1.6.05

Devagarinho, como quem não quer nada, seu Roque fala o que deve e o que não deve. Sofre de coceira na língua. E só se sente a gosto dando noticia de pitimba, cangapé e má fortuna. Neste ponto se parece com a nossa gente. Nem é mal de família. É de todo mundo nesta terra. Sujeitos emburrados, metidos consigo mesmos, vivendo pra dentro. Se dois se encontram e abrem a boca, falam mansinho, macio, e lá vem desgraça na certa. No fundo têm razão. Esta vida não vale nada mesmo e o melhor que se pode desejar éir remando, sem soçobrar, nesse vale de lágrimas. Otto Lara Resende

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Bem, depois de um longo divórcio, voltei aos meus livros. Estou lendo os que ficaram por acabar. Comecei pela prateleira dos mineiros.

Pausa para digressão. Na minha biblioteca eu separo os livros por temas. E assim Ottolara, Guimarães Rosa e Drummond ficam juntos por serem mineiros. O Vinícius ficou lá também, mereceu o direito por ter vivido em Ouro Preto. RubemFonseca fica perto de Poe, dO Perfume e dos Dan Brown. Por que então Stanislawsky junto dos livros de Química e Microbiologia? Por dever de ofício. E Ulysses, do Joyce, fica lá, porque tal como os companheiros de prateleira, nunca consegui ler de capa a capa este exemplar no original.

Estou me desviando do assunto. Deixo o pensamento correr e esqueço o que ia contar. Até parece conversa de seu Roque da Mutuca, que não tem fim. Mas voltei a ler meus livros inacabados. Cuidarei de um a um. Lerei, registrarei, colarei os ex libris nos que ainda não têm. E rabiscarei todos, porque adoro livros com passagens marcadas.