy


3- Eduardo, da Mansão Foster para amigos imaginários

*dos anos 2000. de todos os tempos a lista é outra.

15.6.05

minha palavra favorita: oxímoro.
STROGONOFF

Prato de origem russa. Seu nome original é Strogonov. No século XVI, na Rússia, os soldados levavam sua ração de carne, cortada em nacos, em grandes barris, debaixo de uma mistura de sal grosso e aguardente para preservar. Coube a um cozinheiro do czar Pedro, o Grande, que era protegido do general Strogonov, melhorar e refinar a mistura. Com a Revolução de 1917 e a emigração dos russos brancos, a receita chegou a França, onde foi refinada, chegando a forma atual.

Fonte: "Comida e Civilização" de Carson I.A.Ritchie

P.S.: não se preocupem, é ctrl+V
tenho um calo no pulso. os ossos do ofício. mesmo usando o mouse com a mão esquerda. mesmo adotando a posturacorreta não dá. morro de dor. escrever virou um martírio. (logo o meu alívio, a minha forma de me sentir viva!)

então vou ficar uns dias escrevendo menos.

14.6.05

Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom-senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo ‘ciao’ ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida.
Raduan Nassar, que segundo um colibri, há quase duas décadas decidiu ser um escritor que não escreve. Mas que antes disso escreveu meu conto favorito. Psc*.
Então o Michael Jackson é inocente?

12.6.05

meu sorriso só se abre em declaração de amor a ti. em ti se ajuntaram as guerras e os vôos. quando te encontrei - e desde este quando - tudo fez sentido e o espírito de deus pairou por sobre as águas.

contigo andei mais adiante do desejo e do ato. era a negra, negra solidão das ilhas, e ali, ilha e farol, me acolheram os seus braços. era a sede e a fome, e tu foste a fruta. era o duelo e as ruínas, e tu foste o milagre. não sei como pode me conter na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!

esse é meu destino e nele navega o meu anseio.

(com ajuda de Neruda)

8.6.05

confessionário

vim ao Rio por dois motivos. pra acompanhar o grande amor da minha vida e para poder ter vida social (e deixar a rotina casa-trabalho-casa que tá me matando). procurei um trabalho e rapidamente achei. o salário é maior do que recebia antes, mas sem vínculo empregatício. talvez com prazo pra terminar, pois é um projeto. isso me matou.

tô apavorada, à beira de um colapso. pela primeira vez na vida – de verdade – estou voltando atrás numa decisão. é muito complicado isso pra mim inclusive porque não era isso que o André esperava de mim. ele me via como suporte para a decisão dele de voltar para o Rio e eu tô puxando o tapete. desisti de trocar o certo pelo duvidoso. será que mudei? mudei por dentro, não querendo mais desafios e inseguranças? acho que cresci. talvez tenha apagado um siricotrico que sempre me impelia a buscar o diferente. isso é triste?

a verdade é que não é um retorno de vez. é um adiamento. volto quando o André achar um trabalho aqui. volto quando achar um trabalho que realmente valha a pena. volto quando me sentir segura.

(de volta tenho o mesmo trabalho, empresa de petróleo, salário como antes. casa-trabalho-casa. segurança. mais tempo.)

7.6.05

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" Karl Marx
sou matuta. vivi em londres e tais, mas o sertão é dentro da gente. fico meio perdida no meio deste mundaréu de gente. sei que disfarço, me misturo, e acaba que não é fácil perceber que sou forasteira. mas um estranhamento mora dentro de mim e me amedronta, me paraliza.

viver na urbis populosa me diz muito de minha solidão, do meu tecer a vida. andré, preciso de você. tenho saudade doída.

4.6.05

eu e a matuléia de novo na estrada. então é isso: me mudo pro Rio. começo na segunda. desejem-me sorte que desta matéria eu prescindo. mais uma vez escambo de certo por duvidoso. anjo me disse: "vai, ser forasteira na vida". e eu vim.

(o melhor de tudo é estar entre duas travessas. i)
Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade,
onde a voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.

Conserva em mim ao menos a metade
do que fui de nascença e a vida esgarça:
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito.

Balançando entre o real e o irreal,
quero viver como é tua essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.

(...) Espírito mineiro, circunspecto
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embreagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doidos nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais.

(Oração do mineiro no Rio de Janeiro. Drummond In Fazendeiro do Ar)

2.6.05

1.6.05

Conta Olga Borelli, amiga íntima da escritora nos últimos anos de vida, que, já no hospital, na véspera da morte, uma Clarice Lispector pálida e frágil tentou caminhar até a porta para dali retirar-se. Deparou-se com o corpo de uma enfermeira, que em movimentos simultâneos barrou sua passagem e a amparou. Em desespero, ainda que rouca, gritou: "Você matou meu personagem!".
Devagarinho, como quem não quer nada, seu Roque fala o que deve e o que não deve. Sofre de coceira na língua. E só se sente a gosto dando noticia de pitimba, cangapé e má fortuna. Neste ponto se parece com a nossa gente. Nem é mal de família. É de todo mundo nesta terra. Sujeitos emburrados, metidos consigo mesmos, vivendo pra dentro. Se dois se encontram e abrem a boca, falam mansinho, macio, e lá vem desgraça na certa. No fundo têm razão. Esta vida não vale nada mesmo e o melhor que se pode desejar éir remando, sem soçobrar, nesse vale de lágrimas. Otto Lara Resende

***

Bem, depois de um longo divórcio, voltei aos meus livros. Estou lendo os que ficaram por acabar. Comecei pela prateleira dos mineiros.

Pausa para digressão. Na minha biblioteca eu separo os livros por temas. E assim Ottolara, Guimarães Rosa e Drummond ficam juntos por serem mineiros. O Vinícius ficou lá também, mereceu o direito por ter vivido em Ouro Preto. RubemFonseca fica perto de Poe, dO Perfume e dos Dan Brown. Por que então Stanislawsky junto dos livros de Química e Microbiologia? Por dever de ofício. E Ulysses, do Joyce, fica lá, porque tal como os companheiros de prateleira, nunca consegui ler de capa a capa este exemplar no original.

Estou me desviando do assunto. Deixo o pensamento correr e esqueço o que ia contar. Até parece conversa de seu Roque da Mutuca, que não tem fim. Mas voltei a ler meus livros inacabados. Cuidarei de um a um. Lerei, registrarei, colarei os ex libris nos que ainda não têm. E rabiscarei todos, porque adoro livros com passagens marcadas.

31.5.05

Era uma vez...

- Pequenino e sua mãe eram tão pobrezinhos que tiveram que vender a única vaquinha.
- Mas e se eles quisessem tomar leite?
- Uai! Comprariam o leite com o dinheiro da vaquinha!
- Mas se a vaquinha tinha dinheiro pra que vender a vaquinha?
- !

(criança em casa é outra energia. eles riem de nada, assistem ao mesmo filme 30 vezes. e dizem aquelas coisas de quem tá vendo tudo pela primeira vez.

e entendem mais de lógica do que eu.)
"get a life!", eu me disse.

26.5.05

Baby, do you understand me now?
Sometimes I feel a little mad
But, don't you know that no one alive can always be an angel
When things go wrong I seem to be bad
I'm just a soul whose intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood!
***

Anna Karina Godard

Adoro as trilhas do Tarantino. Transformar Don't let me be misunderstood na trilha ideal para uma briga entre samurais não é coisa para ninguém mais. Nos tempos duros ele trabalhava num balcão de locadora, estudava teatro e falsificava seu currículo com uma inexistente participação na montagem do Godard para King Lear. Era fã do Godard. A Mia, de Pulp Fiction, foi inspirada na mulher do Godard. Tarantino dirigiu o CSI que vai passar em terras tupiniquins em julho. Não perco por nada!
este é o meu escape: escrevo para não morrer engasgada. mas a clareza não é o meu objetivo. mas nem sempre tenho claro o limite, e às vezes me pego retratando a minha vida de uma forma quase pornográfica de tão escancarada. é neste então que eu me recolho. é neste então que eu me escondo. é neste então que eu cito.
"Se estivéssemos em 1982, eu acordaria sem preocupações e ficaria brincando até a hora da escola."
You look at where you're going and where you are and it never makes sense, but then you look back at where you've been and a pattern seems to emerge. And if you project forward from that pattern, than sometimes you can come up with something.
Zen and the art of motorcycle maintenance.

25.5.05

Notre Dame de Paris
"L'aveugle garde le regard comme le muet la parole - l'un et l'autre dépositaires de l'invisible, de l'indicible... gardiens infirmes du rien." Edmond Jabès

rien, rien. nothing, nothing. é mesmo impressionante o número de pessoas-espelho que se encontra. não um espelho porque nos enxergamos nelas. são espelhos porque não retém o mundo. refletem porque devolvem, sem processar de nenhuma forma, o que a vida lhes revela.

às vezes eu me sinto um espelho. citando frases fora de contexto. (simplesmente porque não li o contexto.)

tradução livre, a única que o meu fracês pobre permite: "o cego mantém o olhar como o tolo a palavra - um e outro depositários do invisível, do indizível... guardiões débeis de nada."
alegriazinhas
1. Schweppes citrus
2. Lost
3. feriado prolongado
4. notícia de amigo distante
5. banho quente e demorado


O in-finito
horóscopo do dia

Talvez o grande problema de seu presente seja o aspecto tenso entre Júpiter, que empurra para a expansão e é otimista por natureza, e Urano, que simboliza o imprevisto, a moda, a fragmentação. Um quer pompa, o outro, despretensão. A você cabe encontrar um ajuste criativo. Tente.

odeio charadas.

24.5.05

Thereza é a minha melhor amiga desde o tempo dos cueiros. Está numa cidade minúscula, Jena, da Alemanha estudando alemão. Não gosto de MSN, pois nutria um certo carinho pelo ICQ e esse ninguém mais usa. Mas pra poder conversar com ela, sempre abro um parêntese. Hoje nossa conversa me deixou preocupada. Me digam: tenho razões?

Vivianne diz:
oi Tê
ê diz:
Ei ví! vc nao sabe da maior. dia 11 de junho vai ter uma festa neonazista aqui. já estou tendo pesadelos
Vivianne diz:
sério?
Tê diz:
parece que vem gente de toda alemanha
Vivianne diz:
fala mais disso. a festa vai ser aih na sua cidade?
Tê diz:
estao esperando 5000 pessoas aqui. e estao organizando também demonstracoes contra. ainda nao sei se é seguro para os estrangeiros ir para a rua. além disso os alemaes estao falando que esta é uma briga deles. alemaes contra alemaes. que é mais seguro para os estrangeiros ficarem em casa. vai ter porrada!!!!!!
Vivianne diz:
credo. mas aí na sua cidade q é pequena e tal?
Tê diz:
pois é. mas tem uma galera neo nazista aqui. moram longe, mas estao aqui.
Vivianne diz:
vc já foi tratada mal alguma vez, tê?
Tê diz:
a questao deles e do partido NPD é o desemprego na alemanha. que é muito alto.
Vivianne diz:
e aí a culpa é dos estrangeiros? qual é, né tê?
Tê diz:
nunca aconteceu nada comigo. alguns já falaram umas bobagens pros meus amigos.. mas comigo nada.
Tê diz:
dizem que é muito seguro.
Vivianne diz:
falaram bobagens pros seus amigos? tipo o q?
Tê diz:
a gente pode andar pra todo lado de madrugada e sozinha na rua.
Tê diz:
tipo, vc é um cu..
Tê diz:
entendeu
Tê diz:
?
Vivianne diz:
entendi.
Vivianne diz:
que horror.
Vivianne diz:
ai tê, evita andar na rua de noite.
Tê diz:
tem também muitos punks. gente boa, mas cara de pau, que ficam pedindo dinheiro pra tomar uns goles
Vivianne diz:
sei q é calmo e tal, mas o perigo mora mesmo é nas surpresas.
Vivianne diz:
no achar q não tem perigo.
Tê diz:
nêga, eu preciso ir. amo vc
Vivianne diz:
tb te amo. e se cuida.
Anúncio no jornal
Branca, bonita, 1,60 m, c/ superior, solteira, procura cavalheiro até 35 anos, para futuro compromisso. Cartas p/ portaria deste jornal, nº 40.021.

***

Senhorinha,

Seu singelo anúncio teve o dom de emocionar-me até as lágrimas, levando-me a enviar-lhe esta pequenina missiva, fruto das minhas francas e honestas intenções. Imagino-a em seu quartinho virginal, traçando com a mãozinha trêmula de pudor o manuscrito do anúncio. Vejo-a atravessando a rua com seu passinho gracioso, chegando em frente ao jornal e, após alguns minutos de dolorosa reflexão, dirigir-se ao balcão com os olhos baixos e os seios arfantes, fazendo com a voz velada pela timidez o pedido do seu anunciozinho.

Cara jovem, também estou imerso na mesma solidão que a cerca – fruto do nosso século de desamor e indiferença – atrevo-me, portanto, a dirigir-me à senhorinha suplicando a graça de um breve colóquio. Tenho certeza de que posso fazê-la feliz, apesar de já haver ultrapassado um pouco a idade estipulada pela senhorinha.

Caso consinta em atender a minhas súplicas, suas cartinhas poderão ser enviadas para este seu criado, Aparício dos Santos, à Rua dos Andradas, 48 – Ouro Preto – Minas Gerais.

Post roubado.

A-tchim! - o que conto. O tempo dá saltos, trai a todos. E eu não tinha contado bem com o muda-mar. Em pois, muito não tarda, e a maré já deve começar a voltar, enchentemente, para contradizer tudo.
Mesmo no exílio, Minas veio comigo. Neste agora tenho quatro livros no móvel de cabeceira. O retrato na gaveta, do pajé ottolara, Boitempo II e Boca de Luar, do Drummond e Estas Estórias do Guimarães Rosa. Todos mineiros até o brodo.

E assim, nos cafundós do Rio de Janeiro, quem vem pro café é o meu tio Iauaretê, e o Tomé, que preenche a conversa com os amores de Leocádia.

23.5.05

se nesse blog tivesse um daqueles gifs indicadores de humor hoje seria "cínica".
Já tem mais de 16 mil membros uma comunidade do Orkut chamada "Eu tenho medo do mesmo". A plaquinha que ilustra a página explica do que se trata: "Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar."
liguei a tv antes de acordar. zap e entrevistas com representantes de várias religiões sobre como é o inferno e tal. um lá disse que o inferno não é 1. são 256.

(foi então que emiti o primeiro som do dia. quase um jargão: "ah, qual é, né?")

o inferno são os outros. os outros 255.

22.5.05

Tudo isso é rotina. Há um certo ar de monotonia por toda parte.

Em alguma ruazinha simpática, com árvores e sossego, ainda há crianças deslumbradas a comerem aquele algodão de açúcar. E há os avós de olhos filosóficos, a conduzirem pela mão a netinha que ensaia os primeiros passeios, como uma bailarina principiante a equilibrar-se nas pontas dos sapatinhos brancos.

Mas, (psiu!), não conte a ninguém João. Te levarei para caçar tatuis. Esses dinossauros encantados tornados diminutos por uma bruxa raivosa por terem comido seus dentes-de-leão.
A lua foi ao cinema, na poesia de Leminski. A namorada, para Drummond, tem boca de luar. Uma meia lua vertical aparece no canto superior direito do envelope de Joan Brossa. A lua branca cheia de fulgores e encantos, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela guia um brilho de aluguel.

21.5.05

Saudade

"Se de natureza de puro sentir, nem seria assim tão valioso sobre ela teorizar, ou tecer especulações, que poderiam resultar estéreis. Mas prossigo. Quando algo de nós é apartado (há exemplos até de uns a que nem dávamos assim a devida atenção), e nos começa a inflar um oco, como se dentro passasse a habitar uma falta: viramos a presença do que deixou de estar lá. Olha lá como pode isso? Oxímoros, belas palavras eruditas pra definir paradoxos extremados."

(Farfalhou um colibri. Porque eu não sei o nome da língua do colibri e farfalhou me pareceu apropriado.)

20.5.05

A gente sabe mais de um homem é o que ele esconde.

G. Rosa, Grande sertão: veredas.

19.5.05

Vou fazer uma declaração como se fosse mentira. Mas não é.

É difícil entender por quê uma pesquisadora com promissora carreira na Europa deixa tudo e nem olha para trás. Mas, um ingrediente da sopa de motivos foi que eu tive medo.

A polícia de Miami encontrou Benito Que, em uma rua lateral, perto do ponto onde tinha estacionado seu carro. Na mesma época, C. Wiley desapareceu misteriosamente. Seu carro, um Mitsubishi alugado, foi abandonado em uma ponte fora de Memphis, onde tinha ido jantar com amigos. Na semana seguinte Vladimir Pasechnik caiu morto em Londres, aparentemente um ataque cardíaco fulminante. A lista viria quase a uma dúzia no espaço de quatro meses.

Outra pessoa se sufocou em um laboratório em Geelong, Austrália. Mais uma foi encontrada numa cadeira, despida da cintura para baixo, em um apartamento com sangue por todo lado em Norwich, Inglaterra. Outra atropelada por por um carro ao movimentar-se. Mais uma num acidente de avião. E por fim outro assassinado por um entregador de pizza.

O que todas as pessoas tinham em comum? A linha de pesquisa. A minha linha de pesquisa.

Então eu desapareci.
You and I have memories
Longer than the road that stretches out ahead

We're going home
Better believe it


Beatles - 2 of us

18.5.05

Em abril ele apareceu perambulando numa praia, vestido com um terno caro - mas incapaz de dizer uma palavra. Levado para a ala psiquiátrica do Hospital Marítimo Medway, recebeu papel e lápis. A esperança era de que ele pudesse escrever seu nome. Em vez disso, ele vez fez um intrincado desenho de um grande piano, inclusive com detalhes do mecanismo interno do instrumento. A única pista que o rapaz deu foi sentar-se a um piano e tocar peças clássicas divinamente.

Cansou-se de ser quem era. Who can blame him? Atire a primeira pedra quem nunca cometeu este pecado.

gosto de me perder. sempre gostei. não existe melhor oportunidade para se achar do que se perder. uma vez me perdi em Londres. e no auge do sentimento de 'não tenho a mínima idéia de onde estou e não tem ninguem aqui pra perguntar' eu olhei pra cima e tinha uma placa verde limão onde estava escrito 'the end'. foi epistolar.

nesta cidade que nunca cheguei a aprender amar, eu nunca me perdi. talvez seja esse o motivo.
- Como foi a aula de artes hoje, Alice?
- Foi legal. A gente tinha que desenhar uma pessoa.
- Ah, é? E todo mundo desenhou?
- Só o Bruno que não. Ele desenhou uma cebola.
- Cebola?! E a professora achou legal?
- Ela não falou nada, não. Uma cebola é tão parecida com uma cabeça que ela nem notou!

Roubei do Mothern.

Questionada se preferia alguma foto que tirou de Marilyn, afirmou que gostava muito de uma imagem da atriz no meio do deserto, compenetrada, tentando relembrar suas falas. Confirmou que Marilyn gostava mesmo de andar com uma sola de sapato mais baixa do que a outra para dar uma rebolada extra em suas caminhadas.

Eve Arnold, fotógrafa de Marilyn, na Folha de hoje.

17.5.05

era o início dos anos 70 e a cidade fervilhava. o vinícius de moraes tava por ali, cantando nas rodinhas de violão, e o Festival de Inverno de Ouro Preto, criado em fins da década de 60, ganha fama de maior acontecimento artístico do país.

dizem as línguas boas e más que foi neste então que o Carlos Scliar adornou a sua casa...

(pausa para uma digressão. a casa. encrustada numa encosta nas Lages, tem um riacho em seus domínios. paredes cobertas de obras modernistas e sempre foi um dos dois palcos dos meus sonhos ouropretanos.)

... com os mais belos estudantes da cidade. foi então que Clarice veio. e as boas e más línguas mais antigas têm sempre uma história pra contar sobre sua paixão por um desses estudantes. esse em especial belo como Adônis, e sempre que eu via sua foto eu me sentia atacada por misteriosas reticências. ela tinha bom gosto.

16.5.05



Macunaíma gabava-se um dia de ter caçado dois veados mateiros de uma só vez, quando pegara simplesmente dois ratos chamuscados. Como seus irmãos contestassem a proeza, ele "parou assim os olhos" no interlocutor e explicou:
- Eu menti.

Me sinto um pouco na situação de Macunaíma. Não esculpi nem só uma pedrinha. É verdade que freqüentei umas 6 ou 7 aulas, mas nas 2 primeiras a Fundação de Arte não tinha material, o que nos obrigou a uma aula teórica. Nas seguintes toda vez que eu ia usar as ferramentas o professor me pedia calma para que pudesse ser capaz de primeiro vizualizar a obra, e não fosse fazendo e vizualizando. Aí eu desisti.

Embora ninguém pusesse em dúvida a veracidade das minhas aulas de escultura, resolvi contar. Aprendi que, para a virtude da discrição - ou de modo geral qualquer virtude - aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática. Morresse eu com o meu segredo, ninguém o saberia, mas também a sensação macunaímica não me abandonaria. Ao ter feito a afirmação de ter estudado escultura, quis apenas alimentar um modesto sonho, e los sueños suños son.
em Ouro Preto eu estudei pintura, escultura, restauração, dança, teatro, canto.

aqui eu estudo o tempo.

15.5.05

posso ser insensível, esnobe, pode ser trauma de infância (piano, argh! flauta, urgh!). o fato é que eu não gosto de música. pronto: falei.

Frank Sinatra? gosto. Beatles, legal. Belle & Sebastian já ouvi muito. Chico. Tom.

gosto de música como gosto de papaia com cassis. gosto e tal, mas já faz uns 3 meses que não como.

aí o coitado que ama música (e, eu sei, ele gosta de boa música) escuta Beatles por John Pizzarelli 16 vezes seguidas. eu fico nervosa, mas tenho que me controlar para não ser uma idiota insensível. afinal eu o amo, e música faz parte do pacote, faz parte do que ele é, e all that jazz tem o seu charme.

P.S.: sabe? acho que de música o que mais gosto é da literatura. por isso Chico é tão bom.
para uma calopsita

foi um ploft. procurei no quarto e o barulho não fazia sentido. só podia ser fora. era um sabiá que se chocou contra a minha vidraça. (confesso que achei ser um pardal, nunca fui admiradora de pássaros, não sei distinguir uma arara de uma maritaca.)

fiquei olhando de longe, passarinhos sempre me lembram 'a história triste de tuim', do Braga e seu tuim criado no dedo. (pausa para esclarecimentos: também não sabia o que era um tuim. achava que era parecido com um pardal, mas diz o Braga que "De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar.")

voltemos ao meu não-pardal. tava lá o coitadinho. parecia ser sangue no bico. peguei água na cozinha, o André molhava o dedo na água e deixava pingar no bico e ele - o sabiá - ficava olhando pra gente com aquela carinha de quem não tá entendendo muito. pensei em lhe servir um analgésico. Quis pegá-lo pra ver se o machucado era mais grave, no peito. e ele voou.

moral da história: nem todo pássaro é pardal, e eu não aprendo nunca, por mais perto que esteja do que eu quero não controlo a minha ansiedade, atropelo o tempo e as coisas voam.

13.5.05

tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo.

como tudo começou, ou amor em 5 e-mails.

A: Ihhhh.....espantei a menina!!!!!!

V: por que?

A: te chamei de namorada...:p

V: vou te encher de clichês pra te dizer que eu quero ser sua namorada.

***
eu enlouqueci.

A: Então que me internem junto de você...

Simplesmente bela!

'Tenho muita saudade de quando não existia essa amolação de cigarro dar câncer, nem de mulher ser magra. A gente tinha mais tempo para o que precisa, não é mesmo? Será que faz mal mesmo? Colesterol, depois de tanto barulho, estão falando que já tem do bom. Qualquer dia vou pedir ao Teodoro pra dar uma fumadinha, só pra fazer tipo.'

Adélia Prado.

tem muitos que eu gosto: Maiakovsky, Drummond, Quintana, Manoel de Barros. Mas para a Adélia Prado eu tenho vontade de coar um café, fazer uns sequilhos, e ficar assim desfiando o rosário dos ontens.
de repente me pareceu que devo continuar a fazer coisas, que tudo está ruim, mas que é assim mesmo, que as coisas são desconhecidas até que rebentam numa conhecida. às vezes, para mim, é mais fácil ver o sobrenatural que a realidade.

12.5.05

olha, eu escrevo assim, não adianta reclamar. não sou uma virtuose de objetividade.

uso reticências, ah!, esse rastro que fica de minha fuga na ponta dos pés pra eu não ter que me explicar melhor.

e parênteses são minhas mãos em concha pra sussurrar um segredo, fazer confidências.

são a minha forma de gesticular por escrito.


felicidade se acha em horinhas de descuido.
Guimarães Rosa

ah, as alegriazinhas...
poucas pessoas podem dizer que realmente me conhecem: meu pai e T. (eu não sou uma delas, André ainda não é uma delas.)

hoje eu contei à T. - que etá na alemanha - que eu queria me mudar e ela me disse: "agora eu posso te dizer que você nunca coube aí."

(a conheci com 3 anos de idade. estudamos juntas, moramos juntas, passamos a infância e a adolescência vivendo as experiências uma da outra. minha adaptação à realidade de filha de pai solteiro. a morte do pai dela. a desadaptação de nós duas. íamos ao circo, ao cinema, aos meus recitais de piano - argh - às apresentações do coral dela. choramos juntas e quando fomos estudar na capital fomos juntas e moramos juntas. se eu posso chamar alguém de irmã esse alguém é ela.

há duas semanas mandei-lhe uma carta. lembro como era bom receber alguma coisa que alguém que eu amava tinha mandado do Brasil, quando era eu que estava no exílio.)
como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos, assim te levo comigo, tarde de maio. (...) Eu nada te peço, tarde de maio, senão que continues no tempo e fora dele, irreversível. (...) Em maio tantas vezes morremos, para renascer, eu sei, numa fictícia primavera.
eu acordo cedo. levanto da cama, dou uma espreguiçada e me deito de novo no sofá da sala. sento e vou ler os jornais.

na Folha, manchete na capa, a separação do Ronaldinho e da Cicarelli. surpreendeu alguém? Ronaldinho vai voltar à farra depois de uma cirurgia plástica na tatuagem e a Cicarelli fica R$15 milhões mais rica. por três meses de casamento!

dou um bocejo grande e começo pela astrologia. alguma coisa sobre mudar de vida. checo os e-mails, nada ainda. checo preços de passagens internacionais. dólar em baixa, dólar turismo R$2,50. mas não posso gastar minhs economias se não tiver como repor.

desisto. vou ver os classificados.

10.5.05


pra I.
'Houve um tempo em que sonhei coisas - não foi ser eleito senador nem nada, eram coisas humildes e vagabundas que entretanto não fiz e, nem com certeza farei. Era por exemplo arrumar um barco e sair tocando devagar por toda costa do Brasil, parando, pra pescar, vender banana ou comprar fumo de rolo, não sei, me demorando e indo, vendo as coisas, conversando com as pessoas, aprendendo a fazer coisas singelas que vivem fora das estatisticas. Ir indo por esse Brasil que ainda existe, que funciona a lenha e lombo de burro. Aquele Brasil em que as noites são pretas com assombração, dizem que ainda tem até luar no sertão, até capivara e suçuarana - não, eu não sou contra o progresso ("o progresso é natural") mas uma garrafinha de refrigerante americano não é capaz de ser como um refresco de maracujá feito de fruta mesmo." Rubem Braga, num livro que desapareceu das minhas estantes.
acho que estou ficando cega do terceiro olho.
André fez pedacinhos de alegria chamadas trufas. eu tenho que pintar um armário, arrumar um emprego, mudar de cidade, aprender esculpir, fazer mais exercícios físicos.

enquanto isso não penso, cito.

9.5.05

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice

pois na prática, meu bem, a teoria é outra.

8.5.05

Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída.
Como é, por exemplo, que dá pra entender:
A gente mal nasce, começa a morrer.

Depois da chegada vem sempre a partida,
Porque não há nada sem separação.
Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão.
Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão.

A gente nem sabe que males se apronta.
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe,
E o sol que desponta tem que anoitecer.

De nada adianta ficar-se de fora.
A hora do sim é o descuido do não.
Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.
Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.

Toquinho

7.5.05


A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.

"Quem é você?", perguntou a Lagarta.

Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente:

"Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então."
O homem comum, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de não pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim se deve viver a vida para que possa ter a satisfação do cão e do gato.

6.5.05

Acabei de dar um check up
na situação
o que me levou re-ler Alice no País das Maravilhas

Raul Seixas


Diário de Frida Kahlo


tire o seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor
ser feliz deixa a gente burra chata. me sinto esfregando minha felicidade na cara das pessoas.


tô contando porque ele pediu. disse que não tinha como não contar isso e tal. que talvez pra que eu conte aqui é que tenha acontecido o que aconteceu.

saí de casa com o portifolio dele debaixo do braço. não sei explicar por quê. sei que saí com a pasta debaixo do braço, peguei fila de banco, fila pra falar com o gerente, toda vez a mesma história: é só chegar um cartão novo que tascam lá "Vivane". tô até pensando em mudar o nome de verdade, lá no juiz, para evitar filas.

como não sou de ferro e era mesmo uma liqüidação, passei pra comprar um edredon de casal, que se a gente receber visita e se tiver edredon lavando a visita ia passar frio, coitadinha.

fui pra casa da sogra mais gente fina do mundo, que cuidou de mim 1 semana doente quando a gente nem bem tinha 1 semana de namoro, que plantou minhas pimentinhas em diversos vasos e tá cuidando delas até pegar força, e que faz uma batata rostie fantástica e que nas horas nada vagas gerencia um restaurante.

bem aí eu dei por mim. cadê a pasta? o portifolio com cópias únicas, que ele não guardou outras, de trabalhos para o Lan, para o mercado Ver-o-Peso. coisinhas legais, trabalhos de uma vida e tal.

liguei pra loja e ninguém achou nada. fui lá, ninguém nunca viu mais gorda a pasta branca.

quando ele chegou eu estava preparada pra separação. foi aí que aquele anjinho aí de baixo deu o jeito dele e me ligaram da loja. a pasta reapareceu. e vivemos felizes para sempre.

mas por que mesmo eu carreguei a pasta?
não sei fazer café. bem, café com aquela touquinha de tecido eu sei. naquela maquininha que ferve a água também. mas não sei operar a expresso. essa atividade sempre deixei pro André. não aprender foi uma modo de fazer com que ele sempre faça pra mim. agora estou aqui, me roendo prum expresso.

moral da história: o feitiço pode virar-se contra a feiticeira.

resolução de ano novo: aprender a operar a cafeteira expresso.

5.5.05


Por falar em anjos

Era começo de outono em Paris e isso não tornava os parisienses mais simpáticos. Perguntei no meu francês possível onde, afinal, ficava a Gare de Lyon. O primeiro me apontou a direita. O segundo me apontou a esquerda. Não perguntei um terceiro.

(A França em pouquíssimo tempo me ensinou a não confiar nos transeuntes.)

Sentei num banquinho perto da Praça da Bastilha sem me conformar. Não queria mais a França. Disse num pensamento que me pareceu um grito: não saio daqui. Que venham as respostas.

E aquele velhinho de chapéu, terno xadrez e gravata em diferentes padronagens, saído de filmes franceses, sentou do meu lado, me contou sobre a Primeira Guerra e riu da antipatia dos franceses. Me falou das maravilhas da comunicação, de como o mundo fosse melhor se todo mundo falasse a mesma língua. Nasceu em Paris e morreria em Paris. Mas falava inglês e esperanto, para garantir. E já que você vai pra Avignon, a Gare de Lyon é pra lá. E me apontou o centro.

(o post é quase repetido. mas eu só achei a foto - que confesso, tirei pra saber se ele era de verdade - há pouco tempo.)


meu anjo da guarda é forte e trabalha muito. qual seria a outra explicação para que uma kamikaze como eu tenha sempre a sorte jogando ao meu favor?

(lembro-me da época em que era afeita a noitadas. tinha uma prova temida de Química Analítica II, mas tava mais interessada na festinha da Serigy. cheguei em casa às 5 da manhã, dei uma olhada no meu caderno de anotações e refiz 1 único exercício. exatamente o único exercício que caiu na prova.)

qual seria a outra explicação para que uma queimadura de 3º grau no rosto desaparecesse em 15 dias sem deixar uma única cicatriz? e ainda me deixar com a pele melhor que antes?

outro feito deste senhor foi fazer meu cartão bancário funcionar depois de ter sido dobrado em dois. era outono, eu estava sozinha. em outro país.

era uma vez eu sonhei com meu anjo guardião. e ele era forte e bonito, mas tinha os braços cheios de marcas de luta.
no telefone

- tem dois azuis e dois pretos. cores iguais fazem um par.
- de que você está falando?
- de chinelo, horas.
- ?
- você sempre troca os pares e deixa 1 pé nº35 pra mim. eu calço 42!
meus amigos, meus inimigos, salvemos o que resta de nós mesmos.


pimentas do reino são um ótimo remédio para acabar com as traças nos livros. são também uma ótima pista no meu tapete de que andei remexendo nas estantes.

4.5.05

Era uma vez...

era uma vez eu tinha o que dizer.

3.5.05

estou triste. no new messages. nada, niente. minha caixa de entrada não reage. daqui um pouco vou cometer um e-mail pra mim mesma. 24h sem trabalhar e já sinto falta do stress, das resoluções pra ontem, dos e-mails bombásticos.

por favor, tenham misericórdia: me mandem um spam.
gente é abismo. chegar perto dá vertigem.
olhei pra cidade e vi que ela não era mais minha. resolvi então enfiar a viola no saco. vou me mudar. pro Rio. vagas de emprego - no Rio - enviem para mim.

2.5.05


When you were here before, couldn't look you in the eye
You're just like an angel, your skin makes me cry
You float like a feather
In a beautiful world
And I wish I was special
You're so fucking special
almoçamos juntos. falei sobre a Itália e as incursões no bosque para caçar trufas. o cheiro de javali próximo. ele me escuta. sempre. de olhos vidrados.

engraçado... ainda não se acostumou ao meu esquecer o nome das coisas. cabide! não, galinha! (era almofada). olha pra mim, prestando atenção, de olhos vidrados, e me acha meio louca.

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

30.4.05



ah, o universo... esta foto foi a primeira coisa que André e eu colocamos juntos nas paredes desta casa. fica aqui, atrás do pc, escondendo a caixa de luz.

m.a., m.a., a previsão do tempo me leva a crer que há sol no final do período. se os gênesis se tocam - e de algum modo não acredito em coincidências - o verão será longo.

26.4.05

Adoro deadlines perdidas.


certezas

à medida que o tempo passa acumulo certezas. a de que o tempo cura muita coisa, mas não tudo. a de que a vida passa rápido. de que os amigos são muito importantes pra ajudar a viver. de que é muito bom receber cartas. de que a acumulação do capital exige inteligência e, quase sempre, disciplina. de que cabelo cresce.

uma das últimas certezas que acumulei é a de que o amor é possível. pode não ser para sempre, pode ser até o fim da vida. mas existe e transforma. transforma o ser amado, transforma o ser que ama. transforma-se em outros sentimentos, em outra coisa. mas um ser tocado pelo amor perde o ceticismo diante da vida. e ganha um certo olhar de louco.

20.4.05

Programação pro feriado? 2ª temporada completa Sex and the city (A. também viciou). Búzios na sexta pra diminuir o desbotado, que nem anda tão amarelo assim, depois que me meti a velejar.
Lula !!!
Numa reunião com o Presidente da Suíça, Lula apresenta os seus Ministros:
- Este é o Ministro da Saúde, este é o ministro da Educação este é o Ministro da Cultura, este é o Ministro da Justiça... E assim foi.
Chegou a vez do Presidente da Suíça:
- Este é o Ministro da Saúde, este é o Ministro da Fazenda, este é o Ministro da Educação, este é o Ministro da Marinha...
Nessa altura Lula começa a rir:- Desculpe, Sr. Presidente, mas para que o Sr. tem um Ministro da Marinha, se o seu país não tem mar?
O Presidente da Suíça então responde:
- Quando você apresentou os Ministros da Justiça, da Educação e da Saúde, eu não ri.

19.4.05



terrorista mineira

bem, é claro que fiz compritchas, uma renovada no guarda-roupa. sábado em sampa também não podia deixar de ir na feirinha da Liberdade. adoooro. aí comprei uma daquelas facas de sashimi caríííííssimas pra A. (ele merece, pisc*), uns pratinhos novos de colocar shoyu, uma lanterna japonesa tamanho gigante, uma bandeja de colocar comidinhas japonesas. aproveitei e comi um tempurá de feira.

corri pra buscar as malas, quase não deu pro banho, e cheguei no aeroporto em cima da hora. quando o tempurá me cutucou, “tá esquecendo de mim?” e aí fui eu me atrasar mais um pouco.

“última chamada para o vôo 6102, Sra Vivianne, favor comparecer ao balcão para o check in”. e fui eu atropelando a fila. despachei a mala. a sacola de compras da Liberdade levei na mão. ia arriscar estragar minha lanterna de papel? Minha bolsa estava pesada com o livro e todas as tranqueiras de mulher, e pra evitar desvios preferi também não me separar do laptop. aí segue a cena em que a mocinha corre pelo corredor afora, para não perder a última chamada para o vôo 6102. cheguei no raio X da polícia federal com as bochechas vermelhas de correr com o peso. a mocinha da PF gentilmente teceu a pergunta: “senhora, está portando alguma arma?” “Não.” “Poderia então, por favor, abrir esta sacola?”

foco no brilho metálico da peixeira japonesa de mais de 30cm.

Post Scriptum: Não é tudo esse gif que A. fez pra mim?
se os bispos estão votando sob inspiração do Espírito Santo, a votação não teria que ser unânime?

Zé Simão na Folha de hoje.
para A. kefir agora é tudo na vida. cura sarampo, catapora, velhice, dor nas juntas. o próximo elixir é o kombuchá.

adoro essas idiossincrasias.
Astral muda hoje, com entrada do Sol em Touro, trazendo mais chances de reverter a seu favor a situação profissional e amorosa. A ênfase recairá, durante os próximos 30 dias, sobre sua capacidade de concretizar as imagens de seu interior. Em torná-las ouro para o espírito e para a carne.

finalmente...

18.4.05

Lua e Marte disparam aspecto tenso, opondo sensibilidade e vontade de mostrar seu poder. Harmonize essa tendência fazendo um pacto entre o que é confortável e o que precisa fazer de concreto para ter seu espaço garantido na cena profissional ou em casa, por exemplo. Clima é de ira.

12.4.05

V. volta e meia me pergunta o que são tremoços...

"O cinema aonde íamos era um poeira perto de casa, na Praça Onze, esse cinema já acabou, passava três filmes seriados, filme seriado também acabou. Depois tomávamos cerveja preta com tremoços. Meu avô bebia cerveja preta com tremoços, eu comia os tremoços com um refresco de groselha. Tremoço acabou e aquela cerveja preta acabou, o refresco de groselha também não existe mais, puta-que-pariu, acabou tudo, até a profissão do meu avô acabou."
Este conto, do livro Pequenas criaturas, é um dos preferidos do Rubem Fonseca.
tô indo pra sampa. trabalho.
Era uma vez, eu pensei que gostaria de ser como ele...

"...sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava."

...acho que me falta talento e fígado...
às vezes me sinto assim, meio marionete sendo levada pela mão do destino. nem quando quero fugir de Aqui consigo. teatro, arte, já tentei de tudo. bem, uma coisa me sequestra da realidade: meu amor. daqueles que nunca pensei existirem fora da arte. meu amor é fora do tempo, além do espaço.

é mais um reconhecimento, e acaba por ser um mergulho em mim mesma.
parábolas III

outras vezes quero mandar tudo à m. e então me lembro do inquieto A., num dos piores momentos da minha vida me dizendo: "bem, pensa assim: que importância tem isso em face à eternidade?"

é então que um sorriso secreto estampa meu rosto e a vida flui mais fácil.
parábolas

umas vezes piadas, outras vezes historietas. tem também as frases. a verdade é que a gente vive colecionando pérolas para uma vida melhor. a bíblia chama isso de parábolas. umas das historietas-corolários:

E. acompanhava um amigo à banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desciam pela rua, E. perguntou:
- "Ele sempre te trata com tanta grosseria?"
- "Sim, infelizmente é sempre assim..."
- "E você é sempre tão polido e amigável com ele?"
- "Sim, sou."
- "Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?"
- "Porque não quero que ele decida como eu devo agir."

7.4.05



casa de cora coralina. "Sendo eu mais doméstica do que intelectual/ Sou mais doceira e cozinheira do que escritora".

na Folha de hoje.

6.4.05

e de tudo, ao meu amor serei atento

Sim,

Tudo agora está no seu lugar
O universo até parece conspirar pra que não seja em vão,
Tanto tempo esperando esse amor

Sim,
Parece até que nada em nós mudou
Tanta coisa a gente inventou
Pra chegar afinal onde sempre eu te quis ver chegar

Paixões que eu vivi como se fosse uma,
A tua espera sempre foi assim
Contratos feitos com o tempo

Amores são sempre possíveis

Moska
um dragão por dia
verdade

a procura da verdade – seja a verdade subjetiva do convencimento, seja a objetiva da realidade, ou a social do dinheiro e poder – traz sempre consigo, se o buscador for merecedor, o conhecimento último da sua inexistência.

a arte tem valia porque nos tira de Aqui.
Meu chefe ou “pimenta no dos outros”

O Sr. R. É inglês e diplomata de carreira. Sua língua preferida é reticências.

5.4.05

parábolas de antes, piadas de hoje

algumas piadas acabam por fazer parte da vida da gente. é o caso d"o gato subiu no telhado". uma delas o A. nunca deixa de me lembrar. é essa aqui:

****************

Uma dona de casa buscava gravetos para o fogão à lenha para fazer o almoço para sua família. Cortando o galho de uma árvore tombada, seu machado caiu no rio. A mulher suplicou a Deus que lhe ajudasse. Ele apareceu e perguntou:

- Por que você está chorando?

A mulher respondeu que seu machado havia caído no rio. E Deus entrou no rio, de onde tirou um machado de ouro, e perguntou:

- É este seu machado?

A nobre mulher respondeu:

- Não, Deus, não é esse.

Deus entrou novamente no rio e tirou um machado de prata:

- É este o seu?

- Também não, respondeu a dona de casa.

Deus voltou ao rio e tirou um machado de madeira, e perguntou:

- É este teu machado?

- Sim, respondeu a nobilíssima mulher.

Deus estava contente com a sinceridade da mulher, e mandou-a de volta para casa, dando-lhe os três machados de presente. Um outro dia qualquer a mulher e seu amantíssimo marido estavam passeando no campo quando ele tropeçou e caiu no rio. A infeliz mulher, então, suplicou a Deus por ajuda. Ele apareceu e perguntou:

- Mulher, por que você está chorando?

A mulher respondeu que seu esposo caíra no rio. Imediatamente Deus mergulhou e tirou o Brad Pitt, e perguntou:

- É este seu marido?

- Sim, sim, respondeu a mulher.

E Deus se enfureceu.

- Mulher mentirosa!!! - exclamou.

Mas a mulher rapidamente se explicou:

- Deus, perdoe, foi um mal-entendido. Se eu dissesse que não, então o Senhor tiraria o Rodrigo Santoro do rio; depois, se eu dissesse que não era ele, o Senhor tiraria meu marido; e quando eu dissesse que sim, era ele, o Senhor mandaria eu ficar com os três. Mas eu sou uma humilde mulher, e não poderia cometer trigamia... Só por isso eu disse 'sim' para o primeiro deles.

E Deus achou justo, e a perdoou.

MORAL DA HISTÓRIA????
Mulher mente de um jeito que até Deus acredita...

2.4.05

Adoro livros com passagens sublinhadas.

1.4.05

Nomear não é tarefa fácil. A Lilith, por exemplo, foi um processo.

Pausa pro cafezinho. Lilith é o nome da república que morei em Ouro Preto. Lá as repúblicas ganham nomes, têm estatuto, respeitam hierarquia entre outros comportamentos sui generis, como por exemplo o arquivamento sistemático de colas.

Por falar em café, sabe a linguagem Java? O nome foi dado em homenagem à ilha de Java, de onde vinha o café consumido pela equipe da Sun.

31.3.05

A Itália é o único país em que as mulheres se arrumam para ficarem melhores que a polícia.
Durmo e desdurmo.

Do outro lado de mim toco o infinito.

30.3.05

Meu progresso é lentíssimo, componho muito pouco, não me julgo substancialmente e permanentemente escritora. Entendo que literatura é negócio de grande responsabilidade e não considero honesto rotular-se de escritor apenas quem escreva por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.
Meus amigos, meus inimigos, não reclamem do funcionalismo público, afinal que outro setor permite a contemplação necessária para que se produza boa literatura? Fernando Pessoa era funcionário público, Drummond era, Vinícius de Moraes era um notório funcionário do nosso público Itamaraty. Alimento melhor para a poesia que o erário, não houve e não há.

25.3.05

feriado é pra desfiar preguiça. tô lendo anjos e demônios. é igual ao código da vinci, mas diverte. é como assistir ao de volta para o futuro I, II e III. vai ficando um pouco mais chato no final, progressivamente.

melhorei o humor. só um pouco. tá bem, muito. acho que o stress às vezes confunde a cabeça e a gente começa a achar um monte de coisas.

é claro que continuo com inveja daquela amiga da minha mãe que largou tudo e foi viver numa fazendinha no piemonte italiano, caça trufas no bosque na estação de trufas, aquece a casa com fogão à lenha, tem no quintal aquelas galinhas tipo a Cocota, de rabo cor de mosca varejeira.

talvez tudo isso seja uma lembrança boa da Itália, que me atacou com a leitura do livro. aí fico quinem boba contando pra A. da sorveteria boa pra caramba que tem perto do Panteão, e que Bernini tirou todo o cobre do Panteão pra fazer o baldaquino da igreja de San Pietro. Aí fico parecendo metida quando não sei me referir à catedral de São Pedro como São Pedro. A. achou engraçado qunado me referi a uma pessoa como "romano". ligava a palavra a povos antigos.

mas o único movimento possível é usar a imaginação.

24.3.05

Da série: Bulas pelo mundo afora...