4.6.05

Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade,
onde a voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.

Conserva em mim ao menos a metade
do que fui de nascença e a vida esgarça:
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito.

Balançando entre o real e o irreal,
quero viver como é tua essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.

(...) Espírito mineiro, circunspecto
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embreagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doidos nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais.

(Oração do mineiro no Rio de Janeiro. Drummond In Fazendeiro do Ar)