Dona Lídia, uma senhora de uns 70 anos, sacudida, morava sozinha numa casa antiga na esquina que a rua onde moro faz com a praça. Um dia Dona Lídia viu uma gatinha, filhote, uns 02 meses, na rua. Pegou pra cuidar, levou ao veterinário, lhe deu um nome, uma casa. Quem passava pela rua via as duas na janela. Eu (que saí de Minas, mas Minas não saiu de mim) parava, conversava, brincava com a gatinha, falava do tempo. Dona Lídia quando ria, os óculos lhe subiam nas bochechas. Danu* era brava, fazia caras e chiados de fera, mas se amolecia toda embaixo de carinhos.
A gatinha foi sua companhia até o dia em que Dona Lídia morreu dormindo.
***
A primeira vez que vi pessoas estranhas na casa, empacotando coisas, não percebi de pronto, perguntei pela Dona Lídia, se ia se mudar. Então me contaram que ela havia morrido. Perguntei pela gatinha e me responderam: "tá por aí". Ontem eu descobri onde é o "por aí": na rua. Ia passando em frente a casa e vi Danu. Toquei a campainha, na esperança que fosse uma fugidinha, mas não era. A casa vai ser desocupada e ela não é mais querida ali. Me abaixei, e ela veio pro meu colo. O que mais eu poderia fazer? Trouxe ela pra casa.
Depois de 03 semanas despejada, a gatinha está magra e triste. Correu pra debaixo de minha cama. O Merlin, meu gato, que é um buda, nem te ligo. A Mel foi lá, mas correu com medo dos chiados de Danu.
Tentei de tudo pra ela sair de debaixo da cama, mas não consegui. Então coloquei uma caixa extra de areia, e potes extras de água e comida.
Fui dormir, no meio da noite, ao acariciar o Merlin que dorme sempre encima de mim, percebi que o pelo era estranho. Era Danu, que expulsou Mel&Merlin do quarto. Aproveitei que ela estava ao alcance e a levei para onde ficam água, comida e caixa de areia. Ela não me decepcionou. Comeu muito, bebeu um pouquinho d’água e usou a caixinha.
Agora começa minha saga para socializá-la e conseguir alguém de bom coração para adotá-la. Desejem-me sorte.
*Danu é a deusa celta da terra, da vida e da morte.