A coisa
Por falar em tratamento ps�quico, ontem foi a apresenta��o do trabalho de Improvisa��o, do curso de Artes C�nicas, que meu grupo vem desenvolvendo desde o come�o do per�odo. O nosso tema � Hosp�cio. Fora o bl� bl� bl� de crescimento e desenvolvimento de um personagem, de mergulho no universo da loucura e ambiente triste de hosp�cio, teve uma coisa que realmente fez tudo fazer sentido. E este tudo � o curso inteiro de Artes C�nicas. Conto logo o que � essa coisa.
O personagem que criei sofre de uma doen�a mental chamada de hebefrenia. Quem n�o quiser saber sobre isso e sobre a pesquisa pro personagem pode pular os pr�ximos par�grafos e ir direto para �A coisa�.
A doen�a do personagem
Pra criar um personagem convincente eu pesquisei desde o tipo de doen�a mental que ele teria at� a voz que caberia � doen�a. A psicose � ou doen�a mental - � classicamente definida como a perda do contato com a realidade, em que a avalia��o, o julgamento da realidade, feito pela pessoa est�o prejudicados. A esquizofrenia � uma doen�a mental encontrada no mundo inteiro em todas as ra�as, culturas e classes sociais, afetando homens e mulheres com igual freq��ncia. Na �dem�ncia precoce� ou �psicose de dissocia��o�, um tipo de esquizofrenia, as pessoas habitam simultaneamente dois mundos: o real e o patol�gico. A hebefrenia, um tipo de dem�ncia precoce, manifesta-se atrav�s de um comportamento infantil, concentra��o pobre, mau humor, confus�o, fala vaga e de dif�cil compreens�o, ilus�es ou falsas convic��es, perda de emo��o e euforia fora de contexto. Deu pra acompanhar a classifica��o? Diagn�stico final: psicose de dissocia��o hebefr�nica.
A voz do personagem
Uma descri��o cl�nica da voz esquizofr�nica eu encontrei em:
A voz da esquizofrenia , mas � s� pra quem tem o programa Acrobat. Dizem l� que a voz do esquizofr�nico tem ritmo, mas tem pouca melodia e � pouco anasalada. A melodia � alterada freq�entemente sem estar relacionada a algum contexto, num excesso histri�nico (o que devia ser voz de autoridade soa mais como burlesca, grotesca, caricata do que autorit�ria). A fala e o ritmo s�o constantemente repetidos, mantidos de maneira compulsiva.
A voz esquizofr�nica freq�entemente tem caracter�stica de mon�logo, como se a fala n�o fosse endere�ada ao interlocutor, mas um instrumento de express�o seus sentimentos doentios. Melodia, esfor�o, tens�o e aspereza prevaleciam e o registro oscilava entre voz de peito e falsete. Muito t�cnico? Ent�o t�. Tentei diminuir o anasalamento da minha pr�pria voz, falava r�pido e depois devagar e r�pido de novo. Criei um amigo invis�vel com quem eu conversava, ou seja: ao mesmo tempo que eu falava com algu�m n�o falava com ningu�m. E por fim juntei isso com um andar inseguro, choro e riso. E um texto sobre um certo �porquinho-da-�ndia que ganhei quando tinha 6 anos� de Manoel Bandeira.
A coisa
Poiz�, criei um amigo invis�vel pro meu personagem e escolhi o V�tor, meu amigo que estava na plat�ia pra isso. Conversava com ele e contava as coisas pra ele. E a coisa que fez tudo valer a pena � que apesar de ele ser meu amigo, me conhecer e tal, ele acreditou no personagem. Riu, se emocionou quando eu chorei (isso mesmo! Eu chorei em cena, olhando pro p�blico, igualzinho atrizes de verdade!). E mesmo o riso dele era tenso como a cena. Convenci, e isso foi o que valeu a pena.
Al�m de tudo me fez acreditar que a gente pode qualquer coisa.
Quando entrei no curso de Licenciatura em Artes C�nicas juro que n�o passava pela minha cabe�a atuar. Queria mais era um equil�brio �humano� para o �cient�fico� de Farm�cia. E aprender Hist�ria da Arte, desinibir, ver como se faz pra atuar pra poder escrever dramaturgia. Isso. Mais nada.
Mas entendi que �gente � abismo, olhar de perto d� vertigem� e essa vertigem vicia. Criar um personagem e fazer com que ele se materialize d� medo e prazer. Mas enquanto �outro� eu consigo me perceber melhor.
N�o fa�o esse curso pra �me descobrir�. Vivo pra me descobrir, � diferente. Fa�o tudo pra me descobrir. Fazer algo pra se descobrir n�o � pejorativo nem diminui a import�ncia do algo. Pelo contr�rio. E quem acha que diminui � porque d� pouco valor a si mesmo.