26.11.02

Profiss�es

Dona de sebo
Escritora de guia tur�stico
Adido cultural
Dona de pousada em Barra Grande
Muse�loga
Contadora de causos
Cozinheira
Fabricante de balas de cacha�a

E voc�? O que quer ser quando crescer?
Antigripal
Xarope antituss�geno
Entrevista do Fernando Henrique
Nectarinas
Zorba, o grego
Cartas na Mesa
E-mail pra Mari
Not�cia de que a Raquel foi pro Canad�
Papel higi�nico
Nariz escorrendo
Porto Alegre
CC M�rio Quintana s� abre amanh�
Parque dos Aparados da Serra s� abre na quarta
T�dio
Sei que ando t�o r�pido que � dif�cil de acompanhar. Poiz�. Estou doente em Porto Alegre. Amanh� tenho que ir pra Florian�polis. Mas Harry Potter e a c�mara secreta � muito legal.

22.11.02

Miss Bixo (assim mesmo, com x)

Dentre as coisas que s� acontecem em Ouro Preto, uma das mais divertidas � o Miss Bixo. Todos os calouros da universidade se fantasiam e participam de um concurso de melhor fantasia. Essa esp�cie de Saturn�lia acontece no CAEM, o centro acad�mico que faz as vezes de boate da cidade. Todo mundo est� sempre t�o b�bado que no outro dia ningu�m se lembra do vexame que deu.

Foi ontem. Eu nem me lembro.
Nos teus olhos verdes bebo a tempestade
Que se alastra por ti a dentro

20.11.02

Ent�o, hist�rias

N�o que eu nunca tenha percebido o quanto gosto daqui. Pelo contr�rio: eu sempre. Quando juntei meus jeans preferidos e a m�quina fotogr�fica e botei o p� no mundo, o que eu escrevi aqui foi um poema sobre a arte da perda. Mas n�o tenho como negar que voltei pra c� com um outro olhar. (Talvez por ser ver�o, e o ver�o ser t�o sal�o de beleza de tr�picos.)

...

A Igreja de Santa Efig�nia � no alto de um morro. No meio desse morro tem um orat�rio. Um funcion�rio zeloso da Casa dos Contos, muito devoto de Nossa Senhora do Ros�rio, depositava flores ao lado da imagem todos os dias. O homem era conhecido como Vira-saia.

(Ando seca por novas-velhas hist�rias das ruas por onde passei vezes sem fim.)

Da Casa dos Contos - onde todo o ouro extra�do das Minas Gerais era fundido e o quinto, imposto que o governo recebia na forma da quinta parte desse ouro - era levado ao Rio de Janeiro, ent�o capital do imp�rio, e para onde seguiam duas estradas. Como os assaltos se tornaram constantes, o governo planejou que dois carregamentos seriam levados ao Rio, para confundir os ladr�es: um de ouro e outro de areia, um por cada caminho, e alternadamente, sendo que nunca se saberia pra que lado o carregamento valioso seguiria naquele dia. Mesmo assim os ladr�es nunca erraram.

As flores no orat�rio eram sempre colocadas do lado onde seguiria o carregamento certo. O zeloso funcion�rio foi morto e a sua fam�lia torturada.
Sentei na mesma cadeira onde tantas vezes me perdi no meio das explica��es de el�trons atacando �tomos inteiros imaginando guerra de mundos, ou coisa mais fotogr�fica. Dessa vez ouvi hist�rias, contei outras. E senti uma saudade forte do que n�o tinha sido.
Trecho de di�rio

O velho, ao p� do morro, n�o para de fabricar seus nevoeiros.

E eu, sentada nesse muro n�o paro de construir desesperan�as.

19.11.02

IV / Hotel Toffolo

E vieram dizer-nos que n�o havia jantar.
Como se n�o houvesse outras fomes e outros alimentos.
Como se a cidade n�o servisse o seu p�o de nuvens.

N�o, hoteleiro, nosso repasto � interior,
e s� pretendemos a mesa.
Comer�amos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.

Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no cora��o, � ceia.

Carlos Drummond de Andrade


Quer ir comigo ao Toffolo? Hoje tem jantar. Meu prato preferido l� � mandioca com picanha e queijo na t�bua. Tudo de bom! A velha matriarca Toffolo, dona, cozinheira e as vezes gar�onete, me contou que n�o aceita reservas pelo telefone. Tem que olhar bem no olho do sujeito para lhe ceder uma cama.

18.11.02

Enquanto isso, Marvin Gaye

People say believe half of what you see, son, and none of what you hear. I can't help bein' confused if it's true please tell me dear?
Olha, sabe, estou tentando dizer e nada sai. N�o � f�cil, n�o � Spielberg. � melhor esquecer. No final daria um filme daqueles que a gente sai do cinema falando: 'Mas isso s� mesmo em novela... N�o existe.'

� melhor esquecer.
Vanitas Vanitatum

E a chuva me convidou a entrar na igreja. Faltavam duas esquinas para a minha casa, mas n�o pude prosseguir. Ent�o aceitei o convite e fiquei ali, antes do biombo, sem conseguir entrar, olhando pro teto onde pela primeira vez li vanitas vanitatum, vaidade das vaidades. E eu, que entrei ali cheia de minhas vaidades, tentei me desfazer de algumas. Sentei e rezei por mim, por minha alma, pela alma de todos.
Tenho fases, como a lua/ Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Cec�lia Meireles


Ent�o...

E choveu canivetes enquanto discut�amos Nelson Rodrigues.
(Bem, um texto que o Nelson Rodrigues esqueceu de escrever.)

14.11.02

Caixa de entrada

Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e n�o era muito chegado a banho no inverno? Se fosse f�cil n�o teria gra�a. O importante � n�o desanimar e, se n�o foi dessa vez, partir pra outra. Tente declamar seu poema predileto em pra�a p�blica e espere algu�m complet�-lo. Se ningu�m se manifestar, saia correndo. Podem ter chamado a pol�cia. Tati
"J� tentei come�ar carta pra voc� algumas vezes - no imagin�rio, na m�quina (...). Fico vacilante e boba todas as vezes: ora muda, ora prolixa. Acho sempre que tenho que produzir something witty and brilliant, no teu tom "certo" - mas para escrever carta preciso renunciar pelo menos pela metade � literatura [ou � pose ou ao fetiche], o que � particularmente dif�cil na tua frente." Ana Cristina Cesar
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chove . . .

Notinha: o Z� Davi, al�m de pai do meu amigo Juliano - que teve uma fase 'separados no nascimento' com o Rodrigo Santoro - � professor da UFOP.

12.11.02

Falava da vida enquanto seus olhos passeavam pelos objetos da sala. N�o me olhava. Olhar pra mim quebraria o encanto de estar ali, naquela sala onde nunca estivera antes, sozinha, se contando segredos.

(Um vento m�gico sibilava nas cortinas.)

Me senti mal, fraca, de ressaca. E era s� o come�o da festa! Mas ele estava passando a m�o pelos cabelos secos dela, como se n�o me notasse. Fingia...agia como se me apresentasse um espet�culo se colocando no meu melhor �ngulo de vis�o...

Olhei pro seu rosto de beleza �bvia, cabelos lisos. Tive pena. De vez em quando quebrava o encanto de falar aos objetos..

Essa escultura...� Baco?

Eu respondia com economia de palavras. O que me interessava era o mon�logo.

Quis ir embora daquela festa. Mas em vez disso resolvi me embebedar. J� estava com ressaca mesmo. Mas olha que eu nem gosto de u�sque! Prefiro aqueles vinhos docinhos, baratos, coquet�is... Tomei puro, caub�i. Bebi tanto que nem sei mais se foi a cena que ficou se repetindo na minha frente por um longo tempo ou se fui eu que fiquei repetindo na minha imagina��o aquela m�o passando no cabelo crespo como replay de gol de Copa do mundo. Quis mat�-la, aquela zinha.

De onde esse punhal? � um punhal, n�?

Mas ah, n�o vale a pena. Ele � um canalha, um filho da puta, um burro, um, hum...mas...


Sorriu ternamente, olhou pro rel�gio da parede, me perguntou se estava certo. Agradeceu pela conversa e se despediu, jurando que iria esquec�-lo. Me deixou em casa com minhas pr�prias lembran�as. E com a id�ia de que Zeus � pouco criativo. E n�s, marionetes, estamos condenados a repetir eternamente as mesmas pe�as.

11.11.02

Em tempo: meu signo � �ries. Ariana com ascendente em touro.

Tristeza? Triste mesmo � V�nus em �ries.
Caixa de entrada

"antes eu pensava que a inscri��o na bandeira de Minas Gerais - Libertas quae sera tamen -, fosse uma cria��o dos inconfidentes, mas na verdade ela foi cunhada do poema de Virg�lio, "in verbis expressis":

"LIBERTAS QUAE SERA TAMEN RESPEXIT INERTEM".

Tradu��o: A LIBERDADE QUE, EMBORA TARDIA, TODAVIA SE APIEDOU DE MIM NA MINHA IN�RCIA.

Por mais raz�o, esse texto foi pronunciado na 1a. �cloga de Virg�lio (71-19 a.C.), pelo pastor T�tiro ao contar ao seu amigo Melibeu
que conseguiu-se libertar de um amor demasiado absorvente. Esse texto ganhou uma conota��o totalmente diferente quando
adotado pelos inconfidentes por proposta de In�cio Jos� de Alvarenga Peixoto, como lema da Inconfid�ncia Mineira."
Meu computador n�o funciona. Ent�o estou condenada ao da universidade. Ent�o, depois de horas na fila, v�rias cabe�as se organizam num anfiteatro que se forma para ler os meus e-mails.

Devia existir uma lei que garantisse a privacidade tecnol�gica.

5.11.02

Se algu�m perguntar por mim, diz que fui por a�
Hor�scopo do dia Voc� ainda deveria contar com o clima impulsivo da Lua nova, que s� ir� melhorar dentro de dois dias. O pensamento se arrepia ao perceber nuances indesejadas, possibilidades se dissolvem em meio a um monte de enganos. Tome conta de suas palavras, pois hoje elas ter�o o poder de ferir ou de encantar.
�, t� um pouco cansada dessa superexposi��o Drummond. Mas - como diria Goethe - por que eu deveria me dar ao trabalho de encontrar algo pr�prio, quando este poema cabia � maravilha e dizia exatamente aquilo que era preciso?

N�o se mate

Carlos, sossegue, o amor
� isso que voc� est� vendo:
hoje beija, amanh� n�o beija,
depois de amanh� � domingo
e segunda-feira ningu�m sabe
o que ser�.

In�til voc� resistir
ou mesmo suicidar-se.
N�o se mate, oh n�o se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ningu�m sabe
quando vir�o,
se � que vir�o.

O amor, Carlos, voc� tel�rico,
a noite passou em voc�,
e os recalques se sublimando,
l� dentro um barulho inef�vel,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
an�ncios do melhor sab�o,
barulho que ningu�m sabe
de qu�, praqu�.

Entretanto voc� caminha
melanc�lico e vertical.
Voc� � a palmeira, voc� � o grito
que ningu�m ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, n�o, no claro,
� sempre triste, meu filho, Carlos,
mas n�o diga nada a ningu�m,
ningu�m sabe nem saber�
listinha

* lembrar senhas t�o longamente esquecidas
* cortar cabelo
* pintar cabelo (lembrar a cor original do cabelo. Queria poder voltar �s origens)
... chove ...
* tal�es de cheque
* supermercado (n�o esquecer da gelatina em folhas para a bala de cacha�a)
- Onde foi parar meu caderninho de telefones?
* conversar com professora de dramaturgia (perdi muita coisa?)
* falar da culpa no blog
... chove ...

3.11.02

E eu me ri quando tropecei na folha de bananeira ao atravessar a ponte, e tive que esperar a carro�a: �, estou em casa.

(N�o se assustem, Te�filo Otoni tem 180 mil habitantes, mas n�o perde a caracter�stica de terra da �poca de Ra�zes do Brasil.)
"Toda a vida (ainda das coisas que n�o t�m vida) n�o � mais do que uma uni�o. Uma uni�o de pedras � edif�cio; uma uni�o de t�buas � navio; uma uni�o de homens � ex�rcito. E sem esta uni�o, tudo perde o nome e mais o ser. O edif�cio sem uni�o, � ru�na; o navio sem uni�o, � naufr�gio; o ex�rcito sem uni�o , � despojo. At� o homem (cuja vida consiste na uni�o de alma e corpo), com uni�o � homem, sem uni�o � cad�ver". Padre Antonio Vieira, in Serm�o do Sant�ssimo Sacramento, em e-mail do Marco

"Existem tr�s amigos fi�is:
esposa velha, c�o velho
e dinheiro a vista". No mesmo e-mail...
Ouro Preto

Morar em Ouro Preto? E a �nica pessoa que conhecia l� era o Andr� que, bem, n�o morava l�. Namorado em Belo Horizonte, fam�lia em Te�filo Otoni, av�s na Bahia, amigos espalhados, e eu, sabendo que isso n�o iria dar certo.

Cheguei numa noite de domingo, a lua iluminando o Itacolomi.

A� n�o vi mais nada, os c�us se misturaram com a terra, e o esp�rito de Deus voltou a se mover sobre a face das �guas.

2.11.02

Lembro de uma �poca em que sabia muito bem que frasc�rio nada tinha a ver com frascos. Hoje me li escrevendo 'mais' em vez de 'mas'. Diante disto - ou disso? -, escrevo minha lista de presentes de Natal:

1 - dicion�rio Aur�lio
2 - dicion�rio Houaiss
3 - livro do Pasquale Cipro Neto
4 - livro do Roberto Campos (pra usar os dois primeiros)
5 - livro do Guimar�es Rosa (pra tirar poesia dos dois primeiros).

Tudo de papel, que livro pra mim tem que ter cheiro, cor, forma, conte�do. E principalmente tem que poder ficar ao lado da cama, no ch�o.
O poema que n�o era pra ser

Deixo mem�rias por onde ando.
Ent�o, de repente ao virar uma esquina elas est�o ali, do outro lado, me esperando.
� pouco entrara na faculdade. Vida corrida, quase n�o sa�a... Os velhos amigos do col�gio chamaram pra um chopinho, que virou boate. Veio um menino lindo, puxou assunto, beberam juntos, falaram sobre nada. Numa hora ele perguntou o que ela fazia da vida.
- Acabei de entrar na faculdade. Fa�o psicologia. E voc�? O que faz?
- Carreto.

P.S.: Thereza, a Branca fazia era psicologia?