29.6.05

o relógio não é suficiente e me divido em três, cinco, mil. ah, o "a fazer". tanto a fazer e tudo toma sempre tanto tempo.

(a memória coa os momentos bons e as horas más. e assim vôo vivendo entre uma tristeza e outra.)

18.6.05


doem-me a cabeça e o universo. as dores físicas, mais nitidamente dores que as morais, desenvolvem, por um reflexo no espírito, tragédias incontidas. traz uma impaciência de tudo que não exclui nenhuma das estrelas.

chove na minha alma.

17.6.05

O destino e suas piadas sem graça. Fui considera "inapta" para o trabalho, por uma multinacional americana, por ter escoliose lordose, vulgo "bunda arrebitada" que nunca antes me causou qualquer tipo de problema.

Como estou? Devastada.
Reconheço que as informações aquidivulgadas foram escritas em momento de forte abalo emocional e não condizem com a verdade.

16.6.05

Da série "Listas"

meus personagens de desenho animado* favoritos:

1- Coragem, de Coragem, o cão covarde


2- Puro Osso, de Billy e Mandy


3- Eduardo, da Mansão Foster para amigos imaginários

*dos anos 2000. de todos os tempos a lista é outra.

15.6.05

minha palavra favorita: oxímoro.
STROGONOFF

Prato de origem russa. Seu nome original é Strogonov. No século XVI, na Rússia, os soldados levavam sua ração de carne, cortada em nacos, em grandes barris, debaixo de uma mistura de sal grosso e aguardente para preservar. Coube a um cozinheiro do czar Pedro, o Grande, que era protegido do general Strogonov, melhorar e refinar a mistura. Com a Revolução de 1917 e a emigração dos russos brancos, a receita chegou a França, onde foi refinada, chegando a forma atual.

Fonte: "Comida e Civilização" de Carson I.A.Ritchie

P.S.: não se preocupem, é ctrl+V
tenho um calo no pulso. os ossos do ofício. mesmo usando o mouse com a mão esquerda. mesmo adotando a posturacorreta não dá. morro de dor. escrever virou um martírio. (logo o meu alívio, a minha forma de me sentir viva!)

então vou ficar uns dias escrevendo menos.

14.6.05

Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom-senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo ‘ciao’ ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida.
Raduan Nassar, que segundo um colibri, há quase duas décadas decidiu ser um escritor que não escreve. Mas que antes disso escreveu meu conto favorito. Psc*.
Então o Michael Jackson é inocente?

12.6.05

meu sorriso só se abre em declaração de amor a ti. em ti se ajuntaram as guerras e os vôos. quando te encontrei - e desde este quando - tudo fez sentido e o espírito de deus pairou por sobre as águas.

contigo andei mais adiante do desejo e do ato. era a negra, negra solidão das ilhas, e ali, ilha e farol, me acolheram os seus braços. era a sede e a fome, e tu foste a fruta. era o duelo e as ruínas, e tu foste o milagre. não sei como pode me conter na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!

esse é meu destino e nele navega o meu anseio.

(com ajuda de Neruda)

8.6.05

confessionário

vim ao Rio por dois motivos. pra acompanhar o grande amor da minha vida e para poder ter vida social (e deixar a rotina casa-trabalho-casa que tá me matando). procurei um trabalho e rapidamente achei. o salário é maior do que recebia antes, mas sem vínculo empregatício. talvez com prazo pra terminar, pois é um projeto. isso me matou.

tô apavorada, à beira de um colapso. pela primeira vez na vida – de verdade – estou voltando atrás numa decisão. é muito complicado isso pra mim inclusive porque não era isso que o André esperava de mim. ele me via como suporte para a decisão dele de voltar para o Rio e eu tô puxando o tapete. desisti de trocar o certo pelo duvidoso. será que mudei? mudei por dentro, não querendo mais desafios e inseguranças? acho que cresci. talvez tenha apagado um siricotrico que sempre me impelia a buscar o diferente. isso é triste?

a verdade é que não é um retorno de vez. é um adiamento. volto quando o André achar um trabalho aqui. volto quando achar um trabalho que realmente valha a pena. volto quando me sentir segura.

(de volta tenho o mesmo trabalho, empresa de petróleo, salário como antes. casa-trabalho-casa. segurança. mais tempo.)

7.6.05

"Tudo que é sólido se desmancha no ar" Karl Marx
sou matuta. vivi em londres e tais, mas o sertão é dentro da gente. fico meio perdida no meio deste mundaréu de gente. sei que disfarço, me misturo, e acaba que não é fácil perceber que sou forasteira. mas um estranhamento mora dentro de mim e me amedronta, me paraliza.

viver na urbis populosa me diz muito de minha solidão, do meu tecer a vida. andré, preciso de você. tenho saudade doída.

4.6.05

eu e a matuléia de novo na estrada. então é isso: me mudo pro Rio. começo na segunda. desejem-me sorte que desta matéria eu prescindo. mais uma vez escambo de certo por duvidoso. anjo me disse: "vai, ser forasteira na vida". e eu vim.

(o melhor de tudo é estar entre duas travessas. i)
Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade,
onde a voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.

Conserva em mim ao menos a metade
do que fui de nascença e a vida esgarça:
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito.

Balançando entre o real e o irreal,
quero viver como é tua essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.

(...) Espírito mineiro, circunspecto
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embreagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doidos nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais.

(Oração do mineiro no Rio de Janeiro. Drummond In Fazendeiro do Ar)

2.6.05

1.6.05

Conta Olga Borelli, amiga íntima da escritora nos últimos anos de vida, que, já no hospital, na véspera da morte, uma Clarice Lispector pálida e frágil tentou caminhar até a porta para dali retirar-se. Deparou-se com o corpo de uma enfermeira, que em movimentos simultâneos barrou sua passagem e a amparou. Em desespero, ainda que rouca, gritou: "Você matou meu personagem!".
Devagarinho, como quem não quer nada, seu Roque fala o que deve e o que não deve. Sofre de coceira na língua. E só se sente a gosto dando noticia de pitimba, cangapé e má fortuna. Neste ponto se parece com a nossa gente. Nem é mal de família. É de todo mundo nesta terra. Sujeitos emburrados, metidos consigo mesmos, vivendo pra dentro. Se dois se encontram e abrem a boca, falam mansinho, macio, e lá vem desgraça na certa. No fundo têm razão. Esta vida não vale nada mesmo e o melhor que se pode desejar éir remando, sem soçobrar, nesse vale de lágrimas. Otto Lara Resende

***

Bem, depois de um longo divórcio, voltei aos meus livros. Estou lendo os que ficaram por acabar. Comecei pela prateleira dos mineiros.

Pausa para digressão. Na minha biblioteca eu separo os livros por temas. E assim Ottolara, Guimarães Rosa e Drummond ficam juntos por serem mineiros. O Vinícius ficou lá também, mereceu o direito por ter vivido em Ouro Preto. RubemFonseca fica perto de Poe, dO Perfume e dos Dan Brown. Por que então Stanislawsky junto dos livros de Química e Microbiologia? Por dever de ofício. E Ulysses, do Joyce, fica lá, porque tal como os companheiros de prateleira, nunca consegui ler de capa a capa este exemplar no original.

Estou me desviando do assunto. Deixo o pensamento correr e esqueço o que ia contar. Até parece conversa de seu Roque da Mutuca, que não tem fim. Mas voltei a ler meus livros inacabados. Cuidarei de um a um. Lerei, registrarei, colarei os ex libris nos que ainda não têm. E rabiscarei todos, porque adoro livros com passagens marcadas.