17.12.03
16.12.03
17.10.03
20.6.03
5.6.03
19.5.03
Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossivel ser feliz sozinho
O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas
Que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho a brisa e me diz
É impossivel ser feliz sozinho
Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver.
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossivel ser feliz sozinho
O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas
Que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho a brisa e me diz
É impossivel ser feliz sozinho
Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver.
15.5.03
by Nemo Nox
então negócio fechado. peguei as chaves e perguntei o endereço do meu novo estar. bem, aqui não chega correio não moça. tem que ir buscar lá na agência, é zona rural.
e vi assim realizado às avessas meu sempre desejo de morar na roça. olhei pro mar e o endereço não me importava. memoriei que geografia me é vida. no tanto percorrer o entre morros o estar entre morro e mar foi um contentamento aprendido.
abençoado sejamos nós por esses respingos de felicidade que se fazem chuva.
p.s.: Marina linda, mande mesmo pro endereço da outra, a farmacêutica. eu a pastora de nuvens recebo também.
9.5.03
caixa de entrada
O mês de maio já começou. Vou contar um causo singelo. Terça-feira voltava para casa, meio tarde, passei em frente a um boteco imundo e VI. Vi o que? Vi a garrafa de Xiboquinha na prateleira, e não resisti. Me apoiei no balcão, daquele jeito que eu gosto, engordurando os braços de memórias e escombros de coxinhas, quibes e outros salgados mais, e pedi a primeira dose. Na televisão, Casseta e Planeta (que eu odeio) estava acabando, e me lembrei que ia começar Carga Pesada. Já estava ficando excitado, que esse troço de estrada, viagem, interior do Brasil, é comigo mesmo, você sabe que eu amo. Tive, então, que tomar uma decisão firme, e decidi me apoiar mais ainda no balcão e pedir mais xiboquinhas enquanto assistia as aventuras de meus super-heróis Stenio Garcia e Antonio Fagundes. Lá entre a quarta e a quinta, já estava em lágrimas. Eu não estou exagerando, não estou adicionando toques de dramaticidade para compor o e-mail, chorei mesmo. Me emocionei com aqueles caminhões, a estrada, a biópsia de Stenio Garcia, a moça expulsa de casa que queria ver ets, essas coisas. Esse mundo de caminhoneiro me emociona muito, já disse isso e vou repetir. Com xiboquinhas, fico sensível, muito sensível, vejo beleza em quarquer coisa, e já tava pensando em sair dali e comprar um disco de música sertaneja. Sabe a emoção que é atravessar a Belém-Brasília cantando música de caminhoneiro que você acabou de aprender? É lindo, e vou parar por aqui de justificar minhas lágrimas, que foram sinceras e me fizeram feliz por uma boa horinha. Pois bem, lá para o fim do programa, o homem do boteco virou para mim e disse. "Você quer continuar? Tem algo errado com a sua bochecha.". O tempo acabou. Continuo depois.
A.
O mês de maio já começou. Vou contar um causo singelo. Terça-feira voltava para casa, meio tarde, passei em frente a um boteco imundo e VI. Vi o que? Vi a garrafa de Xiboquinha na prateleira, e não resisti. Me apoiei no balcão, daquele jeito que eu gosto, engordurando os braços de memórias e escombros de coxinhas, quibes e outros salgados mais, e pedi a primeira dose. Na televisão, Casseta e Planeta (que eu odeio) estava acabando, e me lembrei que ia começar Carga Pesada. Já estava ficando excitado, que esse troço de estrada, viagem, interior do Brasil, é comigo mesmo, você sabe que eu amo. Tive, então, que tomar uma decisão firme, e decidi me apoiar mais ainda no balcão e pedir mais xiboquinhas enquanto assistia as aventuras de meus super-heróis Stenio Garcia e Antonio Fagundes. Lá entre a quarta e a quinta, já estava em lágrimas. Eu não estou exagerando, não estou adicionando toques de dramaticidade para compor o e-mail, chorei mesmo. Me emocionei com aqueles caminhões, a estrada, a biópsia de Stenio Garcia, a moça expulsa de casa que queria ver ets, essas coisas. Esse mundo de caminhoneiro me emociona muito, já disse isso e vou repetir. Com xiboquinhas, fico sensível, muito sensível, vejo beleza em quarquer coisa, e já tava pensando em sair dali e comprar um disco de música sertaneja. Sabe a emoção que é atravessar a Belém-Brasília cantando música de caminhoneiro que você acabou de aprender? É lindo, e vou parar por aqui de justificar minhas lágrimas, que foram sinceras e me fizeram feliz por uma boa horinha. Pois bem, lá para o fim do programa, o homem do boteco virou para mim e disse. "Você quer continuar? Tem algo errado com a sua bochecha.". O tempo acabou. Continuo depois.
A.
4.5.03
horóscopo do dia
"Reflita sobre seu poder de gerar riquezas. Há pouco, a Lua nova do dia 1/5 começou um ciclo, que irá ajudá-lo a perceber melhor quais são seus talentos pouco explorados, e que podem ser instrumentos valiosos neste sentido. Há muita coisa que você pode fazer com pouco e não é tempo de desperdiçar nada!"
bons agouros.
"Reflita sobre seu poder de gerar riquezas. Há pouco, a Lua nova do dia 1/5 começou um ciclo, que irá ajudá-lo a perceber melhor quais são seus talentos pouco explorados, e que podem ser instrumentos valiosos neste sentido. Há muita coisa que você pode fazer com pouco e não é tempo de desperdiçar nada!"
bons agouros.
o perder cidades
Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça
O sair de um lugar, o chegar a um lugar, conhecido ou desconhecido,
Perco, ao partir, ao chegar, e na linha móbil que os une,
A sensação de arrepio, o medo do novo, a náusea —
Aquela náusea que é o sentimento que sabe que o corpo tem a alma,
Trinta dias de viagem, três dias de viagem, três horas de viagem —
Sempre a opressão se infiltra no fundo do meu coração.
F. Pessoa
3.5.03
1.5.03
isso não é ficção II
Era começo de outono em Paris e isso não tornava os parisienses mais simpáticos. Perguntei no meu francês possível onde, afinal, ficava a Gare de Lyon. O primeiro me apontou a direita. O segundo me apontou a esquerda. Não perguntei um terceiro.
(A França em pouquíssimo tempo me ensinou a não confiar nos transeuntes.)
Sentei num banquinho perto da Praça da Bastilha sem me conformar. Não queria mais a França. Disse num pensamento que me pareceu um grito: não saio daqui. Que venham as respostas.
E aquele velhinho de boina cinza, terno xadrez e cachecol marrom, saído de filmes franceses, sentou do meu lado, me contou sobre a Primeira Guerra e riu da antipatia dos franceses. Nasceu em Paris e morreria em Paris. E já que você vai pra Avignon, a Gare de Lyon é pra lá. E me apontou o centro.
Faço duas orações.
Era começo de outono em Paris e isso não tornava os parisienses mais simpáticos. Perguntei no meu francês possível onde, afinal, ficava a Gare de Lyon. O primeiro me apontou a direita. O segundo me apontou a esquerda. Não perguntei um terceiro.
(A França em pouquíssimo tempo me ensinou a não confiar nos transeuntes.)
Sentei num banquinho perto da Praça da Bastilha sem me conformar. Não queria mais a França. Disse num pensamento que me pareceu um grito: não saio daqui. Que venham as respostas.
E aquele velhinho de boina cinza, terno xadrez e cachecol marrom, saído de filmes franceses, sentou do meu lado, me contou sobre a Primeira Guerra e riu da antipatia dos franceses. Nasceu em Paris e morreria em Paris. E já que você vai pra Avignon, a Gare de Lyon é pra lá. E me apontou o centro.
Faço duas orações.
Aos 94 anos Henri Cartier-Bresson abre uma exposição em Paris. Foi o primeiro fotgrafo ocidental a visitar a União Soviética, em 1954. Documentou a morte de Mahatma Gandhi na Índia e a revolução Comunista na China. Leia mais na Reuters
Bresson além de história é lindo.
isso não é ficção
Não acredito em anjos de mentira.
Bem, eu precisava do passaporte em três dias senão, senão. Hoje tinha prova, amanhã aula o dia inteiro e depois de amanhã seria o dia d. A aula foi um já era e viajei 80km pra conseguir o passaporte em tempo. A Polícia Federal fecha às 4 da tarde. Ufa! Cheguei altavam 5 pras 4. Perdão moça, já distribuímos todas as senhas. Volta amanhã.
Pelamordedeus, nãofazissocomigo. Viajei 80 km e preciso do documento amanhã!, Você deve ser a 27ª pessoa com os mesmos problemas só hoje. Esquece.
Não sou de me dobrar. Bem, até sou, mas só se não for nenhum desafio. Afinal pra quê me servia aquele esforço todo de fazer uma faculdade durante o dia, trabalhar e fazer outra faculdade, de Artes Cênicas, de noite? Valei-me meu São José dos sem-vergonha na cara!
E mal comecei o discurso explicativo apelando para uma boa alma que - ao contrário de mim - tinha vindo mais cedo e esperado horas na fila, que me cedesse o lugar. Mal comecei e um senhor já sorria pra mim, o que eu meio que achei fosse um sorriso de escárnio.
'Moça, quando fui pegar minha ficha ouvi um sopro no meu ouvido: pega outra que alguém vai precisar muito! Acabei de ser atendido e tava aqui esperando pra ver se eu não tava mesmo ficando louco. Pelo jeito tava não.'
Desde então, sempre que penso se anjos existem, rezo por seu Jorge. Meu anjo de verdade.
Não acredito em anjos de mentira.
Bem, eu precisava do passaporte em três dias senão, senão. Hoje tinha prova, amanhã aula o dia inteiro e depois de amanhã seria o dia d. A aula foi um já era e viajei 80km pra conseguir o passaporte em tempo. A Polícia Federal fecha às 4 da tarde. Ufa! Cheguei altavam 5 pras 4. Perdão moça, já distribuímos todas as senhas. Volta amanhã.
Pelamordedeus, nãofazissocomigo. Viajei 80 km e preciso do documento amanhã!, Você deve ser a 27ª pessoa com os mesmos problemas só hoje. Esquece.
Não sou de me dobrar. Bem, até sou, mas só se não for nenhum desafio. Afinal pra quê me servia aquele esforço todo de fazer uma faculdade durante o dia, trabalhar e fazer outra faculdade, de Artes Cênicas, de noite? Valei-me meu São José dos sem-vergonha na cara!
E mal comecei o discurso explicativo apelando para uma boa alma que - ao contrário de mim - tinha vindo mais cedo e esperado horas na fila, que me cedesse o lugar. Mal comecei e um senhor já sorria pra mim, o que eu meio que achei fosse um sorriso de escárnio.
'Moça, quando fui pegar minha ficha ouvi um sopro no meu ouvido: pega outra que alguém vai precisar muito! Acabei de ser atendido e tava aqui esperando pra ver se eu não tava mesmo ficando louco. Pelo jeito tava não.'
Desde então, sempre que penso se anjos existem, rezo por seu Jorge. Meu anjo de verdade.
30.4.03
29.4.03
pois sem voc� vou ficar loucoooo
houve um tempo... aquilo n�o era trabalho, n�o tinha chefe, nem funcion�rio e nem sal�rio. mas era um sonho de crian�a, um Bye Bye Brasil. vida era acordar cedo, comer p�o na padaria e ir procurar o padre para que emprestasse a sacristia pra passar divers�o. se n�o tinha sacristia era mesmo a escola ou a pra�a. as cadeiras vinham do grupo da terceira idade, ou da escola para a pra�a.
(uma vez um velhinho, 80 anos, ajudando a recolher as cadeiras tarde da noite, �n�o precisa�, �liga n�o, sempre fa�o isso l� na terceira idade�. ai, ai... )
aprendi a gostar de outros gostos. a enxergar as coisas diferentes com uma curiosidade maior que a do gato. hoje ganhei a trilha sonora de uma dessas divers�es.
v� s� se existe melhor que essa pra fazer faxina? entre o vasculhar o teto e o varrer a quina a vassoura serve de microfone - 'eu vou rifar meu cora��o, vou fazer leil�o' - e a gente ri e a vida fica mais feliz.
Dom�sticas, A Trilha
1 - Eu Vou Rifar Meu Cora��o (Lindomar Castilho)
2 - N�o Se V� (Jane e Horondy)
3 - Domingo Feliz (Angelo M�ximo)
4 - Eu N�o Sou Cachorro, N�o (Waldick Soriano)
5 - A Namorada que Sonhei (Nilton C�sar)
6 - Filho (Amado Batista)
7 - Ama-me (Jane e Herondy)
8 - Voc� � Tudo Pra Mim (Angelo M�ximo)
9 - Voc� � Doida Demais (Lindomar Castilho)
10 - Estrada do Sol (Perla)
11 - Me Deixe Te Esquecer (Gilliard)
12 - Tenho (Sidney Magal)
houve um tempo... aquilo n�o era trabalho, n�o tinha chefe, nem funcion�rio e nem sal�rio. mas era um sonho de crian�a, um Bye Bye Brasil. vida era acordar cedo, comer p�o na padaria e ir procurar o padre para que emprestasse a sacristia pra passar divers�o. se n�o tinha sacristia era mesmo a escola ou a pra�a. as cadeiras vinham do grupo da terceira idade, ou da escola para a pra�a.
(uma vez um velhinho, 80 anos, ajudando a recolher as cadeiras tarde da noite, �n�o precisa�, �liga n�o, sempre fa�o isso l� na terceira idade�. ai, ai... )
aprendi a gostar de outros gostos. a enxergar as coisas diferentes com uma curiosidade maior que a do gato. hoje ganhei a trilha sonora de uma dessas divers�es.
v� s� se existe melhor que essa pra fazer faxina? entre o vasculhar o teto e o varrer a quina a vassoura serve de microfone - 'eu vou rifar meu cora��o, vou fazer leil�o' - e a gente ri e a vida fica mais feliz.
Dom�sticas, A Trilha
1 - Eu Vou Rifar Meu Cora��o (Lindomar Castilho)
2 - N�o Se V� (Jane e Horondy)
3 - Domingo Feliz (Angelo M�ximo)
4 - Eu N�o Sou Cachorro, N�o (Waldick Soriano)
5 - A Namorada que Sonhei (Nilton C�sar)
6 - Filho (Amado Batista)
7 - Ama-me (Jane e Herondy)
8 - Voc� � Tudo Pra Mim (Angelo M�ximo)
9 - Voc� � Doida Demais (Lindomar Castilho)
10 - Estrada do Sol (Perla)
11 - Me Deixe Te Esquecer (Gilliard)
12 - Tenho (Sidney Magal)
a alma encantadora das ruas
�Para compreender a psicologia da rua (...) � preciso ter esp�rito vagabundo, cheio de curiosidades mals�s e os nervos com um perp�tuo desejo incompreens�vel, � preciso ser aquele que chamamos fl�neur e praticar o mais interessante dos esportes � a arte de flanar. � fatigante o exerc�cio? (...) Para os iniciados sempre foi grande regalo.
� vagabundagem? Talvez. Flanar � a distin��o de perambular com intelig�ncia. Nada como o in�til para ser art�stico. Da� o desocupado fl�neur ter sempre na mente dez mil coisas necess�rias, imprescind�veis, que podem ficar eternamente adiadas. Do alto de uma janela como Paul Adam, admira o caleidosc�pio da vida no ep�tome delirante que � a rua; � porta do caf�, como Poe no Homem da Multid�es, dedica-se ao exerc�cio de adivinhar as profiss�es, as preocupa��es e at� os crimes dos transeuntes.�
Jo�o do Rio
�Para compreender a psicologia da rua (...) � preciso ter esp�rito vagabundo, cheio de curiosidades mals�s e os nervos com um perp�tuo desejo incompreens�vel, � preciso ser aquele que chamamos fl�neur e praticar o mais interessante dos esportes � a arte de flanar. � fatigante o exerc�cio? (...) Para os iniciados sempre foi grande regalo.
� vagabundagem? Talvez. Flanar � a distin��o de perambular com intelig�ncia. Nada como o in�til para ser art�stico. Da� o desocupado fl�neur ter sempre na mente dez mil coisas necess�rias, imprescind�veis, que podem ficar eternamente adiadas. Do alto de uma janela como Paul Adam, admira o caleidosc�pio da vida no ep�tome delirante que � a rua; � porta do caf�, como Poe no Homem da Multid�es, dedica-se ao exerc�cio de adivinhar as profiss�es, as preocupa��es e at� os crimes dos transeuntes.�
Jo�o do Rio
28.4.03
estranhezas, ou the odds of that
Indagado por agentes federais sobre a raz�o do seu mete�rico sucesso nas Bolsas de Valores americanas (em duas semanas transformou 800 d�lares em 350 milh�es) Andrew Carlssin, um investidor de 44 anos, confessou que era um viajante do tempo proveniente de 2256.
Como prova do seu testemunho, o turista detalhou alguns "fatos hist�ricos" tais como a cura da AIDS e o paradeiro de Osama Bin Laden. Recusou-se entretanto a revelar detalhes tecnol�gicos da m�quina que o trouxe at� aqui. O mais intrigante � que os agentes ainda n�o encontraram nenhum registro existente sobre qualquer Andrew Carlssin antes de dezembro de 2002.
A reportagem completa : "Time-traveler busted for insider trading"
Li primeiro aqui.
Indagado por agentes federais sobre a raz�o do seu mete�rico sucesso nas Bolsas de Valores americanas (em duas semanas transformou 800 d�lares em 350 milh�es) Andrew Carlssin, um investidor de 44 anos, confessou que era um viajante do tempo proveniente de 2256.
Como prova do seu testemunho, o turista detalhou alguns "fatos hist�ricos" tais como a cura da AIDS e o paradeiro de Osama Bin Laden. Recusou-se entretanto a revelar detalhes tecnol�gicos da m�quina que o trouxe at� aqui. O mais intrigante � que os agentes ainda n�o encontraram nenhum registro existente sobre qualquer Andrew Carlssin antes de dezembro de 2002.
A reportagem completa : "Time-traveler busted for insider trading"
Li primeiro aqui.
not�cias
Vivo num tempo el�stico e, definitivamente, n�o sou nem sei a bola da vez. Quando li - no banheiro - a not�cia da morte de M�rio Covas e sa� chorando recebi um riso em troca, mas j� faz uma semana! N�o vi o nascimento da Sacha e s� vi os avi�es se chocarem com o World Trade Center por causa de uma dor de cabe�a que me deixou de cama. Vantagem? S� a de n�o perder a capacidade de me admirar com uma not�cia antiga, principalmente por um esquecimento que me faz admirar tr�s vezes com a mesma not�cia.
Continuo sendo uma boa companhia para papos de bar. Como diz A., bom mesmo � poder cansar de tanto me ouvir escutar.
Mas vou fazer um esforcinho pra saber o que estar� nos consult�rios dos dentistas daqui uns dois anos.
Veja
Frases
* "Gostaria de pedir que baixem as faixas, inclusive a gloriosa Liga Oper�ria, que de oper�rio, que � bom..."
Luiz In�cio Lula da Silva, presidente da Rep�blica, em Ouro Preto, ironizando um grupo de manifestantes
* "Por alguma raz�o, nada me parece t�o l�brico e devasso quanto an�es besuntados numa orgia. Mas n�o falo por experi�ncia."
Luiz Fernando Verissimo, em entrevista � revista Oi de abril
Holofote
* Divulgada: a condena��o da atriz iraniana Gowhar Kheirandish a 74 chicotadas, por beijar em p�blico o rosto de um ator. O cumprimento ocorreu durante um festival de cinema e provocou protestos. A lei isl�mica pro�be contatos em p�blico entre homens e mulheres que n�o sejam parentes. O beijo � considerado uma das maiores transgress�es. Gowhar s� levar� a surra se repetir o ato. Dia 23, em Teer�.
* Nina Simone morreu no dia 21, em Carry-le-Rouet, Fran�a, de causa n�o revelada. Nos �ltimos anos, ia para o palco numa cadeira de rodas.
P�ginas Amarelas
"O principal papel do romance, ao menos nos Estados Unidos, sempre foi educar." Scott Turow
Ah t�.
T� mau e t� bom. Vou voltar ao Cyrano de Bergerac. (Ai meu Deus, de novo n�o.)
Vivo num tempo el�stico e, definitivamente, n�o sou nem sei a bola da vez. Quando li - no banheiro - a not�cia da morte de M�rio Covas e sa� chorando recebi um riso em troca, mas j� faz uma semana! N�o vi o nascimento da Sacha e s� vi os avi�es se chocarem com o World Trade Center por causa de uma dor de cabe�a que me deixou de cama. Vantagem? S� a de n�o perder a capacidade de me admirar com uma not�cia antiga, principalmente por um esquecimento que me faz admirar tr�s vezes com a mesma not�cia.
Continuo sendo uma boa companhia para papos de bar. Como diz A., bom mesmo � poder cansar de tanto me ouvir escutar.
Mas vou fazer um esforcinho pra saber o que estar� nos consult�rios dos dentistas daqui uns dois anos.
Veja
Frases
* "Gostaria de pedir que baixem as faixas, inclusive a gloriosa Liga Oper�ria, que de oper�rio, que � bom..."
Luiz In�cio Lula da Silva, presidente da Rep�blica, em Ouro Preto, ironizando um grupo de manifestantes
* "Por alguma raz�o, nada me parece t�o l�brico e devasso quanto an�es besuntados numa orgia. Mas n�o falo por experi�ncia."
Luiz Fernando Verissimo, em entrevista � revista Oi de abril
Holofote
* Divulgada: a condena��o da atriz iraniana Gowhar Kheirandish a 74 chicotadas, por beijar em p�blico o rosto de um ator. O cumprimento ocorreu durante um festival de cinema e provocou protestos. A lei isl�mica pro�be contatos em p�blico entre homens e mulheres que n�o sejam parentes. O beijo � considerado uma das maiores transgress�es. Gowhar s� levar� a surra se repetir o ato. Dia 23, em Teer�.
* Nina Simone morreu no dia 21, em Carry-le-Rouet, Fran�a, de causa n�o revelada. Nos �ltimos anos, ia para o palco numa cadeira de rodas.
P�ginas Amarelas
"O principal papel do romance, ao menos nos Estados Unidos, sempre foi educar." Scott Turow
Ah t�.
T� mau e t� bom. Vou voltar ao Cyrano de Bergerac. (Ai meu Deus, de novo n�o.)
27.4.03
pena
- Voc� me sufoca, com essa mania louca de n�o dizer nada, mas com um olhar de quem diz tudo. Voc� me desorienta com essas ambig�idades. N�o sei como agir. Voc� se mostra como uma pessoa apaixonada, deliciosamente entregue. Est� tudo nos seus olhos. Voc� me seduz com palavras doces. Voc� me envolve e depois n�o diz nada. Sil�ncio. Sil�ncio. Sil�ncio. Eu quero que sua boca assuma o compromisso firmado pelos seus olhares, quero que seu corpo cumpra com o pactuado pelo gestual.
- Tenho receio de falar...
- � esse seu medo que alimenta minha paix�o, que nutre meus mais profundos e ineg�veis sentimentos. � esse receio inexplic�vel que a faz emudecer, e � mesma propor��o provoca uma gritaria dentro de mim. N�o consigo viver nessa situa��o de ang�stia, de n�o-dizeres, de sil�ncios e imagina��es. Quero a verdade, quero defini��es, quero objetividade. Eu quero uma resposta para tudo que eu sinto e vivo!
- Mesmo?
- Sim, quero isso! Acho que mere�o. Acho que diante de tudo que sinto ao menos uma explica��o eu mere�o. Tenho direito de saber qual o destino disso tudo que sinto, sinto-me em condi��o de ter acesso a essa informa��o. Por favor, diga para mim. Fala sobre seu olhar, seu sil�ncio, seus gestos. N�o pergunte se pode, fa�a! N�o pe�a permiss�o, invada! N�o tente ser sutil, arrase!
- Olha, ent�o vou falar...
- Fala tudo!
- Pois bem... Voc� � uma pessoa paran�ica, que simplesmente inventou um amor criado exclusivamente na sua cabe�a. Nunca passei de um olhar, porque n�o quis passar de um olhar. Ali�s, nunca olhei para voc� de modo diferente com que olho para as outras coisas. Queria que olhasse de olhos fechados? Ou prefere que fale sem olhar para voc�? J� lhe ocorreu que tenho boca e que, por acaso, n�o sou uma pessoa t�mida? J� passou pela sua cabe�a que est� mais do que na cara essa sua inten��o? Por algum acaso voc� j� tentou supor que eu teria simplesmente dito tudo isso que voc� acredita que eu possa sentir, caso fosse verdade?
- ...
- Agora fica a�... Esse sil�ncio rid�culo de quem n�o aceita o mundo real.
- Voc� me sufoca, com essa mania louca de n�o dizer nada, mas com um olhar de quem diz tudo. Voc� me desorienta com essas ambig�idades. N�o sei como agir. Voc� se mostra como uma pessoa apaixonada, deliciosamente entregue. Est� tudo nos seus olhos. Voc� me seduz com palavras doces. Voc� me envolve e depois n�o diz nada. Sil�ncio. Sil�ncio. Sil�ncio. Eu quero que sua boca assuma o compromisso firmado pelos seus olhares, quero que seu corpo cumpra com o pactuado pelo gestual.
- Tenho receio de falar...
- � esse seu medo que alimenta minha paix�o, que nutre meus mais profundos e ineg�veis sentimentos. � esse receio inexplic�vel que a faz emudecer, e � mesma propor��o provoca uma gritaria dentro de mim. N�o consigo viver nessa situa��o de ang�stia, de n�o-dizeres, de sil�ncios e imagina��es. Quero a verdade, quero defini��es, quero objetividade. Eu quero uma resposta para tudo que eu sinto e vivo!
- Mesmo?
- Sim, quero isso! Acho que mere�o. Acho que diante de tudo que sinto ao menos uma explica��o eu mere�o. Tenho direito de saber qual o destino disso tudo que sinto, sinto-me em condi��o de ter acesso a essa informa��o. Por favor, diga para mim. Fala sobre seu olhar, seu sil�ncio, seus gestos. N�o pergunte se pode, fa�a! N�o pe�a permiss�o, invada! N�o tente ser sutil, arrase!
- Olha, ent�o vou falar...
- Fala tudo!
- Pois bem... Voc� � uma pessoa paran�ica, que simplesmente inventou um amor criado exclusivamente na sua cabe�a. Nunca passei de um olhar, porque n�o quis passar de um olhar. Ali�s, nunca olhei para voc� de modo diferente com que olho para as outras coisas. Queria que olhasse de olhos fechados? Ou prefere que fale sem olhar para voc�? J� lhe ocorreu que tenho boca e que, por acaso, n�o sou uma pessoa t�mida? J� passou pela sua cabe�a que est� mais do que na cara essa sua inten��o? Por algum acaso voc� j� tentou supor que eu teria simplesmente dito tudo isso que voc� acredita que eu possa sentir, caso fosse verdade?
- ...
- Agora fica a�... Esse sil�ncio rid�culo de quem n�o aceita o mundo real.
26.4.03
esquecer, lembrar
escrever um diário me torna testemunha da minha própria história. não escrevo tudo: filtro. mas o filtro é peneira de palha de batear feijão. e isso.
ou aquilo quando vida vem fantasiada de outra vida. mas é mesmo minha.
as maiores lonjuras de minha vida ficam aqui, canastrinha. aí, entre portos, abro o baú e finjo que o choro é alergia.
arquivo I
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
arquivo II
Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos de outras terras, queria mesmo neste instante era voltar.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
escrever um diário me torna testemunha da minha própria história. não escrevo tudo: filtro. mas o filtro é peneira de palha de batear feijão. e isso.
ou aquilo quando vida vem fantasiada de outra vida. mas é mesmo minha.
as maiores lonjuras de minha vida ficam aqui, canastrinha. aí, entre portos, abro o baú e finjo que o choro é alergia.
arquivo I
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
arquivo II
Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos de outras terras, queria mesmo neste instante era voltar.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
Aquele um. Uns 50 anos, budista. Ganhou dinheiro na vida pra não precisar ganhar mais. Aquele homem. De-cocorados na pirambeira, n�s: olhando o horizonte.
- O que é melhor da vida? é o silêncio, um intervalo.
- Amigos, gostar deles, sentir falta. Conversa fiada, pra pagar depois com moeda oi, suas queridas alegriazinhas.
.
.
.
- E o silêncio trocado assim, por outro silêncio, matuto eu.
(E abrimos lonjuras e profundidades nuns sorrisos. Estamos todos certos.)
25.4.03
23.4.03
21.4.03
princesas
No quando em que ela me media em poucos palmos me ensinou tamb�m a tampar os ouvidos sem usar as m�os. Reinventava os irm�os Grimm e me protegia do escuro.
Eu sonhava que ela era uma princesa n�bia - ainda n�o sei o que � uma princesa n�bia, mas parecia digno.
Ela me fez perder o medo dos bichos-pregui�a que me pareciam monstros mais perigosos que o jacarepagu� ou a cuca. Hoje me segredou que tamb�m tinha medo delas, as pregui�as que moravam nas �rvores na frente da casa, e seus olhos verde-folha de princesa n�bia rebrilharam de passado.
No quando em que ela me media em poucos palmos me ensinou tamb�m a tampar os ouvidos sem usar as m�os. Reinventava os irm�os Grimm e me protegia do escuro.
Eu sonhava que ela era uma princesa n�bia - ainda n�o sei o que � uma princesa n�bia, mas parecia digno.
Ela me fez perder o medo dos bichos-pregui�a que me pareciam monstros mais perigosos que o jacarepagu� ou a cuca. Hoje me segredou que tamb�m tinha medo delas, as pregui�as que moravam nas �rvores na frente da casa, e seus olhos verde-folha de princesa n�bia rebrilharam de passado.
17.4.03
O que ele segundas vezes dera a entender, atravessando em meias palavras: que uma criatura entre todos os melindres crescida e acostumada, que certamente havia de definhar, caso n�o tivessem com ela a servi�ncia desses tratos - conforme que planta alegrete, quando se demuda, carece de vir com o grosso da terra pr�pria das ra�zes, como protesta��o.
G.R.
G.R.
16.4.03
Saddam Hussein
"O presidente iraquiano n�o assina seus livros, por sinal, at� agora, dois romances.
Eles trazem estampado na capa apenas a seguinte tautologia: "Um livro escrito pelo seu autor"."
"O presidente iraquiano n�o assina seus livros, por sinal, at� agora, dois romances.
Eles trazem estampado na capa apenas a seguinte tautologia: "Um livro escrito pelo seu autor"."
15.4.03
jardins suspensos da babil�nia
Minha primeira mem�ria visual de Ouro Preto foi um jardim suspenso de hort�nsias, as flores se erguiam acima das nossas cabe�as, acima de um muro de canga � uma pedra t�pica dos muros da cidade. Essa maravilha ficava ainda na principal ladeira de Ouro Preto, no come�o da Rua Direita.
Nos mudamos para a casinha amarela ao lado do jardim, e a florada de hort�nsias e o cheiro dos pessegueiros tornava a vida mais f�cil.
Um dia, pra ter tamb�m meu pr�prio jardim suspenso, quis colocar uma daquelas jardineiras de ferro na janela da casa. Liguei pro IPHAN.
(Sabe aquela moda de pintar as casas de �ocre�? O IPHAN, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional de Ouro Preto n�o permitiu que chegasse � cidade. Acertadamente, n�o se pode intervir na fachada das casas, nem nas cores. Nunca entendi aquela casinha amarela.)
- Oi. Gostaria de colocar umas jardineiras com flores nas janelas, posso?
- Onde voc� mora?
(dei o endere�o)
- Ah, bem, n�o � comigo. Me d� seu telefone que eu retorno.
Nunca retornaram e acabei por desistir dos meus jardins suspensos. Ah, e o jardim de hort�nsias virou um estacionamento com entrada pela rua de tr�s.
Minha primeira mem�ria visual de Ouro Preto foi um jardim suspenso de hort�nsias, as flores se erguiam acima das nossas cabe�as, acima de um muro de canga � uma pedra t�pica dos muros da cidade. Essa maravilha ficava ainda na principal ladeira de Ouro Preto, no come�o da Rua Direita.
Nos mudamos para a casinha amarela ao lado do jardim, e a florada de hort�nsias e o cheiro dos pessegueiros tornava a vida mais f�cil.
Um dia, pra ter tamb�m meu pr�prio jardim suspenso, quis colocar uma daquelas jardineiras de ferro na janela da casa. Liguei pro IPHAN.
(Sabe aquela moda de pintar as casas de �ocre�? O IPHAN, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional de Ouro Preto n�o permitiu que chegasse � cidade. Acertadamente, n�o se pode intervir na fachada das casas, nem nas cores. Nunca entendi aquela casinha amarela.)
- Oi. Gostaria de colocar umas jardineiras com flores nas janelas, posso?
- Onde voc� mora?
(dei o endere�o)
- Ah, bem, n�o � comigo. Me d� seu telefone que eu retorno.
Nunca retornaram e acabei por desistir dos meus jardins suspensos. Ah, e o jardim de hort�nsias virou um estacionamento com entrada pela rua de tr�s.
barata atr�s da orelha
N�o sou de polemizar, nem de alimentar pol�micas. Este n�o � o meu tom. Mas � ineg�vel que �foi fogo colocado� foi uma frase que escapuliu da minha boca � primeira not�cia. Meu pai disse �quem seria capaz? � colocar fogo em dinheiro e cultura ao mesmo tempo.�
Volto atr�s uns tr�s anos e lembro da reforma do casar�o que hoje � uma pousada de luxo ao lado do bar das coxinhas � copo sujo tradicional. N�o se pode intervir nas fachadas, tudo pode ser modificado por dentro, mas na frente, nada. Ent�o as reformas nas casas de pau-a-pique s�o feitas escorando-se as fachadas enquanto o resto � posto � baixo. Acontece que esse escoramento tem que ser feito por fora, nas cal�adas, que s�o estreitas nesta cidade colonial. Ent�o, a interven��o no fluxo de pessoas � multada em mais de mil reais POR DIA.
O custo das reformas � alt�ssimo e, diferentemente de Salvador, onde a prefeitura ajuda financeiramente nas reformas das casas do centro hist�rico, em Ouro Preto o IPHAN � pobre de recursos e rico de cobran�as. Correto, mas pouco construtivo e de parcos resultados.
Com o alto custo das reformas e o alto retorno dos seguros n�o � de se admirar que suic�dios disfar�ados de acidentes aconte�am.
N�o sou de polemizar, nem de alimentar pol�micas. Este n�o � o meu tom. Mas � ineg�vel que �foi fogo colocado� foi uma frase que escapuliu da minha boca � primeira not�cia. Meu pai disse �quem seria capaz? � colocar fogo em dinheiro e cultura ao mesmo tempo.�
Volto atr�s uns tr�s anos e lembro da reforma do casar�o que hoje � uma pousada de luxo ao lado do bar das coxinhas � copo sujo tradicional. N�o se pode intervir nas fachadas, tudo pode ser modificado por dentro, mas na frente, nada. Ent�o as reformas nas casas de pau-a-pique s�o feitas escorando-se as fachadas enquanto o resto � posto � baixo. Acontece que esse escoramento tem que ser feito por fora, nas cal�adas, que s�o estreitas nesta cidade colonial. Ent�o, a interven��o no fluxo de pessoas � multada em mais de mil reais POR DIA.
O custo das reformas � alt�ssimo e, diferentemente de Salvador, onde a prefeitura ajuda financeiramente nas reformas das casas do centro hist�rico, em Ouro Preto o IPHAN � pobre de recursos e rico de cobran�as. Correto, mas pouco construtivo e de parcos resultados.
Com o alto custo das reformas e o alto retorno dos seguros n�o � de se admirar que suic�dios disfar�ados de acidentes aconte�am.
14.4.03
futuros, presentes e passados
N�o importa que a tenham demolido:
A gente continua morando na velha casa em que nasceu.
M�rio Quintana
reciclagem de post
Escrevi esse texto h� muito tempo atr�s. N�o mudei. Ainda sinto saudades de n�o-sei-o-qu�. N�o falo muito bem o franc�s.
"Me sinto sempre repetitiva. Nunca vou ser avant gard. Sou esgar�ada e sou sint�tica. Fa�o s�ntese dos outros. Sou pl�gio. N�o sou moda. N�o inventarei uma nouvelle vague. Nunca falarei franc�s. Afora isso tenho em mim uma sede que n�o se farta nunca. Sinto falta do que n�o conhe�o e no mesmo peito guardo um desejo enorme de s� saber de cheiro de hortel�. Mais nada quero. Talvez capim-lim�o.
Quero dormir de flanela e acordar de orvalho. Acordar de amor e de cheiro de p�o quente e caf� coado. Acordar de amada." Jan/01
A gente continua morando na velha casa em que nasceu.
M�rio Quintana
reciclagem de post
Escrevi esse texto h� muito tempo atr�s. N�o mudei. Ainda sinto saudades de n�o-sei-o-qu�. N�o falo muito bem o franc�s.
"Me sinto sempre repetitiva. Nunca vou ser avant gard. Sou esgar�ada e sou sint�tica. Fa�o s�ntese dos outros. Sou pl�gio. N�o sou moda. N�o inventarei uma nouvelle vague. Nunca falarei franc�s. Afora isso tenho em mim uma sede que n�o se farta nunca. Sinto falta do que n�o conhe�o e no mesmo peito guardo um desejo enorme de s� saber de cheiro de hortel�. Mais nada quero. Talvez capim-lim�o.
Quero dormir de flanela e acordar de orvalho. Acordar de amor e de cheiro de p�o quente e caf� coado. Acordar de amada." Jan/01
12.4.03
10.4.03
lavoisier
Fico pensando... pra quem � que eu escrevo? Sinto estranhezas, quando em vez. Se escrevo pra mim, por qu� me importo tanto em ocultar vagalumezinhos de segredos? Mas, distra�da, revelo afastadas coisas, que se ocultavam de meu pr�prio pensamento.
Pensava nisso, e como nos atos falhos descritos pelos psicanalistas abri um livro.Tu, que me l�s, est�s seguro de que entende minha linguagem? Nada em mim � novidade. Nem as minhas d�vidas. O trecho � dA Biblioteca de Babel, Jorge L. Borges. A marca��o torta, feita com aqueles l�pis de miolo escuro e pintura verde, t�o f�ceis de achar nas minhas gavetas.
(J., o que eu (n�o) disse no �ltimo post: a boca que escarra � a mesma que beija.)
Fico pensando... pra quem � que eu escrevo? Sinto estranhezas, quando em vez. Se escrevo pra mim, por qu� me importo tanto em ocultar vagalumezinhos de segredos? Mas, distra�da, revelo afastadas coisas, que se ocultavam de meu pr�prio pensamento.
Pensava nisso, e como nos atos falhos descritos pelos psicanalistas abri um livro.Tu, que me l�s, est�s seguro de que entende minha linguagem? Nada em mim � novidade. Nem as minhas d�vidas. O trecho � dA Biblioteca de Babel, Jorge L. Borges. A marca��o torta, feita com aqueles l�pis de miolo escuro e pintura verde, t�o f�ceis de achar nas minhas gavetas.
(J., o que eu (n�o) disse no �ltimo post: a boca que escarra � a mesma que beija.)
9.4.03
by Cartier-Bresson
guerra
eu
estou
te pedindo
querida � pra
que mais poderia um
n�o mas n�o � o que
claro mas voc� n�o parece
entender que eu n�o posso ser
mais claro a guerra n�o � o que
imaginamos mas por favor pelo amor de Oh
que diabo sim � verdade que fui
eu mas esse eu n�o sou eu
voc� n�o v� que agora n�o nem
sequer cristo mas voc�
precisa compreender
como porque
eu estou
morto
e.e.cummings
fim de novela
A primeira vez que ouvi falar de Ana N�ri foi "enfermeira, 7 letras?". Respondeu minha m�e, que tinha por v�cio herdado as pavalvras cruzadas, enciclop�dias e o Almanaque Abril. Foi muma daquelas enciclop�dias de livros pesados com capa vermelha que li pra logo esquecer sobre Anita Garibaldi.
Na It�lia (P�dova?) vi uma est�tua eq�estre que me voltou o passo. Era Garibaldi e um agradecimento � Anita. Continuo a tomar o rem�dio pra mem�ria, mas n�o � um problema s� meu.
(Ai meu Deus, ser� que toda essa fase � mais Huperzia serrata que volta pra casa?)
A primeira vez que ouvi falar de Ana N�ri foi "enfermeira, 7 letras?". Respondeu minha m�e, que tinha por v�cio herdado as pavalvras cruzadas, enciclop�dias e o Almanaque Abril. Foi muma daquelas enciclop�dias de livros pesados com capa vermelha que li pra logo esquecer sobre Anita Garibaldi.
Na It�lia (P�dova?) vi uma est�tua eq�estre que me voltou o passo. Era Garibaldi e um agradecimento � Anita. Continuo a tomar o rem�dio pra mem�ria, mas n�o � um problema s� meu.
(Ai meu Deus, ser� que toda essa fase � mais Huperzia serrata que volta pra casa?)
8.4.03
caixa de entrada
"por aqui as coisas vao indo, hora otimas, hora pessimas e na maioria das vezes mais ou menos, como em qualquer lugar... acho que a diferenca eh que agora caminho para um estado de maior tranquilidade comigo e com o tanto que a vida eh besta mesmo... a gente empolga, ri ateh dar dor de barriga, depois sooofre, quer morrer, come um balde de pudim de vanilla e volta tudo ao normal..."
(Minha irm�zinha � assim... acha que n�o existe nada nesse mundo que mere�a mai�sculas. Eu acho que ELA merece.)
"por aqui as coisas vao indo, hora otimas, hora pessimas e na maioria das vezes mais ou menos, como em qualquer lugar... acho que a diferenca eh que agora caminho para um estado de maior tranquilidade comigo e com o tanto que a vida eh besta mesmo... a gente empolga, ri ateh dar dor de barriga, depois sooofre, quer morrer, come um balde de pudim de vanilla e volta tudo ao normal..."
(Minha irm�zinha � assim... acha que n�o existe nada nesse mundo que mere�a mai�sculas. Eu acho que ELA merece.)
nem tudo que eu gosto eu como
Mais que um doce, quase um artesanato. Cortavam-se tiras finas de mam�o verde que eram cuidadosamente transformadas em rolinhos. Os rolinhos eram costurados para que n�o se desfizessem. No dia da feitura o ch�o da cozinha era forrado com folhas de jornais, n�o sei se por por culpa do doce de banana, que por uma tradi��o inventada era produzido no mesmo dia e soltava seus tiros vermelhos para o alto.
Os bordadinhos de mam�o eram cozidos numa calda doce e depois ocupavam as compoteiras que s� sa�am do repouso na cristaleira para esse fim.
- N�o vai comer seu doce favorito? Fiz pra voc�!
- Mas... eu n�o gosto desse doce.
- Como? Gostava tanto quando era pequena...
- Ah... eu gostava era de ver.
(Neste dia se decobriu que ningu�m gostava do doce. Todo mundo aqui em casa gostava mesmo era do artesnato.)
Mais que um doce, quase um artesanato. Cortavam-se tiras finas de mam�o verde que eram cuidadosamente transformadas em rolinhos. Os rolinhos eram costurados para que n�o se desfizessem. No dia da feitura o ch�o da cozinha era forrado com folhas de jornais, n�o sei se por por culpa do doce de banana, que por uma tradi��o inventada era produzido no mesmo dia e soltava seus tiros vermelhos para o alto.
Os bordadinhos de mam�o eram cozidos numa calda doce e depois ocupavam as compoteiras que s� sa�am do repouso na cristaleira para esse fim.
- N�o vai comer seu doce favorito? Fiz pra voc�!
- Mas... eu n�o gosto desse doce.
- Como? Gostava tanto quando era pequena...
- Ah... eu gostava era de ver.
(Neste dia se decobriu que ningu�m gostava do doce. Todo mundo aqui em casa gostava mesmo era do artesnato.)
ferramentas
O Blogger � um ser que funciona segundo suas varia��o de temperamento. Tem vez que publica tr�s mesmos posts. Tem vez que bate o p� e me manda ir � posta. Empaca.
A�, pra corrigir uma dessas crises deletei o post errado e com ele foi junto o coment�rio lindo do Inagaki. Merece reprise, esse poeta da prosa.
"Cada um possui a sua madeleine particular. E eu tamb�m gostava de, n�o sem uma r�stia de remorso, esmagar algumas folhas de samambaia a fim de garimpar aqueles c�rculos na bateia da minha m�o."
O Blogger � um ser que funciona segundo suas varia��o de temperamento. Tem vez que publica tr�s mesmos posts. Tem vez que bate o p� e me manda ir � posta. Empaca.
A�, pra corrigir uma dessas crises deletei o post errado e com ele foi junto o coment�rio lindo do Inagaki. Merece reprise, esse poeta da prosa.
"Cada um possui a sua madeleine particular. E eu tamb�m gostava de, n�o sem uma r�stia de remorso, esmagar algumas folhas de samambaia a fim de garimpar aqueles c�rculos na bateia da minha m�o."
7.4.03
bisav�
Aquela casa tinha o cheiro quente que t�m as casas com muitos m�veis. Na varanda com vista para quem vinha, a cadeira de balan�o de palhinha e madeira escura. Desde aquele longo ent�o, todas as cadeiras de balan�o me s�o m�quina do tempo, me levando de volta �quela casa, �quela varanda cheia de samambaias choronas, que mesmo dependuradas no teto alcan�avam a minha m�o de menina. M�o esta que experimentava um certo prazer em arrancar pedacinhos das folhas e desfazer aqueles pequenos c�rculos marrons com as unhas.
Aquela casa tinha o cheiro quente que t�m as casas com muitos m�veis. Na varanda com vista para quem vinha, a cadeira de balan�o de palhinha e madeira escura. Desde aquele longo ent�o, todas as cadeiras de balan�o me s�o m�quina do tempo, me levando de volta �quela casa, �quela varanda cheia de samambaias choronas, que mesmo dependuradas no teto alcan�avam a minha m�o de menina. M�o esta que experimentava um certo prazer em arrancar pedacinhos das folhas e desfazer aqueles pequenos c�rculos marrons com as unhas.
marmita II
Minha mem�ria gosta de passear por caminhos curvos. Minha irm�zinha, Quel, me levou a Manoel de Barros. Que me levou de volta � Quel, desta vez mensageira do devir (geralmente pastora de nuvens), na sala com um livro na m�o e olhos vidrados, um navio � o mundo. isto do ponto de vista dos grilos..
O livro era O fazedor de amanhecer, Manoel de Barros com ilustra��o do Ziraldo. E o guru Google me contou que ele ganhou o premio Jabuti como o Livro do Ano na categoria fic��o em 2002. � um livro pra crian�as. O Jabuti � um bicho surpreendente, mas no bom sentido.
Minha mem�ria gosta de passear por caminhos curvos. Minha irm�zinha, Quel, me levou a Manoel de Barros. Que me levou de volta � Quel, desta vez mensageira do devir (geralmente pastora de nuvens), na sala com um livro na m�o e olhos vidrados, um navio � o mundo. isto do ponto de vista dos grilos..
O livro era O fazedor de amanhecer, Manoel de Barros com ilustra��o do Ziraldo. E o guru Google me contou que ele ganhou o premio Jabuti como o Livro do Ano na categoria fic��o em 2002. � um livro pra crian�as. O Jabuti � um bicho surpreendente, mas no bom sentido.
"O tema do poeta � sempre ele mesmo. Ele � um narcisista: exp�e o mundo atrav�s dele mesmo. Ele quer ser o mundo, e pelas inquieta��es dele, desejos, esperan�as, o mundo aparece. Atrav�s de sua ess�ncia, a ess�ncia do mundo consegue aparecer. O tema da minha poesia sou eu mesmo e eu sou pantaneiro. Ent�o, n�o � que eu descreva o Pantanal, n�o sou disso, nem de narrar nada. Mas nasci aqui, fiquei at� os oito anos e depois fui estudar. Tenho um lastro da inf�ncia, tudo o que a gente � mais tarde vem da inf�ncia. Nesse �ltimo livro meu, Livro sobre nada, tem muitos versos que vieram da inf�ncia. Tem um poema que se chama "A arte de infantilizar formigas". Num v�deo que fizeram sobre mim, o rapaz chega uma hora que pergunta: "Escuta aqui, o senhor escreveu que formiga n�o tem dor nas costas. Mas como � que o senhor sabe?". Outro rapaz me escreveu do Rio, diz que freq�enta as aulas de um professor muito inteligente em energia nuclear, f�sica, poesia e romance, e ele fez a pergunta, que � um verso meu: "Professor, por que a 15 metros do arco-�ris o sol � cheiroso?". O professor, que tinha estudado Einstein e outros autores, disse: "Essa pergunta n�o vou responder, � absurda". Ou seja, encabulou."
Manoel de Barros
Manoel de Barros
telefone
Uma not�cia e o deserto tomou meu cora��o.
(Ela me perguntou o que vi nele. Calei a resposta. Era uma saudade da inf�ncia muito maior que a minha. De uma inf�ncia real, na Bahia, com cercas de arame farpado, esta��es de umbu - fora os tempor�es - e homens do tei� vendendo banha pra dor nas costas-fadiga-impot�ncia. E seus olhos, redemoinhos de mar, me transportavam at� l�.)
Uma not�cia e o deserto tomou meu cora��o.
(Ela me perguntou o que vi nele. Calei a resposta. Era uma saudade da inf�ncia muito maior que a minha. De uma inf�ncia real, na Bahia, com cercas de arame farpado, esta��es de umbu - fora os tempor�es - e homens do tei� vendendo banha pra dor nas costas-fadiga-impot�ncia. E seus olhos, redemoinhos de mar, me transportavam at� l�.)
marmita
(N�o me leia se procura novidade. Todas as minhas palavras j� nascem com muitos anos.)
Na semana passada, nos intervalos do Fant�stico, um comercial do Washington Olivetto sobre a paz, em branco, me arrancou um suspiro engasgado. Hoje resolvi procurar o texto.
(N�o me leia se procura novidade. Todas as minhas palavras j� nascem com muitos anos.)
Na semana passada, nos intervalos do Fant�stico, um comercial do Washington Olivetto sobre a paz, em branco, me arrancou um suspiro engasgado. Hoje resolvi procurar o texto.
6.4.03
mem�ria de cotidiano
- Acordada ainda, filha?
J� tinha revisitado os livros da estante da sala. Nesta casa eu era a dama dos livros e os que pude carreguei comigo. �s vezes me arrependo e por isso nunca levo o Cyrano de Bergerac que acaba sempre servindo de descanso pra copo ao lado da cama. Quando eu morava aqui meu pai sempre vinha desligar a televis�o. �s tr�s da manh�. Eu fingia dormir tentando fechar os olhos assim que a porta se abria, mas nunca o enganava, "sua boba, seu olho brilha no escuro".
- Perdi o sono.
- Onde?
- Bobo. (Pensei nos monstros atr�s do arm�rio. Certas coisas nunca mudam.)
- Acordada ainda, filha?
J� tinha revisitado os livros da estante da sala. Nesta casa eu era a dama dos livros e os que pude carreguei comigo. �s vezes me arrependo e por isso nunca levo o Cyrano de Bergerac que acaba sempre servindo de descanso pra copo ao lado da cama. Quando eu morava aqui meu pai sempre vinha desligar a televis�o. �s tr�s da manh�. Eu fingia dormir tentando fechar os olhos assim que a porta se abria, mas nunca o enganava, "sua boba, seu olho brilha no escuro".
- Perdi o sono.
- Onde?
- Bobo. (Pensei nos monstros atr�s do arm�rio. Certas coisas nunca mudam.)
Mulheres Apaixonadas
Meu pai nunca ouviu falar de sua av�. Nem o nome dela aparece nos documentos do meu av�, que morreu quando meu pai tinha doze anos. Minha av�, m�e do meu pai, era filha de �ndio, se casou e nunca mais voltou � tribo.
Eu ainda tenho uma bisav�, Agda, que fugiu da fam�lia pra se casar e renegou seu sobrenome por um homem que foi comprar cigarros e voltou vinte anos depois. Ela nunca explicou bem essa hist�ria, n�o fala de passado. Mas n�o perde uma novela com Edson Celulari.
A m�e de minha av� materna adorava andar de motoca, feito a velhinha de Taubat�. Me fazia rir com conselhos para "borboletear". Seus olhos brilhavam quando falavam do Agnelo, meu bisav� que sabia tocar viol�o, mas s� se fosse escondido.
Meu pai nunca ouviu falar de sua av�. Nem o nome dela aparece nos documentos do meu av�, que morreu quando meu pai tinha doze anos. Minha av�, m�e do meu pai, era filha de �ndio, se casou e nunca mais voltou � tribo.
Eu ainda tenho uma bisav�, Agda, que fugiu da fam�lia pra se casar e renegou seu sobrenome por um homem que foi comprar cigarros e voltou vinte anos depois. Ela nunca explicou bem essa hist�ria, n�o fala de passado. Mas n�o perde uma novela com Edson Celulari.
A m�e de minha av� materna adorava andar de motoca, feito a velhinha de Taubat�. Me fazia rir com conselhos para "borboletear". Seus olhos brilhavam quando falavam do Agnelo, meu bisav� que sabia tocar viol�o, mas s� se fosse escondido.
5.4.03
Tem coisa mais elegante que a trilha sonora da novela? N�o t� assistindo muito n�o, mas ou�o todo dia. E aquela uma com voz de Sade cantando I�ve got you under my skin? Me lembrei de um tempo guardado. Que eu julgava perdido.
I've got you under my skin
I've got you deep in the heart of me
So deep in my heart
that you're really a part of me.
I've got you under my skin
I'd tried so not to give in
I said to myself:
this affair never will go so well.
But why should I try to resist
when, baby, I know so well
I've got you under my skin?
I'd sacrifice anything
come what might
For the sake of havin' you near
In spite of a warnin' voice
that comes in the night
And repeats, repeats in my ear:
"Don't you know, little fool,
you never can win?
Use your mentality,
wake up to reality."
But each time that I do
just the thought of you
Makes me stop before I begin
'Cause I've got you under my skin.
I would sacrifice anything
come what might
For the sake of havin' you near
In spite of the warnin' voice
that comes in the night
And repeats - how it yells in my ear:
"Don't you know, little fool,
you never can win?
Why not use your mentality,
step up, wake up to reality?"
But each time I do
just the thought of you
Makes me stop just before I begin
'Cause I've got you under my skin.
Yes, I've got you under my skin.
I've got you under my skin
I've got you deep in the heart of me
So deep in my heart
that you're really a part of me.
I've got you under my skin
I'd tried so not to give in
I said to myself:
this affair never will go so well.
But why should I try to resist
when, baby, I know so well
I've got you under my skin?
I'd sacrifice anything
come what might
For the sake of havin' you near
In spite of a warnin' voice
that comes in the night
And repeats, repeats in my ear:
"Don't you know, little fool,
you never can win?
Use your mentality,
wake up to reality."
But each time that I do
just the thought of you
Makes me stop before I begin
'Cause I've got you under my skin.
I would sacrifice anything
come what might
For the sake of havin' you near
In spite of the warnin' voice
that comes in the night
And repeats - how it yells in my ear:
"Don't you know, little fool,
you never can win?
Why not use your mentality,
step up, wake up to reality?"
But each time I do
just the thought of you
Makes me stop just before I begin
'Cause I've got you under my skin.
Yes, I've got you under my skin.
4.4.03
"porque o semear he hua arte que tem mays de natureza que de arte, cahia onde cahir" Padre Vieira, Serm�o da Sexag�sima no original
Fico vendo estas discuss�es em que aparece uma pedagoga, outra psic�loga e o escambau e ficam discorrendo sobre como a internet est� transformando a l�ngua portuguesa. Pra pior. Ent�o querem engessar a l�ngua?
O Guimar�es Rosa escreveu toda a sua obra com base em pequenas transforma��es pessoais - e universais, mas ainda muito pessoais, da nossa ling�inha. N�o vamos bot�-los no mesmo balaio, voc� poderia dizer. Ent�o t�. O Rosa recriou o jeito de falar do tropeiro, descobriu a beleza que ningu�m antes tinha visto. E ent�o, cara p�lida, quer me dizer que j� t� bom assim? J� � suficiente?Que n�o d� mais pra ver nada na l�ngua? Quem sabe n�o estamos vendo a cria��o de uma base pra um Guimar�es Bits.
O portug��s � vivo. O portugu�s n�o � pra amadores. E vive la difer�nce, as pequenas diferen�as que surgem ao longo do tempo.
E v�o se catar.
Fico vendo estas discuss�es em que aparece uma pedagoga, outra psic�loga e o escambau e ficam discorrendo sobre como a internet est� transformando a l�ngua portuguesa. Pra pior. Ent�o querem engessar a l�ngua?
O Guimar�es Rosa escreveu toda a sua obra com base em pequenas transforma��es pessoais - e universais, mas ainda muito pessoais, da nossa ling�inha. N�o vamos bot�-los no mesmo balaio, voc� poderia dizer. Ent�o t�. O Rosa recriou o jeito de falar do tropeiro, descobriu a beleza que ningu�m antes tinha visto. E ent�o, cara p�lida, quer me dizer que j� t� bom assim? J� � suficiente?Que n�o d� mais pra ver nada na l�ngua? Quem sabe n�o estamos vendo a cria��o de uma base pra um Guimar�es Bits.
O portug��s � vivo. O portugu�s n�o � pra amadores. E vive la difer�nce, as pequenas diferen�as que surgem ao longo do tempo.
E v�o se catar.
3.4.03
cenas da vida
-Vamos � praia amanh�? - o acompanhante perguntou.
-Sim, claro! - ela respondeu.
-Ent�o, o que fa�o? Telefono ou te cutuco?
espelho meu,
- voc� quer ra��o?
- n�o, obrigada.
(sil�ncio, cara de incredulidade:)
- �!... n�o � pra voc� n�o... � pra voc� levar pra sua gata!
(gargalhadas)
gh
-Vamos � praia amanh�? - o acompanhante perguntou.
-Sim, claro! - ela respondeu.
-Ent�o, o que fa�o? Telefono ou te cutuco?
espelho meu,
- voc� quer ra��o?
- n�o, obrigada.
(sil�ncio, cara de incredulidade:)
- �!... n�o � pra voc� n�o... � pra voc� levar pra sua gata!
(gargalhadas)
gh
pequenas mudan�as, grandes mudan�as
Ontem assisti �quele epis�dio cl�ssico de Felicity em que ela corta suas melenas. Deu vontade de mudar mais. Cortar os cabelos, s� se for com m�quina. Ent�o mudo o bula bula. Aguardem.
update: at� tentei, mas sou muito apegada �s minhas refer�ncias. n�o teve jeito...
Ontem assisti �quele epis�dio cl�ssico de Felicity em que ela corta suas melenas. Deu vontade de mudar mais. Cortar os cabelos, s� se for com m�quina. Ent�o mudo o bula bula. Aguardem.
update: at� tentei, mas sou muito apegada �s minhas refer�ncias. n�o teve jeito...
ver tv
Essas listas das coisas que sentimos falta, ou "voc� sabe por onde anda", � �tima. Uma vez recebi um e-mail ilustrado com pogobol, bilboqu�, picol� de mini-saia (laranja e groselha), o Ferrugem, o Fof�o e o supra-sumo Atari.
(Vendo Saia Justa, GNT (Canal 41 NET/Sky). Sou f� dos sil�ncios da Rita Lee e adoro a Magda Orth quando ela n�o atua. Mas a coitada da M�nica Waldvogel t� mais pra bab� da intolerante Fernanda Young. Como diz a Marina, o problema da Fernanda Young � que ela � muito previs�vel.)
Essas listas das coisas que sentimos falta, ou "voc� sabe por onde anda", � �tima. Uma vez recebi um e-mail ilustrado com pogobol, bilboqu�, picol� de mini-saia (laranja e groselha), o Ferrugem, o Fof�o e o supra-sumo Atari.
(Vendo Saia Justa, GNT (Canal 41 NET/Sky). Sou f� dos sil�ncios da Rita Lee e adoro a Magda Orth quando ela n�o atua. Mas a coitada da M�nica Waldvogel t� mais pra bab� da intolerante Fernanda Young. Como diz a Marina, o problema da Fernanda Young � que ela � muito previs�vel.)
um olho no peixe, o outro no gato
Meu irm�o me pergunta se assalto l� � mesmo muito. Lembrei de A. me contando a hist�ria das bicicletas. A primeira era linda, cara e leve. Por culpa dele. Como assim querer andar com um tro�o daqueles na Lagoa? � pedir pra ser assaltado. Pior s� se andasse com uma plaquinha "me assalte". A segunda era intermedi�ria, boazinha, bonitinha. Ainda n�o era suficiente, n�? Tamb�m foi levada, bom pra aprender. Essa agora, vermelha aro 10 ningu�m leva porque n�o consegue andar, � empenada e tem que ser guiadas na diagonal. Agora sim.
Terezinha de Jesus.
N�o. Isso n�o t� certo. N�o me conformo, n�o tenho culpa direta em assalto. Posso ter a indireta, sei l�, exclus�o social. Mas ainda assim n�o d� pra regular minha vida pela �tica do assaltante. Tem sim, Felipe. No Rio tem muito assalto. � lindo, mas tem muito assalto. Um olho na vista e o outro na bolsa.
Meu irm�o me pergunta se assalto l� � mesmo muito. Lembrei de A. me contando a hist�ria das bicicletas. A primeira era linda, cara e leve. Por culpa dele. Como assim querer andar com um tro�o daqueles na Lagoa? � pedir pra ser assaltado. Pior s� se andasse com uma plaquinha "me assalte". A segunda era intermedi�ria, boazinha, bonitinha. Ainda n�o era suficiente, n�? Tamb�m foi levada, bom pra aprender. Essa agora, vermelha aro 10 ningu�m leva porque n�o consegue andar, � empenada e tem que ser guiadas na diagonal. Agora sim.
Terezinha de Jesus.
N�o. Isso n�o t� certo. N�o me conformo, n�o tenho culpa direta em assalto. Posso ter a indireta, sei l�, exclus�o social. Mas ainda assim n�o d� pra regular minha vida pela �tica do assaltante. Tem sim, Felipe. No Rio tem muito assalto. � lindo, mas tem muito assalto. Um olho na vista e o outro na bolsa.
25.3.03
19.3.03
os r�tulos e as garrafas - parte II
Dudi, como pude esquecer dO Homem que confundiu sua Mulher com um Chap�u? Esse � mais um da s�rie "comecei pelo t�tulo". �, porque tamb�m o t�tulo � chamariz, mas se o livro for ruim ele vai ficando ali pela cabeceira, numa coluna que vem sendo constru�da no criado mudo. Coluna j�nica.
(Mas o Oliver Sacks bem que escorregou na casca de banana com Tio Tungst�nio � Mem�rias de uma Inf�ncia Qu�mica. Engra�adinho demais.)
Tem tamb�m os t�tulos de uma palavra s�, por vezes acompanhadas de um artigo. O Capital, ou Leviat�. Voltando ao mestre, Sagarana. Econ�micos, explicativos, definitivos
Dudi, como pude esquecer dO Homem que confundiu sua Mulher com um Chap�u? Esse � mais um da s�rie "comecei pelo t�tulo". �, porque tamb�m o t�tulo � chamariz, mas se o livro for ruim ele vai ficando ali pela cabeceira, numa coluna que vem sendo constru�da no criado mudo. Coluna j�nica.
(Mas o Oliver Sacks bem que escorregou na casca de banana com Tio Tungst�nio � Mem�rias de uma Inf�ncia Qu�mica. Engra�adinho demais.)
Tem tamb�m os t�tulos de uma palavra s�, por vezes acompanhadas de um artigo. O Capital, ou Leviat�. Voltando ao mestre, Sagarana. Econ�micos, explicativos, definitivos
18.3.03
o nome das coisas
A vida sexual dos papas. Isso � nome de livro, vi l� na Travessa. Apelou, perdeu.
Eu compro livros pelos t�tulos, talequal Maria de F�tima, a rainha da sucata. Tudo que � s�lido se desmancha no ar? Comprei. Vastas emo��es e pensamentos imperfeitos me fez gostar do Rubem Fonseca. Isto n�o � um cachimbo, com ilustra��o de Magritte ati�ou minha curiosidade.Mas nada supera o Rosa pra batizar. Nada supera o Nada e a nossa condi��o, mesmo sem ser livro, mesmo sendo conto.
Acabo de ver As Horas. (M., n�o pude voltar pra casa. Abri o port�o da vila e girei sobre os meus p�s. Tenho muito pra perceber e tenho sede. Tive vergonha de te dizer que n�o terminei Cartas na Mesa, nem o outro com a Clarice, e trago ambos na mala. Quero terminar umas coisas antes de come�ar outras. Mas n�o consigo evitar a sede, e fugi para o cinema.)
Sa� do cinema com vontade de ter um filho e escrever um livro. Ou vice-versa.
J� me senti incapaz antes, n�o agora. Mas a mem�ria daquela incapacidade me fez chorar. E desfez o n� na garganta.
Sa� do cinema com vontade de ter um filho e escrever um livro. Ou vice-versa.
J� me senti incapaz antes, n�o agora. Mas a mem�ria daquela incapacidade me fez chorar. E desfez o n� na garganta.
17.3.03
Manoel de Barros
Formiga � um ser t�o pequeno que n�o ag�enta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas � s� pingar um pouquinho de �gua no cora��o delas. Achei f�cil.
O Bernardo fala com pedra, fala com nada, fala com �rvore. As plantas querem o corpo dele para crescer por sobre. Passarinho j� faz poleiro na sua cabe�a.
Formiga � um ser t�o pequeno que n�o ag�enta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas � s� pingar um pouquinho de �gua no cora��o delas. Achei f�cil.
O Bernardo fala com pedra, fala com nada, fala com �rvore. As plantas querem o corpo dele para crescer por sobre. Passarinho j� faz poleiro na sua cabe�a.
Ele faz encurtamento de �guas.
Apanha um pouco de rio com as m�os e espreme nos vidros
At� que as �guas se ajoelhem
Do tamanho de uma lagarta nos vidros. No falar com as �guas r�s o
exercitam. Tentou encolher o horizonte
No olho de um inseto - e obteve!
Prende o sil�ncio com fivela.
At� os caranguejos querem ele para ch�o.
Viu as formigas carreando na estrada 2 pernas de ocaso
para dentro de um oco... E deixou.
Essas formigas pensavam em seu olho.
� homem percorrido de exist�ncias.
Est�o favor�veis a ele os camale�es.
Espraiado na tarde -
Como a foz de um rio - Bernardo se inventa...
Lugarejos cobertos de limo o imitam.
Passarinhos aveludam seus cantos quando o v�em.
Pro Bernardo, filho do Saru�
6.3.03
todos os anos, durante a Festa do Doze, os muros da TabuTabu s�o renovados.agora, quem aqui vier ver� as paredes cobertas com os estatutos do home. que convivem muito bem tamb�m com uma pintura de Gentileza. �, eu j� estou com saudades.
esta foto � de outra fase dos mesmos muros.
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de m�os dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas,
t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haver� girass�is em todas as janelas,
que os girass�is ter�o direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperan�a.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
n�o precisar� nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiar� no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do c�u.
Par�grafo �nico:
O homem, confiar� no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
est�o livres do jugo da mentira.
Nunca mais ser� preciso usar
a coura�a do sil�ncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentar� � mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passar� a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez s�culos,
a pr�tica sonhada pelo profeta Isa�as,
e o lobo e o cordeiro pastar�o juntos
e a comida de ambos ter� o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevog�vel fica estabelecido
o reinado permanente da justi�a e da claridade,
e a alegria ser� uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e ser� sempre
n�o poder dar-se amor a quem se ama
e saber que � a �gua
que d� � planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o p�o de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por defini��o,
que o homem � um animal que ama
e que por isso � belo,
muito mais belo que a estrela da manh�.
Artigo XII
Decreta-se que nada ser� obrigado
nem proibido,
tudo ser� permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa beg�nia na lapela.
Par�grafo �nico:
S� uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
n�o poder� nunca mais comprar
o sol das manh�s vindouras.
Expulso do grande ba� do medo,
o dinheiro se transformar� em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual ser� suprimida dos dicion�rios
e do p�ntano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade ser� algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada ser� sempre
o cora��o do homem.
Thiago de Mello
esta foto � de outra fase dos mesmos muros.
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de m�os dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas,
t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haver� girass�is em todas as janelas,
que os girass�is ter�o direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperan�a.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
n�o precisar� nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiar� no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do c�u.
Par�grafo �nico:
O homem, confiar� no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
est�o livres do jugo da mentira.
Nunca mais ser� preciso usar
a coura�a do sil�ncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentar� � mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passar� a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez s�culos,
a pr�tica sonhada pelo profeta Isa�as,
e o lobo e o cordeiro pastar�o juntos
e a comida de ambos ter� o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevog�vel fica estabelecido
o reinado permanente da justi�a e da claridade,
e a alegria ser� uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e ser� sempre
n�o poder dar-se amor a quem se ama
e saber que � a �gua
que d� � planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o p�o de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por defini��o,
que o homem � um animal que ama
e que por isso � belo,
muito mais belo que a estrela da manh�.
Artigo XII
Decreta-se que nada ser� obrigado
nem proibido,
tudo ser� permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa beg�nia na lapela.
Par�grafo �nico:
S� uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
n�o poder� nunca mais comprar
o sol das manh�s vindouras.
Expulso do grande ba� do medo,
o dinheiro se transformar� em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual ser� suprimida dos dicion�rios
e do p�ntano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade ser� algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada ser� sempre
o cora��o do homem.
Thiago de Mello
27.2.03
Enfim chegaram meus documentos, fui ao CRF e posso ir embora. Esse calor do Rio t� de matar e j� vi tudo que vou chegar em OP e reclamar do frio.
(Parece a tirinha do aposentado do Globo de ontem. "Vamos ao cinema?", "N�o", "O filme � ruim, voc� vai poder reclamar por uma semana inteira." "Por que n�o avisou logo?")
del�rio coletivo
� Fal, eu achei que Fanta Morango fosse lenda.
A. tinha certeza que eu estava delirando, sa�mos em excurs�o pelos supermercados do Rio e nada. A. tava at� usando a frase "�, essa menina acredita at� em Fanta Morango!" e eu nem contei a hist�ria do menino do catarro verde pra n�o piorar as coisas...
J� dei um grito nele pra vir ver o site. J� veio, "�, essa voc� n�o sonhou n�o..."
� Fal, eu achei que Fanta Morango fosse lenda.
A. tinha certeza que eu estava delirando, sa�mos em excurs�o pelos supermercados do Rio e nada. A. tava at� usando a frase "�, essa menina acredita at� em Fanta Morango!" e eu nem contei a hist�ria do menino do catarro verde pra n�o piorar as coisas...
J� dei um grito nele pra vir ver o site. J� veio, "�, essa voc� n�o sonhou n�o..."
o trem pontua o dia
Quando morei em Cardiff o trem passava atr�s da casa. Eu nunca que me incomodei, mineira que sou o trem � mais um tit�, um filho de deuses, talvez o deus dos caminhos, ou irm�o do deus da calma, primo da deusa da espera (me perd�em, mas a espera � uma deidade feminina).
Procurei um poema que falasse de trem. Drummond, o mais poeta dos mineiros. N�o achei. Algu�m lembra de algum?
Quando morei em Cardiff o trem passava atr�s da casa. Eu nunca que me incomodei, mineira que sou o trem � mais um tit�, um filho de deuses, talvez o deus dos caminhos, ou irm�o do deus da calma, primo da deusa da espera (me perd�em, mas a espera � uma deidade feminina).
Procurei um poema que falasse de trem. Drummond, o mais poeta dos mineiros. N�o achei. Algu�m lembra de algum?
os cadernos II
(Era pra falar de outra coisa no post anterior, mas acabei deixaando o t�tulo pra l�. N�o escrevo posts no word, vai direto aqui, o que me protege da minha auto-cr�tica, mas n�o dos erros de portugu�s.)
Sabem aqueles caderninhos de a�ougueiro? Sempre carreguei um na bolsa. (O sempre vai at� um ano atr�s.) Perdi alguns mas ainda conservo uns que me servem de "suced�neo de alegria" - lembra de Huxley, R.?
Na falta dos meus li os de A., que tem v�rios e escreveu neles com uma const�ncia invej�vel.
(Eu quis falar, mas me contive. Certos segredos n�o s�o meus. Certos segredos n�o s�o dele. E at� em Freud ele procurou as respostas.)
(Era pra falar de outra coisa no post anterior, mas acabei deixaando o t�tulo pra l�. N�o escrevo posts no word, vai direto aqui, o que me protege da minha auto-cr�tica, mas n�o dos erros de portugu�s.)
Sabem aqueles caderninhos de a�ougueiro? Sempre carreguei um na bolsa. (O sempre vai at� um ano atr�s.) Perdi alguns mas ainda conservo uns que me servem de "suced�neo de alegria" - lembra de Huxley, R.?
Na falta dos meus li os de A., que tem v�rios e escreveu neles com uma const�ncia invej�vel.
(Eu quis falar, mas me contive. Certos segredos n�o s�o meus. Certos segredos n�o s�o dele. E at� em Freud ele procurou as respostas.)
os cadernos
Foi-se o tempo em que eu queria parecer inteligente, isso n�o me interessa mais.
(Era uma �poca em que lia os cl�ssicos, junto com "Porque ler os cl�ssicos" do Calvino. Mas n�o lia por deleite puro e simples, era mais vontade de n�o me envergonhar de novo quando algu�m me perguntava algo de Dostoi�vski ou Steinbeck. V� s�? Mas guardei um segredo, uma travessura: nunca li Dom Casmurro.)
Hoje, sem conseguir evitar a tautologia, s� me interessa o que me interessa. E algumas outras coisinhas pouco interessantes.
Foi-se o tempo em que eu queria parecer inteligente, isso n�o me interessa mais.
(Era uma �poca em que lia os cl�ssicos, junto com "Porque ler os cl�ssicos" do Calvino. Mas n�o lia por deleite puro e simples, era mais vontade de n�o me envergonhar de novo quando algu�m me perguntava algo de Dostoi�vski ou Steinbeck. V� s�? Mas guardei um segredo, uma travessura: nunca li Dom Casmurro.)
Hoje, sem conseguir evitar a tautologia, s� me interessa o que me interessa. E algumas outras coisinhas pouco interessantes.
25.2.03
BBB
Escutei todo o discurso de A., de que o fato de eu simpatizar com o Dhomini significava, por analogia, que eu simpatizo com todo o comportamento execr�vel que ele mostra. Ter uma namorada com "grandeza de alma" e ficar se amassando com a doce de padaria vulgo Sabrina. E ainda ser conhecido como um homem violento pela comunidade Contigo!.
N�o se fazem mais homens como A. E eu me senti rid�cula.
Escutei todo o discurso de A., de que o fato de eu simpatizar com o Dhomini significava, por analogia, que eu simpatizo com todo o comportamento execr�vel que ele mostra. Ter uma namorada com "grandeza de alma" e ficar se amassando com a doce de padaria vulgo Sabrina. E ainda ser conhecido como um homem violento pela comunidade Contigo!.
N�o se fazem mais homens como A. E eu me senti rid�cula.
IDÉIA FIXA
Sua alma era um tanto destrambelhada quando ele se trancou dentro de um quartinho de pensão em BH e começou a comer a velha e furada sabedoria grega. Seu primeiro filósofo foi Lucretio, de quem carregou a vida inteira uma dor terrível, um dor que nunca será esquecida por mim.
Eu convivi plenamente com este cara, ele morava no quarto ao lado do meu. Nessa época tinha fugido de um hospício no norte de Minas natal e procurava um emprego na cidade que tinha, isso há muito tempo, um belo horizonte.
Trabalhar pra mim era uma de uma necessidade enorme. Nunca gostei de trabalho. Confesso. E acho que nunca vou gostar. Fui reprovado 3 vezes no vestibular e não tenho nenhuma profissão, dessas que se filia a sindicatos. Trabalho é quase sempre uma coisa cansativa, uma coisa de ônibus, com cheiro de mofo, de gente suja, de dor na perna.
Ele também tinha sido algumas vezes reprovado no vestibular. Certa vez tentou Letras na Universidade Federal de Ouro Preto, queria ser poeta e tinha certeza que o mundo letrado seria capaz de dar tudo que fosse necessário para a construção de poesia, não passou. Esperou mais um semestre e tentou História. Zerou redação por que colocou a palavra boceta no cantinho da folha. Não que ele fosse um devasso, ou desses que usam a palavra boceta com sentido filosófico ou político. Estava mesmo pensando em uma boceta loira que estava sentada ao seu lado na hora da prova. Quando ele fala pra alguém dessa boceta nota-se que seus olhos se enchem de uma coisa que não poderia nunca ser considerada lágrima. Uma coisa de brilho nojento, uma coisa que parece o pus no pé de um mendigo faminto. Para ficar mais claro, seus olhos ficam culposos, sombrios, não sei, nunca fui bom de palavras, mas sei que acontece alguma coisa e que a culpada é essa boceta que ele viu uma vez e que foi para ele a única mulher que ele conheceu em toda sua vida.
Outro aspecto interessante desse idiota é que ele é casto, virgem, nunca dormiu com uma mulher, não sabe o cheiro de uma boceta real.
Da outra vez tentou Matemática. Neste ele passou. Também, depois de 4 anos tentando vestibulares e vestibulares... Lavras. Acho que o fato dele ter sido expulso do curso é importante pra todos nós, inclusive pra mim, um fato que pode acontecer com qualquer indivíduo pode ser importante pra qualquer ser, seja ele uma pedra, um cachorro ou homem letrado com cara de Cu.
Disse-me que fazia sol quando ele fugiu de Lavras e perambulou sete dias naquela região. Quando voltou já não era aluno da Universidade, sua expulsão já tinha sido concretizada, seus colegas de quarto haviam desaparecido com suas coisas. Na Universidade o boato que rolava é que aquele aluno verde do curso de Matemática tinha ficado louco, saído correndo da aula Cálculo I e cuspido na cara do reitor, depois de colocar a genital pra fora na frente de uma faxineira.
É, ele fez tudo isso: mostrou seu pênis praquela mulher que talvez já não via um pênis há algum tempo e cuspiu na cara do reitor que como todo reitor realmente merecia uma cusparada. A causa de tudo isso? A boceta que o fez ser reprovado no vestibular de Letras. A tal boceta que o atormentava noites e dias no tempo em que ele vivia comigo em BH. A tal boceta, a loira boceta que estava perdida em todos os cantos de sua mente, a tal.
Um vez, quando estava voltando do centro de BH para almoçar, o encontrei olhando para uma foto amarelada e virada nas beiradas. Era a foto da sala onde ele prestou vestibular. Junto dessa havia outras de paisagens de Ouro Preto. Dessas que todo mundo já viu de monte. Ouro Preto era um lugar onde ele não fez nenhum amigo e nem conseguiu se embebedar o quanto esperava. Representava todos os sonhos não realizados, pensei naquele dia. O futuro que ficou no passado e nunca se concretizou, a boceta que ele espera engolir e não conseguiu. O amor que ele queria ter e acabou sem. Ouro Preto foi mesmo uma desgraça na vida desse cara e mesmo assim ele sonhava com o dia em que ele voltaria e reencontrasse sua boceta.
Um homem pode se tornar uma criatura imprestável em conseqüência de seus fracassos. Eu mesmo me tornei um infeliz depois de ter visto meu sonho de ser pintor ir por água abaixo. Fiquei alguns anos louco pintando quadros das imagens que rodeavam minha mente. Pintei minha alma de carne em aquarelas tristes. E andei pelas ruas de minha província itabirana sem lembrar que Carlos Drummond de Andrade também esteve ali.
Quero dar uma pausa neste caso para uma breve reflexão sobre o que eu estou escrevendo. Chorei anos pela perda de uma mulher e morri aos 20 anos quando percebi que de pintor eu só tinha o vício. Descobrir que não tinha talento pra pintura me fez pensar que eu não tinha talento pra nada, que estava condenado a ser um pai de família, desses que vivem uma vida chata e responsável, que cuidam da esposa e dos filhos com uma responsabilidade doentia. Que provoca nos filhotes uma doente e venerável estagnação. Nunca fui escritor, nunca quis ser escritor, estou escrevendo isso por que hoje fui mandando embora do emprego e me matei na privada do meu banheiro. Saibam que eu estou morto e que não pretendo de forma alguma imitar Brás Cubas em suas memórias. Minha intenção é apenas falar de como o idiota personagem dessa história fez com que eu perdesse o emprego e me matasse.
Ele era o espelho dos meus fracassos. Como todo fracassado só servia pra isso, pra fazer os outros perceberem o quanto são inúteis e o quanto a vida é uma merda e tem um gosto delicioso.
E Ouro Preto é um lugar onde nunca fui e onde nunca pensei ir, mas que ficou ligado a mim desde o dia em que o conheci, esse pavão da vida moderna, esse dado jogado pra cima. Ele que vivia suas noites sonhando com Ouro Preto e sua boceta desconhecida. Esse que se trancou no quarto e amou S�crates como uma bicha ama um garotinho lindo de 15 anos.
Este que me olha em minha imensa privada privada.
Antes de continuar falando do passado, quero falar do que está acontecendo agora, falar que este idiota levantou meu corpo do banheiro, não estamos na pensão de BH, estamos em Caratinga, cidadezinha fodida do interior de Minas. Estamos na casa de um amigo meu que depois de dois anos convivendo conosco ficou louco e desaguou no passado. Um dia falarei dele. Talvez no final desse relato. Mas agora meu corpo esta sendo arrastado do banheiro até o jardim. O jardim fica de frente pra rua e esse louco vem em minha direção com uma pá. Ele começou a fazer um buraco na grama. O buraco já está grande e meu corpo está sendo enterrado ali. Você sabe como é se sentir enterrado? Como é receber terra em cima da cabeça? Eu também não sei porque estou morto, e quando se morre as coisas não acontecem mais, parecem sonhadas. Não adianta se lembrar que existe um livro de filosofia que fala que é bom esquecer aquilo que passou. Não funciona. Não consola. Não esclarece. Não ajuda.
E ele, agora sem mim, lá minha carta de suicídio, minha linda carta de suicídio que está manchada de margarina que eu comi com o pão de forma com gosto de geladeira, não posso mais vê-lo, sua imagem presente e futura não existe mais. Pra mim ele só existe de duas formas: como aquilo que foi e como aquilo que sonhei. Tento fechar os olhos debaixo desse chão. Não bem meus olhos, acho que tento fechar minha percepção. Fecho mas algo fica tristemente aberto.
Eu convivi plenamente com este cara, ele morava no quarto ao lado do meu. Nessa época tinha fugido de um hospício no norte de Minas natal e procurava um emprego na cidade que tinha, isso há muito tempo, um belo horizonte.
Trabalhar pra mim era uma de uma necessidade enorme. Nunca gostei de trabalho. Confesso. E acho que nunca vou gostar. Fui reprovado 3 vezes no vestibular e não tenho nenhuma profissão, dessas que se filia a sindicatos. Trabalho é quase sempre uma coisa cansativa, uma coisa de ônibus, com cheiro de mofo, de gente suja, de dor na perna.
Ele também tinha sido algumas vezes reprovado no vestibular. Certa vez tentou Letras na Universidade Federal de Ouro Preto, queria ser poeta e tinha certeza que o mundo letrado seria capaz de dar tudo que fosse necessário para a construção de poesia, não passou. Esperou mais um semestre e tentou História. Zerou redação por que colocou a palavra boceta no cantinho da folha. Não que ele fosse um devasso, ou desses que usam a palavra boceta com sentido filosófico ou político. Estava mesmo pensando em uma boceta loira que estava sentada ao seu lado na hora da prova. Quando ele fala pra alguém dessa boceta nota-se que seus olhos se enchem de uma coisa que não poderia nunca ser considerada lágrima. Uma coisa de brilho nojento, uma coisa que parece o pus no pé de um mendigo faminto. Para ficar mais claro, seus olhos ficam culposos, sombrios, não sei, nunca fui bom de palavras, mas sei que acontece alguma coisa e que a culpada é essa boceta que ele viu uma vez e que foi para ele a única mulher que ele conheceu em toda sua vida.
Outro aspecto interessante desse idiota é que ele é casto, virgem, nunca dormiu com uma mulher, não sabe o cheiro de uma boceta real.
Da outra vez tentou Matemática. Neste ele passou. Também, depois de 4 anos tentando vestibulares e vestibulares... Lavras. Acho que o fato dele ter sido expulso do curso é importante pra todos nós, inclusive pra mim, um fato que pode acontecer com qualquer indivíduo pode ser importante pra qualquer ser, seja ele uma pedra, um cachorro ou homem letrado com cara de Cu.
Disse-me que fazia sol quando ele fugiu de Lavras e perambulou sete dias naquela região. Quando voltou já não era aluno da Universidade, sua expulsão já tinha sido concretizada, seus colegas de quarto haviam desaparecido com suas coisas. Na Universidade o boato que rolava é que aquele aluno verde do curso de Matemática tinha ficado louco, saído correndo da aula Cálculo I e cuspido na cara do reitor, depois de colocar a genital pra fora na frente de uma faxineira.
É, ele fez tudo isso: mostrou seu pênis praquela mulher que talvez já não via um pênis há algum tempo e cuspiu na cara do reitor que como todo reitor realmente merecia uma cusparada. A causa de tudo isso? A boceta que o fez ser reprovado no vestibular de Letras. A tal boceta que o atormentava noites e dias no tempo em que ele vivia comigo em BH. A tal boceta, a loira boceta que estava perdida em todos os cantos de sua mente, a tal.
Um vez, quando estava voltando do centro de BH para almoçar, o encontrei olhando para uma foto amarelada e virada nas beiradas. Era a foto da sala onde ele prestou vestibular. Junto dessa havia outras de paisagens de Ouro Preto. Dessas que todo mundo já viu de monte. Ouro Preto era um lugar onde ele não fez nenhum amigo e nem conseguiu se embebedar o quanto esperava. Representava todos os sonhos não realizados, pensei naquele dia. O futuro que ficou no passado e nunca se concretizou, a boceta que ele espera engolir e não conseguiu. O amor que ele queria ter e acabou sem. Ouro Preto foi mesmo uma desgraça na vida desse cara e mesmo assim ele sonhava com o dia em que ele voltaria e reencontrasse sua boceta.
Um homem pode se tornar uma criatura imprestável em conseqüência de seus fracassos. Eu mesmo me tornei um infeliz depois de ter visto meu sonho de ser pintor ir por água abaixo. Fiquei alguns anos louco pintando quadros das imagens que rodeavam minha mente. Pintei minha alma de carne em aquarelas tristes. E andei pelas ruas de minha província itabirana sem lembrar que Carlos Drummond de Andrade também esteve ali.
Quero dar uma pausa neste caso para uma breve reflexão sobre o que eu estou escrevendo. Chorei anos pela perda de uma mulher e morri aos 20 anos quando percebi que de pintor eu só tinha o vício. Descobrir que não tinha talento pra pintura me fez pensar que eu não tinha talento pra nada, que estava condenado a ser um pai de família, desses que vivem uma vida chata e responsável, que cuidam da esposa e dos filhos com uma responsabilidade doentia. Que provoca nos filhotes uma doente e venerável estagnação. Nunca fui escritor, nunca quis ser escritor, estou escrevendo isso por que hoje fui mandando embora do emprego e me matei na privada do meu banheiro. Saibam que eu estou morto e que não pretendo de forma alguma imitar Brás Cubas em suas memórias. Minha intenção é apenas falar de como o idiota personagem dessa história fez com que eu perdesse o emprego e me matasse.
Ele era o espelho dos meus fracassos. Como todo fracassado só servia pra isso, pra fazer os outros perceberem o quanto são inúteis e o quanto a vida é uma merda e tem um gosto delicioso.
E Ouro Preto é um lugar onde nunca fui e onde nunca pensei ir, mas que ficou ligado a mim desde o dia em que o conheci, esse pavão da vida moderna, esse dado jogado pra cima. Ele que vivia suas noites sonhando com Ouro Preto e sua boceta desconhecida. Esse que se trancou no quarto e amou S�crates como uma bicha ama um garotinho lindo de 15 anos.
Este que me olha em minha imensa privada privada.
Antes de continuar falando do passado, quero falar do que está acontecendo agora, falar que este idiota levantou meu corpo do banheiro, não estamos na pensão de BH, estamos em Caratinga, cidadezinha fodida do interior de Minas. Estamos na casa de um amigo meu que depois de dois anos convivendo conosco ficou louco e desaguou no passado. Um dia falarei dele. Talvez no final desse relato. Mas agora meu corpo esta sendo arrastado do banheiro até o jardim. O jardim fica de frente pra rua e esse louco vem em minha direção com uma pá. Ele começou a fazer um buraco na grama. O buraco já está grande e meu corpo está sendo enterrado ali. Você sabe como é se sentir enterrado? Como é receber terra em cima da cabeça? Eu também não sei porque estou morto, e quando se morre as coisas não acontecem mais, parecem sonhadas. Não adianta se lembrar que existe um livro de filosofia que fala que é bom esquecer aquilo que passou. Não funciona. Não consola. Não esclarece. Não ajuda.
E ele, agora sem mim, lá minha carta de suicídio, minha linda carta de suicídio que está manchada de margarina que eu comi com o pão de forma com gosto de geladeira, não posso mais vê-lo, sua imagem presente e futura não existe mais. Pra mim ele só existe de duas formas: como aquilo que foi e como aquilo que sonhei. Tento fechar os olhos debaixo desse chão. Não bem meus olhos, acho que tento fechar minha percepção. Fecho mas algo fica tristemente aberto.
Borges e os dem�nios cariocas
�Dizem que uma das caracter�sticas dos dem�nios � sempre sentir muito frio.�, leio em voz alta para A. o trecho de Borges e os orangotangos eternos, do Verissimo. (Que eu n�o sabia, mas a grafia certa � assim, sem acento. Sempre escrevi Ver�ssimo.)
Rimos juntos e chegamos � conclus�o que quem construiu o apartamento que ele mora � um dem�nio. � uma explica��o bastante plaus�vel pra colocar carpete no Rio de Janeiro.
�Dizem que uma das caracter�sticas dos dem�nios � sempre sentir muito frio.�, leio em voz alta para A. o trecho de Borges e os orangotangos eternos, do Verissimo. (Que eu n�o sabia, mas a grafia certa � assim, sem acento. Sempre escrevi Ver�ssimo.)
Rimos juntos e chegamos � conclus�o que quem construiu o apartamento que ele mora � um dem�nio. � uma explica��o bastante plaus�vel pra colocar carpete no Rio de Janeiro.
Deselogio � pressa
Era estr�ia de Am�lia no antigo cinema de Ouro Preto. A A. era f� da Ana Carolina, �ela � um g�nio, fant�stica, bl�, bl�, e veio lan�ar o filme.
(Quer�amos criar um festival de cinema em Ouro Preto, o Carlos Bracher apoiava, o Eduardo Tr�pia empolgou, Juan Pedro Gutierrez fumava e escutava. Come�ar�amos a experi�ncia aos poucos. A Denise Fraga j� tinha ido apresentar e conversar o Por tr�s do pano.)
O cinema, antigo, velho, com pan�s em trapos e bel�ssima decora��o Art Noveau. O som soltava uns pipocos de vez em quando, seu Ad�o tinha uma cole��o invej�vel de cartazes de filmes antigos, e eu o visitava na sala de proje��o, sonhando Cinema Paradiso. O pr�dio lotava aos domingos, estudantes com sacos de pipoca trazidos de casa - o pipoqueiro morreu h� vinte anos e ningu�m o substituiu � e t�nhamos que chegar cedo pra n�o pegar fila grande na padaria pra comprar refrigerantes.
As rep�blicas tinham seu lugar estabelecido, a Serigy no gargarejo, a Penitenci�ria quase na entrada, a Pulgat�rio no meio. Assist�amos a qualquer coisa. P�nico no Lago? Vale pela tradi��o de ir ao cinema aos domingos.
Ent�o veio Ana Carolina e Am�lia, que n�o entenderam que Roma n�o se fez num dia, e o cinema est� fechado �em reformas� h� dois anos. As reformas s� come�aram um m�s atr�s.
(A Ana Carolina se levantou no meio da exibi��o, pediu pra parar tudo porque n�o admitia que seu filme fosse prejudicado por um som ruim. Como se um som melhor melhorasse aquilo.)
Ent�o fico pensando num filme sobre Greg�rio de Matos feito por ela e com participa��o de Wally Salom�o. N�o vou. Protesto. N�o vou admitir que a minha intelig�ncia seja insultada por um filme t�o ruim.
Era estr�ia de Am�lia no antigo cinema de Ouro Preto. A A. era f� da Ana Carolina, �ela � um g�nio, fant�stica, bl�, bl�, e veio lan�ar o filme.
(Quer�amos criar um festival de cinema em Ouro Preto, o Carlos Bracher apoiava, o Eduardo Tr�pia empolgou, Juan Pedro Gutierrez fumava e escutava. Come�ar�amos a experi�ncia aos poucos. A Denise Fraga j� tinha ido apresentar e conversar o Por tr�s do pano.)
O cinema, antigo, velho, com pan�s em trapos e bel�ssima decora��o Art Noveau. O som soltava uns pipocos de vez em quando, seu Ad�o tinha uma cole��o invej�vel de cartazes de filmes antigos, e eu o visitava na sala de proje��o, sonhando Cinema Paradiso. O pr�dio lotava aos domingos, estudantes com sacos de pipoca trazidos de casa - o pipoqueiro morreu h� vinte anos e ningu�m o substituiu � e t�nhamos que chegar cedo pra n�o pegar fila grande na padaria pra comprar refrigerantes.
As rep�blicas tinham seu lugar estabelecido, a Serigy no gargarejo, a Penitenci�ria quase na entrada, a Pulgat�rio no meio. Assist�amos a qualquer coisa. P�nico no Lago? Vale pela tradi��o de ir ao cinema aos domingos.
Ent�o veio Ana Carolina e Am�lia, que n�o entenderam que Roma n�o se fez num dia, e o cinema est� fechado �em reformas� h� dois anos. As reformas s� come�aram um m�s atr�s.
(A Ana Carolina se levantou no meio da exibi��o, pediu pra parar tudo porque n�o admitia que seu filme fosse prejudicado por um som ruim. Como se um som melhor melhorasse aquilo.)
Ent�o fico pensando num filme sobre Greg�rio de Matos feito por ela e com participa��o de Wally Salom�o. N�o vou. Protesto. N�o vou admitir que a minha intelig�ncia seja insultada por um filme t�o ruim.
caixa de entrada
queridos, sei que essas mensagens prontas sao muito impessoais, geralmente barangas e pesadas demais para nossas pobres caixas de correio virtuais, sempre lotadas. mas estou longe, sem vcs todos e, um tanto quanto mais sensivel e emotiva, entao nao levem a mal... e mais... essa eh do vinicius....
saudades imensas
quel
Tenho amigos que n�o sabem o quanto s�o meus amigos. N�o percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade � um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intr�nseco o ci�me, que n�o admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora n�o sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
At� mesmo aqueles que n�o percebem o quanto s�o meus amigos e o quanto minha vida depende de suas exist�ncias ...
A alguns deles n�o procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condi��o me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque n�o os procuro com assiduidade, n�o posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles n�o iriam acreditar.
Muitos deles est�o lendo esta cr�nica e n�o sabem que est�o inclu�dos na sagrada rela��o de meus amigos.
Mas � delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora n�o declare e n�o os procure.
E �s vezes, quando os procuro, noto que eles n�o tem no��o de como me s�o necess�rios, de como s�o indispens�veis ao meu equil�brio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, constru� e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso � que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece �, em s�ntese, dirigida ao meu bem estar. Ela �, talvez, fruto do meu ego�smo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma l�grima por n�o estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece � que a roda furiosa da vida n�o me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que s� desconfiam ou talvez nunca v�o saber que s�o meus amigos!
A gente n�o faz amigos, reconhece-os.
(Vin�cius de Moraes)
� Quel, e �s vezes os amigos do estrangeiro n�o rimam com a gente, e sentimos falta daquele livro com aquela frase, ou daquele canto da sala de onde a televis�o parece mais amiga, ou da cole��o de caixas de f�sforos em cima da mesinha da sala e at� daquele quadro - horroroso - das tr�s mulheres na parede da copa. E a saudade nos ocupa.
Mas h� de passar e amanh� o cachorrinho que atravessar seu caminho correndo vai te fazer sorrir pra velhinha dona dele, e assim, com essas alegriazinhas a vida passa.
queridos, sei que essas mensagens prontas sao muito impessoais, geralmente barangas e pesadas demais para nossas pobres caixas de correio virtuais, sempre lotadas. mas estou longe, sem vcs todos e, um tanto quanto mais sensivel e emotiva, entao nao levem a mal... e mais... essa eh do vinicius....
saudades imensas
quel
Tenho amigos que n�o sabem o quanto s�o meus amigos. N�o percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade � um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intr�nseco o ci�me, que n�o admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora n�o sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
At� mesmo aqueles que n�o percebem o quanto s�o meus amigos e o quanto minha vida depende de suas exist�ncias ...
A alguns deles n�o procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condi��o me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque n�o os procuro com assiduidade, n�o posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles n�o iriam acreditar.
Muitos deles est�o lendo esta cr�nica e n�o sabem que est�o inclu�dos na sagrada rela��o de meus amigos.
Mas � delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora n�o declare e n�o os procure.
E �s vezes, quando os procuro, noto que eles n�o tem no��o de como me s�o necess�rios, de como s�o indispens�veis ao meu equil�brio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, constru� e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso � que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece �, em s�ntese, dirigida ao meu bem estar. Ela �, talvez, fruto do meu ego�smo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma l�grima por n�o estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece � que a roda furiosa da vida n�o me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que s� desconfiam ou talvez nunca v�o saber que s�o meus amigos!
A gente n�o faz amigos, reconhece-os.
(Vin�cius de Moraes)
� Quel, e �s vezes os amigos do estrangeiro n�o rimam com a gente, e sentimos falta daquele livro com aquela frase, ou daquele canto da sala de onde a televis�o parece mais amiga, ou da cole��o de caixas de f�sforos em cima da mesinha da sala e at� daquele quadro - horroroso - das tr�s mulheres na parede da copa. E a saudade nos ocupa.
Mas h� de passar e amanh� o cachorrinho que atravessar seu caminho correndo vai te fazer sorrir pra velhinha dona dele, e assim, com essas alegriazinhas a vida passa.
23.2.03
filmes antigos, hist�rias de mist�rio
A. me perguntou o que aconteceu com o meu sono invej�vel. N�o sei.
Tive ins�nia no tempo certo, naquela �poca em que a curiosidade ainda domina o t�dio e todos os livros que me ca�am na m�o pareciam interesant�ssimos. E todos os Coruj�es tamb�m. J� na faculdade tive sempre mais sono que todo mundo e era capaz de passar um final de semana inteiro dormindo. Sei l�, fases.
Uma coisa leva a outra e eu tive um sonho essa noite, uma casa de um filme que vi no Coruj�o, Bergman, n�o tenho certeza, preto e branco. Meio castelo meio casa assombrada. Logo depois li O mist�rio da casa de Usher e a imagem do filme nunca se dissociou da hist�ria de Edgar Allan Poe.
Sonhos noir. Acordei logo depois e n�o consegui dormir mais. Eram 6 da manh�
A. me perguntou o que aconteceu com o meu sono invej�vel. N�o sei.
Tive ins�nia no tempo certo, naquela �poca em que a curiosidade ainda domina o t�dio e todos os livros que me ca�am na m�o pareciam interesant�ssimos. E todos os Coruj�es tamb�m. J� na faculdade tive sempre mais sono que todo mundo e era capaz de passar um final de semana inteiro dormindo. Sei l�, fases.
Uma coisa leva a outra e eu tive um sonho essa noite, uma casa de um filme que vi no Coruj�o, Bergman, n�o tenho certeza, preto e branco. Meio castelo meio casa assombrada. Logo depois li O mist�rio da casa de Usher e a imagem do filme nunca se dissociou da hist�ria de Edgar Allan Poe.
Sonhos noir. Acordei logo depois e n�o consegui dormir mais. Eram 6 da manh�
22.2.03
pra ir dormir
Lendo Alice through the looking glass e Alice j� descobriu que o jeito certo de ler o poema � atrav�s do espelho. A� fui eu que n�o entendi nada do tal poema, o Jabberwocky. Li uma, duas, tr�s vezes e me senti um tira num jardim da inf�ncia. E na seq��ncia:
'It seems very pretty,' she said when she had finished it, 'but it's rather hard to understand!' (You see she didn't like to confess, even to herself, that she couldn't make it out at all.)
Ah bem, nem ela entendeu lhufas. Mas depois dessa � melhor ir dormir e sonhar com o outro pa�s, o das Maravilhas. Vou indo pra toca do coelho. Atrasada eu j� estou.
Lendo Alice through the looking glass e Alice j� descobriu que o jeito certo de ler o poema � atrav�s do espelho. A� fui eu que n�o entendi nada do tal poema, o Jabberwocky. Li uma, duas, tr�s vezes e me senti um tira num jardim da inf�ncia. E na seq��ncia:
'It seems very pretty,' she said when she had finished it, 'but it's rather hard to understand!' (You see she didn't like to confess, even to herself, that she couldn't make it out at all.)
Ah bem, nem ela entendeu lhufas. Mas depois dessa � melhor ir dormir e sonhar com o outro pa�s, o das Maravilhas. Vou indo pra toca do coelho. Atrasada eu j� estou.
mesmo dial
Um tempo atr�s eu e a Angela discut�amos se andamos em uma certa sintonia ou se somos mesmo muito �bvios, e vivermos coisas parecidas por termos refer�ncias mesmas e quando n�o temos acabamos por nos copiar.
(Agora nem sei mais se discuti tudo isso com ela, ou se foi parte, e o resto minha mente f�rtil e esquecida acabou deixando assim. Vai ver isso tamb�m � pl�gio.)
Ent�o quando leio l� no Tempo Imagin�rio o que estou pensando aqui na minha cabe�a avoada n�o estranho mais. Me resigno. E copio, j� que de um jeito ou de outro ia parecer c�pia mesmo:
"De Deus: Eu fa�o as sugest�es e voc� faz as escolhas. � assim que funciona, sutilmente."
Um tempo atr�s eu e a Angela discut�amos se andamos em uma certa sintonia ou se somos mesmo muito �bvios, e vivermos coisas parecidas por termos refer�ncias mesmas e quando n�o temos acabamos por nos copiar.
(Agora nem sei mais se discuti tudo isso com ela, ou se foi parte, e o resto minha mente f�rtil e esquecida acabou deixando assim. Vai ver isso tamb�m � pl�gio.)
Ent�o quando leio l� no Tempo Imagin�rio o que estou pensando aqui na minha cabe�a avoada n�o estranho mais. Me resigno. E copio, j� que de um jeito ou de outro ia parecer c�pia mesmo:
"De Deus: Eu fa�o as sugest�es e voc� faz as escolhas. � assim que funciona, sutilmente."
As cidades e os detetives
A. � uma das pessoas mais inteligentes que conhe�o. Quando se formou na faculdade a Fiat veio convid�-lo para trabalhar na It�lia. N�o aceitou porque n�o queria se corromper e se transformar no vizinho (rico e) apagado da esquina. Em vez de It�lia escolheu o Rio e um mestrado que inclu�a uma disciplina sobre serem os escritores de fic��es de detetives os grandes amantes das cidades, de suas ruas vielas e becos. (Os urbanistas querem mais � destru�-las, transformando as mesmas vielas e becos em espa�os. E viadutos.)
A. n�o � uma "pessoa de mercado". Eu sou menos rom�ntica.
A. � uma das pessoas mais inteligentes que conhe�o. Quando se formou na faculdade a Fiat veio convid�-lo para trabalhar na It�lia. N�o aceitou porque n�o queria se corromper e se transformar no vizinho (rico e) apagado da esquina. Em vez de It�lia escolheu o Rio e um mestrado que inclu�a uma disciplina sobre serem os escritores de fic��es de detetives os grandes amantes das cidades, de suas ruas vielas e becos. (Os urbanistas querem mais � destru�-las, transformando as mesmas vielas e becos em espa�os. E viadutos.)
A. n�o � uma "pessoa de mercado". Eu sou menos rom�ntica.
21.2.03
Perto da casa de A. tem uma mans�o com muitos seguran�as e c�meras e a seguinte inscri��o em baixo relevo: "living forever interprises" ou algo muito parecido. Algu�m contou uma est�ria normalzinha, que � uma empresa antiga, sei l�. A. prefere acreditar que � uma companhia secreta que faz experi�ncias com clonagem, meio a ilha do Dr Moreau. Eu tamb�m (mas s� de brincadeirinha).
20.2.03
18.2.03
Est� chegando a despedida. Perco mais uma cidade. Mas dessa vez vou tranq�ila, aprendi com o Calvino que "De uma cidade n�o aproveitamos suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que d� �s nossas perguntas." Esta me respondeu muitas, me fez outras perguntas mais dif�ceis, me transformou.
14.2.03
rituais
No anivers�rio de cada uma na Lilith faz-se um bolo surpresa. (Todo mundo sabe mas ainda � um bolo surpresa.) Nunca tem muita confus�o pra escolher o sabor numa casa de choc�latras, mas a BB fez anivers�rio e n�o deu pra ser bolo de chocolate, ela fez promessa. Nada de chocolate nem refrigerante por um tempo. De vez em quando - pra citar Carol - ela saca uma promessa assim do sovaco. E sofre com isso e se flagela com isso e morre por isso. (Tenho desconfiado que as promessas da BB s�o mais um ritual de auto-supera��o que uma "troca com Deus".)
Fiz bolo de abacaxi com c�co, receita que eu tirei do sovaco. Pra comer com cerveja, j� que cerveja ela pode. N�o faz parte da promessa.
No anivers�rio de cada uma na Lilith faz-se um bolo surpresa. (Todo mundo sabe mas ainda � um bolo surpresa.) Nunca tem muita confus�o pra escolher o sabor numa casa de choc�latras, mas a BB fez anivers�rio e n�o deu pra ser bolo de chocolate, ela fez promessa. Nada de chocolate nem refrigerante por um tempo. De vez em quando - pra citar Carol - ela saca uma promessa assim do sovaco. E sofre com isso e se flagela com isso e morre por isso. (Tenho desconfiado que as promessas da BB s�o mais um ritual de auto-supera��o que uma "troca com Deus".)
Fiz bolo de abacaxi com c�co, receita que eu tirei do sovaco. Pra comer com cerveja, j� que cerveja ela pode. N�o faz parte da promessa.
7.2.03
A lenda de Zifa
Dizem que Zifa nunca foi pro outro lado das �guas. Inventou essa hist�ria e foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano. J� eu acredito na outra vers�o de que ele foi confundido com um irland�s e apanhou de um ingl�s b�bado num pub logo no primeiro dia. Da� foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano.
Dizem que Zifa nunca foi pro outro lado das �guas. Inventou essa hist�ria e foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano. J� eu acredito na outra vers�o de que ele foi confundido com um irland�s e apanhou de um ingl�s b�bado num pub logo no primeiro dia. Da� foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano.
Dormi o Globo Esporte e o Jornal Hoje na Tabu. O carnaval chegando e a gente reclamando da extin��o do bloco da lama. Deixe estar jacar�.
A verdade � que quase mil pessoas enlameadas pelas ruas dessa cidade hist�rica tinha mesmo � que dar m*a. E deu. No dia seguinte as paredes eram de uma sujeira s�. Mas que era bom, ah isso era. Em linguagem pseudo-gilbertogileana, era uma esp�cie de primitivismo purificador. Cobertos de lama dos p�s � cabe�a n�o t�nhamos diferen�a, nem a preocupa��o de 'ai, como ser� que t� o meu cabelo'.
A verdade � que quase mil pessoas enlameadas pelas ruas dessa cidade hist�rica tinha mesmo � que dar m*a. E deu. No dia seguinte as paredes eram de uma sujeira s�. Mas que era bom, ah isso era. Em linguagem pseudo-gilbertogileana, era uma esp�cie de primitivismo purificador. Cobertos de lama dos p�s � cabe�a n�o t�nhamos diferen�a, nem a preocupa��o de 'ai, como ser� que t� o meu cabelo'.
4.2.03
TRIBUNA DA IMPRENSA, 2 de julho de 1962
"Vi�va Melo Viana: foi Edna quem matou a amante de Fernando" - "A vi�va do senador Melo Viana, Clotilde Melo Viana, adiantou ontem para a imprensa de Belo Horizonte o resumo do depoimento que prestar� hoje na Delegacia de Pol�cia de Ouro Preto: "Eu vi Edna, claramente, atirar contra Lurdes Calmon. Tudo se passou rapidamente, por�m, jamais me esquecerei daquela cena triste". Edna Poni Melo Viana, ex-mulher do engenheiro Melo Viana, freq�entava a alta sociedade de Belo Horizonte e, ultimamente, acionava o marido, exigindo Cr$ 500 mil por m�s de pens�o".
Edna Poni, com ajuda de sua irm� que segurou a v�tima pelos ombros, assassinou a amante de seu marido, Lurdes Calmon em um hotel de Ouro Preto. Era 1962 e ningu�m acreditava no que ouvia. Uma dama da sociedade mineira, rica e de fam�lia influente empunhando uma arma e atirando � vista de todos? Pra receber t�o ilustre figura a cadeia de Ouro Preto foi reformada. As implica��es pol�ticas desse caso � que foram relevantes, mas acabaram esquecidas. O julgamento das irm�s Poni ocorreu em 1964 (no CAEM em Ouro Preto) e seu advogado foi Pedro Aleixo, jurista. Em Bras�lia ocorria o golpe militar que se aproveitava da ausencia do presidente Jo�o Goulart. O vice tamb�m estava distante, atuando como advogado de defesa num caso em Minas Gerais. Seu nome era Pedro Aleixo.
P.S.: As irm�s Poni foram condenadas e cumpriram pena na penitenci�ria de Ouro Preto.
como uma coisa leva a outra
Pesquisando o cado das irm�s Poni n�o achei muito sobre o assunto n�o. Mas mudei de assunto muitas vezes...
"Entrei para o jornalismo para desmentir uma not�cia. Fazia parte de um grupo de arqueologia no Col�gio Anchieta, em Belo Horizonte, que desenterrou um cr�nio de 10 mil anos numa gruta de Lagoa Santa, em 1962/63. Era uma descoberta importante: mudava um pouco a nossa hist�ria pr�-colombiana. Mas o rep�rter do �ltima Hora que foi nos entrevistar acrescentou alguns zeros. Fomos manchete, com nosso cr�nio promovido a 1 milh�o de anos. Agora, mud�vamos a hist�ria do mundo! As ag�ncias de not�cia ligavam para o col�gio em busca de detalhes. Fui escolhido para ir ao UH desmentir a not�cia. Cheguei ao balc�o da reda��o, numa sobreloja sobre a Pra�a Sete, no centro da cidade, com uma frase feita: "Exijo a verdade a bem da ci�ncia". Levaram-me ao Jos� Wainer. E ele me pediu que sentasse na reda��o e escrevesse o desmentido. Sentei-me ao lado de Alberico Souza Cruz. Nunca mais sa� de jornal. J� no dia seguinte era rep�rter de pol�cia." Mois�s Rabinovici
"Vi�va Melo Viana: foi Edna quem matou a amante de Fernando" - "A vi�va do senador Melo Viana, Clotilde Melo Viana, adiantou ontem para a imprensa de Belo Horizonte o resumo do depoimento que prestar� hoje na Delegacia de Pol�cia de Ouro Preto: "Eu vi Edna, claramente, atirar contra Lurdes Calmon. Tudo se passou rapidamente, por�m, jamais me esquecerei daquela cena triste". Edna Poni Melo Viana, ex-mulher do engenheiro Melo Viana, freq�entava a alta sociedade de Belo Horizonte e, ultimamente, acionava o marido, exigindo Cr$ 500 mil por m�s de pens�o".
Edna Poni, com ajuda de sua irm� que segurou a v�tima pelos ombros, assassinou a amante de seu marido, Lurdes Calmon em um hotel de Ouro Preto. Era 1962 e ningu�m acreditava no que ouvia. Uma dama da sociedade mineira, rica e de fam�lia influente empunhando uma arma e atirando � vista de todos? Pra receber t�o ilustre figura a cadeia de Ouro Preto foi reformada. As implica��es pol�ticas desse caso � que foram relevantes, mas acabaram esquecidas. O julgamento das irm�s Poni ocorreu em 1964 (no CAEM em Ouro Preto) e seu advogado foi Pedro Aleixo, jurista. Em Bras�lia ocorria o golpe militar que se aproveitava da ausencia do presidente Jo�o Goulart. O vice tamb�m estava distante, atuando como advogado de defesa num caso em Minas Gerais. Seu nome era Pedro Aleixo.
P.S.: As irm�s Poni foram condenadas e cumpriram pena na penitenci�ria de Ouro Preto.
como uma coisa leva a outra
Pesquisando o cado das irm�s Poni n�o achei muito sobre o assunto n�o. Mas mudei de assunto muitas vezes...
"Entrei para o jornalismo para desmentir uma not�cia. Fazia parte de um grupo de arqueologia no Col�gio Anchieta, em Belo Horizonte, que desenterrou um cr�nio de 10 mil anos numa gruta de Lagoa Santa, em 1962/63. Era uma descoberta importante: mudava um pouco a nossa hist�ria pr�-colombiana. Mas o rep�rter do �ltima Hora que foi nos entrevistar acrescentou alguns zeros. Fomos manchete, com nosso cr�nio promovido a 1 milh�o de anos. Agora, mud�vamos a hist�ria do mundo! As ag�ncias de not�cia ligavam para o col�gio em busca de detalhes. Fui escolhido para ir ao UH desmentir a not�cia. Cheguei ao balc�o da reda��o, numa sobreloja sobre a Pra�a Sete, no centro da cidade, com uma frase feita: "Exijo a verdade a bem da ci�ncia". Levaram-me ao Jos� Wainer. E ele me pediu que sentasse na reda��o e escrevesse o desmentido. Sentei-me ao lado de Alberico Souza Cruz. Nunca mais sa� de jornal. J� no dia seguinte era rep�rter de pol�cia." Mois�s Rabinovici
"Voc� nada contra a corrente. Est� acima do seu tempo. Sua filosofia de vida �: sexo, drogas e rock and roll. N�o necessariamente nesta ordem. Ah, deixa de papo furado, me prepara a vodca que j� estou na banheira!"
Qual personagem do Angeli voc� � ?
Qual personagem do Angeli voc� � ?
"Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor."
Vai no tempo imaginario ler o resto.
Vai no tempo imaginario ler o resto.
qualidade x quantidade
"Titina viva, me chamava de Iemanj�zinha e me mandava jogar flor branca no mar, s� entendi grande, mas a� j� n�o acreditava. Triste. Acho que mais uns anos de vida e eu volto a acreditar de novo. Agora em tudo, tudinho."
Angela
N�o recebo muitos comentarios (o teclado ta desconfigurado, mais uma vez os acentos me escaparao), mas deixa assim porque os que recebo compensam um monte por serem de verdade. Porque ate eu ja fiz aqueles comentarios so pra dizer oi (uma tanto agradaveis, confesso), mas os de verdade, esses sim valem um doce.
"Titina viva, me chamava de Iemanj�zinha e me mandava jogar flor branca no mar, s� entendi grande, mas a� j� n�o acreditava. Triste. Acho que mais uns anos de vida e eu volto a acreditar de novo. Agora em tudo, tudinho."
Angela
N�o recebo muitos comentarios (o teclado ta desconfigurado, mais uma vez os acentos me escaparao), mas deixa assim porque os que recebo compensam um monte por serem de verdade. Porque ate eu ja fiz aqueles comentarios so pra dizer oi (uma tanto agradaveis, confesso), mas os de verdade, esses sim valem um doce.
3.2.03
mitologia barata
Bem, eu gosto muito de mitologia grega, mas queria saber mais sobre mitologia brasileira - me dando o direito de chamar de brasileira a mistura africana, ind�gena e, bem, portuguesa. Ent�o entrei, faz uns 3 anos, numa livraria em Salvador e o livro mais barato que achei sobre o tema era 80 reais. Quem pode com a press�o financeira? Comprei outros de outras mitologias mais baratinhas.
Bem, eu gosto muito de mitologia grega, mas queria saber mais sobre mitologia brasileira - me dando o direito de chamar de brasileira a mistura africana, ind�gena e, bem, portuguesa. Ent�o entrei, faz uns 3 anos, numa livraria em Salvador e o livro mais barato que achei sobre o tema era 80 reais. Quem pode com a press�o financeira? Comprei outros de outras mitologias mais baratinhas.
iemanj�, m�e cujos filhos s�o peixes
Quando Obatal� e Odudua se casaram, tiveram dois filhos: Iemanj� (o mar) e Aganju (a terra). Os irm�os se casaram e tiveram um filho, Orung� (o ar). Quando cresceu, Orung� se apaixonou pela m�e. Um dia, aproveitando a aus�ncia do pai, tentou violent�-la. Iemanj� conseguiu escapar e fugiu pelos campos. Quando Orung� j� a alcan�ava, ela caiu ao ch�o e morreu. Ent�o seu corpo come�ou a crescer at� que seus seios se romperam e deles sa�ram dois grandes rios, que formaram os mares; e do ventre sa�ram os Orix�s que governam as 16 direc�es do mundo: Exu, Ogum, Xang�, Ians�, Ossain, Oxossi, Ob�, Oxum, Dad�, Olocum, Olox�, Ok�, Ok�, Aj� Xalug�, Orum e Oxu.
Quando Obatal� e Odudua se casaram, tiveram dois filhos: Iemanj� (o mar) e Aganju (a terra). Os irm�os se casaram e tiveram um filho, Orung� (o ar). Quando cresceu, Orung� se apaixonou pela m�e. Um dia, aproveitando a aus�ncia do pai, tentou violent�-la. Iemanj� conseguiu escapar e fugiu pelos campos. Quando Orung� j� a alcan�ava, ela caiu ao ch�o e morreu. Ent�o seu corpo come�ou a crescer at� que seus seios se romperam e deles sa�ram dois grandes rios, que formaram os mares; e do ventre sa�ram os Orix�s que governam as 16 direc�es do mundo: Exu, Ogum, Xang�, Ians�, Ossain, Oxossi, Ob�, Oxum, Dad�, Olocum, Olox�, Ok�, Ok�, Aj� Xalug�, Orum e Oxu.
Ensinamento
Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado
Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado
30.1.03
Da simplicidade
Seu Juca, artes�o e mestre de cantaria recebeu condecora��o do presidente, mas n�o queria ir receber, n�o gosta de sair de Minas. H� uns anos foi a Veneza fazer curso de escultura. "L� � muito bonito, mas o meu servi�o � bem diferente". Carregou na mala o fub� e o queijo Minas, todo dia come mingau, n�o era l� na lonjura que n�o ia comer, mas n�o gostou muito da experi�ncia, "eu, com 78 anos, ir esbarrar em ilha, toda cercada de �gua..."
Seu Juca, artes�o e mestre de cantaria recebeu condecora��o do presidente, mas n�o queria ir receber, n�o gosta de sair de Minas. H� uns anos foi a Veneza fazer curso de escultura. "L� � muito bonito, mas o meu servi�o � bem diferente". Carregou na mala o fub� e o queijo Minas, todo dia come mingau, n�o era l� na lonjura que n�o ia comer, mas n�o gostou muito da experi�ncia, "eu, com 78 anos, ir esbarrar em ilha, toda cercada de �gua..."
ox�moro
Minha irm�zinha, deve estar um friozinho a�, n�o? N�o me despedi e fico triste de pensar. Recebeu minha cartinha? Ontem escutei os Saltimbancos no r�dio, e copiei a letra a� embaixo. Lembrei de voc� cantando e mexendo os bra�os como Caetano (vamos comer Caetano...). Pensei em como a gente � liter�ria e fica assim, confirmando profecias. Nossa irm� vai bem, conversei com ela ontem ao telefone. Mais liter�ria que a gente, casmurra. E o B�? Ao Bernardo Caetano d� um abra�o forte, de encostar as barrigas e apertar as costelas. E pra voc�, todo o meu pote de doce de leite pastoso Vi�osa.
Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram
O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia fil�-mignon
Ou mesmo um bom fil�... de gato
Me diziam em casa, n�o tome vento
Mas � duro ficar na sua
Quando � luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite v�o cantando assim
N�s, gatos, j� nascemos pobres
Por�m, j� nascemos livress
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, n�o reconhecer�s
De manh� eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem fil� e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
� no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim
N�s, gatos, j� nascemos pobres
Por�m, j� nascemos livress
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, n�o reconhecer�s
Minha irm�zinha, deve estar um friozinho a�, n�o? N�o me despedi e fico triste de pensar. Recebeu minha cartinha? Ontem escutei os Saltimbancos no r�dio, e copiei a letra a� embaixo. Lembrei de voc� cantando e mexendo os bra�os como Caetano (vamos comer Caetano...). Pensei em como a gente � liter�ria e fica assim, confirmando profecias. Nossa irm� vai bem, conversei com ela ontem ao telefone. Mais liter�ria que a gente, casmurra. E o B�? Ao Bernardo Caetano d� um abra�o forte, de encostar as barrigas e apertar as costelas. E pra voc�, todo o meu pote de doce de leite pastoso Vi�osa.
Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram
O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia fil�-mignon
Ou mesmo um bom fil�... de gato
Me diziam em casa, n�o tome vento
Mas � duro ficar na sua
Quando � luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite v�o cantando assim
N�s, gatos, j� nascemos pobres
Por�m, j� nascemos livress
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, n�o reconhecer�s
De manh� eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem fil� e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
� no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim
N�s, gatos, j� nascemos pobres
Por�m, j� nascemos livress
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, n�o reconhecer�s
24.1.03
Tava com vontade de comer p�o. Uma das particularidades desta terra � poder comprar p�o no boteco. Lembrei de ter lido h� um tempo atr�s um livro de prosa da Elizabeth Bishop, em que ela descreve o mesmo percurso que acabo de fazer. Pedi uma Coca-Cola, uns guardanapos e sentei pra escrever. Seu Lu�s vem me dizer que vai chover, como se n�o chovesse a cada meia hora eu pergunto, De novo? Vou em casa comer esse p�o com Nescaf� Tradi��o. Hora marcada no cabelereiro, tenho que acertar os intervalos das chuvas para ir e voltar de l�. O cabelereiro � uma dassas bichas divertid�ssimas quase caricatas, lindo de morrer.
(Isso me fez lembrar um personagem do Rubem Fonseca. Em Vastas emo��es e pensamentos imperfeitos ele descreve uma bicha de rolinhos e fazendo croch�, dono de um hotel em Diamantina. Parece personagem demais, mas ele existe mesmo, � um doce e ainda deve estar l�, atr�s do balc�o, crochetando descansos de copos e sorrindo � vida.)
(Isso me fez lembrar um personagem do Rubem Fonseca. Em Vastas emo��es e pensamentos imperfeitos ele descreve uma bicha de rolinhos e fazendo croch�, dono de um hotel em Diamantina. Parece personagem demais, mas ele existe mesmo, � um doce e ainda deve estar l�, atr�s do balc�o, crochetando descansos de copos e sorrindo � vida.)
21.1.03
Tava fazendo hora na biblioteca da faculdade enquanto esperava vagar um computador. Peguei A arte de amar, de Ov�dio. "Ov�dio escreveu para os leitores que viviam nas cidades do imp�rio, descreveu as experi�ncias amorosas da aristocracia romana e as formas de sedu��o amorosa corrente entre os libertos." Vamos ver no que isso deu, depois eu conto.
Peguei tamb�m Ana Cristina Cesar, s� por conta desse poema:
Tenho ci�mes desse cigarro que voc� fuma
T�o distraidamente.
Peguei tamb�m Ana Cristina Cesar, s� por conta desse poema:
Tenho ci�mes desse cigarro que voc� fuma
T�o distraidamente.
20.1.03
14.1.03
Das expectativas
um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma il�ada
depois
a barra pesando
dava pra ser a� um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um elu�rd um ginsberg
por fim
acabamos o pequeno poeta de prov�ncia
que sempre fomos
por tr�s de tantas m�scaras
que o tempo tratou como a flores
Paulo Leminski
um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma il�ada
depois
a barra pesando
dava pra ser a� um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um elu�rd um ginsberg
por fim
acabamos o pequeno poeta de prov�ncia
que sempre fomos
por tr�s de tantas m�scaras
que o tempo tratou como a flores
Paulo Leminski
13.1.03
Mais pombos-correios
ou como uma hist�ria puxa a outra.
D. contou que quando estudava na Escola de Minas, naquela sala grande que j� foi chamada de Maracan� (substitu�da em nome por outra no ICEB), um pombo entrou por um quadradinho da janela. O professor parou a aula e o bedel se desculpou, 'Esse pombo � me, professor. Deve ser minha mulher pedindo pra eu levar carne pro almo�o.'
Retirou o rolinho da pata do animal, confirmou o que j� adivinhara e respondeu de volta: 'Pode deixar.' Amarrou no pombo, falou algo no ouvido (do pombo) e o soltou. Deixanto todos estupefatos.
ou como uma hist�ria puxa a outra.
D. contou que quando estudava na Escola de Minas, naquela sala grande que j� foi chamada de Maracan� (substitu�da em nome por outra no ICEB), um pombo entrou por um quadradinho da janela. O professor parou a aula e o bedel se desculpou, 'Esse pombo � me, professor. Deve ser minha mulher pedindo pra eu levar carne pro almo�o.'
Retirou o rolinho da pata do animal, confirmou o que j� adivinhara e respondeu de volta: 'Pode deixar.' Amarrou no pombo, falou algo no ouvido (do pombo) e o soltou. Deixanto todos estupefatos.
Dos medos
O homem bateu na porta e as duas crian�as foram chamar o pai.
- O senhor n�o tem um r�dio que possa me dar?
O pai lembrou do aparelho abandonado no quarto dos fundos. Buscou o r�dio sob os olhares curiosos das crian�as e o deu ao homem. As crian�as quiseram lhe falar, seriamente:
- Pai, se ele pedir nossa televis�o o senhor vai dar tamb�m?
O homem devolveu o r�dio no dia seguinte, n�o funcionava.
O homem bateu na porta e as duas crian�as foram chamar o pai.
- O senhor n�o tem um r�dio que possa me dar?
O pai lembrou do aparelho abandonado no quarto dos fundos. Buscou o r�dio sob os olhares curiosos das crian�as e o deu ao homem. As crian�as quiseram lhe falar, seriamente:
- Pai, se ele pedir nossa televis�o o senhor vai dar tamb�m?
O homem devolveu o r�dio no dia seguinte, n�o funcionava.
domingo � soletrar a pregui�a de domingo...
Depois do almo�o sentamos na varanda com vista pra vista. Numa casa l� bem longe uma crian�a brincava de balan�o enquanto eu apertava meus olhos pra enxerg�-la. Impressionantemente n�s ouv�amos o barulho que o balan�o fazia. D. contou que um dia desses pousou ali naquela varanda um pombo-correio. Fiquei feliz por viver em um lugar onde se pode ver pombos-correio.
Depois do almo�o sentamos na varanda com vista pra vista. Numa casa l� bem longe uma crian�a brincava de balan�o enquanto eu apertava meus olhos pra enxerg�-la. Impressionantemente n�s ouv�amos o barulho que o balan�o fazia. D. contou que um dia desses pousou ali naquela varanda um pombo-correio. Fiquei feliz por viver em um lugar onde se pode ver pombos-correio.
9.1.03
� ver�o?
Tava calor. Eu j� tinha tentado todos os jeitos, mas n�o consegui dormir naquele �nibus de cadeiras apertadas. R. roncava do meu lado, 'Muda de posi��o pra parar de roncar', 'Como?'. Me resignei. Fiquei acordada, pensei na vida, em Benedita. Nas aulas dentro de poucas horas. Pensei em Salvador, ainda vou morar l�... Vi ruas de Atenas, de Verona, de Porto Alegre. Lembrei de uma frase do lorde Byron: "Comer, beber, amar. O resto n�o vale um n�quel." - e isso me rendeu uma meia hora de devaneios. Tentei virar de lado, contar carneirinhos, ir ao banheiro. Cochilei.
Ent�o fui acordada pelo frio, e soube que estava chegando em Ouro Preto.
Tava calor. Eu j� tinha tentado todos os jeitos, mas n�o consegui dormir naquele �nibus de cadeiras apertadas. R. roncava do meu lado, 'Muda de posi��o pra parar de roncar', 'Como?'. Me resignei. Fiquei acordada, pensei na vida, em Benedita. Nas aulas dentro de poucas horas. Pensei em Salvador, ainda vou morar l�... Vi ruas de Atenas, de Verona, de Porto Alegre. Lembrei de uma frase do lorde Byron: "Comer, beber, amar. O resto n�o vale um n�quel." - e isso me rendeu uma meia hora de devaneios. Tentei virar de lado, contar carneirinhos, ir ao banheiro. Cochilei.
Ent�o fui acordada pelo frio, e soube que estava chegando em Ouro Preto.
A mem�ria � maior.
Fernanda, de 12 anos, me perguntou se a Torre Eiffel era grande. "Menor que a pedra de Ouro Verde."
(Em minha inf�ncia meus av�s moravam em Ouro Verde. Meu av� tinha uma fazenda de caf� que era cheia de 'or�pa', abelhas selvagens com nome de outro continente, nunca entendi isso. Tinha tamb�m tamandu�, marias-pretas e sofreus. Tucano tinha um no quintal da casa na cidade. Na pracinha na frente morava uma fam�lia de bichos-pregui�a. Eu engolia piabinhas vivas, Tin� dizia que s� assim ia aprender a nadar.
Um velho contava hist�rias de fantasmas na frente da fogueira no m�s de julho. Eu tinha medo dele.
Roubava laranjas-bahia na casa de Tim, de um �nico p�. Inda agora minha boca enche d'�gua, nunca mais comi laranjas-bahia iguais. Soube que o p� foi cortado.
Julinho P�-de-pato andava de terno, mas s� tomava banho nas f�rias, de mangueira, dado por meu tio Juninho, que tamb�m lhe tirava os bichos do p�, com uma agulha e v�rios impromp�rios. Julinho sentado no banco do jardim. Juninho sentado num banquinho baixo, de jacarand�.
Julinho P�-de-pato me chamava de princesa.
Eu tinha um p� de jabuticaba, respons�vel por umas tantas broncas pelas manchas nas roupas de pleb�ia.
Meu av� me dizia que a pedra alta, que podia ser vista da pra�a, e ficava atr�s da casa, tinha sido vendida pros japoneses. Pra fazer pedra de isqueiro.)
Fernanda, de 12 anos, me perguntou se a Torre Eiffel era grande. "Menor que a pedra de Ouro Verde."
(Em minha inf�ncia meus av�s moravam em Ouro Verde. Meu av� tinha uma fazenda de caf� que era cheia de 'or�pa', abelhas selvagens com nome de outro continente, nunca entendi isso. Tinha tamb�m tamandu�, marias-pretas e sofreus. Tucano tinha um no quintal da casa na cidade. Na pracinha na frente morava uma fam�lia de bichos-pregui�a. Eu engolia piabinhas vivas, Tin� dizia que s� assim ia aprender a nadar.
Um velho contava hist�rias de fantasmas na frente da fogueira no m�s de julho. Eu tinha medo dele.
Roubava laranjas-bahia na casa de Tim, de um �nico p�. Inda agora minha boca enche d'�gua, nunca mais comi laranjas-bahia iguais. Soube que o p� foi cortado.
Julinho P�-de-pato andava de terno, mas s� tomava banho nas f�rias, de mangueira, dado por meu tio Juninho, que tamb�m lhe tirava os bichos do p�, com uma agulha e v�rios impromp�rios. Julinho sentado no banco do jardim. Juninho sentado num banquinho baixo, de jacarand�.
Julinho P�-de-pato me chamava de princesa.
Eu tinha um p� de jabuticaba, respons�vel por umas tantas broncas pelas manchas nas roupas de pleb�ia.
Meu av� me dizia que a pedra alta, que podia ser vista da pra�a, e ficava atr�s da casa, tinha sido vendida pros japoneses. Pra fazer pedra de isqueiro.)
Das janelas
Meu av� me perguntou se eu n�o me cansei de viajar. Fiquei olhando pra ele e seus olhinhos me contaram de estradas, de pastos. Umas fazendas com vacas brancas, outras com vacas misturadas. Pedras grandes, com abacaxizinhos pela superf�cie. Depois me falaram de lama, de atoleiros. De riozinhos passando, como quem n�o quer nada, atravessando a estrada. Cheiros de mato suado, de estrume.
Perguntei se ele j� tinha se cansado de ver, de olhar pela janela, pelas janelas. Ele sorriu.
Meu av� me perguntou se eu n�o me cansei de viajar. Fiquei olhando pra ele e seus olhinhos me contaram de estradas, de pastos. Umas fazendas com vacas brancas, outras com vacas misturadas. Pedras grandes, com abacaxizinhos pela superf�cie. Depois me falaram de lama, de atoleiros. De riozinhos passando, como quem n�o quer nada, atravessando a estrada. Cheiros de mato suado, de estrume.
Perguntei se ele j� tinha se cansado de ver, de olhar pela janela, pelas janelas. Ele sorriu.
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