26.9.02

Sabe o que eu mais gosto disso tudo? Aquele momento especial em que voce olha pra uma cidade e ela ja nao lhe eh mais estranha. O exato instante em que se conhece o caminho.
Ai, tenho tanta coisa^pra contar..., mas a conexao eh tao cara por essas plagas. Ponto pro meu diario nada virtual. Escrevo nele todo dia, e assim que conseguir uma conexao mais barata, transcreverei.

Dijon nao tem nada de especial, mas eu me apaixonei.; Era pra ter ido embora na terca, e ainda estou por aqui. Vou essa noite pra Ceva, interior da Italia. Infelizmente minha incursao pela Franca acaba por aqui. Semana que vem, Veneza me conhecera.

(E pra responder a pergunta de uma querida leitora, que gracinha!, eu to passeando, viu? Moro em Ouro Preto.)

23.9.02



LOUVRE, OU EM BUSCA DA GIOCONDA

E eh bem verdade o que dizem do Louvre. Filas lotadas de japoneses. E tah dificil tirar uma foto sem que saia a cabeca de um japones. (Lembro com carinho da velhinha que me perguntou numa loja oriental de Londres porque que eu tirei uma foto da estante das revistas. Na falta de explicacao que fizesse sentido disse que tinha gostado da organizacao das cores. Pedi pra tirar uma foto dela. Ela me disse que nao tinha se arrumado e mimosamente pos a mao no cabelo. Eu tirei a foto e sai dali como uma crianca que ganha um doce.) Deixa, japones fica bem na foto.

Quanto a Monalisa, demorei quatro horas pra achar, apesar das setas apontando, mas no final me pareceu meio sem graca. Aquelas versoes posteres que se viam nas casas de interior antigamente sao maiores e de cores mais brilhantes. Talvez minha memoria tenha dado mais cor e brilho pra elas.

Dentre a Venus de Milo, a Vitoria de Samotracia e A Bordadeira de Vermeer, as pecas que eu mais queria ver no Louvre, o que eu mais gostei mesmo foi dos aposentos de Napoleao III. Lembro que a revista Veja escreveu sobre isso no ano passado, quando abriram a visitacao publica, e so colocou uma foto pequena. Dizia na reportagem que era tao grandioso que nao tinha jeito de tirar foto. Eu so tirei uma, da esquina de cima do pe direito de 15 metros esculpido em ouro. Eh, nao ia caber mesmo na foto.

Bonito tambem sao uns animais antropomorficos gigantes que ficavam num palacio na Mesopotamia. E claro, as esculturas. Milhares delas.

Passei 8 horas no Louvre. Devo ser a unica pessoa que visitou tudo num dia.
ZODIACO

Mais inspirado, voc� tentar� aproximar seus sonhos da realidade, cada vez mais. No embalo da Lua cheia e sintonizado com o Sol em Libra, a partir de hoje voc� tem condi��es para avaliar com clareza o resultado do que fez. Retificar rotas, cortar excessos, rever estrat�gias e fazer op��es serias fazem parte desta fase. Relacionamentos e parcerias em destaque at� 23/10. Preserve seu equil�brio org�nico.
O mesmo Lonely Planet que custa 15 pounds em Londres custa 29 euros aqui. Alguem ai disse que Londres eh a cidade mais cara do mundo?
Hoje um velhinho frances que lutou na segunda guerra me ensinou que eu ja sei frances. Eu so tenho medo de pular. Porque aprender outra lingua eh igual aprender a nadar. (O mesmo Mr Maurice me contou que o que mais o emocionou na vida foi conversar com um japones, durante a guerra. Em esperanto. E ninguem mais sabe falar esperanto.)
Um minuto depois de escrever o ultimo post abro minha caixa de e-mails e leio um que mudou minha opiniao. Se escrevo pra uma pessoa, nao preciso de mais.
To meio de saco cheio disso aqui. Ninguem le. Se le nao comenta. Entao nao sei pra quem escrevo. Vou pra Dijon em 2 horas. Nao sei quando volto a escrever aqui. E se volto.

21.9.02

Tem uma frase bastante gasta que diz que quem cansou de Londres cansou da vida. Mas Paris e tao agradavel quanto uma senhorita que se perfumou demais. Estou enjoada.
Perdao,meu senhor.

Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.
Perdao,meu senhor.

Acho sua lingua bastante bonita. Aquela musica que tocava em Presenca de Anita..Ah, voce nao viu? Pois entao, nao importa, continuo achando sua lingua bastante bonita. E, se nao a falo, nao e por falta de vontade. Vontade eu tenho de aprender ate o gales, o javanes, acho bonito esta coisa de saber de linguas, como o Guimaraes Rosa, nao o conhece? Queria muito aprender o frances, o meu portugues ja anda meio gasto, tenho impressao de que todas as minhas frases ja foram ditas antes. Que chique seria se metesse umas expressoes francesas como os escritores de outrora. Mas nao adianta, em frances sou analfabeta de pai e de mae. Quanto a guerra, nao tenho culpa de que a perderam, estive na Inglaterra, mas nao concordo com guerras, mesmo que, confesso, goste bastante dosingleses. E tambem nao tenho culpa da outra nacao, os Steites, serem uns, bem voce sabe. Mas nao tenho culpa de falar ingles assim como eles. Se fosse em outras epocas falaria o latim. Assim e. De tempos em tempos escolhem uma lingua para ser universal. Mas quem escolheu nao fui eu. Nao tenho culpa de nao falaro frances. Mas nao te viro a cara porque voce nao fala portugues.

20.9.02

E QUEM DIRIA?, A NOTRE DAME FALA PORTUGUES.

Acordei bem cedo e fui procurar acomodacao. Achei um albergue internacional (com a bandeirinha do Brasil la, junto com a do Reino Unido, Alemanha e Franca). Staff bastante simpatico, quartos limpos. Fui de la direto ao centro de informacoes da cidade pegar um mapa e comprar um dicionario, porque ja percebi que nao vai dar pra viver sem. Do entro de informacao im ao Easy, que tem maquinas velhas onexao lenta e preco alto. Que saudade do Easy da High St Ken.

Do Easy saiandando pela cidade. Quer saber? Nao sei se nossospais, nossos professores ou a propaganda, mas alguem mentiu. A Europa e imunda. Ouro Preto depois do Carnaval? Do tipo. Pai, lembra do fedor que estava em Ilheus naquela vez? Igualzinho. Ate agora ja constatei a sujeira e o fedor da Inglaterra, da Escocia, do Pais de Gales e da Franca. Minha esperanca eh a Italia (ho ho ho). E tem aquele monte de papel na rua, etc. etc.

Entao, jah que tava perto, eu resolvi ir a Notre Dame. Sentei em seus jardins pensando que eu estava cansada demais pra entrar. Comecei a ler o guia e resolvi dar uma entradinha. Dou uma olhada e volto outra hora, com a cabeca mais tranquila pra ver novidade. Tava lah, parada pensando o que raios fazum altar de arte moderna num templo gotico quando escuto, assim mesmo: Visitas guiadas em portugues saindo da entrada em 5 minutos.Oferta da Catedral.

Nao da pra perder, ne? Fui. A guia e carioca e sae tudo de simbologia catolica. como o quorumeraeu e mais um paraibano perdido porali, a visita durou mais de 2 horas. E eu sai apaixonada pelo lugar.
Pois eh, jah estou no albergue, ja conheci o Museu Rodin e a Notre Dame e jah odeio os franceses.

19.9.02

SOBRE ONTEM

Peguei o aviao em Heathrow 9:30 da manha. Se eu soubesse teria feito menos hora no duty free e tinha ido direto pros computadores com acesso gratuito a internet que o Heathrow oferece. 30 min depois eu ja estava sobrevoando Paris, meu destino final. Mas como sou pobre, e como diria o Caco Antibes, so sirvo pra fazer sabao, so cheguei em Paris 5 horas depois. A Alitalia faz aquela escalazzinha basica em Milao.

Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Cheguei quase fazendo xixi e fui direto procurar o banheiro. Necessidade satisfeita descobri que pela porta que eu tinha saido so se saia, nao se entrava. E minha bagagem tava la dentro. Fui perguntar como fazia pra entrar usando o melhor do meu frances 'Parlez vous anglais?' E foi assim que desde o comecinho descobri que o que dizem e verdade e franceses nao gosta de falar ingles. Ai, quinem quem ta fazendo coisa errada tive que esperrar alguem sair pra entrar camuflada de planta, ou o que fosse que chamasse menos atencao.

Agora descobrir como se sai daqui...

Train eh train mesmo. O caso eh pra onde, jah que eu nao tenho reserva em lugar nenhum... O guia diz aqui que tem uma estacao grande em que alem de posto de informacoes eles checam onde tem vaga. Vou pra lah.

Cheguei em Chatelet sei-la o q. Todos os postos de informacao estao fechados. Estou perdida.

Parei, dei uma olhada panoramica e entre todas as pessoas que passavam por ali procurei a com menos cara de francesa. Achei a Boba, assim mesmo o nome dela! Da Eslovaquia, que vai me ajudar a ligar pra todos os hostels da lista do guia.

ALGUM TEMPO DEPOIS...

Algum tempo depois e nenhuma vaga em hostel disponivel (parece que o mundo inteiro resolveu vir pra Paris), eu tenho que parar e falar de outra coisa. Eu na acredito em anjos, aqueles de asas abertas que se veem nas igrejas de Ouro Preto, nos museus da Europa, nas propagandas da Fiorucci. Eu acredito em anjo-gente, pessoas que de alguma forma cruzam seu caminho pra - usando uma expressao religiosa - derramar um dom. O moco do dia em que tirei meu passaporte e um desses anjos. A Boba e outra. Quem mais convidaria pra passar a noite em sua casa uma pessoa que nunca viu antes?? (To ate vendo a minha mae gritando. Tah bom, mae, mas o Anton eu conheci la em Caraiva, antes do episodio onibus nenhum pra lugar nenhum em dois dias.) Bem, nao era a casa dela, era o quarto do hotel dela. Ela e medica e esta aqui em Paris fazendo residencia. O hospital paga e ela fica num hotelzinho bem confortavel. Pelo menos tenho onde passar a noite. Amanha procuro acomodacao.

(So pra adiantar, eu ja achei viu?)

18.9.02

Estou no aeroporto de Milao. Ja estive na Italia 2 vezes nunca caminhei em rua nenhuma. :-((

17.9.02

Amanha volto pra Franca. Escrevo de la.
(E eu nao sou nenhuma assassina de cachorrinhos, viu?)

16.9.02

Ai, por essa nem minha mae esperava. To la, citada na Folha. Queria so ver a cara do meu professor de genetica da UFOP vendo isso, ne? ;-)
O Blogger ta fazendo um samba do crioulo doido. Meus arquivos sumiram e quando entro no bula bula abre outra pagina. MeuDeusoquequeehisso?
Ter na v�spera o cuidado de escancarar a janela. Despertar com a primeira luz cantando e ver dentro da moldura da janela a mocidade do universo, l�mpido inc�ndio a debruar de vermelho quase frio as nuvens espessas. A brisa alta, que se levanta, agitar docemente as grinaldas das janelas fronteiras. Uma gaivota madrugadora cruzar o ret�ngulo.* Um galo desenhar na hora a par�bola de seu canto. Ent�o, dormir de novo, devagar, como se dessa vez fosse para retornar � terra s� ao som da trombeta do arcanjo.

Acordar de novo com cheiro de cafe vindo da cozinha, o barulho da agua da pia, o tilintar das panelas.

- Onde vai hoje?
-Nao sei. Acho que vou ser feliz.

* Odeio gaivotas.
DA FRANCA VOLTEI

Meu visto na Inglaterra expiraria 4 dias antes da minha passagem de saida. Teria queir ao Home Office, um daqueles escritorios onde funcionarios com autoridade emprestada pelo cargo, mesmo que o cargo seja de porteiro do predio, nao sorriem e dizem 'Ronaldo, football, carnival!' (sim, porque na Inglaterra futebol eh football mesmo. Soccer eh invencao de americano), quando a gente diz que eh brasileiro. A primeira emenda aqui nao funciona: voce eh imigrante antes que prove o contrario.

O tal do Home Office fica em Croydon, suburbio distante 2h e sem charme nenhum. Diante da minha necessidade de ir lah minha tia, mais low profile impossivel me disse: 'nao se aborreca, va pra Franca'. E assim fui pra Franca no caminho mais longo que ja fiz em busca de um carimbo. Melhor ver o mar e terminar vendo a cara do oficial da imigracao que ver o oficial da imigracao de cara e sem compensacao, depois de ter esperado, dizem, umas 5 horas na fila.

A travessia do Canal da Mancha de barco nunca eh muito tranquila. Eu me senti dentro de uma maquina de lavar de tanto que aquilo balancava. Nao dava pra ficar nem em pe, todo mundo segurando no braco da cadeira, e meu estomago rodando mais que catavento em vendaval. Calais, ja em terras de merci beaucoup cabe em qualquer descricao oficial de suburbio industrial. Feia, cinza e triste. Nossa unica diversao foi comer croissants. 20 pra tres. E a moca da padaria deve ter achado que a gente nunca tinha comido aquilo na vida. Quente e bom daquele jeito, nunca mesmo.

Depois de tres horas procurando o que fazer em Calais, com um episodio do meus amigos indo molhar o pe na praia e eu esperando por eles me protejendo do vento na cabine telefonica com vista pro mar, voltamos pras terras da rainha.

(O oficial da imigracao me perguntou como eu tinha recebido aquele visto de 3 meses se a oficial de Gatwick sabia que eu ficaria mais tempo. 'Eu tambem acho que ela era uma idiota'., respondi. Ele riu e me deu o carimbinho.)

Na minha infancia a Franca era feita de castelos e vilas e queijos e croissants. Era onde Proust se apaixonava, onde D.J via mulheres azuis. Nenhuma Paris e mais bonita que a Paris dos meus sonhos. Aprendi rapidinho. Mas a parte dos croissants ainda eh verdade.

Novamente em casa, conversar com a fam�lia. (...) Enquanto estes s�o postos em sossego, abrir um livro. Sentir que a noite desceu e as luzes distantes melancolizam. Se a solid�o assaltar-nos, subjug�-la; se o sentimento de inseguran�a chegar, usar o telefone; se for a saudade, abrig�-la com reservas; se for a poesia, possui-la; se for o corvo arranhando o caixilho da janela, gritar-lhe alto e bom som: never more.

Noite pesada. � luz da l�mpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo est� errado, que o mundo devia, mas n�o � composto de domingos. Ent�o, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante n�o nos repartam em uma exist�ncia de ego�smos.

14.9.02


AMANHA VOU A FRANCA

Achava tudo tao dificil. Lia os textos do velho Braga, as cronicas do Chico Buarque, e achava a Franca tao distante... Entao, de repente, amanha vou a Franca. E volto de noitinha. Pra Londres.
Minha rela��o com os dicion�rios se devia ao fato de minha ignor�ncia ser infinitamente maior do que o que eu sabia. Da� a tentativa de aprender as coisas nos dicion�rios. Nada acad�mico, nunca fui fil�sofo. O homem inventou estradas, auto-estradas, um caos. N�o se pode andar na rua e, de carro, ent�o, nem se fala. Foi a intelig�ncia que nos levou a todos esses absurdos. A destrui��o da natureza, a viol�ncia, o banditismo. Como diz Noel Rosa: "Mas a filosofia hoje me auxilia a viver indiferente assim. Nessa solid�o sem fim, vou fingindo que sou rico para ningu�m zombar de mim". E continua Noel: "Quanto a voc�, da aristocracia, tem dinheiro, mas n�o compra a alegria. H� de viver eternamente sendo escravo dessa gente que cultiva a hipocrisia". O cultivo da hipocrisia chegou a um ponto em que o pa�s ficou de cabe�a para baixo. Como disse Chico Buarque, dinheiro � bom para comprar u�sque, charuto e pagar o aluguel. Quando o dinheiro � tudo, a vida vira a maior chatice.
Tom Jobim

13.9.02


AULA DE INGLES
- Is it a handkerchief?

Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade n�o sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... N�o, hipoteca n�o. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de duvida antipatica; talvez fosse chefe de servi�o ou relogio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse respondi impavido:

- No, it's not!
Rubem Braga

Em tempo, handkerchief eh len�o. So sei porque sonhei com essa palavra. Tive que levantar da cama e olhar no dicionario. Mais um programa da serie 'Como eh mesmo o nome do dinossauro que voa?'
E assim se inventou o blog...

Assim como os antigos moralistas escreviam m�ximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de m�nimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada �s limita��es do meu engenho, traduzisse um tipo de experi�ncia vivida, que n�o chega a ser sabedoria mas que, de qualquer modo, � resultado de viver.
Drummond
Alguem ai sabe o endereco do Chico Buarque em Londres. Pra eu passar la assim, de bobeira... ;-)
POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
� como um fio telegr�fico da estrada
Aonde v�m pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(N�o sei se as andorinhas cantam, mas v� l�!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A �ltima que passou
Limitou-se a fazer coc�
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor � sempre o mesmo:
As andorinhas � que mudam.

Quintana in Preparativos de Viagem
London Underground



A primeira vez que vi esse mapa me perguntei se afinal isso, alem de ter um design interessante, servia pra alguma coisa. Hoje sei que aqui nao da pra viver sem, e sei que mesmo se nunca mais voltar, quando eu olhar pra esse mapa daqui a anos, isso me aquecera o coracao. O 'mind the gap' vai acabar virando bordao mundial, mas nao da pra esquecer aquela voz dizendo isso pelo microfone e a cara de interrogacao que a gente faz a primeira vez que ouve. Historinhas vividas no underground tenho de monte. Um dia conto pros meus netos.

(Mas uma vai agora: Isam acendeu um cigarro na estacao aberta de South Kensington. A voz do microfone, que a gente achava que era gravada, disse no mesmo tom monocordio: This is for the gentleman in the blue t-shirt. Please extinguish your cigarrete immediately. Smoking is not allowed in London Underground.)
DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu, agora - que desfecho!
J� nem penso mais em ti...
Mas ser� que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mundinho Fashion, ou como gastar �10000 em um vestido



Trabalhar na Sloane Square, um dos - tres, talvez - metros quadrados mais chiques do mundo eh uma grande tentacao. Luxo, riqueza e vestidinhos de �10000 fazem parte da fantasia de toda mulher; ao lado de casar de noiva, ser grande executiva ou dona de casa. Mais ou menos como se fossem cartas diferentes de um mesmo baralho, pecas diferentes de um mesmo xadrez, e todas essas fantasias convivessem tranquilamente no tabuleiro em cima da cristaleira que eh a mente feminina.

Vez ou outra uma dessas fantasias sai do armario e se transforma em materia pra sonhar. Depois, o contracheque, o fato dos homens interessantes mais cedo ou mais tarde assumirem sua homessexualidade, ou a dificuldade de encontrar um emprego de grande executiva em Bom Jesus do Galho, cruelmente nos obrigam a devolver a fantasia pro armario, a Rainha pro tabuleiro, o playmobil pro bau.

Mas quando uma oferta real de encarnar a Donata QuetrabalhanaDaslueaparecesemprenaCaras surge as pernas parecem caminhar sozinhas na direcao da imaginacao. Porque ninguem tem o sonho secreto de ser farmaceutica. Mas toda mulher quer experimentar o barato que e trabalhar com moda. Agora, vender o cinto da ultima colecao Chanel eh facil, dificil eh convencer que a bota com perna de calca eh o must have da proxima estacao. Eh, o mundinho fashion nao eh assim tao facil. Prefiro minhas imprevisiveis bacterias azuis.

12.9.02

Hoje o dia acordou lindo de se ver. Com os olhos da Marina vou a uma exposicao de fotos de Marylin Monroe e Elvis aqui em Londres.

11.9.02



Depois de dois meses e uma semana passando o tempo todo juntos, a despedida foi dificil.

Acordamos cedo pra pegar o metro pra Ealing Broadway. Isam queria levar para a mae fotos da casa em que ela morou trinta anos atras quando o pai dele fez phD aqui. O bairro 'e daqueles em que os pais chegam tarde e as criancas sao felizes. (E a paisagem grita que aqui na Inglaterra mesmo os mais abastados nao conseguem escapar da uniformidade. Ealing Broadway e um bairro de mansoes, todas iguaizinhas, com as mesmas Mercedes nas garagens.)

De la fomos ate Candem Town, de longe o meu lugar preferido em Londres, uma especie de Mercado Mundo Mix perpetuo, cheio de punks e emilias. Isam ainda nao conhecia. Pro almoco o ultimo 'fish and chips' dele em terras britanicas. Na esteira do Heathrow recebo uma SMS de Nada: 'Baby can I hold you tonight, maybe if I tell you the right words, at the right time, You'll be mine', a musica que embalava as noites ebrias de Cardiff, e segurar o choro lendo "I miss you" - sabendo que eu sentiria deles uma falta palpavel, mas que aos poucos iria ser arquivada num canto escondido da gaveta de fotos - foi impossivel.

E ele olhou pra mim, e como num daqueles finais de flme com Meg Ryan, ou Sandra Bullock, ou Madonna e Rupert Everett, disse 'See you later, for sure'.
To voltando...

Me mudei pra vida real nas duas ultimas semanas. Nao que eu nao goste da cybervida, mas tinha tomado um certo asco disso aqui. Mas voltei.