25.3.03



reza

Geografia me faz falta. N�o tinha essa dimens�o e me peguei procurando morros, com um nem ciente amor guardado. Aben�oei a saudade das �ngremes horas e encostas.

19.3.03

os r�tulos e as garrafas - parte II

Dudi, como pude esquecer dO Homem que confundiu sua Mulher com um Chap�u? Esse � mais um da s�rie "comecei pelo t�tulo". �, porque tamb�m o t�tulo � chamariz, mas se o livro for ruim ele vai ficando ali pela cabeceira, numa coluna que vem sendo constru�da no criado mudo. Coluna j�nica.

(Mas o Oliver Sacks bem que escorregou na casca de banana com Tio Tungst�nio � Mem�rias de uma Inf�ncia Qu�mica. Engra�adinho demais.)

Tem tamb�m os t�tulos de uma palavra s�, por vezes acompanhadas de um artigo. O Capital, ou Leviat�. Voltando ao mestre, Sagarana. Econ�micos, explicativos, definitivos
Adoro mudan�as.

Odeio mudan�as.

(Esquizofrenia.)

18.3.03



o nome das coisas

A vida sexual dos papas. Isso � nome de livro, vi l� na Travessa. Apelou, perdeu.

Eu compro livros pelos t�tulos, talequal Maria de F�tima, a rainha da sucata. Tudo que � s�lido se desmancha no ar? Comprei. Vastas emo��es e pensamentos imperfeitos me fez gostar do Rubem Fonseca. Isto n�o � um cachimbo, com ilustra��o de Magritte ati�ou minha curiosidade.Mas nada supera o Rosa pra batizar. Nada supera o Nada e a nossa condi��o, mesmo sem ser livro, mesmo sendo conto.
a tristeza e as horas


Acabo de ver As Horas. (M., n�o pude voltar pra casa. Abri o port�o da vila e girei sobre os meus p�s. Tenho muito pra perceber e tenho sede. Tive vergonha de te dizer que n�o terminei Cartas na Mesa, nem o outro com a Clarice, e trago ambos na mala. Quero terminar umas coisas antes de come�ar outras. Mas n�o consigo evitar a sede, e fugi para o cinema.)

Sa� do cinema com vontade de ter um filho e escrever um livro. Ou vice-versa.

J� me senti incapaz antes, n�o agora. Mas a mem�ria daquela incapacidade me fez chorar. E desfez o n� na garganta.

17.3.03

Manoel de Barros

Formiga � um ser t�o pequeno que n�o ag�enta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas � s� pingar um pouquinho de �gua no cora��o delas. Achei f�cil.

O Bernardo fala com pedra, fala com nada, fala com �rvore. As plantas querem o corpo dele para crescer por sobre. Passarinho j� faz poleiro na sua cabe�a.
Esse � Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento.
Ele faz encurtamento de �guas.
Apanha um pouco de rio com as m�os e espreme nos vidros
At� que as �guas se ajoelhem
Do tamanho de uma lagarta nos vidros. No falar com as �guas r�s o
exercitam. Tentou encolher o horizonte
No olho de um inseto - e obteve!
Prende o sil�ncio com fivela.
At� os caranguejos querem ele para ch�o.
Viu as formigas carreando na estrada 2 pernas de ocaso
para dentro de um oco... E deixou.
Essas formigas pensavam em seu olho.
� homem percorrido de exist�ncias.
Est�o favor�veis a ele os camale�es.
Espraiado na tarde -
Como a foz de um rio - Bernardo se inventa...
Lugarejos cobertos de limo o imitam.
Passarinhos aveludam seus cantos quando o v�em.


Pro Bernardo, filho do Saru�
Livraria da Travessa, 16 horas. Discutiremos alegriazinhas.
As plantas eu deixei, n�o se acostumariam com o novo clima. E ficaram t�o alegrezinhas na nova casa...

6.3.03

quarta-feira de cinzas


O blogger t� me sacaneando.
todos os anos, durante a Festa do Doze, os muros da TabuTabu s�o renovados.agora, quem aqui vier ver� as paredes cobertas com os estatutos do home. que convivem muito bem tamb�m com uma pintura de Gentileza. �, eu j� estou com saudades.

esta foto � de outra fase dos mesmos muros.





Os Estatutos do Homem


(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de m�os dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as ter�as-feiras mais cinzentas,
t�m direito a converter-se em manh�s de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haver� girass�is em todas as janelas,
que os girass�is ter�o direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperan�a.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
n�o precisar� nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiar� no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do c�u.

Par�grafo �nico:
O homem, confiar� no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
est�o livres do jugo da mentira.
Nunca mais ser� preciso usar
a coura�a do sil�ncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentar� � mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passar� a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez s�culos,
a pr�tica sonhada pelo profeta Isa�as,
e o lobo e o cordeiro pastar�o juntos
e a comida de ambos ter� o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevog�vel fica estabelecido
o reinado permanente da justi�a e da claridade,
e a alegria ser� uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e ser� sempre
n�o poder dar-se amor a quem se ama
e saber que � a �gua
que d� � planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o p�o de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por defini��o,
que o homem � um animal que ama
e que por isso � belo,
muito mais belo que a estrela da manh�.

Artigo XII
Decreta-se que nada ser� obrigado
nem proibido,
tudo ser� permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa beg�nia na lapela.

Par�grafo �nico:
S� uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
n�o poder� nunca mais comprar
o sol das manh�s vindouras.
Expulso do grande ba� do medo,
o dinheiro se transformar� em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual ser� suprimida dos dicion�rios
e do p�ntano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade ser� algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada ser� sempre
o cora��o do homem.

Thiago de Mello