coincid�ncia, ou tudo que precisava
Era o primeiro ano de faculdade. Fui fazer pesquisa em Biof�sica. Um dia brinquei com meu orientador:
- O Andrade de seu sobrenome...� filho de poeta?
- N�o. Sobrinho.
31.10.02
M�rio Quintana tamb�m � Drummond,
ou ainda resta uma esperan�a.
"Eu, na escola, estudava Franc�s e Portugu�s. O resto eu adivinhava. Meu pai queria que eu me formasse, mas ele n�o p�de comigo. A� meu pai me levou para trabalhar com ele. Durante sete anos fui pr�tico de farm�cia e foi a� que eu aprendi a cuidar dos ingredientes. Acho que meu cuidado com a forma come�ou a�. N�o � f�cil descobrir qual � a melhor forma entre as mil e uma maneiras que se pode dizer as coisas. Ent�o, depois destes sete anos, fui fazer o que queria fazer: escrever."
ou ainda resta uma esperan�a.
"Eu, na escola, estudava Franc�s e Portugu�s. O resto eu adivinhava. Meu pai queria que eu me formasse, mas ele n�o p�de comigo. A� meu pai me levou para trabalhar com ele. Durante sete anos fui pr�tico de farm�cia e foi a� que eu aprendi a cuidar dos ingredientes. Acho que meu cuidado com a forma come�ou a�. N�o � f�cil descobrir qual � a melhor forma entre as mil e uma maneiras que se pode dizer as coisas. Ent�o, depois destes sete anos, fui fazer o que queria fazer: escrever."
oráculo
Era uma época de dúvidas. E aquele papel em minha mão me feria como navalha. O papel não era em nada diferente das boletas de loteria, nem em significado. Era a inscrição do Vestibular para a Universidade Federal de Ouro Preto.
O meu pai tem farmácia, meus avós, minha mãe teve outra, todos os meus tios. E eu querendo mesmo era ser jornalista. Talvez Direito... Mas minha mãe nunca permitiria, e eu ainda vivia sobre sua sombra, apavorada. E todas as possibilidades de escapar do seu domínio acabavam em medo e vergonha.
Olhava triste aquele papel que não me oferecia sonhos. Nutrição parecia interessante, coisas que não se sabem muito bem o que são, são sempre interessantes. Mas Farmácia era a glória de Ouro Preto.
Não queria decidir sozinha, pedi ajuda ao meu pai e, ao menos daquela vez, queria uma resposta. Mas ele não é um homem de respostas, não me dava ordens, não ditava regras de vida. Me mostrava a encruzilhada e eu que me resolvesse. O que saia da sua boca era 'te crio pro mundo, não pra mim', mas o que dizia era que não me queria como um robô treinado, mas como uma pessoa que tivesse as rédeas da própria vida, e que vivesse as consequências de minhas escolhas.
(Chamei isso de covardia. Chamo hoje de ensinamento, muita coragem é necessária pra que se diga isso.)
Na minha restrita dúvida, que excluía a única resposta, me refugiei na Biblioteca Estadual da Praça da Liberdade. Não precisei de 5 minutos. Drummond me respondeu:
Então, sei lá porquê,
fui fazer Farmácia.
Era 1997.
Era uma época de dúvidas. E aquele papel em minha mão me feria como navalha. O papel não era em nada diferente das boletas de loteria, nem em significado. Era a inscrição do Vestibular para a Universidade Federal de Ouro Preto.
O meu pai tem farmácia, meus avós, minha mãe teve outra, todos os meus tios. E eu querendo mesmo era ser jornalista. Talvez Direito... Mas minha mãe nunca permitiria, e eu ainda vivia sobre sua sombra, apavorada. E todas as possibilidades de escapar do seu domínio acabavam em medo e vergonha.
Olhava triste aquele papel que não me oferecia sonhos. Nutrição parecia interessante, coisas que não se sabem muito bem o que são, são sempre interessantes. Mas Farmácia era a glória de Ouro Preto.
Não queria decidir sozinha, pedi ajuda ao meu pai e, ao menos daquela vez, queria uma resposta. Mas ele não é um homem de respostas, não me dava ordens, não ditava regras de vida. Me mostrava a encruzilhada e eu que me resolvesse. O que saia da sua boca era 'te crio pro mundo, não pra mim', mas o que dizia era que não me queria como um robô treinado, mas como uma pessoa que tivesse as rédeas da própria vida, e que vivesse as consequências de minhas escolhas.
(Chamei isso de covardia. Chamo hoje de ensinamento, muita coragem é necessária pra que se diga isso.)
Na minha restrita dúvida, que excluía a única resposta, me refugiei na Biblioteca Estadual da Praça da Liberdade. Não precisei de 5 minutos. Drummond me respondeu:
Então, sei lá porquê,
fui fazer Farmácia.
Era 1997.
29.10.02
E j� no avi�o S�o Paulo - Belo Horizonte me lembrei, com gosto, de como s�o melhores os sabores do Brasil. Depois de almo�ar aquele peixe sabor borracha Mercur, no oceano Atl�ntico, em terras - ou melhor, ares - tupiniquins a sobremesa me veio com sabor de goiaba.
E a noite � mais escura e o dia amanhaceu mais azul.
E a noite � mais escura e o dia amanhaceu mais azul.
Atenas
"Poucos se apaixonam por Atenas", diz o Lonely Planet. Mas sou de paixoes f�ceis. N�o espero muito mais da vida. Se aprendi uma coisa nessa viagem longa foi n�o ter grandes expectativas.
Assim me encantei pelas ruas do centro de Atenas, cheias daquelas lojinhas em que se vendem pregadores de roupas e velas. O Mercado Central me faz reviver Te�filo Otoni.
(Cidade onde nasci, e que reneguei tantas vezes. Hoje a entendo melhor, em seu jeito t�o Ra�zes do Brasil, desterrada em sua pr�pria terra, que n�o sendo Bahia j� n�o � mais Minas Gerais. Se eu tivesse escrito aquele poema seria, Alguns anos vivi em Te�filo Otoni./ Principalmente nasci em Te�filo Otoni./ Por isso sou orgulhosa e triste; de poeira./ Noventa por cento de poeira nas cal�adas./ Oitenta por cento de poeira nas almas./ E esse alheamento do que na vida � porosidade e comunica��o.)
Ent�o sa� de Atenas com uma melancolia de ter perdido mais uma cidade.
"Poucos se apaixonam por Atenas", diz o Lonely Planet. Mas sou de paixoes f�ceis. N�o espero muito mais da vida. Se aprendi uma coisa nessa viagem longa foi n�o ter grandes expectativas.
Assim me encantei pelas ruas do centro de Atenas, cheias daquelas lojinhas em que se vendem pregadores de roupas e velas. O Mercado Central me faz reviver Te�filo Otoni.
(Cidade onde nasci, e que reneguei tantas vezes. Hoje a entendo melhor, em seu jeito t�o Ra�zes do Brasil, desterrada em sua pr�pria terra, que n�o sendo Bahia j� n�o � mais Minas Gerais. Se eu tivesse escrito aquele poema seria, Alguns anos vivi em Te�filo Otoni./ Principalmente nasci em Te�filo Otoni./ Por isso sou orgulhosa e triste; de poeira./ Noventa por cento de poeira nas cal�adas./ Oitenta por cento de poeira nas almas./ E esse alheamento do que na vida � porosidade e comunica��o.)
Ent�o sa� de Atenas com uma melancolia de ter perdido mais uma cidade.
Ou uma aprendizagem
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
eu s� levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manh�s,
o sabor das massas e das ma��s
� preciso amor pra poder pulsar,
� preciso paz pra poder sorrir
� preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Renato Teixeira
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
eu s� levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manh�s,
o sabor das massas e das ma��s
� preciso amor pra poder pulsar,
� preciso paz pra poder sorrir
� preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque j� tive pressa
e levo esse sorriso porque j� chorei demais
Cada um de n�s comp�e a sua hist�ria
e cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Renato Teixeira
26.10.02
Achava aquilo chato. Queria mesmo era resposta pronta, daquelas que eu escutava os amiguinhos contarem. Em vez disso recebia perguntas em trocados.
Um dia escutou 'Procure a verdadeira razao das coisas'. Achou bonito. Parecia coisa que lia naqueles livros.
Nao entendeu.
(Hoje sabe que a verdadeira razao das coisas nao eh nobre, nem escrita com letras de ouro. Quase sempre eh de materia de tristeza. A primeira vez que descobriu uma verdade foi numa sala de cinema. Nao queria se formar doutora pelo titulo. Queria mesmo era ser mais admirada que a prima. As coisas ficam mais faceis quando se sabe a verdade.)
Quando li sobre a esfinge tinha 8 anos, nao tive medo. Eu ja a conhecia. Eu a chamava de pai.
Um dia escutou 'Procure a verdadeira razao das coisas'. Achou bonito. Parecia coisa que lia naqueles livros.
Nao entendeu.
(Hoje sabe que a verdadeira razao das coisas nao eh nobre, nem escrita com letras de ouro. Quase sempre eh de materia de tristeza. A primeira vez que descobriu uma verdade foi numa sala de cinema. Nao queria se formar doutora pelo titulo. Queria mesmo era ser mais admirada que a prima. As coisas ficam mais faceis quando se sabe a verdade.)
Quando li sobre a esfinge tinha 8 anos, nao tive medo. Eu ja a conhecia. Eu a chamava de pai.
25.10.02
O Pel�
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
Costurou bandeiras na mochila. Cortava a linha com os dentes. Fazia novo noh, com o polegar e o indicador deslizando um sobre o outro, enquanto pensava na avoh com carinho e saudade. Os olhinhos apertados que ela tinha, o cheiro de Lavanda Pop. Olhou a costura e deixou escapar um sorriso, a avoh nao aprovaria. Nada parecido com seus bordados. Mas era parecido com infancia, vestidos de boneca feitos antes da descoberta do avesso, festas juninas e retalhos costurados na calcas jeans.
(Trancas. Flores vermelhas feitas de tecido na ponta das trancas. A sapatilha de lantejoulas coloridas que o avo trouxe de viagem pra longe. Uma foto em que teve que sorrir, mas que ficou mesmo parecendo uma careta, mais condizente com a tristeza de dentro. Naquele tempo jah sentia odio mas ainda nao sabia o que era isso.)
O avo. Pensou no presente que queria dar de Natal. Um livro que contasse do mundo. De um jeito diferente daquele de Monteiro Lobato.
(Historia do Mundo para Criancas, Nosso Amiguinho, pirulitos em forma de bico... O avo era feito de infancia. Uma fada fez com que sentisse cheiro do dia em que aprendeu a andar de bicicleta. Olhou pra traz e viu a mao do avo na garupa.)
Deu o ultimo noh. Ficou bonito. Lembrou da epoca em que descobriu o bonito.
(A cor do doce de banana, de um vinho brilhante. O sorriso de Maria, que nao era feito de boca, mas de felicidade. Um certo livro de capa vermelha. Uma garrafa de vinho guardada ate virar vinagre, com uma embalagem de desenhos azuis. As montanhas de pedras grandes, atras da casa. O vestido branco de florzinhas pequeninas, coloridas, dado pela tia. Lembrou que a avoh ainda o guarda. O mundo se dividia entre os que a protegiam; e a Magoa. Muitos eram os que a protegiam. Fez uma oracao em forma de suspiro, sorriu um sorriso triste.)
Abriu a cortina, soprou os pensamentos pra fora da janela.
Apagou as luzes, ajeitou o travesseiro. Era baixo, precisou dobra-lo.
Tentou dormir. Nao conseguiu.
Pode ir armando o coreto e preparando aquele feij�o preto
Eu t� voltando
P�e meia d�zia de brahma pr� gelar, muda a roupa de cama
Eu t� voltando
Leva o chinelo pr� sala de jantar
Que � l� mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abra�ar, pode se perfumar porque eu t� voltando
D� uma geral, faz um bom defumador, enche a casa de flor
Que eu t� voltando
Pega uma praia, aproveita, t� calor, vai pegando uma cor
Que eu t� voltando
Faz um cabelo bonito pr� eu notar que eu s� quero mesmo � despentear
Quero te agarrar, pode se preparar porque eu t� voltando
(...)
Quero l� l� l� i�, l� l� l� l� l� i�, porque eu t� voltando
Eu t� voltando
P�e meia d�zia de brahma pr� gelar, muda a roupa de cama
Eu t� voltando
Leva o chinelo pr� sala de jantar
Que � l� mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abra�ar, pode se perfumar porque eu t� voltando
D� uma geral, faz um bom defumador, enche a casa de flor
Que eu t� voltando
Pega uma praia, aproveita, t� calor, vai pegando uma cor
Que eu t� voltando
Faz um cabelo bonito pr� eu notar que eu s� quero mesmo � despentear
Quero te agarrar, pode se preparar porque eu t� voltando
(...)
Quero l� l� l� i�, l� l� l� l� l� i�, porque eu t� voltando
Soh pra terminar
E a conversa girou sobre nossas semelhancas e diferencas. Comidas, comportamentos, palavras.
- E entao em drogaria se vende remedio? Em Portugal se vende parafuso, cimento...
(E tambem me contou que estava dirigindo sozinha numa estrada com uma placa apontando pra direita, 'Coimbra, 40km'. Outra logo abaixo apontando pra esquerda, 'Coimbra, 40km'.)
E a conversa girou sobre nossas semelhancas e diferencas. Comidas, comportamentos, palavras.
- E entao em drogaria se vende remedio? Em Portugal se vende parafuso, cimento...
(E tambem me contou que estava dirigindo sozinha numa estrada com uma placa apontando pra direita, 'Coimbra, 40km'. Outra logo abaixo apontando pra esquerda, 'Coimbra, 40km'.)
24.10.02
(Senta que lah vem Historia.
Na decada de 20 Atenas viu sua populacao dobrar do dia pra noite, literalmente.
Muitos gregos viviam na Turquia, o que fez o governo grego de se ver no direito de reclamar territorio turco. O que os turcos fizeram? Eliminaram o motivo da briga mandando os gregos - que nao mataram - de volta pra Grecia.
Superpopulacao overnight. Construcoes rapidas, quadradas e sem planejamento. E assim se escreveu mais uma pagina da Historia.)
Na decada de 20 Atenas viu sua populacao dobrar do dia pra noite, literalmente.
Muitos gregos viviam na Turquia, o que fez o governo grego de se ver no direito de reclamar territorio turco. O que os turcos fizeram? Eliminaram o motivo da briga mandando os gregos - que nao mataram - de volta pra Grecia.
Superpopulacao overnight. Construcoes rapidas, quadradas e sem planejamento. E assim se escreveu mais uma pagina da Historia.)
23.10.02
Sobre o Brasil
A historia eh longa, e embora eu goste muito de conversar sobre isso, esse nao e um assunto ameno.
Alexandre, o grande, o conquistador grego - que os albaneses dizem ter nascido na Albania - dominou toda a area do norte da Grecia, Albania e atual Macedonia. Rei morto, rei posto, e passemos o dominio da regiao pros romanos.
Ai chegamos num ponto que eu nao entendo muito bem: como o Imperio Romano cresceu demais, foi dividido. Entao pra que cresceram com ele?
O Imperio Romano do Ocidente tinha sua fronteira com o Imperio Romano do Oriente num rio na Bosnia. De la pra direita tudo era governado por Istambul. Ou Bizancio. Ou Constantinopla. Ou qualquer outro nome que voce possa dar a essa cidade de muitas faces.
Muito cacique pra pouco indio nao funciona em lugar nenhum, e um reino assim nao foi muito dificil de ser invadido pelos povos barbaros - lembra da aula de historia? Quando a professora falou que os chamavam de barbaros porque tinham barba? - E tome mais invasao pelos turcos otomanos.
Barbaros + 500 anos sobre dominio turco e na Macedonia falam bulgaro, mas chamam a lingua de macedonio. O fato e que quem eh macedonio? Quem vive na Macedonia? Os gregos dizem que nao, e se recusam a reconhecer que esse pais use esse nome. Nem na passagem de trem o usam. Chamam o pais pelo nome da capital, Skopje.
Dai os macedonios, atuais habitantes da Macedonia, alegam que nunca foram gregos, porque mesmo os antigos macedonios - reconhecidamente macedonios por ambos os lados, se eh que voce me entende e ja nao se perdeu la na aulda de historia da barba - nao podiam participar das Olimpiadas, festa so de gregos. O que prova que macedonio eh macedonio e grego eh grego.
Entao, como voce nao entendeu mesmo, (nem entendeu o titulo do post) vai! Corre pro Google, volta e diz o que pensa.
A historia eh longa, e embora eu goste muito de conversar sobre isso, esse nao e um assunto ameno.
Alexandre, o grande, o conquistador grego - que os albaneses dizem ter nascido na Albania - dominou toda a area do norte da Grecia, Albania e atual Macedonia. Rei morto, rei posto, e passemos o dominio da regiao pros romanos.
Ai chegamos num ponto que eu nao entendo muito bem: como o Imperio Romano cresceu demais, foi dividido. Entao pra que cresceram com ele?
O Imperio Romano do Ocidente tinha sua fronteira com o Imperio Romano do Oriente num rio na Bosnia. De la pra direita tudo era governado por Istambul. Ou Bizancio. Ou Constantinopla. Ou qualquer outro nome que voce possa dar a essa cidade de muitas faces.
Muito cacique pra pouco indio nao funciona em lugar nenhum, e um reino assim nao foi muito dificil de ser invadido pelos povos barbaros - lembra da aula de historia? Quando a professora falou que os chamavam de barbaros porque tinham barba? - E tome mais invasao pelos turcos otomanos.
Barbaros + 500 anos sobre dominio turco e na Macedonia falam bulgaro, mas chamam a lingua de macedonio. O fato e que quem eh macedonio? Quem vive na Macedonia? Os gregos dizem que nao, e se recusam a reconhecer que esse pais use esse nome. Nem na passagem de trem o usam. Chamam o pais pelo nome da capital, Skopje.
Dai os macedonios, atuais habitantes da Macedonia, alegam que nunca foram gregos, porque mesmo os antigos macedonios - reconhecidamente macedonios por ambos os lados, se eh que voce me entende e ja nao se perdeu la na aulda de historia da barba - nao podiam participar das Olimpiadas, festa so de gregos. O que prova que macedonio eh macedonio e grego eh grego.
Entao, como voce nao entendeu mesmo, (nem entendeu o titulo do post) vai! Corre pro Google, volta e diz o que pensa.
Sobre como fui a Turquia
Entao eu estava de volta a Grecia. A suja Tessalonica jah nao me encantou antes - mas encantou meus olhos que ficaram vermelhos e ardentes como rubis. Se Sao Paulo eh poluida? Jah veio a Tessaloniki? - e nao ha trens pra direcao sul. Se, ao nos negarem o sul, querem que vamos ao norte, que assim seja. Farei o caminho do dominio turco otomano em direcao aos turcos otomanos, inversa como sou, inversa seguirei.
O trem pra Istambul fez minhas meninas dos olhos dancarem como bailarinas. Quisera eu que todos os lugares que fui fossem afrescos ricos em detalhes assim. (ai... eh tao ruim postar sem tempo... uma coisa me leva a outra, que me leva a outra, e eu nao tenho tempo pra editar pensamento, e fico enxotando lembranca como quem enxota mosca, assim, com a mao em leque, ou balancando a cabeca.)
Mulheres de veus, criancas de conjuntos coloridos, homens de barbas trancadas, eslavos, gregos, turistas australianos com suas mochilas gigantes e eu.
Pena que nao fui a Turquia.
Entao eu estava de volta a Grecia. A suja Tessalonica jah nao me encantou antes - mas encantou meus olhos que ficaram vermelhos e ardentes como rubis. Se Sao Paulo eh poluida? Jah veio a Tessaloniki? - e nao ha trens pra direcao sul. Se, ao nos negarem o sul, querem que vamos ao norte, que assim seja. Farei o caminho do dominio turco otomano em direcao aos turcos otomanos, inversa como sou, inversa seguirei.
O trem pra Istambul fez minhas meninas dos olhos dancarem como bailarinas. Quisera eu que todos os lugares que fui fossem afrescos ricos em detalhes assim. (ai... eh tao ruim postar sem tempo... uma coisa me leva a outra, que me leva a outra, e eu nao tenho tempo pra editar pensamento, e fico enxotando lembranca como quem enxota mosca, assim, com a mao em leque, ou balancando a cabeca.)
Mulheres de veus, criancas de conjuntos coloridos, homens de barbas trancadas, eslavos, gregos, turistas australianos com suas mochilas gigantes e eu.
Pena que nao fui a Turquia.
17.10.02
Nao sabia que os gregos usavam o alfabeto, bem, grego. Tive um certo tempo pra aprender o alfabeto cirilico, e me dediquei bastante ja que estava vindo a Macedonia, lugar de onde escrevo, e onde se espera que todo mundo saiba o alfabeto desenhado.
Mas o grego? Nem imaginava que precisaria, ou mesmo que existia! Entao, de repente, descobri que o conhecia das aulas de matematica.
Amanha escrevo mais.
Mas o grego? Nem imaginava que precisaria, ou mesmo que existia! Entao, de repente, descobri que o conhecia das aulas de matematica.
Amanha escrevo mais.
14.10.02
Um senhor na minha frente le um livro e anota a lapis nos cantos. Eh um livro grosso, e ele jah esta no final. Me escorrego um pouco para ver se consigo ler a capa. Por um momento achei que era Stanislavski. Duvido. Ele levanta um pouco o livro mas nunca eh o suficiente. Penso em desistir e volto a me sentar. A coluna me doi. Seu celular toca, ele atende e num impulso abandona o livro na cadeira e sai ao corredor. Eh Stanislavski.
Ele volta. Vejo que nao eh bem um senhor e fico procurando a razao de ter pensado assim. Os cabelos revoltos sao a unica coisa que o diferenciam de uma estatua grega classica. Tem uma beleza correta, quase dura. Tem olhos curiosos que pregam em mim antes de perguntar 'Gosta de Stanislavski?'. Quis responder que o Manual do Ator repousou no meu armario branco de livros coloridos por longos meses e a unica vez que o abri foi pra colocar dentro um papelzinho com um numero de telefone escrito, mas me detive. Nem meu italiano - que vou aprendendo devagar como que come uma caixa de bombons caros - chega a tanto nem a verdade me parece inteligente. Respondi que gostava mais de Stanislavski que de Grotowski, o que nao sendo a verdade eh uma verdade, ja que nao gosto de Grotowski de jeito nenhum e nao acredito que gostarei de nenhum outro teorico do teatro menos do que dele.
Minha resposta funcionou em mim como uma travessura que criam um sorriso no canto da boca. Nele o efeito foi de surpresa. Levantou a sobrancelha direita e sorriu. 'Entao, menina que conhece Stanislavski, que outras surpresas guarda?'
A de que nao conheco Stanislavski. Mas me limitei a soltar o sorriso que estava preso no canto da boca.
Ele volta. Vejo que nao eh bem um senhor e fico procurando a razao de ter pensado assim. Os cabelos revoltos sao a unica coisa que o diferenciam de uma estatua grega classica. Tem uma beleza correta, quase dura. Tem olhos curiosos que pregam em mim antes de perguntar 'Gosta de Stanislavski?'. Quis responder que o Manual do Ator repousou no meu armario branco de livros coloridos por longos meses e a unica vez que o abri foi pra colocar dentro um papelzinho com um numero de telefone escrito, mas me detive. Nem meu italiano - que vou aprendendo devagar como que come uma caixa de bombons caros - chega a tanto nem a verdade me parece inteligente. Respondi que gostava mais de Stanislavski que de Grotowski, o que nao sendo a verdade eh uma verdade, ja que nao gosto de Grotowski de jeito nenhum e nao acredito que gostarei de nenhum outro teorico do teatro menos do que dele.
Minha resposta funcionou em mim como uma travessura que criam um sorriso no canto da boca. Nele o efeito foi de surpresa. Levantou a sobrancelha direita e sorriu. 'Entao, menina que conhece Stanislavski, que outras surpresas guarda?'
A de que nao conheco Stanislavski. Mas me limitei a soltar o sorriso que estava preso no canto da boca.
11.10.02
Posso estar me repetindo, mas o momento em que olho pra uma cidade e ela ja nao me eh mais um labirinto de ruas sem identidade, e aquela esquina com uma pedra na calcada que me fez tropecar da primeira vez nao me engana nesta - mas nao adianta, tropeco de novo - e o homem do restaurante do outro lado me da um olhar de sorriso e finge olhar no relogio, e eu presto mais atencao porque sei que carro que vem de la nao pode me ver, esses pequenos milagres bolhas de sabao fazem com que a cidade estranha passe a ser minha tambem.
E assim de peregrina das vias me torno senhora dos pavimentos, deusa das esquinas, rainha dos caminhos. E me coroo no marmore vermelho egipcio, que sendo o mais raro de todos conheco varios de seus enderecos.
E assim de peregrina das vias me torno senhora dos pavimentos, deusa das esquinas, rainha dos caminhos. E me coroo no marmore vermelho egipcio, que sendo o mais raro de todos conheco varios de seus enderecos.
9.10.02
A Toscana passava correndo enquanto eu chorava lendo que 'a vida seria pior se essa paisagem nao fosse tao bela'. Um chuva fina lavava os vidros da janela. Ja cansada de Museus, anjos e Igrejas resolvi deixar Firenze pra outra hora, outro dia, outra historia. Bolonha ja tinha me parecido mais bonita nas fotos da Mari.
E entao, quando maravilhas jah nao faziam voltar meus olhos, veio Roma.
E eu nao vi mais nada, e o espirito de Deus brilhou por sobre as aguas.
E entao, quando maravilhas jah nao faziam voltar meus olhos, veio Roma.
E eu nao vi mais nada, e o espirito de Deus brilhou por sobre as aguas.
6.10.02
Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos de outras terras, queria mesmo neste instante era voltar.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
Em minhas andancas eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou cacando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que eh ela que se vai, e nos (as vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.
Ha, e nao vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidao e de morno desespero, aquela surda saudade que nao e de terra nem de gente, e eh de tudo, eh de um ar em que se fica mais distraida, eh de um cheiro antigo de chuva na terra da infancia, eh de qualquer coisa esquecida e humilde - moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, peteca, conversa mole, quebra-queixo. Mas entao as bobagens do estrangeiro nao rimam com a gente, e as ruas sao hostis e as casas se fecham com egoismo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto sua lingua doi como bofetada injusta.
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