27.2.03



Enfim chegaram meus documentos, fui ao CRF e posso ir embora. Esse calor do Rio t� de matar e j� vi tudo que vou chegar em OP e reclamar do frio.

(Parece a tirinha do aposentado do Globo de ontem. "Vamos ao cinema?", "N�o", "O filme � ruim, voc� vai poder reclamar por uma semana inteira." "Por que n�o avisou logo?")
del�rio coletivo

Fal, eu achei que Fanta Morango fosse lenda.

A. tinha certeza que eu estava delirando, sa�mos em excurs�o pelos supermercados do Rio e nada. A. tava at� usando a frase "�, essa menina acredita at� em Fanta Morango!" e eu nem contei a hist�ria do menino do catarro verde pra n�o piorar as coisas...

J� dei um grito nele pra vir ver o site. J� veio, "�, essa voc� n�o sonhou n�o..."
o trem pontua o dia

Quando morei em Cardiff o trem passava atr�s da casa. Eu nunca que me incomodei, mineira que sou o trem � mais um tit�, um filho de deuses, talvez o deus dos caminhos, ou irm�o do deus da calma, primo da deusa da espera (me perd�em, mas a espera � uma deidade feminina).

Procurei um poema que falasse de trem. Drummond, o mais poeta dos mineiros. N�o achei. Algu�m lembra de algum?
os cadernos II

(Era pra falar de outra coisa no post anterior, mas acabei deixaando o t�tulo pra l�. N�o escrevo posts no word, vai direto aqui, o que me protege da minha auto-cr�tica, mas n�o dos erros de portugu�s.)

Sabem aqueles caderninhos de a�ougueiro? Sempre carreguei um na bolsa. (O sempre vai at� um ano atr�s.) Perdi alguns mas ainda conservo uns que me servem de "suced�neo de alegria" - lembra de Huxley, R.?

Na falta dos meus li os de A., que tem v�rios e escreveu neles com uma const�ncia invej�vel.

(Eu quis falar, mas me contive. Certos segredos n�o s�o meus. Certos segredos n�o s�o dele. E at� em Freud ele procurou as respostas.)
os cadernos

Foi-se o tempo em que eu queria parecer inteligente, isso n�o me interessa mais.

(Era uma �poca em que lia os cl�ssicos, junto com "Porque ler os cl�ssicos" do Calvino. Mas n�o lia por deleite puro e simples, era mais vontade de n�o me envergonhar de novo quando algu�m me perguntava algo de Dostoi�vski ou Steinbeck. V� s�? Mas guardei um segredo, uma travessura: nunca li Dom Casmurro.)

Hoje, sem conseguir evitar a tautologia, s� me interessa o que me interessa. E algumas outras coisinhas pouco interessantes.

25.2.03

BBB

Escutei todo o discurso de A., de que o fato de eu simpatizar com o Dhomini significava, por analogia, que eu simpatizo com todo o comportamento execr�vel que ele mostra. Ter uma namorada com "grandeza de alma" e ficar se amassando com a doce de padaria vulgo Sabrina. E ainda ser conhecido como um homem violento pela comunidade Contigo!.

N�o se fazem mais homens como A. E eu me senti rid�cula.

IDÉIA FIXA

Sua alma era um tanto destrambelhada quando ele se trancou dentro de um quartinho de pensão em BH e começou a comer a velha e furada sabedoria grega. Seu primeiro filósofo foi Lucretio, de quem carregou a vida inteira uma dor terrível, um dor que nunca será esquecida por mim.

Eu convivi plenamente com este cara, ele morava no quarto ao lado do meu. Nessa época tinha fugido de um hospício no norte de Minas natal e procurava um emprego na cidade que tinha, isso há muito tempo, um belo horizonte.

Trabalhar pra mim era uma de uma necessidade enorme. Nunca gostei de trabalho. Confesso. E acho que nunca vou gostar. Fui reprovado 3 vezes no vestibular e não tenho nenhuma profissão, dessas que se filia a sindicatos. Trabalho é quase sempre uma coisa cansativa, uma coisa de ônibus, com cheiro de mofo, de gente suja, de dor na perna.

Ele também tinha sido algumas vezes reprovado no vestibular. Certa vez tentou Letras na Universidade Federal de Ouro Preto, queria ser poeta e tinha certeza que o mundo letrado seria capaz de dar tudo que fosse necessário para a construção de poesia, não passou. Esperou mais um semestre e tentou História. Zerou redação por que colocou a palavra boceta no cantinho da folha. Não que ele fosse um devasso, ou desses que usam a palavra boceta com sentido filosófico ou político. Estava mesmo pensando em uma boceta loira que estava sentada ao seu lado na hora da prova. Quando ele fala pra alguém dessa boceta nota-se que seus olhos se enchem de uma coisa que não poderia nunca ser considerada lágrima. Uma coisa de brilho nojento, uma coisa que parece o pus no pé de um mendigo faminto. Para ficar mais claro, seus olhos ficam culposos, sombrios, não sei, nunca fui bom de palavras, mas sei que acontece alguma coisa e que a culpada é essa boceta que ele viu uma vez e que foi para ele a única mulher que ele conheceu em toda sua vida.

Outro aspecto interessante desse idiota é que ele é casto, virgem, nunca dormiu com uma mulher, não sabe o cheiro de uma boceta real.

Da outra vez tentou Matemática. Neste ele passou. Também, depois de 4 anos tentando vestibulares e vestibulares... Lavras. Acho que o fato dele ter sido expulso do curso é importante pra todos nós, inclusive pra mim, um fato que pode acontecer com qualquer indivíduo pode ser importante pra qualquer ser, seja ele uma pedra, um cachorro ou homem letrado com cara de Cu.

Disse-me que fazia sol quando ele fugiu de Lavras e perambulou sete dias naquela região. Quando voltou já não era aluno da Universidade, sua expulsão já tinha sido concretizada, seus colegas de quarto haviam desaparecido com suas coisas. Na Universidade o boato que rolava é que aquele aluno verde do curso de Matemática tinha ficado louco, saído correndo da aula Cálculo I e cuspido na cara do reitor, depois de colocar a genital pra fora na frente de uma faxineira.

É, ele fez tudo isso: mostrou seu pênis praquela mulher que talvez já não via um pênis há algum tempo e cuspiu na cara do reitor que como todo reitor realmente merecia uma cusparada. A causa de tudo isso? A boceta que o fez ser reprovado no vestibular de Letras. A tal boceta que o atormentava noites e dias no tempo em que ele vivia comigo em BH. A tal boceta, a loira boceta que estava perdida em todos os cantos de sua mente, a tal.

Um vez, quando estava voltando do centro de BH para almoçar, o encontrei olhando para uma foto amarelada e virada nas beiradas. Era a foto da sala onde ele prestou vestibular. Junto dessa havia outras de paisagens de Ouro Preto. Dessas que todo mundo já viu de monte. Ouro Preto era um lugar onde ele não fez nenhum amigo e nem conseguiu se embebedar o quanto esperava. Representava todos os sonhos não realizados, pensei naquele dia. O futuro que ficou no passado e nunca se concretizou, a boceta que ele espera engolir e não conseguiu. O amor que ele queria ter e acabou sem. Ouro Preto foi mesmo uma desgraça na vida desse cara e mesmo assim ele sonhava com o dia em que ele voltaria e reencontrasse sua boceta.

Um homem pode se tornar uma criatura imprestável em conseqüência de seus fracassos. Eu mesmo me tornei um infeliz depois de ter visto meu sonho de ser pintor ir por água abaixo. Fiquei alguns anos louco pintando quadros das imagens que rodeavam minha mente. Pintei minha alma de carne em aquarelas tristes. E andei pelas ruas de minha província itabirana sem lembrar que Carlos Drummond de Andrade também esteve ali.

Quero dar uma pausa neste caso para uma breve reflexão sobre o que eu estou escrevendo. Chorei anos pela perda de uma mulher e morri aos 20 anos quando percebi que de pintor eu só tinha o vício. Descobrir que não tinha talento pra pintura me fez pensar que eu não tinha talento pra nada, que estava condenado a ser um pai de família, desses que vivem uma vida chata e responsável, que cuidam da esposa e dos filhos com uma responsabilidade doentia. Que provoca nos filhotes uma doente e venerável estagnação. Nunca fui escritor, nunca quis ser escritor, estou escrevendo isso por que hoje fui mandando embora do emprego e me matei na privada do meu banheiro. Saibam que eu estou morto e que não pretendo de forma alguma imitar Brás Cubas em suas memórias. Minha intenção é apenas falar de como o idiota personagem dessa história fez com que eu perdesse o emprego e me matasse.

Ele era o espelho dos meus fracassos. Como todo fracassado só servia pra isso, pra fazer os outros perceberem o quanto são inúteis e o quanto a vida é uma merda e tem um gosto delicioso.

E Ouro Preto é um lugar onde nunca fui e onde nunca pensei ir, mas que ficou ligado a mim desde o dia em que o conheci, esse pavão da vida moderna, esse dado jogado pra cima. Ele que vivia suas noites sonhando com Ouro Preto e sua boceta desconhecida. Esse que se trancou no quarto e amou S�crates como uma bicha ama um garotinho lindo de 15 anos.

Este que me olha em minha imensa privada privada.

Antes de continuar falando do passado, quero falar do que está acontecendo agora, falar que este idiota levantou meu corpo do banheiro, não estamos na pensão de BH, estamos em Caratinga, cidadezinha fodida do interior de Minas. Estamos na casa de um amigo meu que depois de dois anos convivendo conosco ficou louco e desaguou no passado. Um dia falarei dele. Talvez no final desse relato. Mas agora meu corpo esta sendo arrastado do banheiro até o jardim. O jardim fica de frente pra rua e esse louco vem em minha direção com uma pá. Ele começou a fazer um buraco na grama. O buraco já está grande e meu corpo está sendo enterrado ali. Você sabe como é se sentir enterrado? Como é receber terra em cima da cabeça? Eu também não sei porque estou morto, e quando se morre as coisas não acontecem mais, parecem sonhadas. Não adianta se lembrar que existe um livro de filosofia que fala que é bom esquecer aquilo que passou. Não funciona. Não consola. Não esclarece. Não ajuda.

E ele, agora sem mim, lá minha carta de suicídio, minha linda carta de suicídio que está manchada de margarina que eu comi com o pão de forma com gosto de geladeira, não posso mais vê-lo, sua imagem presente e futura não existe mais. Pra mim ele só existe de duas formas: como aquilo que foi e como aquilo que sonhei. Tento fechar os olhos debaixo desse chão. Não bem meus olhos, acho que tento fechar minha percepção. Fecho mas algo fica tristemente aberto.
Marina, eu tamb�m me pergunto, onde se meteu Mariana Newlands? Ser� que foi sequestrada por extra-terrestres em Araras?
Borges e os dem�nios cariocas

�Dizem que uma das caracter�sticas dos dem�nios � sempre sentir muito frio.�, leio em voz alta para A. o trecho de Borges e os orangotangos eternos, do Verissimo. (Que eu n�o sabia, mas a grafia certa � assim, sem acento. Sempre escrevi Ver�ssimo.)

Rimos juntos e chegamos � conclus�o que quem construiu o apartamento que ele mora � um dem�nio. � uma explica��o bastante plaus�vel pra colocar carpete no Rio de Janeiro.
Deselogio � pressa

Era estr�ia de Am�lia no antigo cinema de Ouro Preto. A A. era f� da Ana Carolina, �ela � um g�nio, fant�stica, bl�, bl�, e veio lan�ar o filme.

(Quer�amos criar um festival de cinema em Ouro Preto, o Carlos Bracher apoiava, o Eduardo Tr�pia empolgou, Juan Pedro Gutierrez fumava e escutava. Come�ar�amos a experi�ncia aos poucos. A Denise Fraga j� tinha ido apresentar e conversar o Por tr�s do pano.)

O cinema, antigo, velho, com pan�s em trapos e bel�ssima decora��o Art Noveau. O som soltava uns pipocos de vez em quando, seu Ad�o tinha uma cole��o invej�vel de cartazes de filmes antigos, e eu o visitava na sala de proje��o, sonhando Cinema Paradiso. O pr�dio lotava aos domingos, estudantes com sacos de pipoca trazidos de casa - o pipoqueiro morreu h� vinte anos e ningu�m o substituiu � e t�nhamos que chegar cedo pra n�o pegar fila grande na padaria pra comprar refrigerantes.

As rep�blicas tinham seu lugar estabelecido, a Serigy no gargarejo, a Penitenci�ria quase na entrada, a Pulgat�rio no meio. Assist�amos a qualquer coisa. P�nico no Lago? Vale pela tradi��o de ir ao cinema aos domingos.

Ent�o veio Ana Carolina e Am�lia, que n�o entenderam que Roma n�o se fez num dia, e o cinema est� fechado �em reformas� h� dois anos. As reformas s� come�aram um m�s atr�s.

(A Ana Carolina se levantou no meio da exibi��o, pediu pra parar tudo porque n�o admitia que seu filme fosse prejudicado por um som ruim. Como se um som melhor melhorasse aquilo.)

Ent�o fico pensando num filme sobre Greg�rio de Matos feito por ela e com participa��o de Wally Salom�o. N�o vou. Protesto. N�o vou admitir que a minha intelig�ncia seja insultada por um filme t�o ruim.
portugu�s

A.me contou que um jogador do Botafogo chama-se Misso, assim mesmo, M-i-s-s-o. Por qu�? Porque � r�pido como um m�ssil.
matem�tica

Bruninho salta no �nibus j� em movimento e pergunta � trocadora:

- Passa por aquela rua....Vari�vel...Vari�vel...

E a trocadora com a maior presen�a de esp�rito que se pode imaginar:

- Constante Ramos? Passa sim.
caixa de entrada

queridos, sei que essas mensagens prontas sao muito impessoais, geralmente barangas e pesadas demais para nossas pobres caixas de correio virtuais, sempre lotadas. mas estou longe, sem vcs todos e, um tanto quanto mais sensivel e emotiva, entao nao levem a mal... e mais... essa eh do vinicius....

saudades imensas

quel


Tenho amigos que n�o sabem o quanto s�o meus amigos. N�o percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade � um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intr�nseco o ci�me, que n�o admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora n�o sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

At� mesmo aqueles que n�o percebem o quanto s�o meus amigos e o quanto minha vida depende de suas exist�ncias ...

A alguns deles n�o procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condi��o me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque n�o os procuro com assiduidade, n�o posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles n�o iriam acreditar.

Muitos deles est�o lendo esta cr�nica e n�o sabem que est�o inclu�dos na sagrada rela��o de meus amigos.

Mas � delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora n�o declare e n�o os procure.

E �s vezes, quando os procuro, noto que eles n�o tem no��o de como me s�o necess�rios, de como s�o indispens�veis ao meu equil�brio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, constru� e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.

Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso � que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece �, em s�ntese, dirigida ao meu bem estar. Ela �, talvez, fruto do meu ego�smo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma l�grima por n�o estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...

Se alguma coisa me consome e me envelhece � que a roda furiosa da vida n�o me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que s� desconfiam ou talvez nunca v�o saber que s�o meus amigos!

A gente n�o faz amigos, reconhece-os.

(Vin�cius de Moraes)

� Quel, e �s vezes os amigos do estrangeiro n�o rimam com a gente, e sentimos falta daquele livro com aquela frase, ou daquele canto da sala de onde a televis�o parece mais amiga, ou da cole��o de caixas de f�sforos em cima da mesinha da sala e at� daquele quadro - horroroso - das tr�s mulheres na parede da copa. E a saudade nos ocupa.

Mas h� de passar e amanh� o cachorrinho que atravessar seu caminho correndo vai te fazer sorrir pra velhinha dona dele, e assim, com essas alegriazinhas a vida passa.
Moria, ou conversa com um man�aco-depressivo

"no espectro das emo��es vamos muito mais longe", e eu n�o tive como n�o concordar e n�o sentir um pouco de inveja.

23.2.03

Ando escrevendo nas entrelinhas.
filmes antigos, hist�rias de mist�rio

A. me perguntou o que aconteceu com o meu sono invej�vel. N�o sei.

Tive ins�nia no tempo certo, naquela �poca em que a curiosidade ainda domina o t�dio e todos os livros que me ca�am na m�o pareciam interesant�ssimos. E todos os Coruj�es tamb�m. J� na faculdade tive sempre mais sono que todo mundo e era capaz de passar um final de semana inteiro dormindo. Sei l�, fases.

Uma coisa leva a outra e eu tive um sonho essa noite, uma casa de um filme que vi no Coruj�o, Bergman, n�o tenho certeza, preto e branco. Meio castelo meio casa assombrada. Logo depois li O mist�rio da casa de Usher e a imagem do filme nunca se dissociou da hist�ria de Edgar Allan Poe.

Sonhos noir. Acordei logo depois e n�o consegui dormir mais. Eram 6 da manh�

22.2.03

pra ir dormir

Lendo Alice through the looking glass e Alice j� descobriu que o jeito certo de ler o poema � atrav�s do espelho. A� fui eu que n�o entendi nada do tal poema, o Jabberwocky. Li uma, duas, tr�s vezes e me senti um tira num jardim da inf�ncia. E na seq��ncia:

'It seems very pretty,' she said when she had finished it, 'but it's rather hard to understand!' (You see she didn't like to confess, even to herself, that she couldn't make it out at all.)

Ah bem, nem ela entendeu lhufas. Mas depois dessa � melhor ir dormir e sonhar com o outro pa�s, o das Maravilhas. Vou indo pra toca do coelho. Atrasada eu j� estou.
mesmo dial

Um tempo atr�s eu e a Angela discut�amos se andamos em uma certa sintonia ou se somos mesmo muito �bvios, e vivermos coisas parecidas por termos refer�ncias mesmas e quando n�o temos acabamos por nos copiar.

(Agora nem sei mais se discuti tudo isso com ela, ou se foi parte, e o resto minha mente f�rtil e esquecida acabou deixando assim. Vai ver isso tamb�m � pl�gio.)

Ent�o quando leio l� no Tempo Imagin�rio o que estou pensando aqui na minha cabe�a avoada n�o estranho mais. Me resigno. E copio, j� que de um jeito ou de outro ia parecer c�pia mesmo:

"De Deus: Eu fa�o as sugest�es e voc� faz as escolhas. � assim que funciona, sutilmente."
the only thing worse
than loosing your mind
is finding it again
Descobri que tenho um estranho carinho por cidades feias. Viajei meia Europa e no s�timo dia descansei em Atenas. Mas poderia ter sido Teixeira de Freitas.
As cidades e os detetives

A. � uma das pessoas mais inteligentes que conhe�o. Quando se formou na faculdade a Fiat veio convid�-lo para trabalhar na It�lia. N�o aceitou porque n�o queria se corromper e se transformar no vizinho (rico e) apagado da esquina. Em vez de It�lia escolheu o Rio e um mestrado que inclu�a uma disciplina sobre serem os escritores de fic��es de detetives os grandes amantes das cidades, de suas ruas vielas e becos. (Os urbanistas querem mais � destru�-las, transformando as mesmas vielas e becos em espa�os. E viadutos.)

A. n�o � uma "pessoa de mercado". Eu sou menos rom�ntica.

21.2.03

Perto da casa de A. tem uma mans�o com muitos seguran�as e c�meras e a seguinte inscri��o em baixo relevo: "living forever interprises" ou algo muito parecido. Algu�m contou uma est�ria normalzinha, que � uma empresa antiga, sei l�. A. prefere acreditar que � uma companhia secreta que faz experi�ncias com clonagem, meio a ilha do Dr Moreau. Eu tamb�m (mas s� de brincadeirinha).
"...o hebraico antigo s� tinha consoantes (...) para n�o haver perigo de escreverem o nome secreto de Deus por descuido."
Conselhos de classe s�o todos iguais. Sempre falta um documento. E fico eu aqui at� a ter�a. Mas a biblioteca de A. � vasta. Passeio de Foucault � Ver�ssimo.

20.2.03

Ent�o, t� no Rio. Ca� de p�ra-quedas.

18.2.03

Est� chegando a despedida. Perco mais uma cidade. Mas dessa vez vou tranq�ila, aprendi com o Calvino que "De uma cidade n�o aproveitamos suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que d� �s nossas perguntas." Esta me respondeu muitas, me fez outras perguntas mais dif�ceis, me transformou.
Fico feliz porque mesmo n�o atualizando o blog todo dia ainda recebo minhas visitinhas.

14.2.03

rituais

No anivers�rio de cada uma na Lilith faz-se um bolo surpresa. (Todo mundo sabe mas ainda � um bolo surpresa.) Nunca tem muita confus�o pra escolher o sabor numa casa de choc�latras, mas a BB fez anivers�rio e n�o deu pra ser bolo de chocolate, ela fez promessa. Nada de chocolate nem refrigerante por um tempo. De vez em quando - pra citar Carol - ela saca uma promessa assim do sovaco. E sofre com isso e se flagela com isso e morre por isso. (Tenho desconfiado que as promessas da BB s�o mais um ritual de auto-supera��o que uma "troca com Deus".)

Fiz bolo de abacaxi com c�co, receita que eu tirei do sovaco. Pra comer com cerveja, j� que cerveja ela pode. N�o faz parte da promessa.
Uma das meninas da Lilith � professora de ingl�s e assina Newsweek, que eu leio s� de raiva. Mas a entrevista do Gilberto Gil no �ltimo n�mero passou dos limites. N�o leio mais nem de raiva.


"a favela l� � t�o pobre, que n�o tem nem traficante"


7.2.03

A lenda de Zifa



Dizem que Zifa nunca foi pro outro lado das �guas. Inventou essa hist�ria e foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano. J� eu acredito na outra vers�o de que ele foi confundido com um irland�s e apanhou de um ingl�s b�bado num pub logo no primeiro dia. Da� foi pros cafund�s do Mato Grosso de onde manda foto-montagens com o Big Ben, a London Eye e os �nibus vermelhos em segundo plano.
Dormi o Globo Esporte e o Jornal Hoje na Tabu. O carnaval chegando e a gente reclamando da extin��o do bloco da lama. Deixe estar jacar�.

A verdade � que quase mil pessoas enlameadas pelas ruas dessa cidade hist�rica tinha mesmo � que dar m*a. E deu. No dia seguinte as paredes eram de uma sujeira s�. Mas que era bom, ah isso era. Em linguagem pseudo-gilbertogileana, era uma esp�cie de primitivismo purificador. Cobertos de lama dos p�s � cabe�a n�o t�nhamos diferen�a, nem a preocupa��o de 'ai, como ser� que t� o meu cabelo'.
Um epis�dio dos normais, ou foi um spam?, falava de teses. Tudo gera tese, e j� tava demorando a vez dos blogs.

Xiitas de plant�o: nada contra teses. Nem contra blogs, fa�am me o favor.
Esta cidade � estatisticamente o �nico lugar que d� pra escutar 'Ultimamente tem dado mulher nas festas l�...pensando bem, na �ltima que eu fui n�o tinha nenhuma.'

4.2.03

TRIBUNA DA IMPRENSA, 2 de julho de 1962

"Vi�va Melo Viana: foi Edna quem matou a amante de Fernando" - "A vi�va do senador Melo Viana, Clotilde Melo Viana, adiantou ontem para a imprensa de Belo Horizonte o resumo do depoimento que prestar� hoje na Delegacia de Pol�cia de Ouro Preto: "Eu vi Edna, claramente, atirar contra Lurdes Calmon. Tudo se passou rapidamente, por�m, jamais me esquecerei daquela cena triste". Edna Poni Melo Viana, ex-mulher do engenheiro Melo Viana, freq�entava a alta sociedade de Belo Horizonte e, ultimamente, acionava o marido, exigindo Cr$ 500 mil por m�s de pens�o".

Edna Poni, com ajuda de sua irm� que segurou a v�tima pelos ombros, assassinou a amante de seu marido, Lurdes Calmon em um hotel de Ouro Preto. Era 1962 e ningu�m acreditava no que ouvia. Uma dama da sociedade mineira, rica e de fam�lia influente empunhando uma arma e atirando � vista de todos? Pra receber t�o ilustre figura a cadeia de Ouro Preto foi reformada. As implica��es pol�ticas desse caso � que foram relevantes, mas acabaram esquecidas. O julgamento das irm�s Poni ocorreu em 1964 (no CAEM em Ouro Preto) e seu advogado foi Pedro Aleixo, jurista. Em Bras�lia ocorria o golpe militar que se aproveitava da ausencia do presidente Jo�o Goulart. O vice tamb�m estava distante, atuando como advogado de defesa num caso em Minas Gerais. Seu nome era Pedro Aleixo.

P.S.: As irm�s Poni foram condenadas e cumpriram pena na penitenci�ria de Ouro Preto.

como uma coisa leva a outra

Pesquisando o cado das irm�s Poni n�o achei muito sobre o assunto n�o. Mas mudei de assunto muitas vezes...

"Entrei para o jornalismo para desmentir uma not�cia. Fazia parte de um grupo de arqueologia no Col�gio Anchieta, em Belo Horizonte, que desenterrou um cr�nio de 10 mil anos numa gruta de Lagoa Santa, em 1962/63. Era uma descoberta importante: mudava um pouco a nossa hist�ria pr�-colombiana. Mas o rep�rter do �ltima Hora que foi nos entrevistar acrescentou alguns zeros. Fomos manchete, com nosso cr�nio promovido a 1 milh�o de anos. Agora, mud�vamos a hist�ria do mundo! As ag�ncias de not�cia ligavam para o col�gio em busca de detalhes. Fui escolhido para ir ao UH desmentir a not�cia. Cheguei ao balc�o da reda��o, numa sobreloja sobre a Pra�a Sete, no centro da cidade, com uma frase feita: "Exijo a verdade a bem da ci�ncia". Levaram-me ao Jos� Wainer. E ele me pediu que sentasse na reda��o e escrevesse o desmentido. Sentei-me ao lado de Alberico Souza Cruz. Nunca mais sa� de jornal. J� no dia seguinte era rep�rter de pol�cia." Mois�s Rabinovici
"Voc� nada contra a corrente. Est� acima do seu tempo. Sua filosofia de vida �: sexo, drogas e rock and roll. N�o necessariamente nesta ordem. Ah, deixa de papo furado, me prepara a vodca que j� estou na banheira!"

Eu sou a R� Bordosa !

Qual personagem do Angeli voc� � ?
"Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor."

Vai no tempo imaginario ler o resto.
qualidade x quantidade

"Titina viva, me chamava de Iemanj�zinha e me mandava jogar flor branca no mar, s� entendi grande, mas a� j� n�o acreditava. Triste. Acho que mais uns anos de vida e eu volto a acreditar de novo. Agora em tudo, tudinho."
Angela

N�o recebo muitos comentarios (o teclado ta desconfigurado, mais uma vez os acentos me escaparao), mas deixa assim porque os que recebo compensam um monte por serem de verdade. Porque ate eu ja fiz aqueles comentarios so pra dizer oi (uma tanto agradaveis, confesso), mas os de verdade, esses sim valem um doce.

3.2.03

frustra��es


queria ter aprendido Brasil na escola...

mitologia barata

Bem, eu gosto muito de mitologia grega, mas queria saber mais sobre mitologia brasileira - me dando o direito de chamar de brasileira a mistura africana, ind�gena e, bem, portuguesa. Ent�o entrei, faz uns 3 anos, numa livraria em Salvador e o livro mais barato que achei sobre o tema era 80 reais. Quem pode com a press�o financeira? Comprei outros de outras mitologias mais baratinhas.
iemanj�, m�e cujos filhos s�o peixes



Quando Obatal� e Odudua se casaram, tiveram dois filhos: Iemanj� (o mar) e Aganju (a terra). Os irm�os se casaram e tiveram um filho, Orung� (o ar). Quando cresceu, Orung� se apaixonou pela m�e. Um dia, aproveitando a aus�ncia do pai, tentou violent�-la. Iemanj� conseguiu escapar e fugiu pelos campos. Quando Orung� j� a alcan�ava, ela caiu ao ch�o e morreu. Ent�o seu corpo come�ou a crescer at� que seus seios se romperam e deles sa�ram dois grandes rios, que formaram os mares; e do ventre sa�ram os Orix�s que governam as 16 direc�es do mundo: Exu, Ogum, Xang�, Ians�, Ossain, Oxossi, Ob�, Oxum, Dad�, Olocum, Olox�, Ok�, Ok�, Aj� Xalug�, Orum e Oxu.
V. me falou de um cd com poemas da Ad�lia Prado. Disse que a voz dela � assim, meio de v� nova, gostosa de escutar.
Ensinamento

Minha m�e achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
N�o �.
A coisa mais fina do mundo � o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo ser�o,
ela falou comigo:
"Coitado, at� essa hora no servi�o pesado".
Arrumou p�o e caf� , deixou tacho no fogo com �gua quente.
N�o me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Ad�lia Prado