27.4.03

pena

- Voc� me sufoca, com essa mania louca de n�o dizer nada, mas com um olhar de quem diz tudo. Voc� me desorienta com essas ambig�idades. N�o sei como agir. Voc� se mostra como uma pessoa apaixonada, deliciosamente entregue. Est� tudo nos seus olhos. Voc� me seduz com palavras doces. Voc� me envolve e depois n�o diz nada. Sil�ncio. Sil�ncio. Sil�ncio. Eu quero que sua boca assuma o compromisso firmado pelos seus olhares, quero que seu corpo cumpra com o pactuado pelo gestual.

- Tenho receio de falar...

- � esse seu medo que alimenta minha paix�o, que nutre meus mais profundos e ineg�veis sentimentos. � esse receio inexplic�vel que a faz emudecer, e � mesma propor��o provoca uma gritaria dentro de mim. N�o consigo viver nessa situa��o de ang�stia, de n�o-dizeres, de sil�ncios e imagina��es. Quero a verdade, quero defini��es, quero objetividade. Eu quero uma resposta para tudo que eu sinto e vivo!

- Mesmo?

- Sim, quero isso! Acho que mere�o. Acho que diante de tudo que sinto ao menos uma explica��o eu mere�o. Tenho direito de saber qual o destino disso tudo que sinto, sinto-me em condi��o de ter acesso a essa informa��o. Por favor, diga para mim. Fala sobre seu olhar, seu sil�ncio, seus gestos. N�o pergunte se pode, fa�a! N�o pe�a permiss�o, invada! N�o tente ser sutil, arrase!

- Olha, ent�o vou falar...

- Fala tudo!

- Pois bem... Voc� � uma pessoa paran�ica, que simplesmente inventou um amor criado exclusivamente na sua cabe�a. Nunca passei de um olhar, porque n�o quis passar de um olhar. Ali�s, nunca olhei para voc� de modo diferente com que olho para as outras coisas. Queria que olhasse de olhos fechados? Ou prefere que fale sem olhar para voc�? J� lhe ocorreu que tenho boca e que, por acaso, n�o sou uma pessoa t�mida? J� passou pela sua cabe�a que est� mais do que na cara essa sua inten��o? Por algum acaso voc� j� tentou supor que eu teria simplesmente dito tudo isso que voc� acredita que eu possa sentir, caso fosse verdade?

- ...

- Agora fica a�... Esse sil�ncio rid�culo de quem n�o aceita o mundo real.