meus horizontes alargados andam com querência de estreitamento. fardo da vida anda mais pesado que feixo de lenha em ombro de jequitinhonhense.
31.1.05
"A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manha. Era setembro, frio, leve nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã perguntei: "Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final." Ele me respondeu simples assim: "É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você não acha?""
28.1.05
Nasci para administrar o à-toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também sabedoria mineral.
[ Manoel de Barros - Livro sobre nada ]
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também sabedoria mineral.
[ Manoel de Barros - Livro sobre nada ]
27.1.05
25.1.05
Fui tomado por um súbita saudade, saudade de família, de infância, tento lembrar dos cheiros, do vento de Minas, da bosta de vaca, o cheiro da fábrica de biscoitos em Gesuânia no caminho para a fazenda, quero voltar a ser menino, avô levando pra colher frutinhas silvestres com seu canivete de Campanha, andar de jipe pelo cafezal e colher café maduro docinho (pouca gente sabe). Bisavô forte, tias freiras e toda a família na cozinha, mandioca plantada no quintal que derrete na boca,todos os primos, todos pequenos, abacateiro que parece escada, pé de Lima na porta da cozinha. Ser íntimo do livro e do barro, saudade de ser mineiro, coisa que, por irônia do destino ou do progresso, me foi negada...Fazenda não há mais, primos se foram, os tempos mudaram e não há mais tempo, tempo pra reunir a família, avós ficando velhos, não há mais biscoitos de nata(receita da bizavó), Minas parece distante, uma lembrança gostosa e doída, coisa que não volta mais e de repente, como que por consolo por ter me negado a pátria me chega você, recompensa pela minha devoção, com suas modas, seus escritores, tempero herdado de avó, farinha, Ouro Preto, seu jeito de amar que só quem ama em Minas conhece...definitivamente você, minha mulher, agora me sinto um Mineiro de verdade.
Com amor,
Com amor,
24.1.05
10.1.05
7.1.05
odeio festas compulsórias. nada pior.
soube que o gerente geral da Petrobras foi chefe de escoteiros. e ele só usa aquela camisa cinza zebrada nos eventos. se não for uma coisa Jânio é engraçado.
domingo vou pro Rio. visita à P-47. macacão, bota, tudo ok pra todos saberem que eu tenho medo de altura.
(será que vou acabar transformando o bula bula num diário?)
soube que o gerente geral da Petrobras foi chefe de escoteiros. e ele só usa aquela camisa cinza zebrada nos eventos. se não for uma coisa Jânio é engraçado.
domingo vou pro Rio. visita à P-47. macacão, bota, tudo ok pra todos saberem que eu tenho medo de altura.
(será que vou acabar transformando o bula bula num diário?)
6.1.05
Ele tem uma caixinha de charutos linda, um cubo cubano. A chama de "meu saco", e todas as vezes que se enche com alguma coisa vai lá e acrescenta mais moedinhas na caixinha de D. Baratinha. Sempre diz que o dia em que a caixinha não agüentar mais, larga tudo e vai viver de sua aposentadoria.
Hoje a caixinha perdeu o fundo. Ele consertou. Saco cheio, ma non troppo.
Hoje a caixinha perdeu o fundo. Ele consertou. Saco cheio, ma non troppo.
faxina de ano novo, ou lavando a roupa suja.
eu me tornei pedante. mal posso evitar fazer comentários maldosos com relação a tudo. o bom é que quebrar a cara tá sempre ali, na esquina. outro dia comentava que esta cidadezinha em que moro deve ser o único lugar no planeta onde está na moda saia de ponta. (sabe a saia da pedrita? só que feia. e longa.) tive que amargar um "nada, em londres todo mundo tá usando".
eu me tornei pedante. mal posso evitar fazer comentários maldosos com relação a tudo. o bom é que quebrar a cara tá sempre ali, na esquina. outro dia comentava que esta cidadezinha em que moro deve ser o único lugar no planeta onde está na moda saia de ponta. (sabe a saia da pedrita? só que feia. e longa.) tive que amargar um "nada, em londres todo mundo tá usando".
5.1.05
"Quando se escreve alguma coisa, essa coisa fica assente. Transforma-se num dogma. E depois as pessoas podem discuti-lo, tornam-se autoritárias, fazem referências aos textos, produzem novos manuscritos, discutem mais e não tarda nada estão a matar-se uns aos outros. Se nunca escreveres nada, então ninguém sabe exactamente o que disseste e, por isso, podes sempre mudar de opinião. Será que tenho de te explicar tudo?"
Merlim, Crônicas do Senhor da Guerra.
Merlim, Crônicas do Senhor da Guerra.
3.1.05
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
drummond
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
drummond
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