9.9.05

Às vezes fico tempo, muito tempo, sem conseguir escrever. É maior: não consigo literar. O ler e escrever é um não-ser. É um outro eu, o que escreve, e o que lê. E quando afasto muito de mim mesma, desisto da escrita e volto a ser.

Depois num rompante, sinto falta deste não-eu. E acordo no meio da noite e sou uma viajante em passeio por cidades invisíveis. (Livro que leio a conta-gotas, e cidades não vistas são surpresas que guardo para usá-las nestes momentos em que as palavras me fazem falta. Maravilhar-me com cidades construídas de palavras. Com o caminho linguagem-existência.)

Então me voltam, de uma só vez, o ler e o escrever. Primeiro assim, revelando um hermetismo guardado. Depois assado, no amanhecer, quando abro as janelas.