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O mês de maio já começou. Vou contar um causo singelo. Terça-feira voltava para casa, meio tarde, passei em frente a um boteco imundo e VI. Vi o que? Vi a garrafa de Xiboquinha na prateleira, e não resisti. Me apoiei no balcão, daquele jeito que eu gosto, engordurando os braços de memórias e escombros de coxinhas, quibes e outros salgados mais, e pedi a primeira dose. Na televisão, Casseta e Planeta (que eu odeio) estava acabando, e me lembrei que ia começar Carga Pesada. Já estava ficando excitado, que esse troço de estrada, viagem, interior do Brasil, é comigo mesmo, você sabe que eu amo. Tive, então, que tomar uma decisão firme, e decidi me apoiar mais ainda no balcão e pedir mais xiboquinhas enquanto assistia as aventuras de meus super-heróis Stenio Garcia e Antonio Fagundes. Lá entre a quarta e a quinta, já estava em lágrimas. Eu não estou exagerando, não estou adicionando toques de dramaticidade para compor o e-mail, chorei mesmo. Me emocionei com aqueles caminhões, a estrada, a biópsia de Stenio Garcia, a moça expulsa de casa que queria ver ets, essas coisas. Esse mundo de caminhoneiro me emociona muito, já disse isso e vou repetir. Com xiboquinhas, fico sensível, muito sensível, vejo beleza em quarquer coisa, e já tava pensando em sair dali e comprar um disco de música sertaneja. Sabe a emoção que é atravessar a Belém-Brasília cantando música de caminhoneiro que você acabou de aprender? É lindo, e vou parar por aqui de justificar minhas lágrimas, que foram sinceras e me fizeram feliz por uma boa horinha. Pois bem, lá para o fim do programa, o homem do boteco virou para mim e disse. "Você quer continuar? Tem algo errado com a sua bochecha.". O tempo acabou. Continuo depois.
A.