4.5.02

Elogio ao pl�gio
O pl�gio, a c�pia, o "inspirado em" est�o muito em voga nesses tempos de internet. Todo mundo ctrl+C todo mundo. Isso me lembrou de um trabalho que fiz, n�o sei mais sobre o que nem o que estava escrito nele, mas a professora, que muito mais tarde se tornou uma pessoa que guardo no cora��o (um beijo, Marina!), me acusou de ter copiado tudo e n�o ter colocado as refer�ncias. N�o era de todo verdade. Quando se copia de um, � pl�gio, de v�rios � pesquisa...Mas o que aconteceu � que escrevi um e-mail quase raivoso de volta, com argumenta��o quase s�lida. Dizia mais ou menos o seguinte:

Sob a acusa��o de ter plagiado a can��o de amor de Of�lia e colocado na boca de Mefisto, Goethe respondeu: "E por que eu deveria me dar ao trabalho de encontrar algo pr�prio, quando a can��o de Shakespeare cabia � maravilha e dizia exatamente aquilo que era preciso?"(in Deus e o Diabo no Fausto de Goethe, Haroldo de Campos). E Goethe disse mais: "A can��o era de Of�lia, a hist�ria era a de J�. Se n�o os juntasse n�o ter�amos o Fausto." Outro g�nio eternamente acusado de pl�gio foi o mesmo Shakespeare "roubado" por Goethe. Sobre isso j� se disse que "grandes poetas raramente fazem tijolos de palha. Eles amontoam todas as coisas excelentes que podem pedir, tomar de empr�stimo ou roubar de seus predecessores e contempor�neos e acendem sua pr�pria luz no topo da montanha."(Ezra Pound) Como Shakespeare escreveu a melhor poesia em ingl�s, n�o importa um real se ele pilhou ou n�o os l�ricos italianos no seu saque generalizado da literatura que lhe estava ao alcance.

Ent�o, se a partir desses tijolos de literatura constru�mos uma obra melhor, ou mesmo menor, ou pior, mas com outra inten��o e outras revela��es, por que n�o? S� tenha o cuidado redobrado, em tempos de tribunais ativos.