7.4.03

"O tema do poeta � sempre ele mesmo. Ele � um narcisista: exp�e o mundo atrav�s dele mesmo. Ele quer ser o mundo, e pelas inquieta��es dele, desejos, esperan�as, o mundo aparece. Atrav�s de sua ess�ncia, a ess�ncia do mundo consegue aparecer. O tema da minha poesia sou eu mesmo e eu sou pantaneiro. Ent�o, n�o � que eu descreva o Pantanal, n�o sou disso, nem de narrar nada. Mas nasci aqui, fiquei at� os oito anos e depois fui estudar. Tenho um lastro da inf�ncia, tudo o que a gente � mais tarde vem da inf�ncia. Nesse �ltimo livro meu, Livro sobre nada, tem muitos versos que vieram da inf�ncia. Tem um poema que se chama "A arte de infantilizar formigas". Num v�deo que fizeram sobre mim, o rapaz chega uma hora que pergunta: "Escuta aqui, o senhor escreveu que formiga n�o tem dor nas costas. Mas como � que o senhor sabe?". Outro rapaz me escreveu do Rio, diz que freq�enta as aulas de um professor muito inteligente em energia nuclear, f�sica, poesia e romance, e ele fez a pergunta, que � um verso meu: "Professor, por que a 15 metros do arco-�ris o sol � cheiroso?". O professor, que tinha estudado Einstein e outros autores, disse: "Essa pergunta n�o vou responder, � absurda". Ou seja, encabulou."

Manoel de Barros